Visão da comoção e do cinismo
João Miguel Tavares escreveu no jornal Público que acha “comovente que tanta gente de esquerda se espante com o posicionamento do Bloco e do PCP nestas presidenciais francesas, por se recusarem a apoiar, à imagem de Jean-Luc Mélenchon, Emmanuel Macron contra Marine Le Pen comovente que tanta gente de esquerda se espante com o posicionamento do Bloco e do PCP nestas presidenciais francesas, por se recusarem a apoiar, à imagem de Jean-Luc Mélenchon, Emmanuel Macron contra Marine Le Pen”. Também eu me comovo com o que ele, de forma cínica, escreve. Ele é como um cínico picador de toiros que gosta do animal, mas pica-o para o enraivecer para que a lide seja mais conseguida para o toureiro.
Pretende acicatar o PCP e o BE para que, aqui dentro, aqui em Portugal, e contra António Costa e o seu Governo, ajam com o espírito revolucionário, desestabilizador e extremado que, para ele, deveria ser peculiar. A Miguel Tavares assoma desejos não explicitamente manifestos, de desestabilização da solução governativa apoiada parlamentarmente pela esquerda. Assume-se como sendo um grande educador virtual daqueles dois partidos que, para ele, deveriam ser preferencialmente mais revolucionários cá dentro como o são quando olham para a política internacional.
Por estas, e por outras, é que ainda fico mais comovido quando leio artigos de opinião e comentários provenientes de fontes que se situam entre a extrema-direita, que se diz não existir em Portugal, e a direita dos autointitulados liberais.
O PCP e o BE, ao darem apoio parlamentar ao Governo, passaram a ser para Miguel Tavares, e para a direita, uma espécie de dentes do siso que lhe nasceram na dentadura e já se encontram cariados, e lhe doem muito, mas estão a custar-lhe a arrancar.
No momento em que decorreram eleições em França (primeira volta), e está a decorrer a campanha eleitoral para a segunda volta o que tenho visto e lido vai no sentido de a direita, cá dentro, através dos seus artigos e comentários, não se pronunciar claramente sobre os candidatos em presença. Se, por um lado, fazem criticas moderadas a Macron, já quanto a Le Pen há “nins” que sobram. A suas manifestações públicas, quando são de oposição a Le Pen são contidas, palavras muito escolhidas para não assustar potenciais fãs. Assim como os liberais da direita portuguesa quando da eleição de Trump foram de crítica contida, moderada. Vamos ver o que dirão sobre a tomada de posição de Obama ao apoiar Macron nas eleições francesas. É claro o “namoro” ideológico entre Le Pen e Trump.
Em Portugal a direita e os seus liberais, e a extrema-direita que anda por lá diluída, têm vestido até hoje peles de cordeiro. Será que os radicais, neste caso a extrema-direita de Le Pen, se porventura chegasse ao poder, deixaria de o ser, ou faria o que fez Erdogan na Turquia?