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Turismo sobrevivência e subserviência face aos Reino Unido

02.06.21 | Manuel_AR

Ingleses nos champions Porto (2).png

 

A subserviência perante o que é estrangeiro, sobretudo a Inglaterra, parece ser o nosso fado desde séculos. Alianças, tratados, acordos e outros que tais raramente no favoreceram dando-nos em troca migalhas quais pedintes europeus.

Quando há algo que nos desagrada que provenha da Inglaterra lá estamos nós a curtir as mágoas que nos causam as decisões vindas da grande ilha europeia. Ainda em janeiro deste ano, no auge da segunda vaga da pandemia, o Reino Unido   proibiu a entrada de pessoas e bens não essenciais oriundos de um conjunto de países do hemisfério Sul devido à nova estirpe de coronovírus detetada no Brasil. Portugal surge incluído neste grupo devido à "forte ligação" com o Brasil, o que levou o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, a considerar "absurda" e "sem lógica" a decisão do Reino Unido suspender os voos com Portugal, medida "súbita e inesperada" cujos fundamentos disse desconhecer.

Nesta declaração está claro a questão do turismo que ansiosamente o nosso Governo espera como pão para a boca. A nossa dependência do turismo inglês é crónica. Anos e anos a nossa economia vive na dependência do turismo. Anos e anos em que os governos, de direita e de centro-esquerda que se alternaram no poder não reformaram a economia para diversificar a nossa dependência externa, nomeadamente de Inglaterra e no século XXI chamada Reino Unido.

Há séculos, pelo menos desde o início do século XVIII que os tratados com a Inglaterra nos são desfavoráveis mesmo em circunstância favoráveis Portugal e a Inglaterra eram aliados na guerra da Sucessão de Espanha; mesmo quando o comércio entre ambos atingira um nível mais elevado a Inglaterra olhava para Portugal como um útil comprador para os seus têxteis. Portugal fica a olhar porque a sua política industrial na época foi um fracasso, “pisca o olho” à nossa aliada e vê nos mercados ingleses de vinho a forma de desenvolveras exportações e surge o tratado de Methuen. E, pasme-se, como este tratado veio com vantagens para a nossa aliada mais antiga. O conjunto de medidas acordadas entre ingleses e portugueses limitava gravemente a economia já que vista que não podiam diversificar a sua agricultura e estabelecer acordos comerciais com outras nações, ao passo que o consumo em grande escala do tecido inglês tornava Portugal uma das nações mais endividadas da época. Para minorar as dívidas acumuladas e a falta de dinamismo económico, Portugal aumentou a cobrança sobre o ouro extraído no Brasil. Posteriormente constatou-se que os ingleses compravam menos vinhos do que os portugueses adquiriam os tecidos britânicos. Além disso, Portugal devia dinheiro aos ingleses e tornou-se cada vez mais dependente da Inglaterra.

Pode perguntar-se o que tem isto a ver com o turismo? A nossa dependência do Reino Unido com efeitos no turismo sem contrapartidas. as receitas de turismo do Reino Unido em Portugal até outubro de 2019, antes da pandemia, de acordo com dados do Banco de Portugal, subiram 7,8% para 2.931 milhões de euros. O turismo é razão da nossa subserviência face aos Reino Unido e também da nossa sobrevivência.

No editorial do jornal Público de 30 de maio Manuel Carvalho escrevia com mostras de indignação e sobre a falta de respeito mostrado para com os portugueses pelos órgão de poder intervenientes: “Os britânicos voltaram a gozar de privilégios no Porto que se julgavam extintos há séculos. Como outrora, tiveram por estes dias direito a leis exclusivas e a estatutos de excepção. Puderam fazer o que os indígenas não podem, como reunir-se aos magotes com cerveja na mão, assistir a um jogo de futebol ao vivo, deambular em hordas pela rua e, aqui e a ali, dar largas ao mau feitio estimulado pelo álcool. Tinham prometido que nada disto aconteceria, que eles viriam e iriam numa bolha de segurança, que teriam os movimentos condicionados por “fanzones”, que haveria a garantia de que todos tinham feito testes e seriam acompanhados. Era mentira.”.

E mais adiante acrescenta: “Os jovens que jogaram a final do campeonato de râguebi acreditaram que a recusa da DGS da presença de 500 espectadores se baseava na aplicação de um critério universal, como manda o Estado de direito. Os jovens que noite sim, noite não são convidados pela polícia a desamparar os miradouros, também. Os donos dos restaurantes que correm com os clientes que se atrasam na sobremesa à hora do fecho, também. Os adeptos do futebol que sonharam com uma última jornada com duas ou três mil pessoas nos estádios, também. Quem se sujeita ao cumprimento da lei não pode aceitar que o Estado o trate como um pária no seu próprio país.”

E termina: “Mas há um equilíbrio obrigatório entre os eventuais ganhos de imagem lá fora e o insulto à dignidade dos portugueses cá dentro. Um país decente não ajusta nem suspende as regras em vigor. Nem para os adeptos do Sporting, como aconteceu no final do campeonato nacional, nem para estrangeiros.”

Parece termos voltado aos idos anos 80 quando íamos para o Algarve fugindo do calor abrasador de agosto em Lisboa para nos refrescarmos nas águas tépidas da costa algarvia.  Lá tínhamos que pagar a carestia dos cafés e dos restaurantes, baratíssimos para os ingleses veraneantes que tomavam conta do Algarve e que pensavam ser deles, e nós, na nossa terra éramos, uns pobretanas mal recebidos naqueles espaços. Nada tenho contra os ingleses nem tão pouco sentimentos xenófobos, mas a discriminação é irritante.

João Miguel Tavares num artigo de opinião caracterizou melhor do que eu o sentimento da altura “Tristemente, ocupávamos mesas sem conseguir consumir com um entusiasmo comparável ao dos britânicos – e sem deixar comparáveis gratificações. Havia histórias míticas sobre jantares bem regados que acabavam com gorjetas que valiam um mês de salário. Nenhum português pós-FMI podia competir com isso. Triste consequência: éramos maltratados pelos nossos próprios compatriotas, que nos atendiam em último, nos serviam em último, e nos traziam a conta em primeiro.”.

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