Trump e os regimes totalitários e autoritários
A comparação entre as políticas de Trump e as do regime nazi de Hitler que levaram à Segunda Guerra Mundial é um tópico sensível, controverso, complexo e sujeito a diferentes interpretações que exige uma análise detalhada e cuidadosa que não cabe neste texto, contudo poderemos fazer só algumas possíveis apreciações, é, por isso, prematuro estabelecer qualquer relação consistente.
O regime nazi, liderado por Hitler, cometeu atrocidades inigualáveis, incluindo o Holocausto, as políticas de Trump, apesar de criticadas por muitos, não alcançam a mesma escala de horror e devastação.
Hitler implementou um regime totalitário que eliminou brutalmente qualquer oposição e perseguiu sistematicamente minorias. A presidência de Donald Trump foi marcada, (durante o seu primeiro mandato, e parece no atual continuar pela mesma via), por polarização e desconfiança significativas, tanto dentro dos Estados Unidos quanto internacionalmente. Trump minou a confiança nas instituições democráticas e durante a sua última campanha eleitoral fomentou uma atmosfera de desconfiança e polarização.
Embora as ações e consequências das políticas de Trump com as de Hitler sejam substancialmente diferentes, as técnicas de manipulação de massas e de propaganda, (hoje mais sofisticadas e eficazes), demonstram alguns paralelismos históricos que não podem ser ignorados para o que alguns fatores contribuíram para essa atmosfera. O uso por Trump de linguagem e retórica divisionista, particularmente nas redes sociais desempenhou um papel significativo na promoção da polarização. Os seus frequentes ataques à comunicação social, os chamados media, a opositores políticos, até mesmo membros da sua própria administração, criaram um ambiente de conflito constante.
Algumas políticas de Trump foram altamente controversas:
A proibição de viagens a vários países predominantemente muçulmanos, a separação de famílias na fronteira EUA-México e enquanto outras eram alienadas como a reversão das regulamentações ambientais.
A resposta de Trump à pandemia COVID-19 foi, na altura, amplamente criticada por minimizar a gravidade do vírus, promover tratamentos não comprovados e de entrar em conflito com especialistas em saúde pública. Isso levou a uma falta de confiança na forma como o seu governo lidou com a crise.
As repetidas alegações de Trump de fraude eleitoral generalizada nas eleições presidenciais de 2020, apesar da falta de evidências, minaram a confiança no processo eleitoral e contribuíram para o motim do Capitólio em 6 de janeiro.
A abordagem “América Primeiro” de Trump e as suas críticas a alianças e acordos internacionais, como a NATO e o Acordo de Paris, prejudicaram as relações com aliados tradicionais e criaram incerteza no cenário global.
Estes motivos, entre outros, contribuíram para uma atmosfera de desconfiança e polarização durante a anterior presidência de Trump. Veja-se atualmente o que a administração Trump está a fazer com os imigrantes ilegais. Donald Trump, disse na última quarta-feira (26/01/25) que ordenará ao Pentágono e ao Departamento de Segurança Interna que preparem um centro de detenção de imigrantes na Baía de Guantánamo para até 30 mil imigrantes.
É inegável a utilização em ambos de retóricas inflamadas e divisionistas em que se incluem a criação de inimigos comuns, a exploração de medos e ansiedades populares para galvanizar o apoio das suas bases estratagema que Hitler também usou na altura. Em ambos os casos, essa abordagem teve o efeito de intensificar as divisões sociais e políticas dentro dos seus respetivos países evidentes no uso de retóricas que apelam ao nacionalismo e ao sentimento de frustração existente nos seus respetivos países. Hitler subiu ao poder explorando os medos da Alemanha pós-Primeira Guerra Mundial, enquanto Trump ganhou força política ao apelar para uma base de eleitores desiludidos com slogans como “Make America Great Again” e a sua propaganda anti-imigrantes.
Ambos criaram bodes expiatórios para os problemas dos seus países. Hitler culpou judeus, comunistas, ciganos, homossexuais e outras minorias, enquanto Trump tem como alvo os imigrantes, particularmente os mexicanos, e outras minorias étnicas e religiosas. Uma das políticas de Donald Trump foca-se na deportação de imigrantes ilegais e na implementação de medidas rigorosas para controlar a imigração, o que pode ser positivo, o problema está nas formas.
As perseguições e a forma como a administração Trump está a expulsar os imigrantes ilegais conforme prometeu têm também alguma coisa de desumano, ainda que se possa concordar com a decisão para controlar a população imigrante ilegal. Essas ações anti-imigração ilegais geraram medo e ansiedade entre as comunidades de imigrantes nos Estados Unidos. No entanto, repito, comparar essas políticas com o regime nazi pode ser exagero e até problemático, pois o contexto histórico e as intenções por trás das ações são significativamente diferentes. É crucial abordar essas questões com sensibilidade e uma compreensão clara das diferenças históricas e contextuais. É uma perseguição made soft.
Assim como Hitler provocou o enfraquecimento das instituições democráticas e transformou a Alemanha num estado totalitário, Trump ataca a imprensa, desacredita o sistema judicial e questionou os resultados das eleições e terá estimulado o assalto ao Capitólio.
É importante lembrar que, embora as políticas de Trump tenham sido criticadas por serem desumanas e severas elas não se comparam diretamente ao genocídio e às atrocidades cometidas pelos nazis durante a Segunda Guerra Mundial.
Outro aspeto onde poderíamos sugerir haver pontos de contacto com a ideologia nazi é que esta tinha um total desprezo pela ciência e pelas artes. A posição de Donald Trump sobre a ciência tem sido um outro tópico de debate significativo. Durante a sua anterior presidência tomou várias decisões que foram percebidas como desdenhosas do conhecimento e das evidências científicas. Por exemplo, a forma como o seu governo lidou com a pandemia de COVID-19 e suas rejeições públicas de recomendações científicas levantaram preocupações entre a comunidade científica.
Apenas alguns dias se passaram desde que Trump voltou à presidência “as suas ordens executivas e nomeações fornecem pistas iniciais sobre como o segundo governo Trump poderá destruir o notável motor de ciência e tecnologia que impulsionou a economia americana por mais de três quartos de século”, escreve o Scientific American.
O ceticismo de Trump em relação às mudanças climáticas é outro exemplo notável. Ele referiu-se repetidamente às mudanças climáticas como uma “farsa” e retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, que visava combater o aquecimento global. O seu governo também reverteu vários regulamentos ambientais, que muitos cientistas argumentaram serem cruciais para proteger a saúde pública e o meio ambiente.
Essas ações levaram ao sentimento de que como Trump tem desdém pela ciência, particularmente quando as descobertas científicas entram em conflito com seus objetivos e agenda política.
Quanto a medidas expansionistas Donald Trump fez várias declarações controversas sobre adquirir a Gronelândia, tornar o Canadá o 51º estado dos EUA e tomar controle do Canal do Panamá. Ele também mencionou que pretender mudar o nome do Golfo do México para “Golfo da América”. Essas declarações têm gerado preocupações e especulações sobre as suas intenções e o impacto que possa ter nas relações internacionais. Nestes pontos a aproximação é mais com o regime autoritário de Vladimir Putin da Federação Russa.
As comparações que possamos fazer também com o regime autoritário de Vladimir Putin pode ser excessiva, mas ambos os líderes têm mostrado tendências expansionistas e uma abordagem agressiva nas políticas externas. Poderemos considerar, se quisermos ser otimistas, que as declarações de Trump muitas vezes são vistas como táticas de negociação ou estratégias para ganhar influência, enquanto as ações de Putin têm sido mais diretas e militarizadas. Será que poderemos ficar tranquilos quanto a possíveis ulteriores?
O jornal Público publica hoje extratos de uma entrevista do jornalista russo Pavel Zarubin, que publicou no seu canal de Telegram excertos de uma entrevista que vai ser transmitida este domingo à noite na televisão estatal russa. Ainda nessa entrevista, conforme o Público, Vladimir Putin, Presidente da Federação Russa, afirmou que “o seu homólogo norte-americano, Donald Trump, vai «restabelecer» a ordem no mundo de forma rápida e vai conseguir subjugar facilmente as «elites europeias» que, refere líder russo e segundo o mesmo diário, “tentaram boicotar «ativamente» o seu regresso à Casa Branca”. Tece ainda elogios a Trump dizendo que “os líderes europeus vão acabar por «abanar a cauda» e obedecer a Trump com o seu carácter e a sua perseverança, Trump restabelecerá rapidamente a ordem. Em breve, todos se colocarão ficarão do lado do mestre a abanar a cauda carinhosamente”.