Sporting a mais segurança a menos
Mas que o evento sportinguista foi uma argolada do presidente Medina e do ministro Cabrita que poderá custar votos ao PS, lá isso foi!
Durante ano e meio contivemos a avidez de passeios, viagens, cultos religiosos, cultura, gastronomia por entre outros apetites humanos para que, em algumas horas o esforço se tenha desvanecido com a desbunda do festejo sportinguista (foi este o clube o mesmo seria com outro qualquer) com o risco de pagarmos mais tarde com a saúde pública causa potenciam da dita “manifestação” requerida pela claque sportinguista e autorizada pelas autoridades.
Manifestação? Mas que manifestação estava implícita no pedido!? Não! A palavra manifestação serviu apenas para “fintar” as autoridades com base numa interpretação falaciosa de um artigo da Constituição da República.
Segundo o Notícias ao Minuto, Bruno Pereira, do sindicato da PSP, “deu também conta que a festa junto ao estádio do Sporting foi feita depois de um pedido de autorização ao abrigo do direito à manifestação feito pela Juve Leo à Câmara de Lisboa. Segundo o vice-presidente do sindicato que representa os oficiais da PSP, o pedido de autorização inclui a indicação de que seriam montados uma infraestrutura com painéis audiovisuais e um disco jóquei.”. "Sobre isso a PSP também tomou uma posição quando auscultada pela câmara, dando nota de que esses elementos poderiam ser claramente potenciadores de uma concentração ainda maior do que aquela que já era previsível", afirmou, salientando que a PSP recomendou que não fosse instalado o écran gigante.” Isto é, a Câmara esteve a tramar-se para as recomendações da PSP. Vamos lá saber porquê? Tempo de campanha eleitoral autárquica para atrair votos de adeptos do sporting com potenciais custos para a saúde pública.
Nesta senda, e mais uma vez, surge um ministro, o da Administração Interna e a Câmara de Lisboa com o seu presidente Medina que diz haver um mail com o parecer da PSP que se terá perdido!!(?)
A culpa não estará no Sporting nem na claque Juve Leo mas nas autoridades, porque o que se passou era previsível. Só por desleixo ou incompetência é que as autoridades policiais e o Ministério da Administração Interna não soubessem o que estava em causa. Se não o sabiam então é por incompetência e se sabiam então foi por demissão das suas responsabilidades.
A Câmara de Lisboa tem a tutela sobre a Polícia Municipal e, em vez de promover os festejos de forma responsável e contida, promoveu o contrário com ecrãs fora do estádio e um cortejo de autocarros. É um desprezo completo por todos os portugueses e pelo que têm vindo a fazer, apesar de alguma violência exercida sobre as suas liberdades, embora que assumida. É uma demonstração de que há atividades e pessoas que estão acima da lei.
Sobre o que aconteceu tenho que concordar com Francisco Mendes da Silva do CDS-PP quando escreveu no Público que “o maior problema continua a ser a leveza excessiva com que o Governo brinca com a autoridade do Estado. Quando impõe medidas duras de confinamento e fecho da economia, que põem em causa a liberdade e o sustento das pessoas, o Estado deve ter a sua autoridade moral intacta. Caso contrário, é natural que as pessoas deixem de acreditar na necessidade das medidas de saúde pública. Depois do que aconteceu esta semana, o Governo não se pode admirar que os sectores mais afectados pela pandemia, da restauração aos eventos, estejam já a exigir o fim das restrições”. E, mais adiante acrescenta que “o Governo aprecia muito pouco ter de lidar com as contrariedades. Quando algo importante corre visivelmente mal, o instinto do Governo nunca é o de assumir a responsabilidade do Estado e de reafirmar a sua autoridade. É sempre o de sacudir a água do capote. Desta vez, a culpa foi descarregada sobre a PSP, que já tem um processo de averiguações com que se entreter, apesar de ter sido a única instituição a alertar para o perigo do que estava a ser preparado”.
A manifestação sportinguista é um ponto com que o dito ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, tem andado a brincar às escondidas, mas que Sousa Tavares destapa quando escreve num artigo de opinião que saiu no semanário Expresso desta semana:
“Há ministro? Não, há Cabrita. Eduardo Cabrita tornou-se uma anedota ambulante, um personagem que nem os autores do “Yes, Minister” teriam conseguido imaginar, tão grandiloquentemente vácuo ao ponto de meter dó. Tudo nele é a encarnação da inutilidade do poder, como aqueles objectos cujo volume se esgota quase todo no papel de embrulho. Adivinha-se que ensaia ao espelho poses e sentenças que toma por sentido de Estado e que julga que governar é despejar dinheiro sobre qualquer problema para se ver livre dele. É assim que está convencido de que apaga incêndios, mantém activo o SIRESP, faz esquecer o assassínio de Ihor Homeniuk ou elege presidentes. Em cada oportunidade, também não se dispensou de se chegar à frente nas fotografias e insinuar que estava na linha da frente da vigilância da nossa segurança colectiva durante a pandemia. Mas bastou uma noite — a noite do Sporting campeão — para que a tão anunciada operação montada pelas forças de segurança sob sua tutela e em planeamento concertado, diziam, com o Sporting e a DGS descambasse no espectáculo de absoluta anarquia que Lisboa viveu durante 12 horas. Andámos nós tantos meses, mais de um ano, a observar tantas regras de segurança, sem poder ir a espectáculos, ao futebol, a passear nos jardins, aqui e acolá, ainda proibidos de estarmos juntos mais de seis, de estar nos restaurantes até depois das 22h30, e dezenas de milhares de pessoas fazem o que querem da cidade, sem quaisquer medidas de segurança e sem que se veja sombra de plano algum para o precaver! E, perguntado sobre isto no Parlamento, o que diz o primeiro-ministro? Primeiro que tudo, “parabéns ao Sporting!” (dá votos e é politicamente correcto). Depois, que não vai “atirar pedras a ninguém”. E depois que o ministro Cabrita já fez um despacho para que lhe expliquem qual era o plano de segurança e por que razão ele não funcionou. Ou seja, afinal, o ministro não sabia de plano algum e fazendo um despacho a posteriori a perguntar qual era livra-se de responsabilidades! Faça a si mesmo um favor, sr. ministro: despache-se! Sousa Tavares que escreve de acordo com a antiga ortografia
Se Cabrita como se tem dito é amigo de António Costa, mais uma razão para se exigirem responsabilidades. Ser amigo e exercer funções como as que Cabrita ou outro qualquer elemento do Governo exerça é razão mais do que suficiente para o exercício da competência. Não é apenas o merecimento da confiança de um primeiro-ministro que lha confere.
Por outro lado, não será a demissão do ministro Eduardo Cabrita que irá contribuir para a resolução dos inúmeros problemas com que o Governo terá de se confrontar até às próximas legislativas. Um ministro bode expiatório fará sempre falta e poderá ser um fator distrator para a oposição fazer figura, deixando de lado outros problemas mais importantes.
Mas que o evento sportinguista foi uma argolada do presidente Medina e do ministro Cabrita que poderá custar votos ao PS, lá isso foi!