Síntese duma ida e dum regresso ou a política nunca se esquece
Após semanas de silêncio por ter andado por terras de Espanha e França do sudoeste volto aos comentários habituais sobre política já que a ausência da falta de imprensa e televisões nacionais foram um intervalo desintoxicante e porque o Euro 2016 parece ter-se sobreposto a tudo quanto é política. Mas a este ponto voltaremos no próximo comentário.
Em Espanha, antes das eleições, debates e mais debates televisivos entre os líderes dos quatro principais partidos encheram-me o papo com argumentos sem novidade.
Jajoy, do PP, defendendo uma direita desgastada, mantendo o mesmo estilo de velho conservador sem novidades e sem rumo, mas que fazia suspeitar ao que viria se ganhasse as eleições e que, de facto, veio a ganhar sem maioria absoluta.
O PSOE com Pedro Sanchez mais parecia uma balança desequilibrada cujo fiel da balança não conseguia encontrar. O PODEMOS é uma dose esquerda enfezada cujo receituário de algumas vitaminas que Jajoy lhe proporcionou e que lhe permitiu alcançar algum espaço desocupado pelo PSOE. Prometia referendos de independência para regiões que podem vir a ser caixas de Pandora. Pablo Iglésias apresentava propostas boas se não fossem desadequadas ao momento que a UE atravessa. Iglésias é um líder cujo carisma, postura e imagem foram criadas para ficar mais ajustado a um estereótipo da classe trabalhadora. Bem poderia ser um líder dum partido que poderia fazer história juntamente com o PSOE, mas a embriaguez do crescimento rápido conduziu-o a um certo radicalismo de esquerda que parece preferir que a direita esteja no poder a fazer cedência para mudança de rumo. É isto que tem prejudicado a esquerda em Espanha com sorrisos de contentamento da direita.
O PSOE lá conseguiu, afinal, o segundo lugar nas eleições, imediatamente à frente do PODEMOS. Em conjunto obtiveram nas cortes espanholas uma maioria de deputados superior ao PP. Porém para o PODEMOS a teoria do comportamento operante de Skinner parece não se aplicar, ao contrário dos ratinhos da investigação que, face a um reforço negativo encontram sempre a solução para sair do labirinto.
Em França na região onde me encontrava não se sentiu o efeito dos movimentos e greves da CGT contra a reforma da lei laboral. Aparentemente a política passa despercebida na azáfama dos enormes TIR que circulam sem parar fazendo filas imensas. Um trânsito intenso nas autoestradas, talvez devido ao Euro 2016, tornava as viagens cansativas para as quais o tempo também não ajudava, passando de violentas chuvadas que transmitiam insegurança para quem quisesse, mesmo a sol aberto, pôr o pé na praia de Biarritz onde surfistas faziam a rotina do vai e vem constante para tentarem apanhar a onda perfeita, à altura de cada um claro está, mas que nunca chegava. Era uma espécie de mito de Sísifo aplicado, sem desistência, até ao pôr-do-sol.
Finalmente, cheguei ao nosso Portugal. Com grande espanto ouço, sobre a questão das penalizações da UE por causa do não cumprimento dos dois décimos do défice, os disparatados argumentos de Passos Coelho e de alguns dos seus mais fiéis acólitos (ditos patriotas) que fazem parte do calhambeque que é hoje a oposição. Mas sobre isto irei escrever proximamente.
Quanto à saída do Reino Unido da UE como resultado do referendo outro espanto: a desresponsabilização e abandono de três influentes políticos como se nada tivesse acontecido por culpa deles e fogem como ratazanas dum navio que está prestes a afundar-se.