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Serão os professores os inúteis mais bem pagos deste país?

03.02.23 | Manuel_AR

Um bom professor.png

A inutilidade não é, portanto, dos professores, mas de quem, demagogicamente, os agita e incita, e que, muitas vezes, se encontra em desespero de causa pessoal que contribui para transformar a profissão numa coletividade profissional enferma que, confusa, acabará por perder o sentido de si mesma e da utilidade da sua indispensável profissão.

Em novembro de 2013 escrevi um texto que, erradamente seria uma afirmação que Miguel de Sousa Tavares que seria uma frase contida numa das suas crónicas que pode ler aqui. Passados estes anos vim a saber que, afinal, o referido cronista não terá escrito tal coisa. Erro meu! Na altura deveria ter confirmado a fonte onde me baseie. Isto porque me baseei num comentário de alguém que li no Facebook e que dizia ser professora e que citei na íntegra.

Apesar da frase que foi grandemente ofensiva para os professores, e que Sousa Tavares disse não ser da sua autoria, vem mesmo a propósito e encaixa-se na atualidade. Passados todos estes anos a frase parece-me agora fazer algum sentido no contexto daquilo a que chamam luta e que mais parece ser dirigido por um sindicato anarquista.

Há que esclarecer, contudo, que os professores não são inúteis, bem pelo contrário, pois a inutilidade remete à falta de qualificação e de finalidade do trabalho, entre outros, e eles são parte integrante na formação pessoal e social, das nossas crianças e jovens que são o futuro do país, por vezes boa, por vezes má.

Os professores trabalham não apenas em nome do conhecimento e da educação em geral, tanto quanto médicos trabalham em nome da saúde, agricultores em nome da produção de alimentos, motoristas em função de transportes, advogados em nome de direitos, jornalistas em nome da informação, neste último caso deveria ser assim. Há profissões dedicadas a urgências ou emergências, outras que se dedicam a entretenimento e lazer.  Em todas as profissões existe a razão de uma necessidade que as justificam. No caso dos professores os que se desenvolvem e giram à sua volta são improdutivos pela sua própria natureza. Ou melhor, eles produzem inutilidades e incitam à inutilidade.

A inutilidade não é, portanto, dos professores, mas de quem, demagogicamente, os agita e incita, e que, muitas vezes, se encontra em desespero de causa pessoal, e que contribui para transformar a profissão numa coletividade profissional enferma que, confusa, acabará por perder o respeito e o sentido de si mesma e da utilidade da sua indispensável profissão.

As greves, quase selvagens, mobilizadas por alguns sindicatos que têm por detrás direções, algumas duvidosas no que respeita à ética que deve gerir este tipo de movimentos. Um destes sindicatos, o S.T.O.P. sem história sindical, formou-se a partir dum movimento de geração espontânea na rede social Facebook que dizia lutar contra a prova de avaliação de capacidade e conhecimento dos professores, (diga-se necessária, mas mal formulada de cujo critério era duvidoso para o efeito), criada pelo anterior Governo PSD-CDS. Já na altura a liderança daquele movimento, tal como a avaliação que o ME pretendia impor, era, demonstrativa da inutilidade da classe que seria avaliada, mas que o não queria ser, colocaria os seus interesses pessoais à frente do interesse coletivo dos professores e da sua qualidade pondo em último lugar o interesse de alunos e famílias, estes, sim, o fim primeiro, e último, da utilidade dos professores.

O sindicato radical extremista S.T.O.P. que se diz apartidário, nasceu originário daquele movimento tipo anarquista em 2018. O apartidarismo que o dirigente daquele sindicato proclama levanta-me dúvida e coloca-me numa situação de desconfiança e de alerta. Apartidarismo não significa apolítico, portanto, há uma ideologia oculta por detrás. Na apresentação do sindicato a palavra mais repetida do seu dirigente era “Vamos fazer luta a sério” e que, diz ele, o da direção, estar farto da “luta mansinha” das estruturas congéneres.

Recorrendo ao Público podemos traçar um resumo do perfil da direção daquele sindicato. Parece-me ser alguém que sentindo falta de reconhecimento, apesar do doutoramento em bioquímica que conseguiu. Professor contratado, e também na altura a trabalhar na Grande Lisboa tinha sido delegado sindical da Fenprof, de onde saiu desiludido com a falta de abertura à renovação da estrutura.

Dizia o próprio, em fevereiro de 2011, que “após o doutoramento teve de aceitar um horário numa escola de seis horas semanais, em Serpa, a ganhar 360 euros. Não dava para pagar a renda em Lisboa, tão pouco para as deslocações.” Sendo doutorado estranhamente não se percebe porque concorreu ao ensino básico, quando poderia candidatar-se ao superior. Terá tido razões para isso.

Numa breve análise a esta declaração podem tirar-se algumas ilações e levantar algumas dúvidas. Terá a luta desencadeada partido duma posição pessoalizada que conseguiu transformar em coletiva? Claro que este ponto de vista se encontra no domínio dos juízos de intenção, mas este é o meu juízo como espectador e não como político, isto por que é proferido por um observador que não participa no evento político, por outro lado o juízo político não me seria possível fazê-lo por não estar envolvido diretamente no processo.

A professora anteriormente referida escreveu no Facebook naquele ano o que pensava sobre o autor da frase e que passo a citar: “O que escreveu é um atentado à cultura portuguesa, à educação e aos seus intervenientes, alunos e professores”. Hoje podemos dizer que tem razão, mas noutra perspetiva. O que se tem passado com as greves quase selváticas, agressivas, é prova suficiente para que situem os professores como um atentado à digníssima profissão, à educação e aos seus intervenientes, alunos, pais, encarregados de educação em geral, colocando-os em situação desvantajosa nas suas profissões devido à leviandade de um senhor que não tem qualquer consideração pelo respeito que aos professores é devido.

Fui professor de alunos no ensino superior que lá chegaram para serem professores, para não serem inúteis e que vieram das mãos de professores que não eram inúteis. A inutilidade está, mais uma vez, em quem, demagogicamente, os agita e incita, e que, contribui para a transformar uma profissão digna, imprescindível, mesmo tendo como auxiliar as tecnologias disponíveis, numa profissão enferma que, confusa, acabará por perder o sentido de si mesma e da utilidade da sua indispensável profissão.

A senhora do referido texto escreveu também que: “Tenho contra pseudojornalistas, que são, juntamente com os políticos, ‘os inúteis mais bem pagos do país’, que se arvoram em salvadores da pátria, quando o que lhes interessa é o seu próprio umbigo.”.

Vemos como esta senhora dá o seu contributo para a democracia, desacreditando-a com ataque aos políticos. Como julgará ela, a senhora professora, a democracia sem políticos e sem jornalistas? E não estaria ela a olhar para o seu umbigo quando escreveu o texto?

Serão os professores os mais bem pagos deste país? Não são. Como não o são os trabalhadores de muitas outras profissões tão dignas como a dos professores, como médicos, enfermeiros e tantos outros; como não são bem pagos os elementos das famílias dos alunos que perdem aulas; como não o são outros trabalhadores do setor público e do setor privado; como não o são os professores das escolas privadas que não têm segurança de emprego para toda vida e cuja possibilidade de fazerem greve causadora de instabilidade do seu emprego; como não o são as pensões dos reformados que vivem com reformas baixas.

Mas a classe que se diz indispensável coloca-se radicalmente numa perspetiva umbilical; querem mais, querem muito mais do que será possível; querem tudo, mesmo para além do respeito que não é mais do que a fachada do edifício que os líderes sindicais, com exigências demagógicas, os iludem, os conduzem para lutas insensatas que prejudicam mais, e apenas, os que, dizem, defender, os alunos e suas famílias que tentam captar para lhes darem apoio.

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