Será que para burros só nos faltam as penas?
Depois do contratempo de Barcelona voltei ao ativo editorial deste blog. E começo pela questão da dívida pública que, a propósito, foi ontem constituída mais uma plataforma que elaborou um relatório sobre como a pagar em é substituída a palavra reestruturação por forma de pagar. Conclusão? Há agora dois relatórios e uma convicção comum: a dívida é excessiva.
Ultrapassado o problema do défice a direita PSD centra agora a sua “raiva” oposicionista sobre a dívida pública sobre o que evitava falar e discutir. A direita há tempo trás, quando estava no governo nem queria ouvir falar nisso alegando na altura dificuldades que se prendiam com os mercados, e diabolizava todos quanto se referiam à palavra reestruturação da dívida. Lembrou-se agora a direita de constituir uma plataforma donde saiu um documento sobre o tema, após ter sido apresentado um outro elaborado por um grupo do PS e BE.
Compreende-se que o problema da dívida é melindroso e há que pegar nele com algumas pinças. No entanto, a direita nem com pinças lhe queria tocar. Parece agora que tudo mudou, porque, indo a reboque constituiu uma “plataforma” que autodenominou de PCS, Plataforma para o Crescimento Sustentável, (sigla que mais parece um disfarce, pois as letras P, C e S da referida sigla podem até querer significar Partido Comunista Social, ou coisa que o valha. Uma mistura de PC com PS, com um C no meio, talvez!).
A dita plataforma diz não ser do PSD, mas que é próxima do PSD. Isto é, aos seus elementos falta-lhes apenas o cartão de partido, porque, de resto, está tudo lá. Tentam fazer parecer que não é aquilo que é fazendo dos outros burros. Faz-me lembrar aquela anedota em que um sujeito diz para outro: “Para burro só lhe faltam as penas”. A reação foi imediata: “Mas burro não tem penas!” Ao que o primeiro responde: “Bom, então não lhe está faltando nada.”
A PCS diz-se uma “associação independente, sem filiação partidária”. Todavia, quem pertence ao conselho consultivo é Francisco Pinto Balsemão, um dos fundadores do PSD que, pelos vistos, parece não querer ser do PSD nesta andança, já que são apenas próximos do PSD conforme declaram. Neste momento ainda não se vislumbra o posicionamento de Passos Coelho face a esta plataforma PCS.
O projeto que o grupo de trabalho do PS e BE apresentou para discussão e reflexão sobre o tema da dívida pública tem que ser analisado e avaliado com algum cuidado para não ter um efeito contrário ao pretendido, pondo em risco a estabilidade dos mercados no que se refere aos juros e “ratings”.
Prevendo outros ventos europeus sobre a gestão das dívidas públicas a direita, que diz que a sua plataforma não é PSD, mas que é PSD, vai a reboque, dizendo que não se trata de reestruturação, mas da forma de como pagar. Tirando o PCP e BE, alguém pretende o perdão, ou disse que não se devia pagar a dívida? O que esta direita pretende, como sempre fez, é confundir, enganar, baralhar.
Recordo que a primeira ideia apresentada sobre uma eventual restruturação da dívida lançada para debate, já lá vão mais de três anos foi o manifesto subscrito por 70 personalidades portuguesas que defendia que a reestruturação da dívida devia obedecer a três condições: abaixamento da taxa média de juro, alongamento dos prazos e reestruturação, pelo menos, da dívida acima dos 60% do produto interno bruto. Um dos subscritores que assinou o manifesto foi Manuela Ferreira Leite do PSD, que, na altura, foram diabolizados por Pedro Passos Coelho e pela sua “entourage” que, agora, e ainda bem para o PSD, mudaram de ideias.
O grupinho PCS quer um plano pós-troika de reformas para pagar a dívida, mas o que eles entendem por reformas já nós sabemos bem. O pós-troika é o regresso ao passado troikista com outro nome, e mais adocicado. Tudo isto não é mais do que um engodo, para ver se conseguem subir um pouco nas sondagens que andam muito pelas ruas da amargura, lá isso pode ser.