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Redes sociais e legiões de fracos transformados em fortes

14.11.18 | Manuel_AR

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Hoje venho para aqui falar de imbecilidades e de imbecis que frequentam as redes sociais, fazem comentários nos jornais online e que, como eu, escrevem em blogs. Isto por me ter lembrado de Umberto Eco, vulto enorme da cultura europeia, filósofo, escritor, semiólogo, linguista de fama internacional que em junho de 2015, quando recebeu o título de doutor honoris causa em comunicação e cultura na Universidade de Turim, afirmou publicamente que “As redes sociais dão o direito à palavra a uma legião de imbecis que antes apenas falavam num bar depois de um copo de vinho sem prejudicar a comunidade e agora eles têm o mesmo direito à palavra do que um Prémio Nobel, é a invasão de idiotas ". Declaração que podem consultar aqui.


Numa primeira leitura diria que Umberto Eco estava a chamar-me idiota e imbecil a mim e a outros milhares, e com alguma razão. Embora em Portugal não tenha sido dada muita relevância ao facto, mesmo assim muitos se indignaram quando aquelas afirmações foram proferidas e, claro, muitas idiotices também se escreveram nos comentários na imprensa online e sites de canais televisivos como podem confirmar neste exemplo.


Jornalistas e intelectuais que tinham os seus blogues e contas em rede sociais reagiram e indignaram-se. Eu que também escrevo para um blogue e não sou Prémio Nobel, segundo o ponto de vista do próprio Umberto Eco, também estaria incluído no conjunto dos imbecis, mas não me indignei e até concordei com ele. As interpretações que foram dadas ao que ele disse é que foram erróneas.


Umberto Eco não se referia aos que escrevem e defendem opiniões pessoais ou partidárias, confrontam ideias, cada um à sua maneira, com narrativas e argumentos melhores ou piores, bons ou maus, discutíveis, concordantes ou discordantes de outros pontos de vistas. Referia-se ele aos selváticos imbecis que proliferam nas redes, profissionais da ofensa, da difamação, da mentira, da calúnia, da asneira, das informações falsas que, não sabendo redigir argumentação inteligível, utilizam uma linguagem obscena, grosseira, ofensiva, apenas e porque não concordam com outras opiniões que não sejam as da sua própria inabilidade argumentativa. Outros há, ainda, que utilizam uma linguagem intelectualoide numa amálgama de ofensas e obscenidades para que deem crédito à sua voz estupidificante.


A troca de comentários e a avidez de novidades estruturam a participação nas redes sociais. As pessoas já estão acostumadas a comentários rápidos e superficiais sobre tudo e todos. É fácil ver nesses comentários a preocupação de cada um em simplesmente dar sua opinião, mais do que ouvir a alheia. A opinião do outro é apenas a oportunidade para expressar a sua própria através de linguagem do mais baixo nível. São os “bullies” e os hooligans das redes sociais.


Era a todos estes que Umberto Eco se referia. Quando antigamente estavam silenciados por falta de canal agora são percursores de campanhas de notícia falsas e outras idiotices para captar cidadãos bem-intencionados, mas incautos, para as suas debilidades e posturas mentais. Umberto Eco terá sido o percursor da adjetivação dessa gentalha que prolifera nas redes sociais. Felizmente que, atualmente, cada vez mais comentadores e jornalistas de vários quadrantes ideológicos têm a mesma opinião.


O caso é tanto mais preocupante quanto mais essa imbecilidade que Umberto Eco menciona interfere pela distorção, invenção e falseamento de factos e notícias arquitetados e engendrados premeditadamente com finalidades e efeitos perversos. A estas estratégias, utilizadas em redes sociais, é dada cobertura com o exemplo dado por altos responsáveis de países com importante influência na política mundial como são os EUA. Quando o próprio presidente deste país, Donald Trump, manda manipular imagens de um facto captado e testemunhado presencialmente por várias pessoas e divulgadas mundialmente é evidente que outros farão o mesmo. Quando um presidente utiliza uma rede social para divulgar notícias falsas para combater órgãos de comunicação credíveis e responsáveis e lhes abre uma guerra aberta, não podemos estranhar que outros façam o mesmo com as mais obscuras intenções.


No caso do presidente do EUA a mentira e a manipulação sobre factos são validados pela ignorância de quem os lê, ouve ou vê sem qualquer necessidade de conferir. O que lhes é dado é uma presumível verdade assente na credibilidade da proveniência numa tese de: é emitida pelo próprio poder logo é credível, mesmo que falsa.


O vídeo abaixo é o original do canal CNBC.



Pode ler aqui a notícia completa.


O vídeo seguinte é o vídeo manipulado pela Casa Branca publicado no jornal online espanhol El Pais.



Podem ver mais aqui.

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