Quando o réu quer virar juiz
A direita, especialmente o PSD de Passos Coelho, tenta desvincular-se da política que adotou enquanto esteve à frente do Governo. O PSD tenta agora na comissão de inquérito ao BANIF mostrar que nada teve a ver com isso, desculpabilizar-se e apagar parte do seu mandato. Na Assembleia da República o PSD aproveita a comissão de inquérito e a visibilidade televisiva para atacar e responsabilizar o Governo em funções. A sua pedra no sapato é o ministro das finanças Mário Centeno porque, se este conseguir mostrar durante o mandato deste Governo que há outros caminhos para atingir os mesmos objetivos, mostrará o fracasso do Governo anterior e a política da severa austeridade que apoiou, (apenas para alguns), imposta pela UE e pelo seu defensor incondicional que é o ministro das finanças alemão.
Podemos questionar, se, quem não resolveu o problema do BANIF por incompetência, desleixo, ou talvez premeditadamente para precaver uma eventual perda de eleições tem moral política para acusar seja quem for pela situação criada no naquele banco. Poderemos perguntar ainda se já estão esquecidos dos estrondosos problemas que enredaram o Governo de que faziam parte?
O Governo anterior passou o problema para o senhor que se segue que, a custo, o resolveu enquanto elementos do PSD que estão na comissão de inquérito constroem artifícios irrelevantes fazendo-os parecer mais importantes do que na realidade são.
O PSD ainda está no rescaldo da incapacidade de Passos Coelho, aliada a um certo ressentimento por não ter conseguido constituir Governo. Diria até uma certa ira para com o atual que, até ver, mostra estar a governar. Passos Coelho, por seu lado, mantém o registo de primeiro-ministro mas sendo ex-primeiro-ministro que algumas e desvairadas cabeças do PSD aconselham a manter como estratégia de modo a não fazer parecer exatamente aquilo que é, um ex-primeiro-ministro como tantos outros o já foram.
O PSD quer mostrar que não tem estratégia entrou num estado de aparente catalepsia esperando sentado. Isto é, está numa espécie de comprometimento e numa oposição inerte talvez porque nada tenha para apresentar de novo e que não seja ideologicamente neoliberal. O PSD estar a favor é comprometer as suas políticas passadas, abster-se é o mesmo que dizer que não concorda e estar contra é o mesmo que estar contra medidas que a maioria da população, bem ou mal, aceita.