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Professores e as polemicas descentradas da educação

07.04.18 | Manuel_AR

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 A colocação de professores, tanto quanto me recordo, ao longo dos anos de democracia, esteve sempre sujeito a concurso e os professores provisórios, em concurso anual, selecionavam as escolas mais próximas possível das suas residências e as que mais lhe convinham em função dos critérios definidos.


Parangonas (do jornal Público) dizem agora que professores vão ter de mudar de escola outra vez, como se tal não fosse habitual. Diz o mesmo jornal que "esquerda e direita uniram-se, no Parlamento, para obrigar o Governo a abrir um novo concurso destinado a todos os professores do quadro. A Secretária de Estado alerta que vão ser postas em causa mais de 13.000 colocações".


Parece-me que o objetivo é criar entropias para que tudo corra mal na colocação de professores do próximo ano letivo. Para uns, é motivo para greves, contestações e manifestações lideradas pelo manipulador mor dos professores, o dr. Mário Nogueira. Para outros, a direita, é motivo para explorar o descontentamentos e, através disso, mobilizar professores para oposição ao Governo.


Tendo em conta a educação e os atores mais em evidência no processo educativo que devem ser os alunos, os professores devem deixar a observação do seu umbigo e centrarem-se mais sobre o tema da contextualização e da fundamentação sobre uma nova educação que mais tarde ou mais cedo virá a impor-se. Essa é a reivindicação!


 Manuel A Rodrigues


Março 2013


Educação e professores: contextualização e fundamentação


 - Poderia dizer-me, por favor, qual o caminho para eu sair daqui?


- Oh, mas isso depende muito, minha cara menina, do lugar para onde você quer ir...


- Não me importa muito para onde.


- Neste caso, não importa muito por onde você vá...


Lewis Carrell


Alice nos País das Maravilhas


 


Uma das principais características das sociedades contemporâneas é a rápida velocidade da mudança, donde a necessidade de lidar proactivamente com a mudança ao longo da vida que é marcada pela informação que tem de ser gerida, selecionada e transformada em conhecimento, pelo que se impõe uma mudança de paradigma educacional (Fullan, 1993).


Deste modo os professores precisam de ter clareza sobre o caminho educativo por onde querem ir. Isto significa que é preciso que, cada educador, se indague sobre o tipo de pessoa que pretende ser e sobre o tipo de sociedade que deseja ajudar a construir.


Numa sociedade, em processo de mudança acelerado, cada dia mais voltada para a tecnologia, é preciso refletir sobre se querem ajudar a construir sujeitos ativos, transformadores ou meros sujeitos passivos, recetores de conhecimentos.


A Sociedade da Informação exige novos conhecimentos, novas competências e novas práticas o que se reflecte numa necessidade de formação e aprendizagem permanentes que não se adequam em termos de tempo espaço com os atuais modelos praticados ainda na maior parte das escolas. A abertura à receptividade e à mudança inicia-se nas escolas e nas universidades, para que seja dada resposta à necessidade de professores mais flexíveis e dinâmicos.


É função inerente  dos professores contribuírem para a melhoria dos processos de ensino-aprendizagem, e o seu alargamento a grupos populacionais afastados geograficamente das Escolas e Universidades, pelo que existe a necessidade de desenvolvimento de conteúdos educacionais específicos para este tipo de ensino em quem as redes sociais podem ser um instrumento de comunicação  que  assumem um papel fundamental.


Por outro lado, os professores devem centrar-se eles próprios na importância da necessidade de educação/formação ao longo da vida decorrente da constante produção de novos conhecimentos, dinâmica que professores e escolas devem estar conscientes pela necessidade que se impõe no ensino e na aprendizagem.


Harasim, et al (1995) refere algumas investigações efetuadas em vários países desde a década de oitenta, que tiveram como base a utilização do correio electrónico, com crianças do ensino básico que se corresponderam com crianças do mesmo ou de outros países. Outras investigações pretenderam saber até que ponto a escrita dirigida para audiências reais através da socialização virtual poderia, ou não, melhorar a escrita, tendo concluído com resultados positivos.


Desde então as aulas em rede têm florescido, tirando vantagens das novas comunicações em rede para incluir discussões, projectos, pesquisa em actividades científicas, ambientais, sociais, políticos e económicos, etc..


Os professores precisam, então, ter um norte, um horizonte que os oriente. Quando o professor tem clareza sobre onde quer chegar, encontrará teorias que o ajudem a descobrir o melhor caminho para lá chegar. Se o horizonte da escola é a busca da construção da cidadania, serão procuradas respostas sobre o caminho a seguir com os alunos e espaços da construção de conhecimentos de forma autónoma e solidária.
Técnicas e métodos significam muito pouco se não se tem um horizonte em vista.
Cada professor terá de saber onde quer chegar. Sabendo o ponto de chegada fica mais fácil traçar o roteiro da viagem com os alunos.


Até há pouco tempo os currículos organizavam-se de forma disciplinar. Disciplinas estanques, sem integração entre si, eram discutidas com os alunos, através de conteúdos isolados, com finalidade em si próprios.


Atualmente, cada vez mais, os professores têm a oportunidade de poder articular entre si os conhecimentos das várias disciplinas, com maior razão quando se trata da formação de professores para o 1º Ciclo do Ensino Básico que irão exercer a sua actividade em regime de monodocência. Os professores devem repercutir na sua atuação devem evitar sempre tal for possível, discutir conhecimentos desvinculados da vida e fragmentados entre si.


A realização de práticas interdisciplinares depende de factores como sejam a humildade, a comunicação, espírito crítico, criatividade, compromisso e trabalho em equipa, que são pouco comuns nos espaços educativos das escolas sejam organizados segundo princípios de segmentação temporal, espacial e programática.


Os conteúdos das disciplinas tendo como eixo os princípios educativos e núcleos conceptuais, deveriam interpenetrar-se num todo harmónico e pleno de significado para os alunos, pelo que a interdisciplinaridade poderá ser uma via para atingir estes objectivos. A interdisciplinaridade exige uma mudança radical e uma flexibilidade para aceitar a inovação o que gera um confronto com as estruturas montadas, com a acomodação, com os dogmatismos e preconceitos ideológicos.


Não existindo aquela “ruptura” continuará a existir uma instituição cujo espaço e o tempo não coincidem com o espaço-tempo da cultura atual, que tenderá a manter-se anquilosada pelos discursos ideológicos conservadores da direita e da esquerda para se manter o status quo que lhes mantenha o poder de mobilização reivindicativa dos professores destituídos do interesse dos alunos


A vida moderna caminha cada rapidamente para a eliminação de fronteiras nos campos económico, político e cultural. O desenvolvimento das telecomunicações e das redes sociais e outros novos media vieram atenuar os limites geográficos. As ciências, progressivamente integram conhecimentos de várias áreas. A medicina, por exemplo, já incorporou ao seu campo de actuação princípios da moderna física, avançando na medicina nuclear. A agricultura tem beneficiado da engenharia genética. O mesmo deve acontecer em educação. Assim sendo, um professor de Geografia, por exemplo, não se pode isolar, nos limites de sua disciplina, sob pena de continuar a lidar com o saber de maneira fragmentada e desarticulada.


Não basta que alunos e professores, sejam capazes de realizar apenas procedimentos elementares nas suas aprendizagens, mas que desenvolvam também competências de aprendizagens transdisciplinares com um tempo significativo de prática sem afastamento das competências e objetivos curriculares venha a garantir aos alunos a transferência das aprendizagens e autonomia.


A perspetiva interdisciplinar visa preparar/formar alunos para novos ambientes de aprendizagem cuja vantagem se insere numa auto-formação ao longo da vida.


Experiências anteriores em redes de aprendizagem demonstraram que podem ser obtidos benefícios significativos na educação.  A qualidade das interações pode ser aperfeiçoada e melhorada, pois que, a interação, através de redes, ajuda a quebrar as barreiras e inibições da comunicação que limita a troca aberta de ideias nas salas de aula tradicionais (Eisenberg e Ely, 1993).


Os professores que participam em comunidades profissionais de aprendizagem envolvem-se em reflexões e debates acerca do impacto que as tecnologias têm nas suas práticas e nos seus alunos (Shapiro eLevine, 1999). As ferramentas de cooperação “online” utilizadas em comunidades de aprendizagem e desenvolvimento profissional   podem ser usadas para o diálogo e para produção de produtos pelos professores para análise e discussão e avaliação entre os diferentes elementos do grupo. Daqui a lógica, que tem em conta o desenvolvimento dos professores para adquirirem competências no domínio do ensino on-line para que o possam utilizar para si ao longo da vida preparando também os seus alunos com a fluência necessária nestes domínios.


 A internet proporciona um nível motivacional muito elevado para professores e alunos que interagem com o computador com entusiasmo, o que falta normalmente nas aulas mais convencionais, estimulando ao mesmo tempo a partilha de ideias com outros colegas quer professores quer alunos.


A decisão para a adopção educacional de redes fundamenta-se segundo Kaye (1991) em desenvolver oportunidade para estabelecer interacções sociais como os seus parceiros.


Já em 1993 Harasim e Yung, num levantamento efetuado na Internet entre 240 professores e alunos, 70% mudaram a forma como eles viam a educação. Em 176 respostas à questão sobre o que é diferente na comunicação mediada por computador é diferente das aulas tradicionais 90% foram respostas positivas e notavam que:



  • O papel do professor mudava para o de facilitador e orientador;

  • Os alunos eram mais activos e participativos e as discussões eram mais detalhadas e profundas;

  • Os alunos tornavam-se mais independentes;

  • O acesso ao professor torna-se mais directo e como pessoa idêntica;

  • A aprendizagem torna-se mais centrada no aluno, e ao seu próprio ritmo;

  • A oportunidade de aprendizagem para todos torna-se mais equitativa e as interacções entre o grupo aumentam significativamente;

  • O ensino-aprendizagem é colaborativo;

  • Há mais tempo para refletir ideias e explorá-las;

  • A hierarquia professor-aluno é quebrada e os professores aprendiam e os alunos ensinavam.


As interacções on-line partilham muitas das características com o modelo da educação presencial, como sejam a entrada de ideias discussões de turma, debates, e outras formas de conhecimento através da troca de ideias. O conteúdo do currículo pode ser organizado por tópicos sequencial e atempadamente, e os alunos podem trabalhar em pequenos ou grandes grupos e individualmente. Desta forma os ambientes on-line facilitam o resultado da aprendizagem sendo iguais ou superiores aos gerados em situações presenciais. (Hiltz, 1994; Wells, 1990)


 


Bibliografia



Eisenberg, M. B.; Ely, D. P.



1993, Plugging into the Net. ERIC Review 2(3), 2-10


http://www.kidsource.com/kidsource/content2/ how_can_computer_network.html



Harasim, L.; Yungt, B.



1993, Teaching ans Learning on the Internet. Department of Communication, Simon Fraser University, Canadá



Hiltz, S. R.



1994, The Virtual Classroom: Learning without Limits via Computer Network. Human-Computer Interactions Series, Norwood, Ablex Publishing Corporation



Wells, R. A.



1990, Distributed Training for the Reserve Component: Remote Delivery Using Asynchronous Computer Conferencing, Idaho National Engineering Laboratory.



Shapiro, N. S.; Levine, H. J.



1999, Creating Learning Communities: A practical guided to winning support, organizing for change, and implementing programs. Josey-Bass Publishers, Inc, Sam Francisco



Fullan, Michael



193, Changes Forces, The Fal~mer Press, London



Gaspar, Maria Ivone



2001, Ensino a Distância e Ensino Aberto – Paradigmas e Perspectivas, Perspectivas em Educação, Nº especial, Junho 2001, U.Aberta