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Pretensos democratas que descredibilizam a política

As suas verdades, meias-verdades e factos alternativos

17.05.23 | Manuel_AR

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O espetro partidário da direita tem vindo modificar-se desde 2015. Em 2017 é fundado o Iniciativa Liberal (IL) e concorre às primeiras eleições legislativas e pela segunda vez em 2022 conseguindo oito deputados. O partido Chega concorreu às Eleições Legislativas Portuguesas de 2019 e em 2022 obteve doze deputados.

A suposição que se pode fazer é que a maioria dos eleitores destes partidos terá a sua origem em simpatizantes que votariam anteriormente no PSD e no CDS o que, em parte, pode explicar as enormes perdas destes dois partidos em número de votantes. É assim compreensível que os novos partidos com assento na Assembleia da República tentem conquistar ainda mais votos, e o PSD e o CDS conseguir que os “fugitivos” também os que terão votado no PS de arrependam voltem ao partido e origem.

O Chega pela voz do seu presidente faz uma oposição que se limita a descredibilizar políticos e a política, isto é, descredibiliza a própria democracia. Os que assim procedem uns consideram-se incorruptos e outros apolíticos. Ao atacarem a política e os políticos estão na substância a fazer política e a proceder como políticos. A pergunta que se coloca a estes e aos que pensam que todos os políticos deveriam ser banidos é: como é que eliminariam toda a classe política e por quem a substituiriam?

Montenegro não segue por esse caminho, mas, para chegar ao poder, não rejeita qualquer participação e oportunidade para denegrir os políticos a quem faz oposição em vez de criticar as suas políticas passa o tempo a dedicar-se a casos que em nada contribuem para as reformas necessárias. Contribui para denegrir a própria política para recuperar votos aproximando-se do percurso do Chega por caminhos mais subtis.

São os populistas que espalham a desconfiança em relação aos políticos, que ocultam inevitabilidade da política, como se esta pudesse ser despenhada por quem não é político.

Fará sentido que se alimentem críticas em relação aos parlamentares, representantes do povo, quando os que os criticam dizem estar a falar em nome da voz do povo descontente com os políticos?

Os populistas são uns elitistas políticos virados em sentido contrário, isto é, são senhores do pensamento que propagam defendendo que não acredita que o povo é igual aos seus governantes, mas sim que é melhor que os seus governantes. Basta analisar com cuidado as atitudes, comportamentos e até os discursos fátuos de partidos na Assembleia da República que se acham grandes representantes da vontade do povo contra os partidos, os políticos e a política desde que não sejam eles. É por isto que se torna imperioso que se combata a iliteracia política que tende a devastar toda ação política e governativa lançada na opinião pública e no seio das massas populares.

Há partidos e políticos cujo líderes têm por missão desqualificar os outros com ataques pessoais, fazendo-nos acreditar que eles próprios não agem como políticos ou que são políticos de uma elite à parte. Fazem-se desinteressados e suprapartidários e mostram ser contra o número de deputados, mas que como tal usufruem das mesmas regalias.

Houve tempo em que um líder dum partido de extrema-direita que defendia a proposta de reduzir o número de deputados. Se tal fosse aceite a Assembleia da República seria ainda menos capaz de controlar os executivos. Talvez isso interessar a quem tal propões na esperança de um dia serem Governo.

Partidos e líderes partidários que fazem oposição ao Governo colocam-se por vezes numa posição suprapartidária e de infalibilidade nas afirmações e críticas que proferem usando uma linguagem polissémica e dúbia a partir de retóricas supostamente baseadas em factos desfigurados a que depois chama por factos alternativos.

O populismo vive de inverdades, de meias-verdades, de mentiras e de factos alternativos, ou verdades alternativas como se queira. O Dicionário Inglês de Oxford (Oxford English Dictionary) dá o significado para facto "Aquilo que se sabe (ou em que se acredita firmemente) ser real ou verdadeiro; o que de facto aconteceu; verdade atestada por observação direta ou testemunho autêntico; realidade".

A denominada verdade alternativa[1] ou facto alternativo no seu nível mais básico é uma afirmação que é apresentada como verdadeira, mas que na verdade é falsa ou enganosa. É essencialmente uma forma de propaganda e de desinformação destinada a manipular a opinião pública ou a moldar a perceção pública de forma que seja favorável à pessoa ou grupo que apresenta os ditos factos alternativos que não são mais do que falaciosos.

Factos alternativos não são factos, são falsidades. Só os tendencialmente adeptos do totalitarismo manipulam a linguagem e defendem a ideia absurda dos factos alternativos para poderem afirmar o controle do público.

As “fake news” (notícias falsas) podem assumir muitas formas diferentes, mas o elemento essencial é sempre o de serem parcial ou totalmente falsas. Podem ser uma lenda urbana, um boato, um rumor, escrita mal fundamentada, desinformação deliberada ou com intenção de humor ou paródia. Como consumidores de informações, é da nossa sua responsabilidade avaliarmos as fontes de notícias quanto à sua credibilidade, autoridade e propósito, tanto para as nossas próprias necessidades de informação como para evitar que compartilhemos propositada ou acidentalmente notícias falsas com outras pessoas.

Vejamos um exemplo relevante em como a partir de um facto real que pode ser comprovado se pode gerar uma verdade alternativa. Em 6 de maio de 2023 Luís Montenegro afirmou que entre 2011 e 2015, durante o governo de Passos Coelho, «nós conseguimos não perder tanta qualidade de vida e tanto bem-estar como aquele que tem sido perdido nos últimos anos». Ora pode comprovar-se, recorrendo a informação da época, que as circunstâncias do Portugal democrático desde o 25 de Abril, devido aos episódios da assistência financeira externa, tal não é verdade. É uma verdade que tem uma perspetiva parcial e demagógica porque naquela época houve circunstâncias gravosas para grande parte, se não a maioria, da população.

O líder do PSD, Luís Montenegro, num jantar em Pombal no dia 14 de maio tenta ludibriar quem o ouvia com verdades parciais. Verdades parciais por terem sido feitas sem enquadramento, destacando apenas números desligados.  Afirmou ele: “Pois, esta semana batemos mais uma vez, pela mão do Partido Socialista e do doutor António Costa, o recorde de portugueses sem médico de família. São mais de 1,7 milhões de portugueses que não têm hoje médico da família”, sublinhou, acrescentando que, no distrito de Leiria, “cerca de um terço dos utentes de cada concelho, em média, não tem médico de família”. E acrescentou: “É com este Governo e com este primeiro-ministro que temos em Portugal mais de 3,3 milhões de portugueses que tiveram de fazer um seguro de saúde, aos quais acresce mais cerca de um 1,2 milhões que tem ADSE, mais alguns subsistemas”.

Analisando estas afirmações destacam-se falhas graves na informação passada, a saber:

  1. O número de pessoas sem médico de família terá aumentado devido ao número de imigrantes que teve acesso ao SNS nos últimos anos e que vieram acrescer o número de utentes e a sobrecarregar estes serviços.
  2. Quanto ao número de seguros de saúde está a confundir dois tipos: os seguros de saúde propriamente ditos com os cartões de desconto em serviços médicos de empresas privadas (ex. Medicare, Multicare) que não é o mesmo que um seguro de saúde; A ADSE sempre existiu, desde o tempo do Estado Novo, desde 1963; os outros subsistemas já existem há décadas, e o PSD nos anos em que esteve no Governo em nada alterou, melhorou ou acabou com os subsistemas.

É óbvio que algumas intervenções oposicionistas do líder do PSD têm a sua razão, contudo, os que não estejam “acorrentados” aos pontos de vista daquele partido devem estar atentos, porque muitas das intervenções políticas do presidente do PSD revelam alguma ansiedade e falta de preparação institucional e recorre a manobras de diversão e algumas vezes vai andando a reboque dos populismos.

[1] Facto alternativo ou verdade alternativa surgiu sobretudo durante o mandato de Donald Trump nos EUA.