Perdoai-lhes Senhor porque sabem o que fazem
O título deste texto foi inspirado nos evangelhos, mais propriamente em Lucas (23;34), quando Jesus disse: «Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem!».
Assim, no entremeio das eleições para as legislativas de 18 de maio, cinco dias antes do 13 de maio dia de peregrinação ao Santuário de Fátima surge a oportunidade de aproveitamento da religiosidade da população devota daquele dia e Luís Montenegro não poderia deixar perder a oportunidade deste dia e lança a sua esposa para a comunicação social (fica o benefício da dúvida). Montenegro encontra-se com a mulher, em peregrinação a Fátima e, para tal, televisões foram convocadas.
O líder do PSD deixou um almoço de forma discreta e decidiu ir cumprimentar a mulher, que se encontrava algures na zona de Mira negando aproveitamento político. Recordemo-nos quando foi ameaçada uma CPI por causa da SPINUMVIVA Montenegro lamentava que a família fosse envolvida no caso. Enfim são pontos de vista!
Temos um novo Papa e sobre a sua atuação fazem-se prognósticos sobre se seguirá o caminho do seu antecessor ou se irá manter uma postura mais conservadora. Há opiniões sobre o novo Papa conforme as várias visões sobre o Mundo conturbado que estamos todos a viver.
É interessante conhecermos como reagem alguns políticos ou próximos sobre como foi a atuação do Papa Francisco e de como será a do Papa Leão XIV, mas antes recordemos o que alguns deles disseram no rescaldo do falecimento do Papa Francisco.
Começo por uma atriz ressabiada (talvez por ter sido votada ao esquecimento), apoiante do partido Chega, de seu nome Maria Vieira que reagiu numa rede social à morte do Papa Francisco escrevendo “Eu sou cristã, mas nunca simpatizei com este Papa socialista e «wokista» que falseou e atacou os valores ancestrais do cristianismo. Agora é tempo de a Igreja Católica encontrar um Papa conservador e verdadeiramente cristão que recupere a Palavra de Deus e que ponha ordem na Igreja”. É esta uma visão caridosa que de cristã não tem nada.
Esta falsa cristã apenas demonstra a sua ignorância porque um dos valores e pilar do cristianismo é o amor ao próximo desconhecendo que esses ensinamentos são encontrados em várias passagens dos Evangelhos, como o do Sermão da Montanha e nas parábolas de Jesus Cristo que formam a base da ética cristã que se encontra nos Evangelhos.
Deixemos para trás esta senhora e vamos ao que afirmou o seu grande líder André Ventura quando se pronunciou sobre a morte do Papa Francisco. Ventura, que diz ter frequentado o seminário, mostra pelas suas afirmações que também parece desconhecer o fundamento da essência da mensagem pregada por Jesus Cristo.
As primeiras declarações de Ventura sobre o Papa Francisco remontam a outubro de 2020 quando, numa entrevista ao Diário de Notícias, afirmou sobre o Papa Francisco que “Eu acho que este Papa tem prestado um mau serviço ao cristianismo. Acho. Acho que tem mostrado a esquerda revolucionária quase como heroica e a esquerda europeia marxista como a normalidade. Acho que este Papa tem contribuído para destruir as bases do que é a Igreja Católica na Europa e acho que em breve vamos todos pagar um bocadinho por isso.”. André Ventura, nos últimos anos foi repetidamente crítico do Papa Francisco.
O tempo passou, já lá vão cinco anos, e, para Ventura, o Papa Francisco foi um “exemplo para todos os que querem servir a causa pública”. Face ao que antes tinha afirmado ficamos sem perceber qual é o verdadeiro pensamento de Ventura sobre o Papa Francisco, mas, fica confrontado com declarações passadas sobre o líder da Igreja Católica.
André Ventura sempre recusou acolher a mensagem do líder da Igreja Católica porque dizia ele, o Papa Francisco só queria que a Igreja ficasse “bem na fotografia” e acusava o Papa de estar a transformar a Igreja num “partido político de esquerda”.
Na celebração das Jornadas Mundiais da Juventude em 2023, aquando da visita do Papa Francisco a Lisboa, André Ventura foi um dos poucos ausentes. Afirmou então que “Confesso que podia ter estado no CCB (Centro Cultural de Belém) com Sua Santidade e não desejei esse encontro. “Peço a Deus que me perdoe por isso e tenho tido todas as dificuldades com a minha própria consciência” disse. Os hipócritas batem com as mãos no peito quando isso lhes convém. Ventura escreveria depois, numa carta reproduzida no Correio da Manhã que, embora dirigida ao Papa Francisco, que não terá sido enviada ao Vaticano.
Conforme a Agência Lusa, em 21 de abril de 2025, André Ventura citou João Paulo II: “Dizia um outro Papa, João Paulo II, a Europa é cristã, a sua matriz é cristã e não a devemos perder em nenhuma circunstância”. Segundo o DN o líder do partido disse que Francisco deixou a Igreja «diferente», mas não especificou se a Igreja melhorou ou piorou, contudo, afirmou que esta “tem de começar a ter mais posição de firmeza nas grandes lutas", nomeadamente “contra a cultura 'woke' e contra a sexualização das crianças”.
Regressemos agora à eleição do Papa Leão XIV e atentemos no que disse André Ventura aos jornalistas no concelho de Guimarães em declarações em que saudou a escolha do cardeal norte-americano Robert Francis Prevost como novo Papa, manifestando esperança, e achando que “é um nome que nos dá esperança de que no futuro possamos ter uma Igreja interventiva em áreas importantes”, e onde defendeu que é preciso uma “Igreja firme, forte em matéria de convicções, em todas as áreas, desde a espiritualidade, à imigração, ao acolhimento, ao combate à pobreza”, mas acrescenta que espera que o novo Papa “seja um sinal de reforma para a Igreja” e «de doutrina»”. Será que para Ventura o combate à pobreza deve passar por acabar com o RSI-Rendimento Social de Inserção!
Referindo-se à imigração disse que há coisas que poderiam ser “poderia ser diferente”, como na “questão da imigração na Europa”.
Ao longo da história a religião serviu de alimento às almas e muitos políticos recorreram e ainda recorrem à retórica religiosa para construir pontes de identificação com os eleitores, criando uma sensação de esperança, pertencimento e reafirmação de valores compartilhados. Eles sabem que é um terreno poderoso e convincente para eleitores cuja fé os salva e se políticos estiverem desse lado então a convicção produz os efeitos desejados.