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Os jovens o jornalismo e a política

08.06.24 | Manuel_AR

Sebastião Bugalho e terceira idade.png

A juventude pode significar muitas das vezes um pensamento conservador e antiquado embora com pretensões de mostrar uma grande abertura de pensamento. Há um exercício mental que se pode fazer: imaginar, por exemplo, Sebastião Bugalho como primeiro-ministro no lugar de Luís Montenegro. A juventude em certos cargos, que não seja a mera emissão de opiniões e comentários que por serem por vezes polémicos podem demonstrar um pensamento desarticulado com a realidade e, tanto pode ser um pensamento antiquado ou, então demasiado atrevido e progressista em alguns pontos fraturantes.

Por várias vezes tenho escrito aqui sobre a influência dos media televisivos na política partidária com a proliferação de opiniões e comentadores na política portuguesa e como tentam tomar posições ideológico-partidárias de favorecimento a partidos especialmente de direita. Conhece-se a promiscuidade entre a política e o sector privado assim como entre a política partidária e o comentário político. Chegou-se agora a uma dimensão inédita: a transição do jornalismo de comentário para o estrelato da política.

O caso da escolha de Sebastião Bugalho para cabeça de lista às eleições europeias é, no mínimo, intrigante e parece ser um destes casos. Sebastião Bugalho, parece ser um pecado original de caso da promiscuidade político-mediática.

Quem se dedica a ver e a ouvir comentários políticos nas televisões apercebe-se do aumento significativo do número crescente de comentadores, tendencialmente favoráveis à representação da direita, embora ligeira, no período em que houve uma maioria de esquerda no governo. Foi exceção o ano de 2016 em que o equilíbrio se encontrou favorável à esquerda e o ano 2023 que registou um maior desequilíbrio, com 37 comentadores identificados como de direita face de 25 como de esquerda.

No entanto, há dificuldade em identificar o posicionamento ideológico de alguns comentadores e opiniões devido ao acréscimo da categoria daqueles a quem é possível atribuir uma orientação política que se deve ao alargamento do número de comentadores e também ao destaque dado aos jornalistas nos espaços de opinião.

O estudo efetuado considerou a exclusão da análise programas que, sendo semanais e regulares, apresentam convidados pontuais de acordo com a temática da semana são exemplos “É Ou Não É?”, “Expresso da Meia-Noite” ou “Negócios da Semana”, assim como os segmentos de opinião dentro dos noticiários ou outros programas que são protagonizados por comentadores convidados.

Em março de 2024 foi publicado um estudo do ISCTE sobre aquela temática intitulado “Comentário político nos media 2023 Análise ao comentário político em Televisão, Rádio e Meios online em Portugal”. Nesse estudo foram excluídos os que, apesar de incidirem sobre temas da atualidade política que, quer pelo formato, quer pelo conteúdo, se afastavam do comentário político estruturado em torno da opinião pessoal do comentador.

O estudo mostra várias asserções que fazem uma análise sobre os espaços semanais de comentário político em televisão concluindo que tem aumentado de forma acelerada nos últimos anos, passando de 53 em 2016 e em 2019 para 78 em 2023.

Comentadores e política.png

Esta evolução reflete uma aposta crescente neste registando um aumento de 47,2% em relação a 2016.

O Relatório MediaLab do ISCTE refe ainda que “ao longo de 8 anos de maioria à esquerda no governo o comentário político em televisão tem sido marcado por uma ligeira vantagem da representação da direita, com mais comentadores desse espectro político, com exceção do ano de 2016 em que o equilíbrio era favorável à esquerda”.

O ano 2023 é aquele que regista um maior desequilíbrio, com 37 comentadores de direita face a 25 de esquerda. O mesmo relatório mostra “O alargamento do número de comentadores tem aumentado a dificuldade em identificar o seu posicionamento político, crescendo a categoria daqueles a quem não foi possível atribuir uma orientação política seguindo os critérios definidos na metodologia. Este crescimento dos casos considerados “não identificável” politicamente nos últimos dois anos resulta sobretudo do maior protagonismo conferido aos jornalistas em espaços de opinião.”

Comentadores e política2.png

Fica demonstrado que a relação entre comentadores políticos, jornalistas e partidos políticos pode ter implicações significativas para a integridade dos meios de comunicação social, a perceção pública e os processos democráticos.

 

O caso de Sebastião Bugalho, lançado como cabeça de lista às eleições europeias pela AD, pode ser encaixado nestas tipologias. Bugalho destacou-se no cenário jornalístico e político de Portugal devido ao seu olhar crítico e detalhado sobre os acontecimentos contemporâneos. Formado em Comunicação Social, Bugalho começou a sua carreira em diversos meios de comunicação, incluindo jornais, canais de televisão e plataformas digitais.

A independência e objetividade dos meios de comunicação social ficam em causa quando comentadores políticos ou jornalistas participam ativamente em campanhas partidárias levantando questões sobre a sua independência e objetividade e os seus artigos podem ser tendenciosos ou carecer de análise crítica. Assim, comentadores políticos que alternam entre funções de campanha e funções mediáticas podem, inadvertidamente, contribuir para esta perceção.

Quando se foi ou é jornalista e se participa em campanhas de políticas partidárias cria-se uma perceção de conflito de interesses porque quando se é, ou foi, comentador pode dar-se prioridade às filiações pessoais ou partidárias próprias.

Interromper o seu processo de comentador para se candidatar a um cargo político e ao mesmo tempo partidário o seu retorno ao comentário fica comprometido na sua independência e objetividade. Quando os jornalistas são vistos como partidários, isso pode corroer a confiança nos meios de comunicação e o público pode questionar se os meios de comunicação são realmente imparciais. De qualquer modo não parece ser o que irá suceder a Sebastião Bugalho porque terá grandes hipóteses se vir a ser eleito como deputado europeu, mas doravante a sua independência enquanto jornalista passará a ficar comprometida. Tenha-se, contudo, em atenção que Sebastião Bugalho integrou as listas do CDS, como independente. Apesar de não ter aceitado assumir o cargo de deputado em 2021, coloca mesmo assim em causa a sua independência enquanto jornalista, ficando na posição do comentador partidário.

 

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