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Os jovens esses coitados. Diz a direita

08.03.24 | Manuel_AR

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A legalização de drogas foi uma proposta da IL que serviu de mote para atrair alguns jovens. A direita do lado da IL-Iniciativa Liberal diz querer legalizar a produção e venda de cannabis para uso recreativo, incluindo no supermercado. De acordo com a proposta da Iniciativa Liberal, qualquer loja (exceto estações de serviço) poderá vender, mas a pelo menos 300 metros de escolas. Consumo só para maiores de 18 anos. Isto foi afirmado em abril de 2023.

Todos os partidos políticos têm feito apelo ao voto dos jovens com promessas e alternativas para todos os gostos. São um isco para a “pesca” de votos. Para todos os partidos da direita os jovens são o máximo e têm sido muito mal tratados dizem.

Para o PSD/AD o governo do partido socialista tratou-os mal, não lhe deu importância, dizem que emigram devido às políticas do Governo PS que não lhes deu o que lhes era devido.

As estratégias e os malabarismos da direita para atrair os jovens, e também de alguma esquerda, são várias. O líder do PSD, Luís Montenegro tem afirmado que não se resigna com um país “que deixa fugir para o estrangeiro os seus jovens” e que é preciso criar mais riqueza para reter as pessoas no país. Tem dito ainda que não se resigna nem conforma com um país que deixa fugir para o estrangeiro os seus jovens, “aqueles que são garante da nossa capacidade de criarmos mais riqueza e, através dessa riqueza, sermos mais justos”. Só que a riqueza não se cria com varinhas mágicas nem num curto espaço de tempo, pelo que os jovens a quem ele se dirige terão que esperar e muito.

A memória de Montenegro é muito curta esquecendo-se do Governo de Passos Coelho do PSD com o CDS. Foi nesse tempo, entre 2012 e 2015 que, de acordo com o Observatório de Emigrações, foram registados os maiores níveis de emigração de portugueses, contabilizando mais de 100 mil saídas anuais, e um saldo migratório negativo, ao contrário do que se tem registado entre 2017 e 2021, em que o saldo é positivo.

Todos se referem aos coitadinhos dos jovens que não têm ou não vão ter o mesmo género de vida que os seus pais e avós tiveram. Uma palavra de ordem que se houve por aí em relação aos jovens portugueses, porque interessa, é a de que esta geração viverá pior do que anterior. A ideia tem por base o critério material, ou seja, o rendimento e regalias sociais que o 25 de Abril possibilitou.

Não sei a que jovens se refere a direita quando fazem estas declarações. Será aos que nasceram entre 1995 e 2005? Parece-se que estas declarações parecem-me ser enganadoras.

Os pais e avós destas gerações não tiveram a vida nada facilitada. Tinham de trabalhar para pagar a habitação a alimentação e a educação dos filhos e em alguns casos até a deles próprios. Não tinham acesso à cultura nem a espetáculos porque o salário era muitas vezes contado para as despesas obrigatórias e os passeios e férias eram condicionados pela disponibilidade financeira.  

O que vemos nas últimas décadas, sobretudo na época de primavera verão é a organização de concertos por todo país cujos espaços se esgotam e onde há consumo desenfreado de álcool (diga-se que é mais de cerveja), para já não falar das discotecas, restaurantes onde jovens consumem álcool à discrição com dinheiro grande parte das vezes abonados pelos pais. Os que não estão nesta dependência financeira já têm trabalho, mas do qual se queixam ser precário. Mas têm trabalho!

Porém há dinheiro para divertimento o que se compreende por se considerar que também necessário aos jovens e também aos adultos. Dizem não ter tempo para se divertirem porque têm sempre muito que estudar e dos trabalhos que lhes são impostos nos estudos. Alguns acumulam com um emprego.

Com a IL-Iniciativa Liberal os jovens iludem-se ao pensar que todos serão empresários de sucesso e que serão apreciados pelo mérito e os que não o forem terão ganhos salariais excelentes.  Mas enganam-se o excesso de liberalismo retira-lhes direitos, sobretudo ao nível do trabalho. Quando não há mérito na sua avaliação que, sendo vista do ponto de vista da empresa será sempre subjetivo, abre-se a porta para o despedimento.

Num trabalho de Joana Gorjão Henriques publicado no jornal Público jovens foram questionados sobre o seu sentido de voto. Algumas respostas são interessantes e demonstrativa de como os jovens vêm os partidos e a política.

Do que se percebe das conversas, alguns dizem que há vários amigos que aderem às ideias do Iniciativa Liberal, partido que, dizem “chama muito os jovens”. A jovem diz que isso “Tem muito que ver com a forma como eles se publicitam, tentam chegar aos jovens por causas insignificantes, por exemplo, legalização de cannabis, tentam imenso falar sobre isso no Instagram e no Twitter. Pode conferir aqui.

A direita não diz tudo porque não lhe interessa. Identifica a carga fiscal das empresas como um problema. No entanto parecem desconhecer ou omitir que os governos vão precisar de cada vez mais receitas fiscais e sociai, para pagar as reformas e a saúde de uma sociedade envelhecida; para compensar os cidadãos pelas consequências das secas, cheias, fogos, aumentos dos preços da energia e da alimentação; para investir na descarbonização. Será razoável, neste contexto, pensar que se pode reduzir os impostos e as contribuições sociais? Escreve-se no artigo. A direita omite, mas não desconhece, porque tem em vista usar os recursos do Estado para pagar a privados, nomeadamente a saúde que deveria, por direito, ter serviços públicos de qualidade, para todos, porque o privado, mesmo recebendo esses recursos, não conseguiria dar resposta.