Os “hooligans” da política
Em sentido lato “hooligan” significa um indivíduo ou grupo que tem um comportamento destrutivo e desregrado, por vezes até violento (a violência não é apenas física) e tem sido usual utilizá-lo quando se trata de futebol. Passa a não ser despropositado utilizá-lo também em contextos dos políticos.
O que se passou no final da semana com a questão do referendo sobre a coadoção é demostrativo do que acabo de afirmar. A deputada Isabel Moreira acusou a iniciativa por parte da JSD de “bulling” político eu iria mais longe e chamá-la-ia de hooliganismo político.
Paulo Rangel no programa de ontem da Prova dos Nove da TVI24 ao comentar a decisão do seu partido sobre a coadoção afirmou que não deveria ser a turba popular através de um referendo a decidir sobre matéria tão sensível. O termo utilizado por Rangel para designar o povo português, no meu entender, foi infeliz. O que me escandaliza não é a utilização do termo por Rangel num momento mais emocional da sua intervenção mas sim a asserção e a conceção que o partido dele tem do que representa o povo português, um magote de gente pela qual não se tem qualquer consideração a não ser quando são necessários os seus votos.
Os hooligans políticos da JSD, com a conivência do presidente do partido e do líder parlamentar do PSD começam a vir à tona revelando a sua verdadeira natureza de espécimes totalitários ao validarem uma prática pouco democrática de disciplina de voto para um referendo cuja oportunidade e legalidade dão mais do que discutíveis, não sendo mais do que uma cortina de fumo para ofuscar assuntos mais gravosos com que os portugueses se confrontam.
Sou muito cético quanto à lei da coadoção, uma posição quiçá conservadora, contudo, acho que já houve, e há, assuntos sobre questões nacionais importantes que deveriam ter sido referendados mas não o foram. Porquê agora esta encenação para referendar uma questão muito particular de direitos humanos de minorias que não são uma questão nacional relevante.
Pode haver uma razão para este hooliganismo por parte da JSD e do PSD, que os comentadores não têm abordado, que é a de poderem ficar nas boas graças da igreja católica pois tem havido uma campanha por parte do patriarcado de Lisboa a defender o referendo como uma boa solução. Mais uma vez a igreja a intrometer-se em que questões políticas.
O PSD cavalga esta onda, e como se tem visto as sondagens não lhe são nada favoráveis, é uma oportunidade para apoiar a igreja porque sempre pode ser uma ajuda.