O último bafo político do Presidente Cavaco
Finalmente a mensagem de ano novo do Presidente da República Cavaco Silva foi o último bafo político por ele proferido. Como é habitual e previsível dirigiu-se aos portugueses e ao "amor a Portugal" mas foi na ótica do "eu" que se centrou a mensagem: eu conheci; eu vi; eu valorizei; eu mantive; eu lancei; eu procurei; eu desenvolvi; eu etc., eu etc...
Alguns dos pontos que referiu na sua mensagem nunca lhe ocorreu fazê-los passar quando o Governo de Passos Coelho e Paulo Portas estava no poder para ocultar a situação do país real.
Foi uma mensagem com um discurso de hipocrisia já que, há um ano, omitiu muito do que agora disse, como "construir um país melhor e mais solidário, com mais justiça social" quando o Governo que apoiou mais de quatro anos destruiu a coesão, a solidariedade e a aumentou a injustiça social; pede "que o Estado crie condições…" e "que os poderes públicos não estabeleçam entraves à sua atividade, desde a criação de emprego e riqueza até à defesa do património e do ambiente, passando pela inovação social e tecnológica", quando o Governo anterior que apoiou destruiu a investigação em Portugal e não valorizou a inovação tecnológica." Quanto à "inovação social", por se prestar a inúmeras interpretações, está por esclarecer o conceito segundo o evangelho de cavaquista. Talvez se quisesse referir à destruição da classe média e aumento da pobreza e o enriquecimento de outros nos últimos quatro anos. Em relação ao património, foi o que se constatou, porque dinheiro não havia, vem agora alertar para tal.
"Este é o País real, o País verdadeiro, que muitos agentes políticos desconhecem, que a comunicação social tantas vezes ignora e que conheci de perto durante os meus mandatos" disse, referindo-se aos passeios (a palavra é minha) que, sempre acompanhado com "a primeira-dama" que nunca falhava. É certo que visitou empresas, sobretudo no norte, onde estendeu a mão a alguns trabalhadores recrutados para lhe prestarem homenagem, mas não foi decerto ver de perto o que se passava com toda a restante sociedade que o seu dileto Governo foi destruindo por este país. A saúde e a educação foram tabus na sua mensagem, nem uma palavra, e todos sabemos porquê.
Mais adiante vem mostrar preocupação social ao afirmar que "é fundamental combater as desigualdades e as situações de pobreza e exclusão social, que afetam ainda um grande número de cidadãos: os idosos mais carenciados, os desempregados ou empregados precários, os jovens qualificados que não encontram no seu país o reconhecimento que merecem.".
Espanto-me com esta desfaçatez quando, nas suas intervenções antes da campanha pré eleitoral para as legislativas, não fez qualquer referência àqueles aspetos ou, se o fez, foi em pequenos apontamentos escondidos no meio dos seus discursos de fação. Parece dar agora recados ao atual Governo quando, o anterior, nada fez do que Cavaco agora diz ser "fundamental". Ainda há alguns, poucos, portugueses que ainda o escutam, eu incluído porque a isso me obrigo.
Havia muito mais, mas por aqui me fico.
Ainda bem que este tormento está próximo do fim e o sopro deste bafo se vai, enfim, desvanecer.