O primeiro-ministro e o estranho caso dos auriculares e dos telemóveis
Na apresentação do plano de apoio aos media, o primeiro-ministro Luís Montenegro mostrou alguma ignorância relativamente aos métodos do jornalismo moderno e do apoio e auxílio que as tecnologias podem prestar à sua profissão.
Não sou jornalista, nem nunca prestei qualquer serviço nessa tão árdua e difícil profissão, da qual apenas conheço o que aprendi e tive de praticar durante o mestrado em Comunicação Multimédia, e nada mais. Mas, não é por isso que me restrinjo a fazer análises críticas sobre o tema embora assuma que muitas delas possam ser subjetivas.
A ignorância do primeiro-ministro Luís Montenegro é lamentável, mesmo supondo que apenas pretendeu fazer humor também se saiu mal como artista de comédia stand-up.
Na sua intervenção disse ficar “impressionado” com perguntas supostamente “sopradas” aos jornalistas. E criticou ainda o recurso ao telemóvel para fazerem perguntas. Será que o sr. primeiro-ministro tem visto, na atualidade, jornalistas, mesmo os da sua preferência, utilizarem o velho bloco-notas para tomarem notas ou a ele recorrerem para escrever o que ouvem? O telemóvel é um recurso tecnológico que serve, também, para isso!
O auricular serve para comunicação entre as redações e ou as régies televisivas ou radiofónicas para informar os jornalistas do ponto da situação e do timing e ainda para o que for mais útil, razoável e necessário para conhecimento do público. É tão legítimo como qualquer outro meio que as redações proponham perguntas numa missão de entrevista a qualquer individualidade da política desde que num determinado contexto e com interesse para a opinião pública e para qualquer consumidor de informação através de media credíveis.
Compreende-se que muitos simpatizantes e militantes incansáveis e obstinados defendam até à exaustão a atitude do seu líder PSD por sentirem a incomodidade de algumas questões que lhe são colocadas. Temos pena! Mas, é essa a profissão dos jornalistas com ou sem auriculares, com ou sem telemóvel.