O mar na campanha eleitoral
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Começo esta crónica com parte do poema "Mar Português" de Fernando Pessoa que tem a ver com a Cimeira Mundial dos Oceanos 2015, organizada pelo grupo The Economist, na Cidadela de Cascais em que participaram o Presidente da República, Assunção Cristas, ministra da Agricultura e do Mar, e o ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, Jorge Moreira da Silva.
O Presidente da República tem andado ultimamente muito preocupado com as questões relacionadas com o mar e os seus recursos agora precisamente já para o fim da legislatura acrescentada com mais uns mesitos do Governo que ele apoia.
Nunca se viu o Presidente Cavaco Silva preocupado com este tema enquanto primeiro-ministro dos Governos PSD durante dois mandatos 1987 e 1991 e, mais recentemente, no seu primeiro mandato de Presidente da República.
Agora vem evidenciar a importância do mar, assunto a que não prestava grande atenção.
É uma nação marítima" disse no encontro fazendo notar que o país tem uma das mais extensas zonas marítimas do mundo e também que é necessário ter também em atenção o excesso de pesca e a sustentabilidade da aquacultura. Talvez tenha sido por isso que quando foi primeiro-ministro tenha contribuído para a destruição da nossa frota pesqueira.
Dizia Pedro Tadeu, num artigo de opinião no Diário de Notícias em 2012, "A ironia é ter sido Cavaco Silva primeiro-ministro que assistiu ao desmantelamento da frota pesqueira nacional num estranho e antipatriótico investimento na paragem de produção, subsidiada pela Europa. E mais adiante "aceitou ou se conformou com a lenta fragilização do que foi um gigante da construção e reparação naval, o conjunto Lisnave/Setenave, reduzido hoje aos estaleiros da Mitrena, modernizados, é certo, mas sem a capacidade dos tempos em que os estadistas, do Estado Novo à República saída do 25 de Abril, lá iam cortar fitas e discursar sobre aquilo que designavam como orgulho nacional. Destruiu-se esse polo industrial, no final dos anos 80, e atiraram-se para a fome, literalmente, milhares de famílias no distrito de Setúbal, que atravessaram uma crise que só começou a aliviar quando, a meio da década de 90.
Está agora o senhor Presidente tão preocupado com o mar, com os seus recursos e com a sua importância económica para Portugal.
Faz-me pensar que no limite talvez queira que se privatize a nossa plataforma continental e se venda ao Estado da República Popular da China, investidor angolano ou qualquer outro que, com o pretexto de atrair capital e investimento estrangeiro ao qual depois se lhe perde o rasto.
Bem podem agora vir falar da importância do mar na economia, como se tratasse de uma preocupação e uma grande iniciativa da Presidência da República ou deste Governo, mas que não é.
A adoção por Portugal, duma política integrada e abrangente na governação de todos os assuntos do mar já tinha sido contemplado no Programa do XVII Governo Constitucional e tinha sido objeto da Resolução do Conselho de Ministros 128/2005, de 10 de Agosto, que criou a Estrutura de Missão para os Assuntos do Mar (EMAM) e deu corpo à necessidade de adoção, por Portugal, de uma política integrada e abrangente na governação de todos os assuntos do mar, alicerçada numa estratégia transversal e multidisciplinar, contemplada no Programa do XVII Governo Constitucional.
Posteriormente a Resolução do Conselho de Ministros 163/2006 aprova a Estratégia Nacional para o Mar que esteve em discussão pública e anexa o documento final que esteve em discussão pública.
Quem não sabe é como quem não vê.
E termino alterando o sentido do dois primeiros versos do poema:
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São aproveitamento eleitoral Portugal!