O contágio
A eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos tem sido considerada com reservas pela maior parte dos analistas políticos e comunicação social da direita à esquerda. Há. no entanto, alguns que ainda lhe dão o benefício da dúvida e lá acabam por dizer que não será tão mau presidente como as pessoas o julgam. Neste rol encontra-se o editorial do “jornal i” que, em síntese, diz que ainda é cedo para ver, e que Trump ainda vai mudar. É tudo possível, mas é bom não esquecer que a maioria do eleitorado que o colocou na presidência espera que cumpra o que prometeu. Se o Senado e a Câmara dos Representantes que também têm a maioria republicana lhe forem favoráveis, assim como o Supremo Tribunal, então pode seguir em frente sem obstáculos.
Se alguns entraves lhe surgirem pelo caminho que possam atrasar os seus intentos pedirá um segundo mandato para o seu cumprimento. Aliás, pelos primeiros nomes da sua equipa antecipados por alguns órgãos de comunicação dos EUA, nomes bem conhecidos pelas ideias e afirmações que defenderam no passado, não se deve esperar grande coisa.
Em sentido figurado, Donald Trump poderá vir a ser a versão preliminar do Anticristo e um dos quatro cavaleiros do Apocalipse (Peste, Guerra, Fome, Morte) não sabemos é qual deles será, ou se será o quatro em um.
A fórmula “God Bless América” poderá vir a deixar de ser pronunciada, pela primeira vez, na sua tomada de posse.
A estratégia de Hitler para chegar ao poder foi, com aproximação, seguida por Trump, arranjar bodes expiatórios e trazer à superfície o ódio contido que na sociedade americana estava contido. A sociedade americana por falta de cultura geral e geo-histórica desconhece o passado da Europa. Não foi por acaso que o líder máximo neonazi e do Klu Klux Klan saiu da sombra e já marcou uma manifestação para dezembro para celebrar a vitória de Trump.
Na Europa o efeito de contágio já começou confirmado pelas reações das extremas-direitas europeias como a de Geert Wilders que escreveu no Twitter “O dia de ontem mostrou, e isso é que vou dizer aos meus eleitores, que tudo é possível e isto não vai parar por aqui – vamos assistir a este movimento em vários países europeus… A vitória de Trump é um grande incentivo para todos nós – que amamos a pátria e a liberdade.” Marine Le Pen acompanha-o dizendo que “não é o fim do ´mundo´, mas o fim de um mundo”.
O partido neonazi grego Aurora Dourada celebrou a eleição de Trump para a Casa Branca, que considerou uma vitória contra a "imigração ilegal", a favor das nações "etnicamente limpas" e dos "estados nacionais contra a globalização", numa mensagem em vídeo difundida na internet.
A onda de contágio pode não se fazer apenas pelos líderes da extrema-direita e grupos neonazis que se sentirão reforçados e apoiados por declarações de Trump cuja difusão, através das redes sociais, poderá ter um efeito de contágio sobre os pouco avisados ou desconhecedores de consequências que elas poderão trazer, arrastando-os para ideologias próximas ou piores do que as de Trump.
O perigo do crescimento de ideologias como as que Trump defendeu/defende pode muito bem fazer ressurgir o seu oposto, isto é, a reorganização e o reforço dos partidos comunistas e das esquerdas radicais na europa que entraram em estado de hibernação e se levantarão novamente sob a forma duma contrarrevolução.
Facto como este que se está a verificar nos EUA pode ser uma prova de que não há democracias irreversíveis.