O canto dos cisnes e a bomba BANIF
Há uma lenda que teve origem grega que se utiliza como metáfora quando nos queremos referir a um esforço final de um indivíduo que é usada para descrever a derradeira e mais importante obra de um artista, como se este tivesse alcançado nos últimos momentos de vida, uma suprema inspiração.
Aplica-se esta metáfora a Cavaco Silva enquanto Presidente da República que faz condecorações apressadas, declarações com o seu costumeiro discurso de fação. Fala da TAP e intimida dando exemplos de países onde, em circunstâncias e contextos diferentes, empresas de aviação tiveram problemas para depois poder afirmar "eu bem disse…". Quando Cavaco Silva na passada semana falou sobre o Banif recomendava muito cuidado com as palavras, qual repreensão a menino mal comportado, contudo, no passado recente, referindo-se ao BES, afirmou perentoriamente que estava fora de causa qualquer problema e todos podiam estar confiantes.
Agora condecora Alberto João Jardim que em tempo foi considerado um despesista e ter endividado a Madeira. Anda por aí em roteiros já sem qualquer significando político a não ser aproveitar para elogiar o antigo Governo que sempre apoiou e a quem sempre facilitou a vida.
Mas há mais cisnes a cantar e a morrer. A coligação PàF do PSD e do CDS-PP cantou até se desfazer. O PSD e o CDS cantaram a ária da ilegitimidade do Governo em funções, que é o mesmo que dizer que Cavaco Silva tomou uma decisão ilegítima ao empossar o atual Governo.
Ainda antes das eleições, não prevendo a sua morte, o propagandismo de Passos Coelho, de Paulo Portas e dos seus comentadores profissionais do marketing partidário elogiavam o então Governo das saídas limpas e cofres cheios, de promessas de cumprimento do défice abaixo do exigido, da recuperação económica que estava aí, da eventual promessa de baixa de impostos e eliminação da sobretaxa do IRS. Depois tinha havido "engano" da Autoridade Tributária, as receitas já não eram assim tão boas e, por isso, não era possível retirar a dita sobretaxa.
Relativamente ao BANIF (banco madeirense) Passos Coelho afirmou, e reafirmou, que não haveria custos para o bolso dos contribuintes e o coro dos seus apoiantes acrescentava que o dinheiro que entrou naquele Banco até era bom porque seria pago pelo banco com juros. Muito boa gente, ingenuamente, acreditou na lenga-lenga pré-eleitoral e eleitoral da coligação divulgada pelos canais de televisão, e neles votou.
A ameaça da bomba BANIF estava lá, apenas foi escondida aos olhos dos portugueses durante a campanha eleitoral. A mentira, a dissimulação e o recurso a ilusionismos retóricos da política foram truques para levar os portugueses a continuar a votar nos que, em 2011, foram eleitos com base em mentiras.
Mais bombas poderão surgir e parece que os cofres estariam cheios para, logo de seguida, ficarem vazios. Se aquela gente continuasse no Governo que mais iria acontecer? Que desculpas mais haveria?
As pedras começam a cair em cima das duas cabeças que nos governaram e do seu suporte durante mais de quatro anos. Ou será que a desculpa também é de Sócrates?