O alcance da lógica de o Reino Unido retirar Portugal da lista “verde”
A decisão britânica entre a realidade e a invenção
Não serão essas imagens de baderna e irresponsabilidade as principais causas da decisão, certo. O Reino Unido prepara-se para o desconfinamento geral no dia 21, vive numa situação de incerteza no controlo da pandemia e não quer correr riscos. Em segundo lugar, depois de se pôr fora da União Europeia, o país deixou de se sentir com especiais deveres de solidariedade com os seus Estados-membros. Finalmente, sendo emissor de turistas e não receptor, o Reino Unido fica com uma tarefa fácil para restringir a lista “verde” dos destinos para onde os seus nacionais podem viajar.
Sobra, no entanto, a questão da “lógica”, o tal cerne da questão que o MNE não consegue alcançar. Aí há uma mistura de factos com invenções, que tanto podem servir para justificar a transferência de Portugal da lista verde para a âmbar como para a tornar hipócrita e delirante. Ninguém sabe onde Londres foi buscar a variante nepalesa que supostamente grassa em Portugal, e aí entramos no domínio da hipocrisia. Mas o mesmo não acontece com os outros argumentos: Portugal está hoje numa situação pior do que há três semanas – como refere o comunicado britânico, a taxa de positividade de Portugal “quase duplicou desde a última revisão”. E a imagem de controlo e segurança do país também se degradou por culpa própria.
É aqui que vale a pena questionar a declaração do MNE sobre as supostas “regras claras para a segurança dos que aqui residem ou nos visitam”. Um país que se abre a finais de futebol e acolhe sem controlar uma horda de adeptos nem exibe “regras claras” nem inspira confiança. Se o aumento de casos é um preço a pagar para salvar a economia, a decisão de acolher a final do futebol, enquanto a França ou a Alemanha impunham quarentenas aos britânicos, não só não ajudou essa estratégia como a pode comprometer. Essa exibição de negligência e descontrolo há-de ter pesado na decisão de Londres.