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No verão o meu país é de outros

12.08.16 | Manuel_AR

Mar do algarve.jpg


 


Na praia do barlavento algarvio onde me encontro a língua portuguesa é algo raro por entre os linguajares das mais diversas origens. Espanhol, inglês, alemão abundam.


Da varanda não vejo o mar a não ser que me empertigue ou me levante, culpa duns centímetros a mais da parede. No ano anterior podia simultaneamente escrever e contemplar o oceano virado a sul. Coisa fantástica e inspiradora.


Ao fim da tarde, odores dos mais variados chegam às minhas narinas. Cheiros de champôs, geles de banho, colónias e perfumes oriundos dos duches dos regressados a casa vindos da praia.


Os que se preparam para a noite aprimoram as toaletes. Elas, especialmente. Vestem-se a rigor para uma noite que julgam será bem passada no inferno da cidade mais próxima. Estrangeiros em catadupas começam a ocupar os restaurantes das proximidades onde uns poucos e tristonhos portugueses se esfalfam, sem sucesso, para conseguirem, em vão, um lugarzito.


Os que ficam preparam o seu repasto pós banho do qual me assaltam outros tantos odores dos mais diversos que, numa espécie de jogo, tento identificar. Grelhados, parecem ser de peixe. Qual será? A calma brisa do cair da tarde transporta-me um outro. Será guisado ou estufado de carne? A minha pituitária deteta um odor característico das beiras que me parece ser de coelho guisado. Coelho à caçador? Talvez! Mas quem se lembra de cozinhar próximo do mar coelho e ainda por cima à caçador! Quanto a gastronomia já vi de tudo, o possível e o improvável. Até frango com amêijoas!


Gritos de bebés estafados da praia com a birra que lhes provoca a tortura do banho da tarde ecoam pelo ar.


Vindas de apartamentos da colina virada para o mar, onde também me encontro, vozes impercetíveis, estrangeiras, que não consigo identificar quebram o quase silêncio que surge ao pôr-do-sol e associam-se ao chilrar dos pássaros que procuram abrigo para a noite.


Dias, tardes e noites de férias na praia que se repetem, numa espécie de círculo infinito até à consumação. Da minha varanda donde não vejo o mar, a não ser de pé, volto a sentir os cheiros do final do dia.


Preparo-me para partir. Vou para o norte e centro onde outros odores me aguardam.

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