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No fio da navalha António Costa e o Governo

04.01.23 | Manuel_AR

António Costa e o Governo podem encontrar-se no fio da navalha o que é o mesmo que dizer que podem estar perante uma situação dificílima, sem controle, num fio onde o inesperado pode acontecer.

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A minha última publicação data de 13 de dezembro, entretanto muita chuva caiu, o Natal aproximou-se e, como acontece inexoravelmente, mais um Novo Ano desde então no domínio da política muito aconteceu no que ao PS e ao Governo diz respeito. No embalar de alguns casos e casinhos, alguns repetidos até à exaustão pela comunicação social para conseguirem audiências eis, senão quando, à falta de melhor, vem para a ribalta, mais um caso, e, desta vez, com mais substância e um peso pesado a envolver o Governo PS.

O Partido Socialista no seu todo e o seu líder e chefe do Governo António Costa parecem ter esquecido as fragilidades geradas pelo mau exemplo de José Sócrates, (embora não comparável), mas cuja lembrança deveria estar presente para se rodearem de precauções ao faze diligências para convites de elementos para o Governo. Como tal não terá sido acautelado foram confrontados na comunicação social com um caso oportunamente conveniente, sobretudo para a direita, que agarra tudo para denegrir o Governo, o PS e o seu alvo preferido e temido António Costa.

António Costa e os seus conselheiros parecem despreocupados com as escolhas e não acautelaram, não acautelam nem tentam certificar-se dos antecedentes e incompatibilidades dos escolhidos. Os casos surgidos são, como o povo costuma dizer, de “caixão à cova”.

Parecem esquecer que a comunicação social, os media em geral, têm fontes de direita ávidos de criar uma crise política e que se forem alinhados com corrupção tanto melhor, pois permite-lhes fazer associações com o passado.

A direita que alterna no poder, no caso o PSD, já que o CDS parece ter sido varrido dos ecrãs das televisões, vá-se lá saber porquê, não será a que poderá estar mais interessada em lançar uma crise política. Quem poderá estar mais interessado numa crise que venha potencialmente conduzir à dissolução do Parlamento serão os partidos mais à direita do PSD como a Iniciativa Liberal e a extrema-direita CHEGA e, à esquerda do PS o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista, todos na expectativa de poderem com isso em caso de eleições antecipadas ganhar alguns votinhos que lhes faça aumentar o número de deputados no Parlamento, mesmo que diminuto.

A última bomba, a que levou à demissão de Pedro Nunes Santos foi um dos tais que bem poderia ter sido evitado. O Governo e os seus elementos parecem andar distraídos porque pensarão, mal, que uma maioria absoluta, serve para tudo. Não olham para os exemplos no exterior, no que aconteceu e está a acontecer no Reino Unido

O PS e o Governo já vão com aproximadamente um ano e meio de governação e as eleições para o Parlamento Europeu estão aí o que será um teste para mostrarem o que valem e poderem aguçar a perspicácia para evitarem que voltem a ocorrer casos que deitem tudo a perder, ainda que saibam que até ao momento a liderança do PSD poderá estar sem grande impacto oposicionista por andar ao sabor da corrente da comunicação social sem apresentar com convicção propostas alternativas.

Das novas escolhas para os ministério desfalcado com a saída de Pedro Nunes Santos António Costa foi rebuscar António Galamba com uma biografia profissional a quem, segundo alguns observadores, falta estatuto para o empreendimento do ministério deixado por Nunes Santos. Será que Galamba terá capacidade para resistir e gerir tal pasta que se prevê será escrutinado até à exaustão?

Por outro lado, é uma pessoa pouco cordata com a comunicação social da qual não goza muito da simpatia, não só pela sua arrogância, irascibilidade e falta de cuidado comunicacional. Galamba peca por que a sua forma de comunicação tenta mimetizar José Sócrates que o fez entrar para a política. Pior ainda é que estão na memória as polémicas em que se arrastou ou se deixou arrastar. Tem um estilo de caceteiro e arrogante no discurso político que frequentemente afasta mais do que seduz. Talvez por isto a comunicação social e alguns comentadores parecem não lhe estar a conceder o benefício da dúvida.

São bem conhecidas as polémicas em que se envolveu, sobretudo com utilizadores do Twitter onde foi evidente a falta de decoro comunicacional que qualquer elemento de um governo não deveria ter. Foi, por exemplo, o caso do antigo programa de jornalismo “Sexta às 9”, da RTP, quando na sequência de uma destas emissões João Galamba escreveu na sua página de Twitter que o programa era “estrume” e uma “coisa asquerosa”. Pessoalmente até posso discordar da tipologia daquele programa e da forma como a jornalista o geria e tratava os conteúdos e até poderia utilizar uma linguagem mais vernácula para criticar o programa, mas isso sou eu que não tenho qualquer pelouro no poder nem a responsabilidade de tal.

Não se trata de depreciar o valor de Galamba, mas antes a sua biografia profissional que parece não se ajustar e constatar pela comunicação social que lhe falta saber técnico e estatuto para a pasta das Infraestruturas que lhe foi entregue, tanto mais com o problema da TAP em mãos. A questão que se coloca é a de saber se Galamba terá o tento e a sensibilidade política suficiente para lidar com aquela pasta. Ser de esquerda e deter um poder não significam arrogância não podem ser sinónimos de arrogância, nem de má-educação nem seguir o modelo de peixeirada de André Ventura. Não é isso que se espera qualquer elemento dum Governo seja ou não socialista.

Com os casinhos, casos, ou outros aumentativos do mesmo tipo trazidos pela comunicação social parece-me que António Costa, estará, propositadamente, a dar tiros nos pés. Se assim for qual o objetivo?

Pedem-nos em esperança, mas a esperança que nos pedem só pode existir se vier dum Governo de maioria absoluta cujo executivo seja ainda mais estável do que aquele que em anos anteriores tiveram António Costa e o Partido Socialista quando governaram com a chamada “geringonça”.

Com uma maioria absoluta no Parlamento, com um Presidente da República que não está a ser uma força de bloqueio e que tem contribuído para a estabilidade política, apesar de alguns dos regateiros da política não apreciem o estilo não apreciarem, não se percebe o conservadorismo de António Costa  que entrou numa política de circulo vicioso, o mesmo que dizer que entrou numa fase ininterrupta de acontecimentos que se repetem e voltam sempre ao ponto de origem, colidindo sempre com os mesmos obstáculos. Maria João Marques escreveu no jornal Público que António Costa “Tem na sua mão como primeiro-ministro fundos abundantes vindos da União Europeia, na forma do PRR” e acrescenta, “E no entanto, incompreensivelmente, António Costa tudo tem feito para sabotar esta sorte grande que lhe calhou”.

António Costa deveria prever que após obter uma maioria absoluta viriam violentos ataques e mineração de casos e casinhos aplaudidos pela direita e contestações vindas da esquerda estrategicamente provocadas para fragilizar o Governo. Para contornar isto não basta afirmar “habituem-se” o que demonstra alguma arrogância e má comunicação em política o que pode ser fatal. O verbo utilizado não está adequando à frase que se lê no site do Partido Socialista “A ação deste Governo será marcada pela lealdade institucional e pela humildade democrática”.

Numa má comunicação política a mensagem que se pretende transmitir não tem qualquer relevância e não atinge a audiência desejada, e, por vezes, até tem um efeito negativo e mesmo que atinja a audiência pretendida a mensagem pode não ser adequada.

Isto é básico e António Costa e o Governo podem encontrar-se no fio da navalha o que é o mesmo que dizer que podem estar perante uma situação dificílima, sem controle, num fio onde o inesperado pode acontecer.