Mas afinal somos todos totós? Não, não somos!
Quem se dedicar a ler e a ouvir com atenção as oposições ao Governo PS, especialmente as de direita, ficará estupefacto. Pela voz dos líderes da oposição, e também dos comentadores partidários designados, as contradições são permanentes. Todas as decisões do Governo são más, ainda que tenham mérito e demonstrado a sua eficácia. Seja no âmbito da saúde, da habitação, da educação, das finanças (cobrança de impostos), da justiça, da economia, da agricultura, da cultura, etc..
Quem os ouve falar para as câmaras das televisões, nos “comícios” e encontros vários, nos passeios de propaganda pelas ruas e nos estúdios das televisões, em direto ou em diferido, o discurso propagandístico, demagógico e popularucho observaria que são declarações e elocuções feitas por partidos de direita que volveram à esquerda, sobretudo do lado do PSD.
Senão vejamos:
O IL-Iniciativa Liberal diz ser um partido liberal criado para promover e defender o Liberalismo em Portugal e que a iniciativa privada deve ser dominante e o Estado deverá ficar num segundo ou terceiro plano. Assim, para este partido, mesmo sem grande rigor, a maioria dos setores da economia deve ser desregulamentada e na sua maioria privatizada porque mercados não regulamentados, dizem, produzem prosperidade, abundância e eficiência económica.
Para os seguidores dos princípios liberais as regulamentações que regem os setores bancário, de seguros e financeiro e empresarial devem ser diluídas ou eliminadas. Só que não explicam é que a falta de supervisão foi um fator importante na crise financeira mundial que começou em 2007-08 e ameaçou transformar-se numa depressão global.
O mercado desregulado foi desacreditado aos olhos de muitos. É o mito da admiração e o incentivo para os que procuram um amanhã melhor. Parece fazer recordar a velha citação direta de uma famosa expressão do PCP de Álvaro Cunhal quando qualificou a União Soviética “Sol da Terra” uma década antes dela desaparecer, mas aqui aplicado não ao comunismo, mas ao capitalismo desenfreado.
O programa da IL, ao nível de conceitos, pretende baralhar os incautos quando associa os conceitos de Liberal e de Liberdade que leva a confundir devido à etimologia da palavra. Este partido faz uma abordagem através da promoção da defesa intransigente da Liberdade, contra os estatismos de todos os partidos. As propostas deste partido são desconexas e surgem consoante a agenda política que estiver no momento a ser avançada.
Um partido que se diz liberal e pretende menos estado e melhor estado, o que implica a concentração de serviços na iniciativa privada, aponta críticas às soluções para resolver o problema da habitação, mas ficamos sem saber como, e com que brevidade. Deverá ter uma varinha mágica que coloque a iniciativa privada a resolver este grave problema no curto prazo. São liberais, mas nas suas intervenções parece querer mostrar ser um partido de centro direita, mas sem soluções práticas para esconder a sua real opção ideológica.
Quanto à saúde também já sabemos que este mesmo partido disponibilizaria fundos dos cofres do Estado para os privados, mantendo o SNS em decadência. Uma saúde para ricos e outra para pobres. Na educação o mesmo princípio, os mesmos a financiar as escolas privadas mantendo as escola públicas, uma para ricos e outra para pobres.
Quanto à subida das taxas de juros, da responsabilidade do BCE que aumenta os encargos para quem comprou ou compra habitação nada sabemos. Para eles tudo é incompetência do Governo, problemas que o liberalismo, o deles, decerto resolveria, não dizem é como. Com a IL não vale a pena perder mais tempo, vamos ao principal partido da oposição o PSD que diz já ter entregado o seu programa de emergência social no parlamento.
Se fizermos uma análise com algum detalhe ao relato que o líder do PSD, Luís Montenegro, fez numa iniciativa na Póvoa de Varzim, onde considerou que o Governo «anda a reboque» do PSD, quer na apresentação de medidas de emergência, quer no apoio à descida do IVA da energia, quer na recusa de um novo imposto sobre os chamados lucros extraordinários, tiraremos algumas conclusões. Aqui está o PSD, por um lado, a pretender competir com o BE e com o PCP, e a mostrar-se contra os lucros das empresas privadas, e por outro a querer mostrar um partido que apoia um Estado social.
Se nos dermos ao trabalho de apreciar o discurso do Bloco de Esquerda-BE verificamos que andam muito próximos. O PSD anda sobre uma placa giratória que umas vezes vira para a direita, outras vezes vira para a esquerda, para mostrar que tem uma política social. Ou será socialista?
Luís Montenegro já tinha anunciado este verão, na Festa do Pontal, o seu anúncio de apoio às famílias e às empresas a que acrescentou agora a proposta de redução do IVA da energia para a taxa mínima (6%). Se bem me lembro terei ouvido isto ao BE.
O partido que mais prejudicou as famílias e que no passado, quando era poder, tal não o preocupou fala agora num programa de emergência social num valor global que rondará os 1,5 mil milhões de euros, uma subida em relação ao valor inicial indicado por Montenegro (mil milhões). Esta diferença é justificada pelo líder parlamentar do PSD, Joaquim Miranda Sarmento, com o «agravar da situação das famílias e das empresas» aproveitando a potencial «receita adicional muito significativa» que diz existir.
O PSD na voz dos seus principais líderes, propõem ainda que o Governo atribua um vale alimentar no valor de 40 euros por mês a todos os pensionistas e reformados que tenham uma pensão/reforma até 1.108 euros e a todos os cidadãos em vida ativa e que aufiram rendimentos até ao terceiro escalão de IRS, durante o mesmo período. O que é isto senão pura demagogia e populismo e tendo em vista próximas eleições e que o PS classificou de «caridadezinha e paternalismo».
O que o PSD demonstra é que o PS deveria deixar de ser poupadinho e passar a ser despesista o que está implícito nas propostas que o PSD recomenda para a criação de linhas de apoio financeiros para as pequenas e médias empresas (PME) e IPSS no valor de 250 milhões de euros, apoios na eletricidade “verde” e descontos no gasóleo para as empresas de produção agroalimentar, bem como a criação imediata de um Programa Extraordinário de Incentivo à Poupança Energética por consumidores domésticos e industriais. Tudo coisas fantásticas que o PSD faria.
O PSD quer um Governo de mãos largas em tempo que ele acha ser de vacas gordas. Parece querer vir a ser um Governo tipo novo rico gastador. Sim o PSD, implicitamente está a dizer que está tudo mal a nível social, empresarial, saúde, educação, justiça, etc., e que se deve gastar mais, muito mais…. Então estamos em tempo de vacas gordas, ou não?
Se tudo o que o PSD e as restantes oposições propagam fosse realizado por um passe de mágica instantâneo veríamos posteriormente os efeitos do aumento da despesa do Estado (o déficit) e da dívida pública. Viria então o efeito déjà-vu da direita a clamar que o Governo socialista despesista aumenta a dívida pública e o déficit e nos está a lançar no caminho de nova banca rota
Analisemos alguns dos problemas que existem em vários setores sociais e dos serviços públicos. A estes problemas que de facto existem associemos-lhe as exigências que as oposições, organizações sindicais, organizações de empresários e de proprietários e outras entidades em nome individual ou coletivo reivindicam e exigem para a resolução de cada um dos problemas e no final tiremos algumas conclusões breves.
Alerto para que a lista será grande. Noto ainda que muitos destes problemas há muito que existem e vêm de governos anteriores, mas que, durante este Governo, passaram repetidos diária e são insistentemente trazidos para a opinião pública pela comunicação social.
- Saúde e SNS.
- Falta de médicos de família.
- Falta de médicos e de enfermeiros.
- Dificuldade na marcação de consultas.
- Atraso nas cirurgias.
- Problemas nas maternidades.
- Intervenientes nas críticas e ou ataques ao Governo.
- Exigências de mais salário e menos horas de trabalho e outras regalias.
- Ordem dos médicos críticas ao sistema.
- Professores do ensino público.
- Exigem mais salário.
- Alteração nas colocações em função da distância.
- Admissão de mais professores.
- Diminuição do número de alunos por turmas.
- Descongelamentos das carreiras.
- Pagamento de todo o tempo de serviço de todos os anos de congelamento.
- Falta de creches.
- Intervenientes nas críticas, exigências e ou ataques ao Governo.
- Associações de pais.
- Associação dos Diretores de Agrupamentos.
- Intervenientes nas críticas, exigências e ou ataques ao Governo.
- Aumentos salariais.
- Mais funcionários.
- Horas de trabalho.
- Habitação.
- Juros altos causa das subidas pelo BCE.
- Apoios sociais.
- Falta de oferta de casas.
- Falta de construção.
- Rendas altas.
- Habitação para jovens.
- Inflação derivada a causas exógenas ao país.
- Baixa ou eliminação do IVA.
- Exigências pelo controle da inflação.
- Congelamento de rendas.
- Apoio do Estado às rendas e à habitação.
- Baixa de impostos.
- Baixa do IRS para alguns escalões e do IRC.
- Redução ou eliminação da TSU.
- Redução dos impostos sobre os combustíveis.
- Baixa de impostos.
- Casos isolados.
- Pedidos de apoio para tudo, desde a agricultura, panificação, olivicultura, viticultura, etc... Prejuízos devido à escassez de água e excesso devido às chuvas como consequências do clima.
- Resolução com apoios do Estado sempre há escassez de água quando não chove; apoios do Estado quando há excesso devido às chuvas em excesso.
- Finalidade reivindicativa.
- Sempre a mesma: Exigências de mais salário, menos horas de trabalho, mais pessoal, mais regalias.
- Causas e conclusão.
- Pelo que se depreende tendo em conta as oposições e o que se vê e lê na comunicação social todas estes problemas enumerados parecem ser da responsabilidade do Governo.
- Conclusão. Algumas serão, mas uma parte significativa não o é, nem seria resolvido por qualquer partido que estivesse no Governo.
Não é necessário fazer contas muito complicadas para percebermos que, se todas as exigências e pedidos que são reivindicados e noticiados pelos media fossem satisfeitos, o país não teria recursos financeiros suficientes para suportar tal despesa. O país, nós todos, ficaríamos mais endividados e o déficit subiria para níveis incomportáveis.
Fica a curiosidade de saber como as oposições à direita e à esquerda do atual Governo procederiam para dar resposta a todos aqueles pontos num período curto desejável.
Veja-se o desespero do líder do PSD ao avançar com propostas eleitoralistas, afirma que a descida do IRS não seria apenas para o ano de 2023, mas seria para este ano e também para o seguinte. Se isto é sentido de estado e responsabilidade não sei o que será.
Tudo isto serve de conteúdo para os media fazerem o seu papel, servir informação e aproveitar para fazer “shows” a partir da procura insistente de realidades várias que possa mostrar nos ecrãs, umas efémeras, outras duradouras e persistentes. Vão-se repetindo na sucessiva renovação dos ciclos noticiosos, com algum sensacionalismo, embora a maior parte das vezes com mais seriedade do que nas redes sociais, deixando aos consumidores de conteúdos de informação a difícil tarefa de conseguir distinguir uma fonte da outra. Os consumidores de televisão e de redes sociais já não distinguem a semelhança com uma espécie de qualquer “reality show”.
Por isto mesmo o espectador, consumidor de conteúdos televisivos, deixa-se enredar e fica estupefacto por aquela enorme quantidade de problemas que lhe dizem estar o Governo a acumular, dia para dia, mês após mês, ano após ano, e que não consegue resolver.
As oposições criticam medidas do executivo com o fito único nos potenciais votos que o descrédito do Governo lhes possa vir a trazer em futuras eleições ou, até, se tal fosse eleitoralmente oportuno a dissolução da Assembleia da República pelo Presidente da República com a sua consequente queda.
Uma coisa podemos colocar como hipótese que um governo de direita, com maioria ou em coligação, não conseguiria resolve todos os problemas atrás enunciados. Mas os media encarregar-se-iam de passar a imagem de um país sem conflitos e com os problemas sociais milagrosamente resolvidos por obra desse tal novo Governo de direita, porque seriam enviados para uma espécie de latência.