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Lisboa em Transformação: Reflexões sobre Políticas Urbanas, Imigração e Identidade

08.10.25 | Manuel_AR

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Estamos em plena campanha para as eleições autárquicas e, neste contexto, surge a necessidade de refletir sobre o impacto das políticas municipais dos últimos anos em Lisboa. Questiona-se o papel dos apoiantes de Carlos Moedas e dos presidentes de freguesia, desafiando-os a apresentar os reais benefícios trazidos à cidade e aos seus habitantes, para além de uma série de consequências negativas associadas à gestão do turismo, imigração e ordenamento urbano.

Consequências do Turismo e Políticas Urbanas

Durante o mandato atual de Carlos Moedas Lisboa assistiu à continuação e intensificação de um turismo descontrolado, cujos efeitos adversos se fazem sentir tanto na vida dos residentes como na identidade da cidade. O incentivo e manutenção deste modelo têm resultado na proliferação de alojamentos locais, na escassez de habitação acessível para a população e na autorização de mais hotéis, em detrimento da construção ou renovação de edifícios para fins habitacionais não especulativos. As políticas de “licenciamento zero”, por sua vez, facilitam a abertura de atividades sem a devida avaliação técnica prévia, comprometendo a segurança, higiene, mobilidade e bem-estar público, além de sobrecarregarem os serviços de fiscalização e inspeção administrativa.

Imigração e Transformação dos Bairros

Outro ponto crítico refere-se à dispersão desregulada da imigração por vários bairros, excetuando as zonas habitadas pelas elites. Muitos imigrantes, substituindo a mão-de-obra local em setores que oferecem baixo rendimento ou pouca atratividade, abriram pequenos estabelecimentos comerciais — lojas, mercearias, restaurantes — que ocuparam o espaço deixado pelo comércio tradicional, destruído pelas grandes superfícies. Estas lojas, frequentemente de licenciamento duvidoso, apresentam elevada rotatividade, com negócios que abrem e fecham rapidamente, muitas vezes mantendo a etnia entre proprietários e funcionários.

Há também um crescimento visível de cabeleireiros — masculinos, a preços irrisórios, e femininos, geridos sobretudo por brasileiros — em praticamente todas as freguesias exceto nas de maior prestígio, onde o discurso de integração raramente encontra correspondência na vivência quotidiana.

Impacto no Espaço Público e Qualidade de Vida

No dia-a-dia, a experiência de caminhar pela cidade evidencia as consequências destas políticas: ciclovias pintadas de verde tiveram a promessa de Moedas de serem removidas ou alteradas. Foram mantidas porque «Carlos Moedas (PSD), decidiu retirar a proposta para avançar com o projeto de alteração da ciclovia da Avenida Almirante Reis por considerar que “o tema é demasiado relevante para jogos partidários”». Esta ciclovia na referida avenida cria constrangimentos à circulação, inclusive de veículos de emergência. O centro de Lisboa, especialmente áreas como a Praça da Figueira, Martim Moniz e Rossio, transformou-se num “espaço turistificado”, dominado por turistas de classe média-baixa, negócios voltados para o retalho turístico e estacionamentos de tuk-tuks.

O espaço público na Baixa lisboeta é ainda pressionado por grupos de ciclistas turísticos que desrespeitam peões, e pela proliferação desordenada de bicicletas e trotinetas. A sustentabilidade urbana parece reduzida a ciclovias e discursos ambientais, sem um plano coerente que priorize os interesses da população local e a redução efetiva da dependência do automóvel.

Identidade Urbana e Desafios de Integração

O percurso pelo eixo central da cidade, da Avenida Almirante Reis até ao Bairro das Colónias, revela uma mudança significativa no perfil demográfico: imigrantes asiáticos ocupam espaços antes frequentados por africanos, substituindo a mão-de-obra local em setores menos atrativos. Esta transformação ocorre num contexto de ausência de políticas eficazes de integração, o que fomenta uma sensação de transitoriedade e alienação entre novos e antigos moradores.

Enquanto grupos políticos radicais exploram o discurso de que os imigrantes retiram empregos aos autóctones, a realidade é marcada pela recusa de muitos portugueses em aceitar determinados trabalhos, criando uma dependência de mão-de-obra estrangeira — infelizmente, sem o controlo necessário para garantir coesão social e segurança.

Conclusão: Entre Potencial Cosmopolita e Desarticulação Urbana

Lisboa encontra-se num momento de transição, oscilando entre o potencial de uma cidade cosmopolita e os desafios de uma gestão municipal desarticulada. A falta de políticas de integração, o abandono do comércio tradicional, a turistificação desenfreada e a ausência de uma estratégia que valorize a qualidade de vida e o sentido de comunidade minam a confiança dos lisboetas e diluem a identidade da cidade. Sem uma mudança de rumo, Lisboa corre o risco de se tornar um espaço marcado pela insegurança, marginalidade e alienação, onde os interesses económicos se sobrepõem ao bem-estar dos seus habitantes.