Instabilidade política e zona de conforto
Imagem de: http://depoisfalamos.blogspot.pt/
Os portugueses receiam a instabilidade política mesmo que seja momentânea e com o objetivo de, a muito curto prazo, poder contribuir para uma nova vida pessoal e social. Não gostam de sair da sua zona de conforto, termo, este, já utilizado por Passos Coelho.
Esta atitude pode ser demonstrada pelos comentários que se ouvem por aí na rua, nos cafés e outros locais públicos, como, por exemplo, vale mais isto do que nada, temos esta reforma mas é melhor do que a retirarem toda, os outros (os políticos) que vierem fazem o mesmo que estes, nós sempre vivemos assim e nada vai melhorar para nós, mudar para quê eles estão a fazer o que podem, temos que dar graças a Deus porque temos emprego apesar do ordenado baixo e outro grande número frases que seria exaustivo numerar. Estas são frases que agradam ao governo porque é para isto mesmo que vem "treinando" a equipa chamada povo português, qual treinador de futebol que mentaliza a equipa do seu clube.
O pior de tudo é que, quem nos governa sabe disso e, por isso, sabe que pode tomar, sem grande cautela, até impunemente, medidas com as mais toscas justificações que vão contra os interesses dos governados que os colocaram no poder.
Poderia dizer-se que estaríamos a chamar estúpidos aos portugueses. Bem longe disso, são é comodistas e preferem manter-se na tal zona de conforto porque, apesar de sentirem que estão a ser enganados e prejudicados têm receios, o que prova que a pedagogia do medo que é lançada para a opinião pública tem funcionado e bem. Decerto modo é compreensível porque a situação que se criou é tal que tudo até a perda do posto e trabalho se tem em conta quando as pessoas se pretendem manifestar quer através de comentário, quer de qualquer outra forma. Não é por acaso que nos serviços de diversos departamentos dos ministérios as pessoas têm um certo cuidado em falar de certos assuntos com receio de que alguém possa escutar as conversas, mesmo as efetuadas ao telefone.
A instabilidade política é o “chavão” do medo, acenado pelos que nos governam e por quem os apoia, agora, com a justificação da intervenção da “troika” para, conhecendo as características do povo português, se servirem disso para eles próprios se poderem manter nas suas zonas de conforto enquanto detentores do poder que lhes foi dado através de eleições.
Só nos governos não democráticos é que a estabilidade política é imposta, em democracia a instabilidade política é sempre possível existir. Veja-se o caso atual da Itália onde sem grande perturbação social são convocadas eleições antes do final do mandato. Dirão alguns que nós estamos intervencionados e não podemos assustar os mercados e a ”troika” que nos emprestam dinheiro. Direi eu, a “troika” está-se borrifando para que haja ou não eleições antecipadas, o que quer é que o programa que nos impõe, aceite de mão beijada e sem negociação por este governo, seja cumprido para garantir o dinheiro e os juros do empréstimo.
Se continuarmos a prendermo-nos ao problema da instabilidade política o melhor é, durante a próxima década, não termos eleições porque, nessa altura, ainda estaremos a cumprir os nossos compromissos e, por isso, não podemos assustar os mercados.
Instabilidade política não é uma revolução, é apenas uma prática que deve conduzir à possibilidade de mudança devido à falta de compromissos assumidos pelos que elegemos para nos governarem. Para além disto, tudo o que se disser será ceder à tal pedagogia do medo que apenas serve para a manutenção de uma situação conveniente que dure quanto mais tempo melhor. Em democracia só há uma forma de sair de crises políticas, são as eleições que servem para criar estabilidade e não para criar instabilidade.