Injeção atrás da orelha
Escrever politicamente correto não chega à maioria das pessoas. Por vezes há que chamar as coisas pelos seus nomes, sem disfarces que apenas servem para mascarar as realidades do se passa na política e nos condena a um suplício sem fim qual mito de Sísifo. Austeridade, mais austeridade, sacrifícios, mais sacrifícios, promessas em vão, austeridade, mais austeridade... num sem fim.
Agora começou a surgir nos debates políticos um ex-dirigente do CDS, José Ribeiro e Castro, da ala direita mais radical. Desta vez vem dizer que não existe austeridade mas sim rigor. Ao que chamará este senhor sacrifício? Prazer?
De acordo com o último programa prova dos nove da TVI24, para ele não está a haver austeridade mas sim rigor. É extraordinário como aquele senhor vem agora defender o indefensável com argumentos do passado, mais do que estafados, que grande parte dos portugueses já estão fartos de ouvir.
O primeiro-ministro depois das autárquicas anda agora em campanha pró-governo e está preocupado em "trilhar um caminho sustentável de crescimento e de prosperidade para todos os portugueses”. A palavra crescimento que é um vai e vem na gíria de Passos Coelho e do governo, volta novamente à baila a par da prosperidade que será num futuro tão longínquo que mal se vislumbra. Procura realizar por palavras e artes mágicas de comunicação, diga-se péssima, o que não consegue na realidade. A terra prometida do leite e do mel que ele promete é que tarda em aparecer com as políticas por ele impostas.
Para Passos Coelho o programa da "troika" já não é o do PSD mas deve ser nacional e, como tal, "não se trata apenas de escolhas de um Governo, nem sequer de uma coligação de partidos, mas de escolhas verdadeiramente nacionais". Assim, apela ao envolvimento do sistema na coesão político-constitucional, isto é, o envolvimento do Tribunal Constitucional com o Governo, o que significa que devem ser colocadas de parte as leis fundamentais do país, à boa maneira do terceiro-mundo, e de países que, apesar do seu grande crescimento, mantêm uma política repressiva, na prática destituída de direitos básicos. Para ele a coesão deve existir apenas entre o Tribunal Constitucional e o Governo.
A verdadeira coesão nacional, no seu todo, tem sido por ele destruída ao lançar a divisão entre grupos sociais e profissionais de portugueses na mesma medida em que lança outros para o empobrecimento, normalmente os mais frágeis, sem capacidade reivindicativa ou de qualquer forma de pressão. É um Governo cobarde que apenas desafia os mais fracos. Esta é a linha da insensibilidade social, escondida atrás dos memorandos da "troika", que é defendida pelo grupo que atualmente controla o PSD e que está no Governo
No mesmo envelope de Passos Coelho e do PSD podemos colocar Paulo Portas cujo cinismo e a falta de palavra foram já postos à prova. Analise-se com cuidado a conferência de imprensa dada por Paulo Portas sobre a oitava e nona avaliação da "troika" e os anúncios que se seguiram sobre a austeridade sempre sobre os mesmos. Um especialista em leitura da expressão facial detetaria um certo cinismo no sorriso ao anunciar, "nada", na referida conferência de imprensa.
Há uma linha política e social no PSD, adotada por este Governo que podemos designar por socio-terrorista, que se afasta da matriz essencial do partido, à qual me tenho referido em blogs anteriores, que apostou no conflito inter-geracional e na marginalização pelo afogamento económico e financeiro de determinados grupos sociais como pensionistas e reformados, alguns deles já fragilizados, numa espécie de eutanásia lenta.
Quem viveu os primeiros anos da revolução do 25 de abril ainda se deve recordar do medo que a direita muitas vezes aterrorizava os idosos, através da comunicação social, dizendo que o PCP e na União Soviética lhes davam injeções atrás da orelha para se verem livre deles. Ora bem, a estes indivíduos que nos desgovernam apenas falta a execução física e sumária dos idosos porque já arranjaram uma solução de eutanásia mais subtil que puseram em curso a encoberto da "troika" ao longo destes dois anos e meio.
Já várias vezes escrevi que há uma corja infiltrada no PSD, alguns uma geração de retornados, muitos deles provenientes de "jotas" radicais, selvagens, incultos, neonazis disfarçados, que controlam o partido, que se apresentam como grandes patriotas, e que, se não correrem com eles, destruirão e espoliarão Portugal até à medula na expectativa de benefícios pessoais na carreira política.
Já que se fala em retornados recordo o caso de Rui Machete que pôs em causa a nossa dignidade enquanto portugueses e a separação de poderes do nosso regime político e judicial. Isto não é Angola, a separação de poderes não está apenas no papel. Repare-se na defesa que alguns arautos do PSD e do Governo fazem das declarações de Rui Machete ao dizerem que foi em defesa dos interesses de Portugal e por causa dos investimentos de Angola. De Angola? De uma seita elitista de Angola talvez.
Claro que os jornais angolanos defendem Rui Machete e atacam Portugal. Afinal parece que o ministro dos negócios estrangeiros não está a defender os nossos interesses, mas sim os de Angola. Mas que raio de ministro dos negócios estrangeiros é este?
Alguém se recorda de algum ministro dos negócios estrangeiros, ao longo dos últimos trinta anos estar envolvido em escândalos para além de Paulo Portas, com a questão dos submarino, e agora este de Rui Machete?