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Filme Blue Jasmin de Woody Allen

05.10.13 | Manuel_AR



Acho que tenho os meus próprios clichés. Um deles é a minha óbvia orientação urbana. Em todos os meus filmes, vemos pessoas a andar e a conversar nas ruas, a comer em restaurantes e a viver em apartamentos, Acho que há algumas questões e assuntos que se vão repetindo vezes sem conta nos meus filmes embora não em todos.


Conversas com Woody Allen, Eric Lax, Relógio d´Água, 2011



 


Desde a minha juventude que tenho visto a maior parte dos filmes de Woody Allen. Se para os críticos profissionais alguns deles foram uma desilusão para mim, enquanto espectador, não o foram.  


Como em quase todos os filmes, Woody Allen, com Blue Jasmin, continua na linha da neurose urbana consequência de conflitos interiores e reações defensivas derivados de eventos emocionais intensos de origem familiar, pessoal, social ou outros. Contudo, desta vez, sai fora dos parâmetros habituais dos seus anteriores filmes e passa a uma narrativa quebrada no espaço e no tempo conduzindo o espectador do presente para o passado através de flashbacks. Pára a ação do presente, revive o passado sem voltar ao momento da partida. São viagens cujo regresso não parou o presente. Retira-se de Nova York, a sua cidade de eleição, e transfere a personagem central para San Francisco na Califórnia.


O confronto entre dois mundos sociais fraturantes, o do passado e o do presente em que Jasmin passou a viver, são a causa da sua neurose e incapacidade de adaptação devido à mobilidade descendente na escala social e consequente mudança de convívios e interação na vida quotidiana.


Jasmin, nome adotado na alta sociedade em que vivia, protagonizado por Cate Blanchett, é um desenho sociológico da típica mulher socialite que vivendo na classe alta e devido à ruína do marido se encontra numa situação de dependência à qual não se adapta.


O falhanço dos cursos que queria tirar, a frustração num emprego, o assédio violento do patrão e a procura de uma nova relação que a faça regressar à abundância e ao luxo perdidos são as constantes em Jasmin sse enreda. Uma nova relação com um milionário, ocasionalmente encontrado numa festa, alicerçada em mentiras sobre a sua vida, é liminarmente desmascarada pelo ex-marido da irmã rompe a nova relação.


Este filme de Allen é  o retrato de uma sociedade em desequilíbrio de valores em que valoriza o “ter” e não o "ser". Quando o essencial é o ter a sua perda gera desequilíbrios emocionais e socias que conduzem ao isolamento comunicacional, consequências da neurose e da depressão. O retrato não é apenas o da sociedade americana mas de toda uma sociedade ocidental da burguesia que se desmorona.


Ansiedade, pesadelos e um colapso nervoso, são apenas alguns traumas que uma pessoa pode suportar antes de ir para a rua e começar a dialogar sozinha levando ao afastamento e olhares desconfiados dos passantes.  


Blue Jasmin é um filme inteligente, divertido, comovente e. sobretudo, preocupante.


Após ter visto o filme veio-me à ideia o caso Madoff e a maior fraude financeira de sempre que conduziu famílias à pobreza e à miséria. Como e porquê?  Vejam o filme!