Estamos todos fartos até à náusea
O artigo de opinião de Eduardo Marçal Grilo no jornal Público que abaixo transcrevo toca no ponto essencial do que pensa grande parte dos portugueses pelo que recomendo a sua leitura.
Haverá, decerto, quem não aprecie o artigo o que é compreensível, porque em democracia é normal a discordância. Devemos, contudo, distinguir os facciosos, os adeptos clubistas partidários de esquerda ou de direita, os militantes doentios anti Governo, anti PS e anti António Costa, os anti tudo, os populistas, os que absorvem o que lhe dizem, veem e ouvem, qual esponja, destituídos de qualquer espírito crítico, os que não distinguem o trigo do joio, os que acreditam que todos os políticos da direita são de uma pureza indelével e incorruptível, porque destes, raramente é feita notícia e, quando ela existe, apressadamente, transformam-na em fogo-fátuo.
A campanha repetitiva dos órgãos de comunicação social que têm a obrigação de nos informar, e não condicionar, com imparcialidade e ética giram numa espécie de roda de argumentos ad nauseam (até provocar náusea) ou ad infinitum para tentar convencer as audiências através da repetição.
Estou farto e cansado
OPINIÃO
Eduardo Marçal Grilo
25 de maio de 2023
In Jornal Público
Estou cansado e triste quando vejo os militantes dos partidos abdicarem de dizer o que pensam.
Sim, estou farto de quase tudo o que ouço e vejo à minha volta.
Mas também estou cansado de ouvir e ler sempre os mesmos a dizerem as mesmas coisas, como se conhecessem as soluções para todos os problemas, mas que nunca nos apresentaram uma única ideia ou proposta para a solução dos problemas com que o país se confronta.
Sim, estou farto de ver os políticos a criar conflitos inúteis, como estou farto de ver as televisões a massacrar os telespectadores com programas de futebol intermináveis e em que para entreter se criam conflitos sobre penalties, expulsões e foras-de-jogo.
Estou cansado de ler as notícias da corrupção que corrói a democracia e alimenta os populismos.
Estou cansado de ver os moderados sem voz e sem presença nos media.
Estou cansado e triste por ver pessoas “queimadas” na praça pública com notícias falsas ou com acusações infundadas.
Estou farto de ver títulos de jornais que não correspondem à notícia a que se referem.
Estou farto de conferências, colóquios e seminários em que os que falam e os que ouvem são sempre os mesmos.
Estou farto dos debates em que nós todos já sabemos o que cada um vai dizer.
Estou cansado e triste quando vejo os militantes dos partidos abdicarem de dizer o que pensam.
Estou farto de ver gente em lugares de responsabilidade comportarem-se como membros de uma associação de estudantes do ensino secundário.
Estou cansado e triste por ver deitados para o lixo trabalhos que foram feitos por organizações credíveis que só querem contribuir para melhores soluções para os problemas do país.
Estou farto da arrogância de alguns que nos querem impor as agendas das minorias.
Como também estou cansado dos excessos em torno da cultura de género.
Estou cansado das notícias que justificam que os processos judiciais se tornem intermináveis.
Estou farto dos que lucram com todo este emaranhado jurídico dos processos lançados pelo Ministério Público.
Estou também indignado com os processos lançados contra pessoas que, quando julgadas, se provou nada terem feito de mal.
Estou farto de ver incompetentes a exercer cargos para os quais não têm qualquer qualificação.
Estou cansado e farto de ver nas televisões o rigor substituído pelo espetáculo.
Estou farto de ver muita gente mais interessada em estar do lado do problema do que do lado das soluções.
E também estou cansado de ver que em certos casos são eles mesmos o problema.
Como também estou cansado dos que gostam mais de destruir do que construir.
Estou cansado de ver tanta inveja e tanta vontade de deitar abaixo os que fazem qualquer coisa que se veja.
Confesso igualmente que estou cansado das notícias sensacionais que duram menos de 24 horas, porque foram forjadas com objetivos inconfessáveis.
Estou cansado de não ver enaltecido o que de muito bom se faz em Portugal, seja nas empresas, nas universidades, nas escolas ou nos hospitais.
Como estou farto de ver aqueles que, como portugueses, gostam de se autoflagelar.
Estou cansado de ver televisão e até de ler jornais.
Sim, estou cansado de viver num país que adoro, mas que me traz grandes frustrações quase todos os dias.
Tanta frustração deve talvez ser da idade e da falta de paciência que tenho para aturar tantos disparates.
Nota final: estou triste, cansado e farto de muitas coisas, mas não sou um desistente.
Estarei sempre disponível para lutar contra os populismos e contra os inimigos da democracia, procurando que não nos toquem na liberdade e que, sem complexos ideológicos, se encontrem, com moderação, equilíbrio e bom senso, as soluções para os problemas que enfrentamos.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico