Estabilidade precisa-se
Dizem por aí alguns CEO´s de empresas que "Portugal não se pode dar ao luxo de ter instabilidade governamental". Não se pode deixar de concordar. Felizmente são poucos os defensores das teses da coligação PSD/CDS. O apelo é um pedido informal para votação na coligação que tem vindo a apregoar a estabilidade governativa, explorando receios e medos ancestrais ainda presentes em alguns portugueses, induzindo-os a votar neles e, deste modo, dar-lhes um cheque em branco para uma maioria absoluta.
Não deixa de ser curioso que a estabilidade governamental que pretendem seja para consumo próprio, a das elites que querem defender a todo o custo os seus lugares e privilégios, ficando os restantes obrigados a renderem-se e a ficarem sujeitos à instabilidade das suas vidas, no seu trabalho, na sua saúde, na sua educação, nas suas reformas, aos impostos agressivos, e por aí adiante. Estabilidade para uns e instabilidade para outros é o que, em síntese, os apoiantes da coligação PSD/CDS defendem, como se mudar de Governo fosse, em democracia, sinónimo de instabilidade. Salazar também a combatia através de todos os meios que criou dizendo ser para defesa da estabilidade e integridade nacional.
Passos Coelho e a sua tribo de corifeus alojados no PSD, alguns vindos da JSD, conseguiram dividir Portugal em dois com o objetivo bem definido de dividir para reinar sendo o seu percursor Miguel Relvas que vai sendo desenterrado aos poucos do silêncio a que estrategicamente se remeteu. Uma das partes em que dividiram Portugal e que o PSD/CDS propagandeiam, é a dum Portugal virtual. A outra parte é a do Portugal real que tentam esconder e lançar para o esquecimento.
O PSD e o CDS culpam o Partido Socialista, Sócrates e o FMI da troika, esquecendo-se que Passos Coelho, após ter ganho as eleições através de várias e já bem conhecidas promessas e mentiras, acarinhou a vinda do FMI requintando-se no agravamento do memorando assinado fazendo dele o seu próprio programa de Governo.
A coligação PSD/CDS apresenta para a próxima legislatura umas linhas indefinidas de programa, sem novidades nas propostas de governação. Nesta campanha surgem como uma espécie de mortos vivos que, de vez em quando, recorrem ao passado para justificarem a vampirização a que sujeitaram e pretendem continuar a sujeitar os portugueses durante mais quatro anos.
A campanha de Passos Coelho e de Paulo Portas não têm apresentado propostas de governo preferindo acenar aos portugueses com o medo da instabilidade, com novas e piores "troikas" que podem vir. Preocupam-se mais em comentar as propostas do PS do que divulgarem as suas porque não lhes interessa que se saiba quais são de facto, mas os portugueses sabem bem o que farão se, por mero acaso, chegarem novamente ao poder. Não cumprir as promessas e continuar e agravar a obra iniciada há quatro anos, desta vez sem a desculpa da "troika". Aliás, Passos Coelho já afirmou várias vezes que seguirá o mesmo trajeto. Por isso só se deixará enganar quem quiser.
A propaganda da coligação tenta alimentar no povo falsas esperanças e, ao mesmo tempo alenta, com a ajuda dos seus corifeus, hostilidades contra tudo e todos os que apresentem uma pequena possibilidade que seja de mudanças de natureza política e que proponham vias alternativas, demonstrando a insensibilidade e a frieza que os anima sobre tudo quanto seja de natureza social. Para incauto ver vêm agora mostrar-se muito preocupados com os vários problemas socias por eles criados.
As propostas que esta gente e os media que os apoiam defendem perante o eleitorado são alimentadas pelo engano, pela mentira, pela ocultação ardilosa e pela deturpação premeditada dos factos do Portugal invisível, traçando sobre ele um muro espesso e opaco de silêncio.
As estatísticas selecionadas para divulgação são demonstração do que acabo de dizer. Divulgam-se as que lhes interessam e escondem-se as que não lhes interessa que sejam conhecidas. Das estatísticas económicas apenas as que lhe são favoráveis são mencionadas, as sociais não existem. Para comparação escolhem anos, apenas de interesse para estudo da evolução histórica, que lhes sejam favoráveis para demonstrarem que os indicadores estão a subir, todas a subir ou com tendência para subir.
Quanto às privatizações é o que se tem visto, comparam o mau com o pior que poderia ter acontecido. É do tipo de partiste uma perna? Olha, poderia ter sido pior se partisses as duas.
A venda do Novo Banco irá ser apresentada como sendo uma venda lucrativa e de excelência comparada com uma suposta venda que nunca esteve em cima da mesa das negociações mas que seria uma alternativa muito pior. É a estratégia para consumo popular; apresentar o mal feito como um mal menor.
É este o discurso de propaganda da coligação PSD/CDS; este tem sido o seu programa de governo; este é o programa que os partidos da coligação continuarão a seguir, se lhe dermos oportunidade para isso.