Em política não existe o melhor dos mundos possíveis
Lendo a entrevista de Alberto Martins (PS) ao jornal i podemos verificar que se centra em algumas palavras-chave de conceito vago, difuso e, em alguns casos, utópicos na sua concretização a curto e a médio prazo.
A promiscuidade entre política e negócios é uma questão sentida pelos portugueses à qual tecem críticas pois veem a ineficácia e lentidão da justiça quando estão em causa pessoas com ligações a governos atuais e passados. Estão bem presentes na memória os casos do BPP, do BCP, do BPN e agora o BES, embora este último tenha características muito diferentes dos anteriores. No caso do BPN estão a andar por aí os autores e os causadores das burlas. O caso do BCP foi bem evidente a prescrição que, no meu entender não foi ocasional, foi muito bem planeada. Já agora, quanto ao caso do BPN, dizem que nada ficou provado sobre eventuais vantagens tiradas pelo cidadão Cavaco Silva no caso. Se quiséssemos elaborar uma teoria da conspiração poderíamos considerar que ele, enquanto presidente, está nas mãos de alguns, ficando assim atado de pés e mãos para tomadas decisões independentes e, daí, a sua colagem ao Governo.
Ana Sá Lopes, no Jornal i, abordou na entrevista ao líder da bancada socialistas, Alberto Martins, a promiscuidade entre o poder e o mundo dos negócios ao mais alto nível, confrontou-o da seguinte forma: "A promiscuidade entre política e negócios e a corrupção é em Portugal uma evidência e não me lembro de os socialistas fazerem um grande combate a isso..."
Sobre este problema Alberto Martins traça um conjunto de intenções muito vagas na sua concretização que qualquer outro partido poderia traçar. O problema é, quando no poder, raramente ou nunca se concretizam na prática essas intenções. A questão de personalidades que, segundo ele diz, passam da política e das negociações diretas em nome do Estado para as empresas objeto da negociação, caso das privatizações, é, segundo ele, inaceitável. Mas, quando o PS esteve no Governo, não foram acauteladas situações deste tipo nem foram tomadas quaisquer medidas. Diz Alberto Martins " vamos acentuar um conjunto de medidas de incompatibilidades entre certas funções que se exercem e os lugares para onde se transita no fim dessas funções". São apenas intenções, porque sabemos que as pressões em sentido contrário dentro dos partidos raramente se traduzem na passagem das intenções aos atos.
Mais adiante afirma que a zona central da corrupção entre política e negócios são os paraísos fiscais e os offshores. Ele sabe bem que os casos graves em Portugal não são esses, mas os outros, e é aí que ele se desvia para os apontar como sendo os mais graves.
Em toda a entrevista nada é concretizado embora se saiba que não é o momento de o poder fazer. Diria mais, no atual contexto europeu, nada do que ele propõe é concretizável. São considerações sobre como a política deverá ser, o regresso ao passado dos valores da política, uma "reconstrução" e um "redesenho" da europa que se vê impossível com a correlação de forças existente. Os sucessivos apelos à solidariedade europeia, à qual se refere oito vezes na entrevista, fez-me lembrar os apelos feitos na nossa sociedade para os mais ricos ajudarem os mais pobres o que cai, na maior parte das vezes, em saco roto. Um idealismo que deve ser valorizado mas que em nada responde aos reais e legítimos anseios dos portugueses.
Sobre a reestruturação da dívida a que ele chama renegociação que é diferente pois não passa pelo perdão nada acrescenta de novo ao que tem sido dito e à qual Seguro se referia num estilo de sim mas também não.
Quanto ao tratado orçamental para Alberto Martins é possível abrir negociações. Mas o problema é que é necessário que haja abertura dos países que nos têm sido mais hostis. Negociar na UE não é o mesmo que negociar internamente onde tudo é mais fácil.
Desdramatiza, quanto a mim bem, as discussões internas no PS pois elas prendem-se com estratégias, debates de ideias e valores.
No meu ponto de vista a perda de valores que se tem vindo a verificar na política, nos partidos e na sociedade portuguesa tiveram a sua causa nos partidos do Governo que sempre têm feito uma política de destruição da coesão social e através de políticas divisionistas entre instituições, entre os diversos estratos sociais e profissionais, numa ótica de dividir para reinar.