Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

A Propósito de Quase Tudo: opiniões, factos, política, sociedade, comunicação

Aqui vocês, podem encontrar de tudo um pouco: sociedade, ambiente, comunicação, crítica, crónicas, opinião, política e até gastronomia, com apoio de fontes fidedignas.

É o tempo para uma oligarquia autocrática nos EUA?

12.02.25 | Manuel_AR

Trump_oligarquia.png

Dada a robustez das instituições democráticas americanas e a longa tradição de direitos civis e políticos a ideia de uma oligarquia autocrática nos Estados Unidos pode parecer distante. No entanto, eventos recentes têm levado muitos a reconsiderar a possibilidade de uma concentração de poder nas mãos de poucos, com tendências autoritárias. Movimentos populistas e líderes carismáticos que desafiam as normas democráticas, como o observado na presidência de Donald Trump, têm levantado questões sobre a resiliência do sistema democrático dos EUA e a vulnerabilidade às influências oligárquicas e autocráticas.

Daqui a tentação fácil de intuir e associar à palavra alemã “führer” cuja tradução pode ser “guia”, “líder” ou “chefe”. A palavra permanece ainda ligado a Adolf Hitler, que a usou para se auto designar como o líder supremo da Alemanha Nazi que terminou com a democracia alemã. Guiados por ideias racistas e autoritárias, os nazis aboliram direitos básicos e inventaram uma comunidade populacional de origem alemã, o “Volk”.

A possibilidade de um líder, tipo “führer”, autoritário nos Estados Unidos parece ser duvidoso ou até impossível para alguns apesar do slogan de propaganda MAGA – Make America Great Again muitas vezes usado por Donald Trump. Este ponto de vista justifica-se porque a história e a política dos EUA têm sido marcadas, pelo que conhecemos ao longo do tempo, por uma forte tradição democrática e instituições robustas que estão despertas para prevenir a ascensão de líderes autoritários. No entanto, nada garante que os valores democráticos sejam mantidos, o que parece não estar a acontecer naquele país e o partido democrático parece andar à aranhas porque não está a ser capaz de se movimentar ou de encontrar a saída neste conjunto de dificuldades.

 Há tempo atrás seria inconveniente, na melhor das hipóteses, e absurdo na pior das hipóteses, mencionar o fascismo ou o autoritarismo numa conversa sobre a política americana. Este ponto de vista nada tem a ver com opções ideológicas que se professem, mesmo que casualmente, contrárias à política até agora dominante nos EUA.

Tem-se verificado que políticos, académicos, comentaristas e jornalistas nos EUA compararem regularmente a ascensão de Trump à de líderes fascistas e autoritários. A situação agrava-se nas redes sociais com a discussão continua de que Hitler esteja a ser invocado como comparação destinada a criticar o extremismo de outra pessoa. Como escrevi num anterior artigo é “prematuro estabelecer qualquer relação consistente”, agora, parece cada vez mais que epítetos como "Hitler" ou "nazi" ou "autoritário" são suficientemente plausíveis para atrair uma ansiedade razoável e crescente.

Basta pesquisar alguns dos media dos EUA para ver as medidas que Trump, comprovadamente, tomou desde a sua tomada de posse em janeiro de 2025:

  • assinou várias ordens executivas, incluindo a retirada dos EUA do Acordo de Paris sobre o Clima e da Organização Mundial da Saúde e revogou 78 políticas do governo Biden;
  • ordenou uma repressão à imigração, incluindo a deportação de imigrantes ilegais e o cancelamento de um programa que permitia que os migrantes entrassem legalmente nos EUA por meio de um agendamento;
  • ofereceu incentivos para 2 milhões de trabalhadores federais e implementou um congelamento de contratações, exceto para militares, fiscalização de imigração, segurança nacional e empregos de segurança pública e restabeleceu uma ordem executiva para facilitar a demissão de funcionários federais;
  • perdoou cerca de 1.500 pessoas acusadas no ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio dos EUA;
  • anunciou planos para aumentar as tarifas sobre produtos importados de vários países, incluindo Canadá, México, China, Brasil e Índia;
  • assinou ordens para reduzir as regulamentações ambientais e aumentar a produção de combustíveis fósseis;
  • intensificou a proteção da liberdade de expressão e da liberdade religiosa, embora as suas ações tenham provocado reações mistas de vários quadrantes.

Estas são apenas algumas das medidas que tomou até agora.  

Há personagens sinistras, ameaçadoras, assustadoras ou mal-intencionadas que são levadas ao poder eleitos pelo povo porque não são percebidas como tal e mascaram-se e dissimulam muito bem.

O termo sinistro é também frequentemente usado para descrever indivíduos que exibem comportamentos ou características que causam medo ou desconfiança nas pessoas ao seu redor. Pode referir-se a personagens fictícios em filmes, livros ou séries, bem como a pessoas reais que são vistas como perigosas ou moralmente questionáveis. Contudo, o termo “sinistro” pode ser considerado bastante subjetivo.

No que se refere a presidentes dos EUA, alguns poderão ser considerados sinistros devido às suas ações ou políticas controversas. Embora alguns presidentes dos EUA possam ter sido vistos negativamente devido às suas ações ou políticas, não há conhecimento que tenha havido presidentes com características propriamente sinistras.  

Há alguns exemplos mencionados pelo USNews como Richard Nixon com o seu envolvimento no escândalo Watergate e a subsequente demissão em 1974 que deixou uma mancha duradoura no seu legado. Andrew Johnson com sua oposição, reconstrução quanto aos direitos civis dos escravos libertos após a Guerra Civil o que o levou a ser classificado como um dos piores presidentes. James Buchanan e o seu fracasso em lidar com a escalada de tensões que levaram à Guerra Civil também lhe rendeu uma má reputação. Esses presidentes são frequentemente criticados por suas ações ou falta de ação em momentos críticos da história, mas na minha opinião não podem ser considerados sinistro.

No que se refere ao Presidente Trump se amplificarmos o conceito de sinistro para desastroso, ameaçador, cruel, assustador, desastroso as dúvidas esbatem-se.

Não é absolutamente necessário viver nos EUA para percebermos o que lá se passa, basta consumir várias horas e dias de leitura e visionamentos para podermos observar o que por lá se diz e vê nos media e em artigos académicos.

Alguns consideram as ideias apresentadas por Donald Trump como sendo “fora da caixa”. Esta expressão que pode ser considerada como inteligente e inovador na procura de soluções extraordinárias para problemas comuns, é tentar ir além das coisas óbvias ou do que todo mundo vê. No caso das ideias lançadas por Donald Trump são fora da caixa porque demonstram um certo grau de loucura derivada da sua egomania. São exemplos disso os Estados Unidos assumirem o controlo da Faixa de Gaza; os dois milhões de palestinianos que lá vivem serem recebidos noutros países para nunca mais voltarem; e sobre as ruínas dos edifícios e de todas as infraestruturas arrasadas por Israel construir uma aprazível “Riviera do Médio Oriente” aberta a uma população “internacional”.

Na atividade incansável e a quente, de teorias ao nível popular, análises académicas e narrativas partidárias confundem-se e minimizam o esforço para dar algum sentido à distopia desorientadora da pós-verdade que parece ter envolvido os Estados Unidos desde o primeiro mandato mantendo-se, agora novamente com Donald Trump na presidência americana.

Não estaremos muito distantes da verdade se dissermos, embora com algumas reservas, que os EUA estão a ser governados por um partido que colocou no poder um sinistro, egomaníaco/egocêntrico, narcisista que veio do mundo dos “reality shows” e, possivelmente, com algum grau de loucura. Que precedentes, profetizações ou sinais do passado histórico que possam explicar as causas e as circunstâncias que permitiram um tal Presidente no poder.

Em 20 de janeiro de 2017, após a tomada de posse do primeiro mandato de Donald Trump, o livro mais vendido na Amazon.com foi o livro “1984”, escrito por George Orwell editado pela primeira vez em 1949. Segundo o jornal Público, “As vendas aumentaram depois das declarações (consideradas “pouco factuais”) do Presidente norte-americano e de alguns membros da sua administração”. “Os “factos alternativos” invocados pela Administração Trump estão a reavivar a popularidade daquela obra”, escreve o mesmo jornal. Os “factos alternativos” invocados pela Administração Trump reavivaram a popularidade daquela obra onde o autor apresenta um estado de pesadelo de controle de pensamento e de ficções de propaganda.

A propósito dos “factos alternativos” em 2017 os seus conselheiros (ou acólitos)?) contestavam a realidade. Um deles, Kellyanne Conway, diretora de campanha presidencial de Donald Trump em 2016 e conselheira do presidente até agosto de 2020, alegava, na altura, a existência de haver “factos alternativos” para  ajudar Sean Spicer, assessor político e Secretário de Imprensa e Diretor de Comunicações interino do presidente Donald Trump que, no mesmo ano, usou seu primeiro encontro na Casa Branca para protestar contra os jornalistas devido ao que ele incorretamente chamou “reportagem deliberadamente falsa” sobre a posse de Trump na altura. Dizia ele que os jornalistas alegavam falsamente, que um número recorde de pessoas não terão comparecido ao seu juramento do presidente.

Esta situação carrega uma contundente crítica ao autoritarismo e à manipulação da verdade. A narrativa pró-governo tem a função principal de alterar registos para que estes passem para a opinião pública como versão oficial da história (reescrita da história) promovida pelo partido do Governo e do seu líder de modo a garantir que a instituição esteja sempre certa e a sua narrativa seja a única verdade.

Andreia Sanches num artigo no jornal Público designa como “grotesca, delirante, sinistra, criminosa que são alguns dos adjetivos usados nas análises publicadas nos últimos dois dias, um pouco por todo o mundo”.

Donal Trump, EUA, política, autoritarismo, oligarquia, egomania, Casa Branca, política internacional, democracia, populismo,

tendências autoritárias. Na pior das hipóteses, as palavras e ações dele e dos seus apoiantes são desconcertantes e estão muito perto da espécie mais virulenta e nacionalista do autoritarismo, o fascismo.