Dois pontos: o cartaz do PSD e Sousa Tavares com o seu espetáculo interior
1. Após as eleições internas do PSD as táticas começaram já a delinear-se tendo em vista as próximas legislativas em finais de 2019 iniciando a pintura de “cartazes” jornalísticos. No PSD começam a medir-se as correlações de forças das duas tendências antagónicas que existem embora queiram passar para a opinião pública que tudo está pacífico. Não está, o que revelam as afirmações de influentes da corrente neoliberal de Passos Coelho que começam a vir a lume, mas que em nada irá servir o partido, antes pelo contrário.
Sousa Tavares, no semanário Expresso no seu artigo de opinião semanal, vai mais longe ao escrever que “Prisioneiro daquilo a que chamam o respeito devido ao "sacrifício" de Passos Coelho, o PSD tem vivido amarrado à nostalgia de um passado recente, de que o partido se louva, mas de que o país não tem quaisquer saudades. Ao ponto de passar a mensagem de que, perante um governo cujo desempenho económico (que é aquilo em que as pessoas votam) tem superado as melhores expectativas, apenas tem para oferecer como alternativa o regresso aos tempos da austeridade, do desemprego, das falências, das emigrações.”
No CDS, através do mais ou menos folclore palavroso de Cristas, tenta recolher alguns dividendos da crise no PSD para subir nas sondagens aproveitando o descontentamento do eleitorado mais à direita do PSD, fiel às políticas de Passos Coelho. Apesar do esforço, nas sondagens mais recentes, o CDS fica abaixo do PCP segundo a Aximage. Em 9 de janeiro de 2018 eram as seguintes as intenções de voto: PS 41,3%; PSD 26,9%; CDS 6,4%; CDU 7,0%; BE 9,5%,
À Esquerda o BE e o PCP querem demarcar-se do PS, na tentativa numa espécie de autodefesa tendo em vista as próximas eleições, fazendo acreditar às pessoas que não votem pelo passado, mas pelo futuro que não votem para compreender e agradecer o que perderam, mas o que recuperaram. E, nesse sentido, o PSD não se tem afirmado como oposição. Afinal, o que tem o PSD para oferecer, não apenas ao país, mas às pessoas (no passado dizia que país estava melhor)?
Para terminar no mesmo artigo Sousa Tavares continua a mostrar os seus ódios de estimação para com os funcionários públicos e pensionistas quando diz que o Estado deve canalizar para aí o grosso dos recursos financeiros disponíveis do Estado para a economia, “em lugar de os alocar à satisfação dos interesses particulares dos seus votantes funcionários públicos, pensionistas, etc.”. Tem razão no que se refere às causas crónicas dos nossos problemas estruturais, mas perde-a ao canalizar os problemas apenas para aqueles estratos sociais. Como se os votantes funcionários públicos e pensionistas votassem todos em massa no partido no Governo.
2. Neste último contexto aproveito para fazer uma observação à postura jornalística de Sousa Tavares. Sousa Tavares sofre de uma síndrome que é o de assistir a um espetáculo de multimédia onde o seu EU (capacidade de olhar-se a si próprio) é o espetador que assiste ao espetáculo interior da sua subjetividade. Recordo-me que, em várias intervenções no passado, tomou posições onde o seu EU está presente num egoísmo subjacente. Aponto apenas três casos: quando saíram leis sobre a proibição de fumar em estabelecimentos fechados, insurgiu-se porque ele queria fumar quando e onde lhe apetecesse, (os outros não interessavam, mas apenas ele); quando se insurgiu contra os restaurantes onde deixam entrar crianças que causam ruídos, para ele incomodativos, não o deixando contemplar o seu prazer gastronómico do paladar; é agora sobre a possível limitação da velocidade a 30 Km/h nas cidades e, daí, fazer apelo a uma manifestação dos automobilistas para engarrafamentos do trânsito caso essa medida tenha seguimento. Não lhe interessa os acidentes nas cidades, os excessos de velocidade, a passagem dos semáforos vermelhos nem os atropelamentos nas passadeiras de peões devido a excessos de velocidade. Não, nada disso lhe interessa porque o espetáculo interior do EU está em permanência no cartaz.