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Crescimento dos votos na extrema-direita: causa ou consequência?

27.02.25 | Manuel_AR

Extrema direita cupula patriota.png

Eleição após eleição tem-se sentido cada vez mais os efeitos do aumento da extrema-direita no Mundo e sobretudo no continente europeu onde nos inserimos. Embora os partidos da direita moderada e os denominados conservadores tenham conquistado o apoio do eleitorado os da direita radical ou da extrema-direita populistas, soberanistas ou nacionalistas têm vindo a crescer eleição após eleição. Veja-se o caso da AfD na Alemanha nas últimas eleições.

Estes partidos que estão a evoluir na UE nas intenções de voto. Os líderes dos partidos de extrema-direita do terceiro maior bloco eleitoral do Parlamento Europeu, Patriotas pela Europa, elogiaram o regresso de Donald Trump ao poder num encontro em Madrid, no dia 8/fev/25 realizado sob o lema “Make Europe Great Again”.

Tenho-me questionado sobre o que leva o eleitorado a decidir votar em partidos cujos líderes apresentam tendências autocráticas e radicais de extrema-direita. Não se trata de esquerda ou de direita, trata-se de poderem originar e transformarem-se em ditaduras autocráticas, ou seja, regimes em que o governo está nas mãos de um indivíduo ou grupo com poder que possa vir a ser transformado em absoluto e ilimitado. Temos como exemplo o caso da Rússia de Vladimir Putin e agora o de Donald Trump que parece querer seguir os mesmos passos do primeiro. O caso da Rússia não é o medo dos russos, mas do que Putin representa, pois é sabido que ele tem aliados fiéis nas extremas-direita europeia. Sobre este tema há uma visão histórica interessante A ameaça russa em Notas à Margem.

Para tal há diversas razões complexas e interrelacionadas. Há muito a considerar e a entender sobre o contexto e a mentalidade dos eleitores em cada situação específica. Frequentemente, líderes autocráticos provenientes de partidos, ou não, possuem personalidades carismáticas que podem criar uma forte ligação emocional com os eleitores, fazendo-os sentir que esse líder é alguém que compreende os seus problemas e representa os seus interesses.

A técnicas de manipulação emocional usando a retórica nacionalista para mobilizar apoio e influenciar os seus seguidores, sobretudo os potenciais seguidores, podem incluir apelos ao medo, à esperança e à identidade nacional, contra ameaças, internas e externas por vezes infundadas tornando as pessoas mais suscetíveis para acreditar nas palavras que ouvem.

Muitas pessoas tendem a confiar em figuras de autoridade se um líder é percebido como forte e decisivo, pode atrair eleitores que anseiam por estabilidade e ordem. Esta opção pode ser devida a diversos contextos culturais e história política dum país que podem favorecer uma liderança centralizada, tornando as ideias autocráticas mais aceitáveis.

Outro fator pode ser devido a tempos de crise económica, social ou política, os eleitores aceitem apoiar representantes políticos que prometem soluções rápidas e decisivas, mesmo que isso signifique uma concentração de poder.

Há ainda fatores menos evidentes que tem a ver com equações pessoais dos eleitores. Concordar com os líderes pode ser visto como um sinal de lealdade e identidade do grupo a que pertencem ou a que julgam pertencer. Há uma necessidade de pertencimento a algo que pode levar as pessoas a aceitar opiniões e afirmações dos líderes do seu grupo social, político ou religioso (pode até ser um clube de futebol ou qualquer outro tipo de associação) e, por isso, buscam informações que se alinhem com as suas crenças preexistentes ignorando contradições.

O efeito de grupo, de bando ou de rebanho (o termo anglo-saxónico é bandwagon effect) por vezes também referido como “efeito de contágio”. Este termo denota um fenómeno de impacto da opinião pública sobre um ou vários sujeitos. Com as suas preferências e posições políticas, as pessoas juntam-se ao que consideram ser maiorias ou posições dominantes existentes ou esperadas na sociedade. Isso implica que o sucesso gera mais sucesso, e os parecem gozar de um amplo apoio popular provavelmente ganharão um apoio ainda mais forte. Tal pode conduzir a que alguns eleitores votem no candidato com maiores chances de vitória, com o objetivo de não desperdiçar o seu voto, o chamado voto útil. Temos também o voto baseado no comportamento direcionado para o candidato com menores perspetivas de ser eleito, muito devido ao “vou votar nele só por votar”.

A opinião pública percebida ganha assim a qualidade de poder e ser realizada, tal como uma espécie de vagão que carrega uma banda num desfile e atrai uma grande multidão de seguidores que marcham atrás dela para apreciar a música. Em síntese, trata-se de o eleitor decidir votar num partido ou candidato que ainda em sondagens considera apresentar valores que na sua perspetiva são injustamente baixos, ao contrário do anterior efeito que é o de votar em quem vai à frente.

As técnicas de manipulação emocional para influenciar os seus seguidores, sobretudo os potenciais seguidores, podem incluir apelos ao medo, à esperança e à identidade nacional, tornando as pessoas mais suscetíveis para acreditar nas palavras que ouvem.

As palavras e as frases simples vão de encontro ao desejo de simplicidade das pessoas que geralmente preferem explicações simples e claras em vez de frases muito complexas. As pessoas preferem a certeza à dúvida e assim acreditam em quem simplifica questões complexas e em quem oferece soluções fáceis para problemas complexos que podem parecer mais convincentes, tal é o caso de Trump nos EUA que a eliminação de tratados, a ocupação de territórios e a eliminação das teses sobre as alterações climáticas são tratados com apenas com uma assinatura de eliminação ou de abolição. Em Portugal temos o caso André Ventura quando apresenta propostas e soluções para casos complexos cuja exequibilidade seria impraticável se os quisesse colocar em prática caso estivesse no poder.

Há um outro fenómeno conhecido como efeito de ilusão de verdade em que a repetição constante de uma afirmação, mesmo que falsa, pode fazer com que ela pareça verdadeira, mesmo que o não seja. Veja-se o caso exemplar do atual presidente dos EUA Donald Trump que durante a campanha eleitoral muitas vezes usou esta técnica e ainda hoje a utiliza. Mais próximo de nós temos André Ventura do partido Chega.

Nem todos têm acesso a informações imparciais ou as competências para avaliá-las criticamente. A propaganda e o controle dos media podem moldar narrativas para fazer com que perspetivas alternativas pareçam falsas ou perigosas.

Em alguns casos as pessoas podem não ter acesso a informações alternativas ou a meios de verificar o que os políticos candidatos dizem. Isso pode ser exacerbado em regimes onde a comunicação social é controlada ou censurada.

Mas, há um outro ponto muito importante que será desenvolvido noutra ocasião e que tem a ver com desinformação, o controle dos media e com campanhas de desinformação via redes sociais que podem influenciar significativamente a opinião pública, suprimindo críticas e promovendo uma imagem positiva ou negativa dos candidatos a líderes ou até de produtos e de pessoas que são promovidas.  

Notas sobre a imagem:

  1. Apesar do objetivo declarado dos Patriotas de unificar os conservadores nacionalistas da Europa, alguns dos partidos mais influentes da UE nesse campo - como os Irmãos da Itália da primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, a Alternativa para a Alemanha e o Lei e Justiça da Polônia – recusaram-se a participar.
  2. O líder do partido político de extrema-direita português Chega, André Ventura, o líder holandês de extrema-direita Geert Wilders, o líder do partido de extrema-direita espanhol Vox, Santiago Abascal, e a líder e deputada francesa de extrema-direita Marine Le Pen, o presidente do grupo parlamentar francês de extrema-direita Reunião Nacional (Rassemblement National - RN), o primeiro-ministro húngaro Viktor Orban, o vice-primeiro-ministro italiano Matteo Salvini e o líder grego do partido "Voz da Razão", Afroditi Latinopoulou, estão no palco do O partido espanhol de extrema-direita VOX reúne-se com outros líderes europeus de extrema-direita, em Madrid, Espanha, em 8 de fevereiro de 2025. REUTERS/Ana Beltran

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