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Covid-19. Ventura é igual aos que preferem a praia ou andam nos copos no Bairro Alto

20.03.20 | Manuel_AR

Covid-19. Ventura é igual aos que preferem a praia ou andam nos copos no Bairro Alto




Opinião de Martim Silva, in Expresso Diário, 17/03/2020 



André Ventura e o Chega, na sua onda desenfreada de populismo irresponsável, decidiram afixar mais um outdoor político, desta vez destinado a criticar o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, há duas semanas em isolamento voluntário na sua casa de Cascais.


“Marcelo em quarentena. Um verdadeiro Presidente não se esconde”, lê-se na mensagem difundida por aquele partido.


A forma como se comportou Marcelo nas últimas semanas dá azo a muitas críticas e por isso mesmo este tipo de mensagem pode passar com alguma facilidade, mesmo junto daqueles que não professam qualquer simpatia por André Ventura.


O problema é que a mensagem esconde algo de bem mais grave, que decorre da ‘normalização’ da sociedade pós-verdade das redes sociais, em que a informação correta sobre os assuntos vale bastante menos que seguir uma onda de indignação fácil que apela aos nossos instintos mais primários. E em que o insulto faz parte do dia a dia.


Perante uma pandemia de proporções ainda desconhecidas, acusar alguém de se esconder quando opta pelo isolamento voluntário é do mais mesquinho que já ouvi


No fundo, o que Ventura e o Chega fazem é mais ou menos o mesmo que aqueles que, atirando às urtigas as recomendações das autoridades e responsáveis de saúde, não se coibiram de rumar aos milhares às praias mal o sol fez subir um pouco a temperatura. Ou que continuam alegremente a assobiar para o lado e a enfrascar uns copos no Bairro Alto ou outros locais de diversão noturna, ignorando os perigos para si e sobretudo para os outros.


No fundo, o que fazem é ignorar o alarme que a pandemia do Covid-19 representa para cada um de nós e para a sociedade coletivamente. É ignorar o potencial de risco de um novo vírus do qual ignoramos muito (mas que já sabemos que é muito contagioso e bastante mais mortal que a gripe comum) e acreditar que tudo não passa de uma imensa cabala ou histeria coletiva criada para nos assustar a todos.


Voltemos ao Presidente.


Claro que Marcelo devia ter explicado melhor logo desde o primeiro dia a que se devia o seu isolamento (que foi aconselhado pela ministra da Saúde).


Claro que Marcelo nunca deveria ter ido à janela dar ‘entrevistas’ sem nexo.


Claro que Marcelo devia evitar falar aos portugueses num vídeo caseiro de má qualidade em que a mensagem mal passa.


Mas, ao isolar-se, Marcelo mostrou aos portugueses como o assunto era para levar a sério.


Mas Marcelo ao falar aos jornalistas também mostrou como se deve ter todos os cuidados mas sem cair em alarmismos e acreditando que a vida continua e que a normalidade deve ser mantida… dentro da anormalidade disto tudo.


Mas Marcelo, ao seguir os passos exigidos para convocar o Conselho de Estado e decretar o estado de emergência, também mostra como, mesmo numa situação delicadíssima, a burocracia é necessária e a melhor garantia que temos contra a tirania e a arbitrariedade de quem nos governe.


Marcelo pode ter cometido erros políticos. Mas mil vezes mil os erros políticos de Marcelo do que as mensagens incentivadoras de ódio primário destes populistas que nos entraram pela janela.


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