Contradições e mentiras
Passos Coelho, mais uma vez, tentou deturpar o sentido das suas afirmações e mentiu ao afirmar que nunca tinha sido contrário à intervenção do BCE quando foi questionado sobre a medida anunciada por Mario Draghi para estimular a economia europeia nomeadamente através da compra de dívida. O primeiro-ministro não manifestou muito interesse nem deu muito relevo ao cas. Ora a verdade é que o primeiro-ministro disse esta sexta-feira que é "bem-vinda" a decisão do Banco Central Europeu (BCE) de comprar dívida pública e que espera que ela "seja tão eficaz quanto se deseja".
Contudo, a 16 de Maio de 2014, Passos Coelho tinha dito em entrevista à CNBC, afirmou na altura da saída da troika, que apesar do importante papel do Banco Central Europeu (BCE), “não era partidário de um mandato diferente” para esta instituição, que “contribuiu para a frágil, mas ainda assim recuperação na Europa”.
Explicou que discordava da compra de obrigações: “Este tipo de política não é normal para o BCE, que já dispõe, por exemplo, de mecanismos de intervenção para evitar a fragmentação financeira”.
À semelhança dos partidos do Governo que aproveitam sempre a oportunidade para recuarem ao passado também é agora a nossa vez de recordar o que em junho de 2012, no Parlamento, em resposta ao então líder do PS António José Seguro, Passos Coelho disse ao opor-se à compra de dívida por parte do BCE e explicava também porquê.
Leia-se o que ele disse naquela data na Assembleia da República:
Em síntese:
“Se o senhor deputado entende que o BCE deve atuar em mercado secundário com programas mais intensos de compra de títulos de dívida soberana dos diversos países; se é isto que o senhor deputado entende deixe-me dizer-lhe: não concordo e não preciso de pedir licença a ninguém - nem em Portugal, nem na Europa – para lhe dizer aquilo que penso. Não aceito essa visão porque em primeiro lugar não cabe ao BCE em circunstância nenhuma exercer um papel de monetização dos défices europeus”
Segundo o jornal Público, no seu editorial, também mostra que há menos de um ano, no Parlamento, o primeiro-ministro disse no Parlamento que seria "errado" o BCE comprar dívida pública o que seria "impossível, inconcebível"…
Por sua vez os partidos da coligação, ainda segundo o jornal Público, "não se manifestaram muito efusivamente com a iniciativa de Mario Draghi nem ao menos a ideia de poderem vir a potenciar os seus efeitos benéficos sobre a vida dos portugueses".
Como é sabido Angela Merkel não é nem nunca foi favorável a esta decisão de Mario Draghi e continua a dizer que as políticas até agora seguidas foram e continuarão a ser as melhores, ideias que são seguidas com rigor e submissão por Passos Coelho ao posicionamento da Alemanha contra estas medidas que designam intrusivas, e, pelos vistos, também, pelos grupos parlamentares da maioria.
Há um germanismo político seguidista e subserviente pelo primeiro-ministro, pelo seu Governo e pela maioria que o sustenta preferindo submeter Portugal em vez de o defender.
Nas próximas eleições também deveremos ter isso em conta.