Conselheiro do PSD nova função de Cavaco Silva?
O ex-Primeiro-Ministro e ex-Presidente da República Cavaco Silva veio amparar Luís Montenegro, como se este fosse um coitadinho que não está a saber conduzir a oposição ao Governo. Dá-lhe inclusivamente conselhos (conselheiro, nova função de Cavaco?)
Cavaco Silva, apresentou-se no seu discurso como sendo o curador de Luís Montenegro, isto é, como se fosse representante de uma pessoa declarada incapaz e que, por isso, lhe deixa recados.
Encontramos, contudo, um ponto positivo quando aconselha o líder do PSD a “deixar de andar distraído com temas secundários ou com agendas de outrem não é suficiente.”
De seguida o primeiro conselho de Cavaco Silva aponta para que “é no Governo socialista que o PSD deve centrar a sua atenção”. Para Cavaco a indicação é para apontar baterias ao estado da governação, aos salários baixos e às pensões de reforma indignas, ao empobrecimento da classe média, à má qualidade dos serviços públicos, à falta de rumo e de visão estratégica. Pra Cavaco a demagogia e o descaramento não têm limites. A pergunta que nos surge é, (sobre os pontos que sublinhei): o que fizerem ele e os seus sucessores, nomeadamente Passos Coelho, para implementar o que Cavaco Silva diz agora ser necessário. Estará a dizer ao atual líder do PSD para prometer o que, em princípio, não poderá fazer, nem fará?
E mantendo o seu ímpeto conselheiro afirmou Cavaco que “O PSD não deve cometer o erro de anunciar qualquer política de coligação.” Como se pode ver este é um tema recorrente que é colocado a Luís Montenegro quando é interpelado, tendo rejeitado formar governo com políticos racistas, xenófobos, oportunistas ou populistas. O que aconselha Cavaco Silva? Que os sociais-democratas não devem desfazer já as dúvidas sobre o que vão fazer nas próximas eleições, para não correrem o risco de ter de voltar atrás com a palavra. Ficamos a saber que após eleições Cavaco Silva deixou uma porta aberta para possíveis alianças ou coligações pós-eleitorais ou alianças com partidos da extrema-direita como o Chega. Já alertei para isto num outro texto.
Como remate final disse que "O PSD não deve ir a reboque de moções de censura apresentadas por outros partidos mais preocupados em ser notícia." Vamos lá ver se entendo. Quem tem insistido na apresentação de moções de censura é o partido Chega. Segundo Cavaco essas propostas só servem para desviar as atenções e, por isso, interessam ao Governo. Mas, ao mesmo tempo, Cavaco abre portas à possibilidade de coligações pós-eleitorais com outros partidos e o Chega não estará fora de causa, apesar deste ser um dos partidos que está sempre preocupado em ser notícia.
Se bem nos recordamos Luís Montenegro nunca abriu a porta a moções de censura, mas, se pensava fazê-lo nos tempos mais próximos, o conselheiro Cavaco já o disse para não fazer. Mas, se for necessário, poderá chamar o Chega para coligação.
Sobre Cavaco Silva o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa fez uma apreciação sobre a frequência das intervenções públicas do ex-chefe de Estado Cavaco Silva dizendo que falou “menos” como Presidente e “mais” depois do cargo.
O ex-Presidente Cavaco Silva pode esforçar-se a dar conselhos a Luís Montenegro do PSD, mas as previsões, penso não me enganar, serão de que as perdas de votos sofridas pelo PSD, com vantagem para o Chega e para o Iniciativa Liberal, não serão recuperáveis a breve prazo. Recuperá-las apenas do PS serão uma insignificância.
Caso venha a ser Governo, e dada a falta de projeto claro do PSD, se for seguir o que o “conselheiro” Cavaco diz sobre os pontos em que é essencial “apontar baterias”, tal implicará incluir no programa de Governo o que ele indicou no seu discurso. A dúvida de tal ser possível fica no ar.