As greves não são todas iguais
Aproveitado o início da legislatura para pressionar o Governo socialista de maioria absoluta com o objetivo de atrair trabalhadores do Estado como potencial investimento para, no futuro, recuperara as perdas de votos que penalizaram as extremas-esquerdas (BE e PCP e agora, parece também para “elevar” o MAS).
Desde o dia 9 de dezembro que os meses têm sido essencialmente marcados por greves diárias dos professores, seguidas por outras setoriais, como transportes, enfermeiros e médicos. Mais recentemente, pelas mãos de Mário Nogueira docentes e investigadores do ensino superior vão manifestar-se em frente ao ministério e aderir à greve da Administração Pública marcada para esta próxima sexta-feira.
A convergência de contestações e greves em vários setores parece ser orquestrada por uma agenda sindical-partidária aproveitada para fazer oposição à maioria absoluta do Partido Socialista e cuja intenção é mais dinheiro que virá dos recursos financeiro públicos descontrolando o déficit e que não nascem por geração espontânea.
A greve é um recurso crucial para os sindicatos e um importante instrumento de pressão, mas que são também contaminadas por populismos e pelas formas que utilizam para atrair trabalhadores. Por princípio obedecem ao aceno da possibilidade de obtenção de mais dinheiro e regalias independentemente de se questionar a justeza das razões que decorram para tal.
As greves podem não ser apenas um recurso de luta dos trabalhadores para melhores condições de trabalho e de salário que denomino por greves na sua pureza inicial. Porém estas pode ter uma natureza estritamente política (e até partidária) simuladas através reivindicações de direitos e aumentos salariais ou outros idênticos. São greves como estas não possuem nenhuma base profissional, visam apenas o protesto contra atos do governo e de órgãos de poder público. Contudo, quando se trata de oposição clara a um governo elas transformam-se em greves políticas camufladas por motivos reivindicativos como já afirmei.
Por outro lado, as greves com finalidades profissionais definem-se como a que pretende protestar por melhores relações de trabalho no que diz respeito à relação trabalho-empregador. Visto que uma greve ao ser considerada apenas como política poderia vir a ser reconhecida pela sua ilicitude, logo, inaceitável, há que, portanto, dar-lhe formas que possam ser reconhecidas como legais. Isto porque uma greve política pode ser contestada pelos empresários e empresas que alegam não terem nada que suportar prejuízos decorrentes de conflitos que eles próprios não ocasionaram e não estar nas suas mãos soluções para sua a resolução.
Greves, movimentos e instabilidade social são por vezes artificialmente convocadas por sindicatos, alguns correias de transmissão de partidos com finalidades políticas, direi mais, partidárias, recorrem a pretextos que até poderão ser justificados, mas que servem para fazer oposição a governos e perturbar o percurso governativo. A inflação e a maioria absoluta do PS podem ser uma explicação das escaladas grevistas e de manifestações estrategicamente organizadas, passado apenas um ano e poucos meses da realização de eleições.
As oposições ao Governo originadas por partidos das extremas esquerdas apoiadas pelos seus dirigentes, (uns são coordenadores, outros são secretários-gerais), nomeadamente o PCP e o BE não se conformaram com as enormes perdas nas urnas nas eleições legislativas de janeiro de 2022. Desta forma os sindicatos a eles afetos e recentemente também o MAS (organização política trotskista) com o seu simpatizante e sindicalista André Pestana dirigente do STOP, na tentativa de angariar alguns votos dos professores, tomaram iniciativas oposicionistas. A estes junta-se o beneplácito das respetivas centrais sindicais, algumas delas por arrasto, como a UGT, que também apoiam e promovem greves e instigadores e animadores de contestações nas ruas.
Quem fica a ver de lado é a direita, sobretudo a extrema-direita, que, mais ou menos com afirmações ambíguas, aplaude a ajuda as extremas do lado “gauche”, dizendo hoje, desdizendo amanhã. Estas direitas apostam na instabilidade por falta de propostas objetivas e concreta do Governo dizendo ter, caso sejam governo, a solução para resolução dos problemas identificados.
Não é por acaso que greves manifestações como as dos professores e de outros profissionais da função pública são convocados sendo também uma caldeação com intuitos políticos. Estes trabalhadores que pertencem à Administração Pública gerida pelo Estado, seu patrão, contrariam o voto dado pelo povo ao pretenderem fazer cair um Governo. Será este o objetivo último dos sindicatos ao fomentarem greves que, por muito que clamem não são espontâneas. Os trabalhadores públicos têm pouco a perder com exceção da perda de salário, o que não é pouco, para além de que não serão prejudicados perdendo o posto de trabalho. A mesma situação no setor privado, embora tal situação seja ilegal, a possibilidade é considerada a prazo pelo empregador.
As extremas esquerdas, face a uma maioria absoluta do Partido Socialista, não se conformaram e marcaram uma agenda sindical reivindicativa, nomeadamente na classe dos professores que avançaram com agendas partidárias coordenadas e aproveitadas pela agenda mediática.
Outro ponto é o apoio indireto que fazem à oposição da extrema-direita, o que é demonstrado pelo crescimento dessas forças constatado pelas últimas sondagens, cuja tendência vai no sentido de haver uma maioria de direita caso houvesse eleições no momento. Diria que, se por um lado, algumas greves são feitas para a obtenção de regalias, por vezes imparáveis, consonante com interesses sindicais que têm como efeito prejudicar a entidade empregadora, por outro lado, não deveriam poder, no seu "livre exercício" constituir uma "violência" contra a coletividade. Estão neste caso as greves dos professores, médicos, enfermeiros e transportes coletivos nos moldes em que são geridas pelos sindicatos que, como já afirmei anteriormente, serão muitas vezes de categoria política aproveitada para reivindicações.