As eleições diretas no Partido Social Democrata
Espantoso que o PSD dos cortes na função pública e nos salários e que sempre alertou para o peso do Estado na economia e nos salários da função pública venha agora, demagogicamente, apresentar propostas de alteração ao Orçamento do Estado para atualizar os salários da função pública em 4%, em linha com a taxa de inflação. Sobrecarregar o orçamento com despesa poderá ser um dos objetivos do PSD condicionando o partido do Governo a gasta mais para cair em déficit excessivo. Não se discute a justiça da proposta, o PCP e o BE também já o fizeram, mas para o PSD parece mais ser uma estratégia demagógica para atrair os trabalhadores da função pública e para causar o desastre nas contas públicas.
O PSD está em campanha para a escolha do novo líder e no próximo dia 28 de maio, parece coincidência, é também o dia do golpe de Estado de 28 de Maio de 1926 que posteriormente veio a dar lugar à instauração do Estado Novo e é nesta data que vão ser realizadas as eleições diretas no PSD para o novo líder. O que esta última data tem a ver com as eleições no PSD. Provavelmente nada, apenas uma coincidência.
Destas eleições nada de novo se esperará visto que os dois candidatos que se apresentam estiveram ao lado de Passos Coelho. Luís Montenegro como deputado e líder parlamentar do PSD na Assembleia da República entre 2011 e 2017; Jorge Moreira da Silva assumiu em 2013 a pasta do Ambiente no executivo de coligação PSD/CDS chefiado por Passos Coelho e é reconduzido no governo saído das legislativas de 2015, cujo programa acabou chumbado no Parlamento e caiu. Em 2016 é nomeado diretor-geral de Desenvolvimento e Cooperação da OCDE, o que o levou a abandonar a vice-presidência do PSD.
Dos dois, como se costuma dizer, venha o diabo e escolha porque ambos foram cozinhados no caldeirão dos governos neoliberais “troiquianos” de Passos Coelho, e são ambos “passistas” o que quer também dizer que são do passado.
Escrevia Pacheco Pereira no Público acerca dos candidatos que “avaliações da sua preparação para a competição com o PS, em que um aparece mais confrontacional e o outro menos agressivo, mas mais sólido.” E acrescentava que “há o problema das biografias que impedem os dois candidatos de irem mais longe: ambos são descritos como “passistas” e não são capazes de analisar o papel do Governo Passos-Portas-troika na crise estrutural do PSD. Isso significaria porem-se em causa e terem que defrontar o sebastianismo de Passos, que permanece como uma sombra sobre quem queira discutir o que se passou. Na verdade, sejamos justos, há uma parte relevante na crise que é herança de Passos, mas a decadência do partido vai muito mais atrás, até Cavaco Silva.”.
Montenegro é saudosista do passado. Na sua campanha para a liderança não se situa no projeto que tem para o partido e para Portugal. Umas vezes ataca o Governo e, para tal, recupera a palavra “austeridade” dos tempos de Passos Coelho para a utilizar no ataque ao PS que acusa também de ter um orçamento de austeridade. Outras vezes procura frases populistas, demagógicas e pomposas como “O meu passado chama-se Passos, o passado de Costa chama-se Sócrates”. Isto é, faz associações torpes, pelo que se vê bem o caráter político deste potencial líder ao PSD e também candidato a futuro primeiro-ministro se vier um dia a ganhar eleições. Implicitamente, Luís Montenegro, está a considerar que a maioria dos portuguese são estúpidos porque, por associação que faz com o seu objeto de pensamento, nas últimas eleições, votaram em força no passado Sócrates. Quem poderá regressar ao passado são os militantes saudosistas da austeridade se votarem em Montenegro. Passos Coelho é o seu passado, foi quem acusava os portugueses de gastadores e de viverem acima das suas possibilidades, esses eram os maus portugueses, os outros, os que, de facto, gastavam luxuosamente e passaram incólumes eram os bons portugueses.
Foi nesse passado com que, como diz Montenegro se identifica, se formou o embrião do partido CHEGA e do qual ainda não disse claramente que se afastava.
Apesar de incluir no documento das suas propostas medidas sociais para atrair o público PSD ideologicamente mais social-democrata é na senda do passado que, com alguns ajustes, Montenegro seguirá se for eleito e chegar a ser primeiro-ministro.
Nas propostas de ambos os candidatos encontram-se armadilhas, sobretudo na de Luís Montenegro que são em alguns pontos uma espécie de copy paste de programas de partidos de esquerda como o do PS. Fizeram-se algumas alterações, mudou-se a linguagem acrescentando qualquer coisa para satisfazer a ala mais à direita… Sobre gestão da segurança social e das pensões, sobre o SNS nada fica esclarecido, deixam portas abertas para o que der e vier.
Deles pouco ou nada podemos esperar senão o renascimento de políticas da panela onde foram cozinhados. Todavia, se o primeiro vive dois mundos um deles à superfície e outro um micromundo imerso e inacessível. Desde que Luís Montenegro anunciou a sua candidatura à liderança do PSD, emergiu a ligação do ex-líder parlamentar social-democrata à conhecida maçonaria. Quando da sua oposição a Rui Rio para o derrubar Montenegro negou, mas ficou provado que pertenceu a uma loja (Mozart) que foi considerada muito ativa e poderosa, mas que foi desativada.
O segundo, Moreira da Silva, tanto quanto se saiba tem apenas um mundo à superfície é de competência técnica reconhecida, mas de pouca política e nunca se imiscuiu nas guerras internas do PSD ao contrário do seu adversário que pretendeu apear Rui Rio da liderança.
Há uma pedra no sapato do PSD criada por Rui Rio que assobiou para o lado aquando do acordo com o partido Chega nos Açores. Luís Montenegro parece não abandonar a ideia conforme o semanário Expresso no dia 5 de maio o candidato à liderança do PSD Luís Montenegro avisava que não seria “cúmplice da perpetuação do PS no poder” desculpa para não rejeitar diálogo com o partido Chega limitando-se a dizer que neste momento qualquer cenário de diálogo é "imaginário e extemporâneo”. Isto é, como quem diz, tudo é possível para chegar ao poder.
Quanto a Moreira da Silva no início de maio afirmou perentoriamente que não dá para o "peditório" do Chega para um movimento de convergência à direita, reafirmando que com o partido de André Ventura "nunca, jamais, em tempo algum". Apesar disso mantém a situação do Açores que acha ser um caso em que o PSD não tem tido problemas.
Uma das linhas gerais da sua estratégicas da candidatura é refundar o partido, seja lá o que isso queira dizer, e cortar com qualquer ligação ao Chega. Contudo o jornal Público desvenda esse conceito de refundação nas palavras de Moreira da Silva: a ideia de “refundar o PSD” através da atualização das linhas programáticas e da modernização do partido, o ex-diretor para a Cooperação e Desenvolvimento da OCDE deixa a receita para a vitória. “Uma sequência vitoriosa em todos as eleições previstas para os próximos 4 anos pressupõe verdade e inconformismo no diagnóstico dos problemas; inovação e reformismo nas soluções políticas apresentadas; e integridade e credibilidade dos nossos protagonistas. Mas pressupõe também uma dimensão prévia – o espírito de unidade no partido, para o qual todos temos a obrigação de contribuir”, lê-se no texto do Público.
Quanto a Luís Montenegro em 24 de abril escrevia Ana Sá Lopes que “Ao fugir desta maneira à pergunta claríssima, Montenegro confirma a dúvida. É mesmo ambíguo em relação ao Chega.” Sobre este assunto aconselho a leitura do artigo onde são citadas claramente as respostas de Luís Montenegro às perguntas sobre o Chega AQUI. Parece que a ambiguidade do PSD em relação ao Chega pode vir a ser politicamente vantajoso para o PS. Luís Montenegro diz querer transformar o PSD na "casa dos não socialistas" e captar votos à direita, ou seja, também ao Chega.
Ambos os candidatos parece que ainda não se convenceram de que nada será como dantes, a não ser que os eleitores que se “divorciaram” do PSD, e também do CDS, e optaram por casar com o Chega e com a Iniciativa Liberal podem não voltar atrás a não ser que a vida não lhes tenha corrido como pensaram quando votaram neles. Há muitas coisas em relação às quais não se tem a certeza porque nós pressupomos nos outros uma potencial disposição para se deixarem convencer que é semelhante à que “eles” pressupõem de nós.
O antagonismo político-partidário, óbvio e previsível, na política faz parte do combate pelo poder, mas nesta competição o que está em causa não é a discussão dos assuntos objetivos com interesse para o país, mas encenações de diferenças para se manter ou conquistar o poder.
No caso da competição para a liderança do PSD temos o que já se sabe sobre as intenções manifestadas pelos dois candidatos, e o que não se sabe, o que só será revelado quando em exercício. Todavia, com Luís Montenegro teremos as ditas reformas neoliberais que recuperados do tempo de Passos Coelho. Quanto a Moreira da Silva criam-se expectativas se serem mais próximas da social-democracia.
Se fosse votante nesta área partidária e ideológica neste momento decisivo para o PSD, não teria dúvidas no candidato que escolheria para líder do partido e potencial primeiro-ministro: Jorge Moreira da Silva.