A TSU e o défice
Expliquem-me como se eu fosse tótó
Gostaria que alguém me explicasse, sem recurso a modelos teóricos de economia que apenas servem para simular a realidade, como é que a TSU era uma medida para ajudar a baixar o défice.
- A medida foi apresentada por Passos Coelho como se fosse para diminuir o desemprego e baixar o défice.
- O aumento da TSU (Taxa Social Única ou, por outras palavas, descontos para a segurança social), que era de 11% passaria para 18% por parte do trabalho, mais 7%. Ao mesmo tempo passaria de uma taxa de 23,75% para 18% por parte das empresas, uma diminuição de 5,75%.
- O Estado arrecadava apenas 1,25% o que equivalia aproximadamente a 500 milhões de euros
- O aumento da TSU não se destinava a diminuir o défice visto a verba arrecadada ser apenas uma parcela muitíssimo pequena.
- As empresas seriam financiadas pelo dinheiro que seria descontado ao seu pessoal, visto que passariam a pagar menos TSU que seria compensado pelo que àqueles seria retirado.
- Foi referido e ainda o é, que a culpa tinha sido da decisão do Tribunal Constitucional.
- Como a verba retida seria apenas de 500 milhões de euros que, de modo algum, compensaria oque teriam que repor relativamente aos subsídios retirados aos funcionários públicos e pensionistas, assim, como é que a decisão daquele tribunal teve a ver com esta medida.
- Poderá daqui concluir-se que a medida era apenas um aproveitamento para se atingirem outros fins.
- Pedro Passos Coelho disse que, o agravamento do défice em 2012 era uma vez da responsabilidade do Tribunal Constitucional. Mas, segundo este tribunal a medida da suspensão dos subsídios não era para entrar em vigor em 2012 mas sim em 2013. Onde é que a derrapagem em 2012 tem a ver com aquela decisão?
- Pelas razões expostas, a medida da TSU nada tinha a ver com o défice de 2012 nem de 2013 contrariamente ao que Passos Coelho e o governo queriam e querem fazer crer.
- Face aos factos apresentados, como é que agora nos querem faze crer que o novo aumento de impostos será para compensar a TSU!
- Argumenta-se que a descida da TSU para os empregadores e o aumento que caberia ao trabalho foi imposição da “troika”. Não é verdade porque aquela diminuição, segundo eles, seria compensada pelo aumento do IVA, cortes adicionais na despesa ou outros impostos que não colidissem com a competitividade.
- Se fosse aceite a TSU, para além dela teríamos ainda e também outras medidas como estas que foram apresentadas ontem pelo ministro das finanças cujos modelos macroeconómicos que pretende impor não foram ainda validados é o que ele agora pretende fazer. Ser ministro das finanças foi uma boa oportunidade para ele testar, na prática e em prejuízo dos portugueses, as suas teorias económicas.
- Segundo o que foi afirmado por Passos Coelho da TSU deveria refletir uma baixa de preços, pelo que a sociedade civil deveria pressionar as empresas (!!!?).
Racionemos agora sobre este último ponto como se nós fossemos uma empresa que vendesse bens que adquiria aos seus fornecedores. Reduziam-nos os custos com o trabalho, logo deveríamos vender os nossos produtos mais baratos. Tentaríamos então, para manter as mesmas margens de lucro, negociar preços mais baixos com os nossos fornecedores que, por sua vez, já estão em dificuldades devido às suas baixas margens que lhes são impostas pelos seus clientes. Procederíamos então à baixa de preços na nossa empresa baixando também a nossa margem de lucro. Mas temos outro tipo de custos que não apenas o do trabalho como por exemplo a energia, as rendas e alugueres de instalações, o aumento do IMI dos edifícios que eventualmente fossem nossa propriedade, os combustíveis, etc.. Por outro lado, poderíamos perguntar se, de facto, o consumo aumentaria na mesma proporção em que diminuiríamos os nossos preços de venda ao público, já que, para os nossos clientes também existem sobrecargas, despesas e cortes de salários de todos os que vivem do rendimento do trabalho. Seria provável que houvesse rapidamente uma descida generalizada a curto prazo de preços de todos os bens e serviços e dos custos dos fatores de produção? Sem me servir de qualquer modelo macroeconómico[i] arrisco-me a dizer que não.
Para vermos o que se passa noutros países juntamos uma tabela comparativa
Por favor, haverá por aí alguém que me contacte e que me possa explicar a mim, que sou tótó, o meu vício de raciocínio!
[i] Prever um dado fenómeno não quer dizer que se tenha a sua compreensão. Podemos prever um fenómeno em compreender os processos envolvidos, isto é, prever com base na associação dos dados não implica necessariamente a compreensão de todas as relações causais que nele estão envolvidas. Os modelos macroeconómicos baseiam-se em relações causais que procuram compreender ou explicar uma realidade e proporcionar alguma capacidade de previsão. No que reporta a várias avaliações os efeitos tendem a ser mais prospetivos, sendo necessária alguma previsão de referência sobre qual se possa analisar os efeitos de uma política que está a ser avaliada. A obtenção de Obter uma previsão de
referência credível constitui um fator importante no uso de modelos macroeconómicos. Uma previsão instável pode ser indicativo de problemas de especificação e de estrutura do modelo.