A que tipo de austeridade nos podem levar consensos
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1. Os porta-vozes dos partidos que apoiam o governo, esgotados os argumentos às críticas que fazem ao Governo e ao Primeiro-ministro, voltam-se agora novamente para o passado, único argumento que conseguem tirar da manga do casaco. Está já gasta a recuperação do como e do porquê chegámos até aqui. Basta! Já sabemos como se chegou até aqui. O que os portugueses mais querem é que nos tirem daqui e não nos prometam à custa de sacrifício e austeridade, quimeras e prosperidade num futuro que sabemos não chegará.
2. Tenho escrito várias vezes contra os comentadores políticos e contra os chamados líderes de opinião que defendem, no direito democrático de expressão do seu pensamento, alguns pontos de vista numa falsa perspetiva de a bem do país.
Encontram-se neste quadrante os que falam em nome dos que apelidam de sensatos porque não participam em manifestações, se encontram alheios ou ficam perplexos com o que se passa. Como supostos intérpretes dos pensamentos destes grandes grupos onde se dizem estar incluídos, apresentam alternativas em que a economia não seja o único critério para a governação devido à complexidade das relações sociais moderna. Neste último ponto estamos de acordo. O que parece ser duvidoso e me deixa perplexo a mim, e não sou dos que pensam que se devem deixar de cumprir os nosso compromissos, é quando afirmam que há necessidade de um consenso político que tenha como pano de fundo o memorando assinado com a “troika”.
Sugerem ainda que esse consenso deveria ser obtido através da ação presidencial. Não fica claro que tipo de consenso seria esse. De salvação nacional com todos os partidos? Não vejo isso como possível visto implicar a aceitação por todos das condições impostas que seguem a linha, segundo a qual o primeiro-ministro diz estar no bom caminho. Um consenso alargado entre os partidos do Governo e o Partido Socialista que deveria ser forçado pelo Presidente da República? Isto é, implicar e envolver o PS nas medidas que irão ser tomadas e, então, todos os portugueses descontentes iriam aderir e apoiar apenas porque muitos deles se calavam e passariam a sofrer em silêncio e deixar de encher as ruas com o seu clamor de protestos. Os senhores que apoiam este tipo de políticas são de facto líricos ou receiam o avanço eleitoral dos partidos mais radicais de esquerda.
3. Não nos podemos esquecer que o Presidente da República, em circunstância idênticas, na altura do anterior governo, do qual dizia-mos, e na altura com razão, estar fartos, tecia críticas em tons particularmente violentos ao ex-primeiro-ministro Sócrates que ajudou indiretamente a derrubar. Agora a sua orientação é outra. Fala de uma necessidade de “solidez e consistência da coligação governativa” do imperativo da “coesão nacional, que não se esgota na concertação social” e do “consenso político alargado com as diversas sensibilidades da sociedade portuguesa”. Atitude diferente da anterior. Como Presidente de todos os portugueses, facciosismo não lhe falta.
Em síntese a quem serviria um consenso alargado onde as políticas seriam mais ou menos as mesmas mas apoiadas por mais um partido?