A propósito de porcos e de poder
O perigo dos resultados que nos levam de um extremo que é o de passar da liberdade, sistema que para alguns, tendencialmente adeptos das ditaduras dizem ser o pior dos mundos, para outro onde tudo é prometido através da perigosa manipulação das massas.
O livro Triunfo dos Porcos (ou Os Animais da Quinta) de George Orwell, publicado no Reino Unido em 17 de agosto de 1945, mostra-nos como somos enganados, como acreditamos e, consequentemente, como até nos esquecemos das nossas próprias dúvidas, porque achamos que não as temos.
Entretanto vemos a ânsia de poder e os limites a serem ultrapassados e apagados e já não é possível voltar atrás, pois as mentiras, para quem as escolhe, há muito que se tornaram verdades. No final, muitos se tornam naquilo que juraram destruir.
A revolução populista que inicialmente prometia justiça e dizia lutar contra a corrupção, os “porcos” que a denunciavam e diziam poder resolver os problemas da quinta mudam de rumo e acabam por se instalar. No final os “animais”, os “porcos” ficam assim sem saber se estão numa posição igual ou pior que a inicial. Isto por que, assim como acontece com os humanos, os dois porcos líderes que se aliaram mostram as suas verdadeiras cores quando estão em uma posição de poder. Enfrentam as mesmas tentações de reprimir ameaças ao seu governo, e fazem-no de forma cruel. Os dois “porcos líderes” voltam-se um contra o outro, e fica claro que eles não fizeram uma revolução e que a resistência foi inútil. Os animais da fazenda ficaram numa posição em que antes se encontravam, mas quase retornam a uma posição diminuída, pois agora também perderam a esperança numa mudança de situação que melhore as suas vidas.
O perigo das revoltas populares mesmo que iniciadas pelo poder do voto, podem levar-nos de um extremo ao outro e a passar da opressão para uma suposta liberdade onde tudo é permitido e vice-versa, mas também nos mostra o perigo da apatia das massas manipuladas.
A quinta onde se passa a trama do livro de Orwell mostra-nos como somos enganados, como acreditamos e, consequentemente, como toleramos individualmente o que uma sociedade aceita como um todo esquecendo as nossas próprias dúvidas porque já mais ninguém as tem.
A política de hoje reflete uma mentalidade semelhante: o que estamos a fazer não está a funcionar, e devemos encontrar uma maneira de mudar os nossos destinos, mudando os nossos fundamentos e a maneira como abordamos o processo democrático.
Isso não significa que devemos eliminar tudo, ou seguir aqueles que afirmam querer subverter o presente sem um caminho claro para o futuro. Os líderes que se procuram devem depender da sua capacidade de nos fornecer uma missão, e não aqueles em que julgamos acreditar e dizem que nos afastarão do caminho que estamos a pisar agora. É a verdadeira paixão que está por trás duma mudança bem-sucedida que é o que falta aos líderes como aqueles “porcos” patetas que assumiram o disfarce e que depois os mesmos que o construíram o perderam. plano se perdeu.
há algo na importância da integridade da missão e na crença de quem assume a posição de poder e um aviso sobre o que pode acontecer quando os motivos não são puros, mas herdados ou forjados.
Como nota final para os mais jovens não devemos esquecer-nos que Hitler não conquistou o poder pela força, mas através de eleições. A Quinta dos Animais é, no fundo, uma fábula ambientada nos conceitos de tirania e revolução.