A ira da perda do poder
O PSD partido da social-democracia em Portugal morreu a partir de 2011. Embora se intitule de centro o PSD, com Passos Coelho, passou a ser um partido da direita radical, perdeu a sua identidade própria, deixou de representar aquela parte significativa da população que contribuiu naquele ano para que obtivesse 38,66% dos votos que lhe deu 108 deputados (ver quadro abaixo).
O PSD na altura conseguiu mais deputados do que o Partido Socialista do que o conjunto dos partidos à sua esquerda, 108 contra 98. A coligação feita com o CDS-PP que não teria sido necessária para haver uma maioria confortável do PSD foi um trunfo dado ao CDS-PP poder fazer parte do Governo. Foi o entendimento à direita coisa que a esquerda nunca tinha conseguido. Agora conseguiu e a direita radical espanta-se, manifesta perplexidade, indigna-se e admira-se e insurge-se.
A ira que move a direita deve-se a não conseguir o que desejava: que o Partido Socialista os ajudasse a governar passando-lhe uma espécie de cheque em branco para continuar a fazer regressar Portugal ao que era há 30 anos atrás. Queria ajuda do PS para manter os sacrifícios que tanto dizem ter custado aos portugueses. É a política do medo a arma desta direita sem classe, sem personalidade, que à primeira perda do poder se descontrola, ofende e ameaça.
O PSD capturado pelos neoliberais já nada tem a ver com o partido que foi. O CDS-PP confrontado com a hipótese da perda do poder e de voltar ao que sempre foi, um partidinho de direita cuja única força lhe era dada por Paulo Portas. Sem argumentos difamam, insultam, agridem, manifestam e demonstram, muitas vezes através das redes sociais. Foi nisto o que passou a ser o PSD com Passos Coelho. Sem Passos Coelho talvez o PSD volte a ser um partido do centro e da social-democracia.
Comparem-se os resultados dos dois últimos atos eleitorais e verificar-se-á as perdas e ganhos dos respetivos partidos. Basta fazer as contas.
À direita não basta reivindicar a vitória que, em si mesmo, é um facto inquestionável. A questão que se coloca é que estabilidade governabilidade consistente poderia oferecer a Portugal um governo de direita com a configuração parlamentar como a que se apresenta hoje.
Paulo Portas ameaçou ontem na Assembleia da República o PS de lhe ser negada ajuda se, "aflito e não conseguir gerir a demagogia explosiva do Bloco de Esquerda e os compromissos de Bruxelas, não venha depois pedir socorro". Podemos perguntar quem, para se manter no poder, precisava de ajuda para governar e até ofereceu lugares no Governo ao Partido Socialista depois de o ter posto de parte durante quatro anos?
2011
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2015
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Partidos | Nº de votos | % | Deputados | Nº de votos | % | Deputados |
PPD/PSD | 2159181 | 38,66 | 108 |
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PS | 1566347 | 28,05 | 74 | 1747685 | 32,31 | 85 |
CDS-PP | 653888 | 11,71 | 24 |
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PCP-PEV | 441147 | 7,9 | 16 | 445980 | 8,25 | 17 |
B.E. | 288923 | 5,17 | 8 | 550892 | 10,19 | 19 |
Coligação PSD+CDS-PP |
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| 1993921 | 36,86 | 104 |
PPD/PSD+CDS-PP | 2813069 | 50,37 | 132 |
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PS+PCP-PEV+BE | 2296417 | 41,12 | 98 | 2744557 | 50,75 | 121 |