A estratégia do embuste no diálogo político
Uma das formas para percebermos o que alguns dos nossos interlocutores informados, sabedores, que se julgam infalíveis e exímios em dar cartas e depois baralhar de novo nos dizem é percebermos ao que se referem quando falam.
Vem isto a propósito de comentários que alguns leitores deixaram a um artigo que li há algum tempo num jornal diário relativamente à despesa pública e ao déficit mais folgados que o atual Governo herdou do anterior governo socialista que, em vão, tentei localizar, mas o que ainda tenho presente serve para o pretendido
A mentira e a desinformação são armas utilizadas para enganar alguns que, por não perceberem nada do assunto, acreditam em tudo, o que lhes dizem ou leem nas redes sociais.
Quando alguém aponta a esses referidos, plenos de verdades absolutas, algo que sai fora das suas falacias absolutas, mudam de agulha, trocam as voltas e, para confundir, utilizam outro tipo de estratégia para baralhar o seu interlocutor. Pode então verificar-se uma das seguintes situações: ou não se refuta o que diz por não termos bagagem para o contradizer, ou o argumento é tão faccioso e disparatadamente óbvio que não vale a pena contrariá-lo mais valendo deixá-lo ficar convencido de que enganou mais um papalvo que manipulou.
A forma mais comum de manipulação envolve tentar dominar ou mudar um ponto de vista ou opinião, isto é, a perspetiva ou crença que alguém mantém sobre alguma coisa e serve como ponto de referência para a visão que cada um de nós tem sobre qualquer situação.
Veja-se um exemplo. Imagine que você está a trocar impressões sobre política económica e que o seu interolocutor chama para a discussão a dívida publica e o défice. Coloque como princípio que o seu interlocutor tem como objetivo criticar a governação, por exemplo, do governo socialista, que terá cometido muitos erros, mas a quem se poderia atribuir ter conseguido baixar a dívida e o défice. Então, o seu interlocutor argumenta que esse governo socialista deixou uma dívida pública enorme e um défice também colossal. Você mostra que os valores são avaliados pelo rácio dívida/PIB, que é a medida da dívida ou do déficit como percentagem do Produto Interno Bruto, indicador utilizado por diversas entidades, que afirmam o contrário e que o governo pode vir a entrar em derrapagem orçamental por estar a gastar mais do que deveria.
Face aos dados inegáveis e como a comparação é feita em percentagem do PIB a resposta do seu interlocutor chega célere: não, não, isso é em valor relativo, em valor absoluto são milhões. Certo o seu interlocutor tem razão. Mas a comparação é sempre em valores relativos, o que facilita a comparação.
Ora, o nosso interlocutor, para defender a sua tese, ou melhor, a sua causa distorcida, utiliza esse argumento incorreto porque, ao comparar a dívida pública e os défices, é essencial reconhecer que estes indicadores são fundamentalmente diferentes na natureza e que o uso de medidas relativas geralmente fornece uma imagem mais clara do que olhar apenas para números absolutos. Isto é, não seguindo este critério o nosso interlocutor está deliberadamente a enganar-nos com a finalidade de defender o seu ponto de vista com valores absolutos que “enchem o ouvido”.
Ah! mas há as cativações exclama ainda! As cativações é outro conceito muito utilizado pelos detratores adversários e para enganar quem esteja pouco familiarizado com este tema. As cativações funcionam como se cada um de nós pegasse em parte do dinheiro que tem disponível para gastar e o guardasse numa gaveta para quando for necessário. Ou melhor, é como se o ministro das Finanças pegasse em parte do orçamento aprovado pela Assembleia da República para um determinado serviço público e guardasse o dinheiro numa gaveta.
Dizem: Ah! mas as cativações prejudicam alguns setores que necessitam de verbas. É uma meia-verdade usada pelos que são por natureza facciosos, porque isto das cativações é uma prática comum já com vários anos, aplicada quer pelos Governos socialistas quer pelos da direita ou centro-direita. Um caso concreto e mais recente é o do Governo de Luís Montenegro que tinha, em novembro de 2024, 789 milhões de euros em cativações por libertar.
As cativações são uma espécie de cautela orçamental para possibilitar que não haja derrapagens da despesa, porque ao condicionar a libertação da verba à autorização do ministro das Finanças, a fim de evitar que os serviços gastem sem ter primeiro concretizado um nível de receitas suficiente
Bem, fico por aqui, porque de finanças só percebo das minhas e, quanto à públicas é o que dizem por aí os especialistas e os trabalhos académicos de macroeconomia.
Divirtam-se e sejam facciosos porque o que está a dar para polarizar as sociedades são as verdades ditas alternativas, isto é, não factos, como dizer, a minha verdade é uma alternativa à sua que mesmo que seja um facto.
E, já agora, factos alternativos podem ser falsidades, inverdades, ilusões. Um facto é algo que realmente existe, são a realidade ou verdade. Uma alternativa é uma das escolhas em um conjunto de opções dadas e, normalmente, as opções são opostas uma da outra. Portanto, falar sobre factos alternativos é falar sobre o oposto da realidade (que é ilusão) ou o oposto da verdade (que é a mentira).
Também é usado como uma ‘interpretação alternativa’ de um facto para servir um qualquer propósito político ou ideológico.
Se essa interpretação alternativa é ou não válida normalmente depende do facto em questão e de como ele foi interpretado (ou mal interpretado).