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A parcialidade intencional de quem comenta a pobreza

22.10.22 | Manuel_AR

Pobreza.png

A primeira página do semanário Expresso desta semana 22 de outubro coloca em primeira página que “As pessoas estão desesperadas, escondem latas de atum e leite para comer ou dar aos filhos”: furtos de alimentos disparam nos supermercados. Desenvolve então que “Supermercados estão a colocar alarmes em produtos alimentares básicos, como latas de atum ou garrafas de azeite. Os furtos estão a aumentar “desde o início de setembro”, escreve-se, por “pessoas que já não conseguem sobreviver só com o seu salário e pensão”. Quase 2 milhões de portugueses vivem com menos de €554.” Ninguém dúvida de que tal esteja a acontecer.

É lamentável que isto se esteja a verificar no nosso país e, pior ainda, que sirva de motivo de chamariz para a venda de jornais. Mais preocupante é que o semanário refere que piorou a partir do início de setembro. Isto é, menciona-se uma data específica para o facto, como se a pobreza, a necessidade de sobrevivência, as pensões e a inflação tivesse uma data, a partir da qual o fenómeno se passou a verificar, e, por acaso, até foi o fim de férias. Como se o fenómeno da pobreza não se verificasse anteriormente e com tanta ou mais intensidade.

Segundo o que tem sido divulgado pela comunicação social sem os apoios sociais, 4,4 milhões de pessoas são pobres ou têm rendimentos abaixo do limiar da pobreza, aproximadamente 554 euros mensais. Segundo a Pordata os valores preliminares em Portugal a população apurada na última atualização de 26/09/2022 com 14 anos e mais é de 9.0283.406 e a população total na mesma data é de 10.344.802. Isto significa que fazendo uma análise comparativa, embora imperfeita, 48,7% da população daquelas faixas etárias encontra-se abaixo do limiar de pobreza, e cerca de 42,5% da população total, ou seja, quase metade da população total. Número impressionante que nos envergonha. Quando este processo de empobrecimento se agravou seria também interessante dar a conhecer em que circunstâncias se terá agravado.

A comunicação social divulga insistentemente esta situação quando, por coincidência, ou não, o Partido Socialista está no Governo. É um facto que em dezembro de 2021 de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados em dezembro de 2021 a desigualdade no país agravou-se durante a pandemia e o risco de pobreza em Portugal aumentou para 18,4% em 2020, naquilo que foi uma subida de 2,2 pontos percentuais relativamente ao ano anterior.

Se observarmos o gráfico seguinte verificamos que a taxa de pobreza entre 2003 e 2020 aumentou substancialmente entre 2010 e 2014 começando a descer a partir de 2015 voltando a aumentar no início da pandemia covid 19 em 2019.

Pobreza2.png

A percentagem de população em risco de pobreza e exclusão social entre 2011 e 2014 governação do PSD e CDS, com Passos Coelho como primeiro-ministro, aumentou consideravelmente para níveis de 27,5% em 2014 diminuindo substancialmente em 2020.

Período de referência dos dados (1)

População residente em risco de pobreza ou exclusão social (%) por Sexo e Grupo etário; Anual (2)

Sexo

HM

H

M

Grupo etário

Total

%

%

%

2020

19,8

19,4

20,2

2014

27,5

26,7

28,1

2013

27,5 *

27,5

27,4

2012

25,3

24,6

25,9

2011

24,4

23,8

25,1

Nota(s):                                                                                                       

(1) População residente em risco de pobreza ou exclusão social: Indivíduos em risco de pobreza e/ou em situação de privação material severa e/ou a viver em agregados com intensidade laboral per capita muito reduzida.                                                                                                                    

(2) Por convenção, este indicador é referenciado ao ano do inquérito. O indicador População residente em risco de pobreza ou exclusão social combina dois indicadores construídos com base em informação relativa ao ano de referência do rendimento (Taxa de risco de pobreza após transferências sociais e Intensidade laboral per capita muito reduzida) com um indicador com informação relativa ao ano do inquérito (Taxa de privação material severa).                                                                                                                                                  

Sinais convencionais:                                                                                                              

*: Dado retificado                                                                                                                                                 

Última atualização destes dados: 07 de maio de 2021                                                                                  

Na tabela anterior permite-nos comparar com o período do Governo de direita PSD-CDS com Passos Coelho na chefia. Nessa altura o problema da pobreza era minimizado e os roubos nos supermercados varria-se para debaixo do tapete. Era tudo discretamente depurado pelos órgãos de comunicação. Apenas alguns comentários nas televisões, nomeadamente da presidente da Federação dos Bancos Alimentares, (instituição que deve ter toda a nossa solidariedade), Isabel Jonet garantia em novembro de 2018 que continua a haver muita "pobreza envergonhada" e que a recuperação económica não chegou às famílias mais pobres. Todavia reafirmou que não se arrepende de ter dito (na altura do Governo de Passos Coelho) que os portugueses não podem comer bifes todos os dias.

O desespero da direita é mostrado por mais um artigo do semanário cuja independência e isenção merecem alguma dúvidas e mostra que se agarra a tudo quanto possa manchar a imagem do atual Governo.

É evidente que a conjuntura pós-covid 19, o aumento dos combustíveis crescente a partir de outubro de 2021, com valores que será difícil de regressarem aos daquela, a invasão da Ucrânia pelo exército selvático de Putin, que teve como consequência as sanções à Rússia cuja retaliação não se fez esperar com consequências e condicionamento do fornecimento de energia com os eu encarecimento, a inflação na Europa, EUA e, obviamente em Portugal, que tem tido como resultado a queda do poder de compra, encarecimento dos bens de primeira necessidade, fenómenos não controláveis por qualquer governo.

A questão que se pode colocar é a de saber se, nas mesmas circunstâncias, a direita, o PSD, ou qualquer outro partido, teriam mecanismos mágicos para controlar a situação, aqui, em Portugal.

Tudo quanto digam não passa de conversa da treta. Também não basta que António Filipe do PCP escreva no Twitter que “Lamenta-se a pobreza como se fosse uma inevitabilidade, caída do céu como a chuva. Não é. A pobreza vem dos baixos salários e pensões em contraste com o aumento dos lucros e das desigualdades. É o capitalismo.”, viu-se o fracasso que foi a União Soviética e dos países próximos do comunismo.  Daqui decorre que não devemos estranhar que a credibilidade do sistema democrático esteja em queda em direção à extrema-direita devido à atuação dos partidos que, em vez de olharem para o país, olham para os umbigos partidários no sentido anteciparem uma potencial contagem de votos dos que antevendo ao poder em próximas eleições ficam com o olhar nos pequenos poderes que lhes caberão.

 

 

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