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Extrema-direita imigração de portas abertas e eleições presidenciais

03.11.25 | Manuel_AR

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Já entrámos em pré-campanha eleitoral para a Presidência da República e por entre os vários candidatos surge o líder do partido Chega André Ventura. É, assim, previsível que o tema da imigração venha a ser reanimado e trazido à discussão tendo em conta a polémica que os cartazes da sua campanha já desencadearam.

O destaque que André Ventura imprime à temática da imigração, ao enfatizar uma presença excessiva de imigrantes, parece ter-se revelado uma estratégia eficaz na conquista de votos e apoio eleitoral. Esta abordagem, ao centrar o debate nas emoções em torno dos receios e inquietações em determinados segmentos da população, tem-lhe permitido captar o interesse e a adesão de muitos eleitores.

Com o início da pré-campanha eleitoral para a Presidência da República, o líder do partido Chega, André Ventura, assume um papel de destaque entre os candidatos. É previsível que o tema da imigração volte a ser central no debate político, especialmente considerando as controvérsias já geradas pelos cartazes da sua campanha. Ao explorar essas preocupações, Ventura consegue captar o interesse e a adesão de muitos eleitores, reforçando assim o espaço político do Chega.

O seu posicionamento crítico face à imigração, frequentemente reiterado no discurso público e nos materiais de campanha como os referidos cartazes de campanha já levantaram polémica e tem sido determinante para consolidar o seu espaço político e aumentar a sua influência no panorama eleitoral português.

Falar ou escrever sobre imigração sob uma perspetiva que difere do discurso dominante acarreta desafios significativos. Já abordei este tema em diversas ocasiões, e é inevitável sentir a preocupação de que qualquer análise mais crítica possa ser imediatamente associada às posições defendidas pelo líder do Chega. Esta realidade torna o debate sensível e complexo, pois existe o risco constante de ver as minhas opiniões confundidas com as de uma corrente política específica.

Ao contrariar a visão dominante quando se abordam ideias que se afastam da visão partilhada pela maioria, persiste sempre o risco de que estas sejam mal interpretadas ou gerem controvérsia. Este posicionamento, embora necessário para um debate plural, frequentemente entra em conflito com o meu próprio ponto de vista e consciência sobre o meu pensamento, gerando falsas interpretações.

Apesar das possíveis divergências entre opinião pessoal e consenso social, é fundamental que se exprima aquilo que se observa e sente, especialmente quando tal reflete o sentimento duma parcela significativa da população. Nos grandes centros urbanos, estas perceções, mesmo quando não sustentadas por dados objetivos, manifestam-se de forma intensa e merecem ser consideradas no debate público, pois revelam inquietações e realidades vividas no quotidiano.

Recordem-se as polémicas geradas quando o projeto de lei aprovado pelo Parlamento português que proíbe o uso de vestimentas que ocultem o rosto em espaços públicos a chamada “lei da burca” que desencadeou uma série de comentários e artigos de opinião nos órgãos e comunicação. Mesmo aqueles a quem Portugal abriu as portas saem à rua em manifestações (não ponho em causa o direito ao protesto), mas ao procederem a exigências ao país que os acolhe remete para uma atitude de que a cultura do país de acolhimento não tem de ser respeitada, antes pelo contrário, deve ser imposta sua cultura àqueles que os acolhem na sua “casa”. Este tema tornando-se um símbolo das tensões existentes em torno das questões de integração e respeito pelas normas do país de acolhimento.

As manifestações públicas organizadas por alguns daqueles que beneficiaram da hospitalidade portuguesa, embora legítimas no seu direito ao protesto, trouxeram à tona um debate delicado. Quando, durante estas manifestações, se fazem exigências ao país de acolhimento, surge a perceção de que pode não haver uma plena aceitação da cultura local. Ao invés disso, pode parecer que há uma tentativa de impor os valores e costumes de origem à sociedade que os recebe, desafiando os princípios de integração e respeito mútuo.

O fenómeno migratório, longe de ser um processo linear, envolve fatores sociais, económicos e culturais que desafiam tanto as comunidades de acolhimento como as dos que recebemos. A perceção pública sobre a imigração é frequentemente moldada por narrativas mediáticas, discursos políticos e comentários polarizados que, grande parte das vezes, distorce a compreensão real dos benefícios e desafios associados à integração de novas populações.

A perceção pública sobre a imigração é frequentemente contrariada por narrativas mediáticas e discursos políticos que tendem a polarizar o debate. Comentários e análises difundidos pelos media podem distorcer o entendimento coletivo acerca dos verdadeiros benefícios e desafios inerentes à integração de novas populações. Assim, o debate sobre a imigração raramente reflete a realidade total dos processos de integração, sendo muitas vezes marcado por interpretações parciais ou sensacionalistas.

A ascensão dos partidos populistas de extrema-direita, como o Chega, está intrinsecamente ligada à instrumentalização de temas sensíveis como a etnia cigana e a imigração. Este fenómeno político alimenta-se de uma retórica que explora emoções e receios latentes na sociedade, direcionando o debate público para questões identitárias, nacionalistas e de segurança. O partido Chega utiliza a imigração como ponto central do seu discurso, promovendo uma visão crítica e alarmista sobre a presença de imigrantes no país.

No caso concreto do Chega, para além da corrupção e da criminalidade a imigração tornou-se o eixo central do seu discurso, sendo abordada de forma crítica e frequentemente alarmista. Esta abordagem visa criar uma perceção de ameaça associada à presença de imigrantes no país, explorando inseguranças quanto à preservação da identidade nacional e à estabilidade social. O partido utiliza esta estratégia para consolidar a sua base de apoio, apresentando-se como a voz que denuncia aquilo que considera serem os riscos e desafios decorrentes da integração de novas populações.

Assim, o fenómeno político em análise revela-se alimentado por uma retórica polarizadora, que procura dividir a opinião pública e mobilizar segmentos da população que se sentem desamparados ou ignorados pelas políticas tradicionais. Ao focar-se na imigração e em questões identitárias, o Chega posiciona-se como alternativa ao discurso dominante, promovendo uma visão que enfatiza os potenciais impactos negativos da imigração na sociedade portuguesa.

Numa entrevista que deu para um livro de Gustavo Sampaio, André Ventura disse sobre a imigração que «… problemas com um impacto mais significativo, talvez, no dia-a-dia das pessoas, exceto em algumas zonas do território. Refiro-me à imigração». Continua referindo-se ainda à imigração que, «portanto, não podia deixar de abordar este tema. Vejo aliás que somos o único partido no Parlamento com coragem para o fazer. Nenhum outro partido aborda o tema da imigração. E quando o aborda, é para dizer que precisamos de mais gente, ou que está tudo bem assim…».  

A resposta ao crescimento dos movimentos de extrema-direita apresenta-se como um fenómeno multifacetado, sendo a imigração apenas uma de suas dimensões, além do descontentamento económico e social decorrente de crises financeiras, desemprego, precarização das relações de trabalho e redução do poder de compra, fatores que contribuíram para um ambiente de insatisfação, notadamente entre as classes médias e trabalhadoras. Observa-se uma perceção de que os partidos tradicionais não têm proporcionado soluções eficazes para tais questões, o que gera desconfiança nas instituições e na política tradicional, agravada por episódios de corrupção, promessas não cumpridas e o distanciamento percebido entre representantes políticos e cidadãos. Esse conjunto de fatores tem alimentado o desencanto com a democracia liberal, criando condições favoráveis ao surgimento de partidos autodeclarados “antissistema”, como é o caso do Chega.

Todavia há um ponto comum entre os partidos populistas da extrema-direita que centram a sua narrativa no aumento excessivo da imigração, especialmente após a crise dos refugiados de 2015 que gerou o levantamento de questões identitárias e culturais.

Aqui chegado vem à memória a “teoria da conspiração sobre a substituição da população europeia por imigrantes”, amplamente conhecida como a teoria da “Grande Substituição” e adotada pelas extremas-direitas como forma de encarar a imigração porque é uma teoria conspirativa que alega a existência de um plano deliberado e secreto, frequentemente atribuído a elites políticas ou a grupos globalistas, para substituir a população branca e cristã da Europa por imigrantes não-brancos e não-cristãos, geralmente muçulmanos.

Esta teoria, aproveitada pelas extremas-direita radicais e nazis, é considerada uma narrativa conspiratória, racista e xenófoba, que distorce dados demográficos e atribui as mudanças populacionais naturais e complexas a um plano secreto e malicioso. Ainda que esta teoria da conspiração, como tantas outras idêntica sejam um disparate podemos, contudo, fazer uma abordagem meramente teórica do ponto de vista estritamente duma projeção demográfica de taxas de natalidade e de fecundidade/fertilidade o que virá a ser tema dum próximo POST.