Aqui vocês, podem encontrar de tudo um pouco: sociedade, ambiente, comunicação, crítica, crónicas, opinião, política e até gastronomia, com apoio de fontes fidedignas.
Não há paciência para isto! Já não nos faltava a ministra da saúde com a sua arrogância e com as demissões sem justificação evidente. Agora só nos faltava o primeiro-ministro que pensávamos ser o único que dizia estar a trabalhar para as pessoas e a mostrar-se empenhado em corrigir erros(?) do anterior Governo resolvendo à tripa-forra os problemas de algumas bem conhecidas corporações da Função Pública, e das suas reivindicações. No entanto, não se tem mostrado lesto a exigir que a sua ministra da saúde, Ana Paula Martins, coloque duma vez por todas na mesa o plano que tem para eliminar o caos que gerou, e piorou, durante a sua vigência na área dita da sua competência (ou incompetência) que é a saúde e o SNS.
Não sou dos que estão contra os políticos, que dizem mal dos políticos, como se houvesse democracia e política sem políticos! Quando surge nos media algo que diga respeito a manchar a face de um político seja porque se descobriu corrupção, peculato, falsificação ou qualquer outro crime do mesmo calibre ou até conflito de interesses. A tendência, mesmo antes de provas concretas, é cairmos em generalizações, por vezes sem fundamento, formando-se opiniões de que todos os políticos são corruptos.
Os que gritam contra a política e os políticos, (mas que também o são), consideram-se impolutos, irrepreensíveis, honestos e exemplares. Este caso que agora surge a atingir Luís Montenegro pode vir a ser mais um caso para Ventura se salientar e aparecer nos ecrãs das televisões com o seu regatear político contra os políticos e levantar suspeições várias para convencer os mais emocionais.
A ingenuidade não me parece que seja uma característica da política e dos políticos para que se abalancem a ocupar cargos em que facilmente possam ser acusados de situações em que lhes possam apontar o dedo e publicamente denunciadas. O que contaria esta minha afirmação são os factos ainda só parcialmente objetivados que se passam com elementos do atual Governo e do próprio primeiro-ministro. Se alguém me relatasse estes factos sem me dizer a fonte diria que não era possível existir tal ingenuidade por parte de alguém cujo domínio de competência é o das leis.
Mas é um facto objetivo, temos agora um primeiro-ministro a receber avenças mensais pagas por empresas privadas, mesmo que seja apenas de uma, no exercício do seu cargo. Isto vai muito para além dos conflitos de interesses de grupos privados, que ele poderá vir a esclarecer amanhã na sua comunicação. Se estes factos forem reconfirmados a pergunta se se impõe é o que Luís Montenegro tem na cabeça o que o terá levado a tal ingenuidade como anteriormente referi. Não poderia ele ter feito a si próprio uma consulta sobre os riscos de conflito de interesses?
Volto a repetir como é que um político profissional se coloca numa posição de pôr em risco a sua reputação e contribuir para as tais vozes, ditas impolutas, que se manifestam contra os políticos que pretendem pôr em causa o nosso regime democrático que tem sido fustigado por casos graves e outros até menos graves, mas que não deixam de ser casos.
Eleição após eleição tem-se sentido cada vez mais os efeitos do aumento da extrema-direita no Mundo e sobretudo no continente europeu onde nos inserimos. Embora os partidos da direita moderada e os denominados conservadores tenham conquistado o apoio do eleitorado os da direita radical ou da extrema-direita populistas, soberanistas ou nacionalistas têm vindo a crescer eleição após eleição. Veja-se o caso da AfD na Alemanha nas últimas eleições.
Estes partidos que estão a evoluir na UE nas intenções de voto. Os líderes dos partidos de extrema-direita do terceiro maior bloco eleitoral do Parlamento Europeu, Patriotas pela Europa, elogiaram o regresso de Donald Trump ao poder num encontro em Madrid, no dia 8/fev/25 realizado sob o lema “Make Europe Great Again”.
Tenho-me questionado sobre o que leva o eleitorado a decidir votar em partidos cujos líderes apresentam tendências autocráticas e radicais de extrema-direita. Não se trata de esquerda ou de direita, trata-se de poderem originar e transformarem-se em ditaduras autocráticas, ou seja, regimes em que o governo está nas mãos de um indivíduo ou grupo com poder que possa vir a ser transformado em absoluto e ilimitado. Temos como exemplo o caso da Rússia de Vladimir Putin e agora o de Donald Trump que parece querer seguir os mesmos passos do primeiro. O caso da Rússia não é o medo dos russos, mas do que Putin representa, pois é sabido que ele tem aliados fiéis nas extremas-direita europeia. Sobre este tema há uma visão histórica interessante A ameaça russa em Notas à Margem.
Para tal há diversas razões complexas e interrelacionadas. Há muito a considerar e a entender sobre o contexto e a mentalidade dos eleitores em cada situação específica. Frequentemente, líderes autocráticos provenientes de partidos, ou não, possuem personalidades carismáticas que podem criar uma forte ligação emocional com os eleitores, fazendo-os sentir que esse líder é alguém que compreende os seus problemas e representa os seus interesses.
A técnicas de manipulação emocional usando a retórica nacionalista para mobilizar apoio e influenciar os seus seguidores, sobretudo os potenciais seguidores, podem incluir apelos ao medo, à esperança e à identidade nacional, contra ameaças, internas e externas por vezes infundadas tornando as pessoas mais suscetíveis para acreditar nas palavras que ouvem.
Muitas pessoas tendem a confiar em figuras de autoridade se um líder é percebido como forte e decisivo, pode atrair eleitores que anseiam por estabilidade e ordem. Esta opção pode ser devida a diversos contextos culturais e história política dum país que podem favorecer uma liderança centralizada, tornando as ideias autocráticas mais aceitáveis.
Outro fator pode ser devido a tempos de crise económica, social ou política, os eleitores aceitem apoiar representantes políticos que prometem soluções rápidas e decisivas, mesmo que isso signifique uma concentração de poder.
Há ainda fatores menos evidentes que tem a ver com equações pessoais dos eleitores. Concordar com os líderes pode ser visto como um sinal de lealdade e identidade do grupo a que pertencem ou a que julgam pertencer. Há uma necessidade de pertencimento a algo que pode levar as pessoas a aceitar opiniões e afirmações dos líderes do seu grupo social, político ou religioso (pode até ser um clube de futebol ou qualquer outro tipo de associação) e, por isso, buscam informações que se alinhem com as suas crenças preexistentes ignorando contradições.
O efeito de grupo, de bando ou de rebanho (o termo anglo-saxónico é bandwagon effect) por vezes também referido como “efeito de contágio”. Este termo denota um fenómeno de impacto da opinião pública sobre um ou vários sujeitos. Com as suas preferências e posições políticas, as pessoas juntam-se ao que consideram ser maiorias ou posições dominantes existentes ou esperadas na sociedade. Isso implica que o sucesso gera mais sucesso, e os parecem gozar de um amplo apoio popular provavelmente ganharão um apoio ainda mais forte. Tal pode conduzir a que alguns eleitores votem no candidato com maiores chances de vitória, com o objetivo de não desperdiçar o seu voto, o chamado voto útil. Temos também o voto baseado no comportamento direcionado para o candidato com menores perspetivas de ser eleito, muito devido ao “vou votar nele só por votar”.
A opinião pública percebida ganha assim a qualidade de poder e ser realizada, tal como uma espécie de vagão que carrega uma banda num desfile e atrai uma grande multidão de seguidores que marcham atrás dela para apreciar a música. Em síntese, trata-se de o eleitor decidir votar num partido ou candidato que ainda em sondagens considera apresentar valores que na sua perspetiva são injustamente baixos, ao contrário do anterior efeito que é o de votar em quem vai à frente.
As técnicas de manipulação emocional para influenciar os seus seguidores, sobretudo os potenciais seguidores, podem incluir apelos ao medo, à esperança e à identidade nacional, tornando as pessoas mais suscetíveis para acreditar nas palavras que ouvem.
As palavras e as frases simples vão de encontro ao desejo de simplicidade das pessoas que geralmente preferem explicações simples e claras em vez de frases muito complexas. As pessoas preferem a certeza à dúvida e assim acreditam em quem simplifica questões complexas e em quem oferece soluções fáceis para problemas complexos que podem parecer mais convincentes, tal é o caso de Trump nos EUA que a eliminação de tratados, a ocupação de territórios e a eliminação das teses sobre as alterações climáticas são tratados com apenas com uma assinatura de eliminação ou de abolição. Em Portugal temos o caso André Ventura quando apresenta propostas e soluções para casos complexos cuja exequibilidade seria impraticável se os quisesse colocar em prática caso estivesse no poder.
Há um outro fenómeno conhecido como efeito de ilusão de verdade em que a repetição constante de uma afirmação, mesmo que falsa, pode fazer com que ela pareça verdadeira, mesmo que o não seja. Veja-se o caso exemplar do atual presidente dos EUA Donald Trump que durante a campanha eleitoral muitas vezes usou esta técnica e ainda hoje a utiliza. Mais próximo de nós temos André Ventura do partido Chega.
Nem todos têm acesso a informações imparciais ou as competências para avaliá-las criticamente. A propaganda e o controle dos media podem moldar narrativas para fazer com que perspetivas alternativas pareçam falsas ou perigosas.
Em alguns casos as pessoas podem não ter acesso a informações alternativas ou a meios de verificar o que os políticos candidatos dizem. Isso pode ser exacerbado em regimes onde a comunicação social é controlada ou censurada.
Mas, há um outro ponto muito importante que será desenvolvido noutra ocasião e que tem a ver com desinformação, o controle dos media e com campanhas de desinformação via redes sociais que podem influenciar significativamente a opinião pública, suprimindo críticas e promovendo uma imagem positiva ou negativa dos candidatos a líderes ou até de produtos e de pessoas que são promovidas.
Notas sobre a imagem:
Apesar do objetivo declarado dos Patriotas de unificar os conservadores nacionalistas da Europa, alguns dos partidos mais influentes da UE nesse campo - como os Irmãos da Itália da primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, a Alternativa para a Alemanha e o Lei e Justiça da Polônia – recusaram-se a participar.
O líder do partido político de extrema-direita português Chega, André Ventura, o líder holandês de extrema-direita Geert Wilders, o líder do partido de extrema-direita espanhol Vox, Santiago Abascal, e a líder e deputada francesa de extrema-direita Marine Le Pen, o presidente do grupo parlamentar francês de extrema-direita Reunião Nacional (Rassemblement National - RN), o primeiro-ministro húngaro Viktor Orban, o vice-primeiro-ministro italiano Matteo Salvini e o líder grego do partido "Voz da Razão", Afroditi Latinopoulou, estão no palco do O partido espanhol de extrema-direita VOX reúne-se com outros líderes europeus de extrema-direita, em Madrid, Espanha, em 8 de fevereiro de 2025. REUTERS/Ana Beltran
Se perguntarmos a especialistas em psicologia ou em psiquiatria o que é uma psicose obteremos respostas tais como conjunto de sintomas que afetam a mente, onde houve alguma perda de contato com a realidade e dificuldade em reconhecer o que é real e o que não é, mesmo face a evidências. Ou ainda uma condição de saúde mental que se caracteriza por uma desconexão da realidade. Ou experimentar sintomas como delírios, isto é, crenças falsas firmemente mantidas apesar de evidências contrárias. Ou ainda outros sintomas que incluem perturbação da mente que causa dificuldades em determinar o que é ou não real e comportamento inapropriado para determinada situação e também perda capacidade emocional.
Posso acrescentar ainda que, a negação da realidade evidenciada pode ser um sintoma de psicose. Esses delírios podem levar à negação da realidade de diversas formas, como acreditar que eventos que não ocorreram realmente aconteceram ou que situações reais não são verdadeiras. A negação das evidências científicas sobre vários temas pode ser um dos sintomas.
Analisando atentamente declarações e fazendo uma análise de conteúdo das intervenções de Donald Trump por um especialista em psicologia ou em psiquiatria desde que concorreu pela primeira vez às eleições nos EUA detetar-se-iam alguns sintomas característicos de psicose.
Contudo, se a pessoa em questão está em estado de negação consciente, isto é, nega as evidências apenas com algum propósito então entramos noutra particularidade que é a intencionalidade do objetivo que tem um fim em vista que é a obtenção de vantagens pessoais quaisquer que sejam, que podem ser políticas e ou de poder.
A psicose não é exclusiva das pessoas que são comumente rotuladas como “loucas”. Na realidade, a psicose pode afetar pessoas de todas as esferas da vida e pode ser uma manifestação de várias condições de saúde mental. Qualquer pessoa pode experimentar um ou vários episódios psicóticos em determinadas circunstâncias como por exemplo, entre outras, experiências traumáticas, sejam emocionais, físicas ou sexuais. Situações de grande stress podem precipitar também episódios psicóticos.
Assim, negar conscientemente as evidências com o objetivo de obter vantagens pessoais que podem ser políticas ou de exercício de poder, pode ser diferente da negação da realidade observada na psicose.
Trump parece estar em estado de negação consciente, por isso, é mais provável que ele esteja a agir de forma intencional e estratégica, possivelmente com motivações egoístas, narcisistas ou a evitar consequências negativas. Essa forma de negação pode estar associada a comportamentos manipulativos ou desonestos, e não necessariamente a uma condição de saúde mental. Portanto, a negação da realidade devido à psicose é uma questão de saúde mental, enquanto a negação consciente da realidade com um propósito específico é uma questão comportamental e ética,
Donald Trump tem sido conhecido por negar várias evidências, especialmente em relação às eleições presidenciais dos Estados Unidos de 2020. Frequentemente alegou, sem apresentar provas, que houve fraude eleitoral generalizada que resultou na vitória de Joe Biden. Essas alegações foram repetidamente desmentidas por autoridades eleitorais e judiciais, incluindo membros do próprio partido republicano.
Além disso, Trump também foi acusado de interferência eleitoral e de tentar anular os resultados das eleições de 2020. Essas ações e alegações têm sido amplamente discutidas e investigadas, mas até agora, não foram apresentadas evidências concretas que sustentem suas afirmações de fraude eleitoral. Essas alegações foram desmentidas por várias investigações e revisões judiciais.
Donald Trump tem negado várias evidências em diferentes áreas, incluindo questões climáticas e saúde pública. Os exemplos são vários.
Trump chamou frequentemente “farsa” às mudanças climáticas e retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, que visa combater o aquecimento global; desconsiderou evidências científicas sobre o impacto das atividades humanas no clima.
Durante a pandemia, Trump minimizou a gravidade do vírus e promoveu tratamentos não comprovados, como a hidroxicloroquina, e também criticou e desacreditou especialistas em saúde pública e as suas recomendações, chamando algumas informações “notícias falsas”. Em alguns momentos, defendeu ou mencionou tratamentos que não tinham comprovação científica, o que foi rotulado por muitos especialistas como irresponsável.
Mas há outras evidências como a deslegitimação de fontes ao chamar de “fake news” às informações que divergiam de sua visão ou que criticavam as suas ações. Trump procurou minar a credibilidade dos meios de comunicação e de instituições que apresentavam dados contrários às suas posições.
As atitudes de Trump geraram debates intensos tanto no meio científico quanto na sociedade, levantando preocupações sobre os efeitos que a disseminação de desinformação pode ter na formulação de políticas causando desconfiança na população em relação às informações e dados credenciados.
Tudo isto tem impacto na opinião pública porque o tipo de retórica de Trump pode contribuir para que parte do público se torne menos crítico em relação à análise de evidências, aceitando passivamente informações vindas de fontes de autoridade sem uma verificação aprofundada.
António Costa alertava no Financial Times que a “a Rússia deve ser encarada como ameaça global”, para acrescentar que a Europa deve negociar uma nova arquitetura de segurança que encare Moscovo como “uma ameaça não apenas para a Ucrânia”, escreve o Público no dia 18 do corrente. Talvez omitisse os EUA de Trump por motivos diplomáticos. Mas, o perigo não vem só da Russia como diz Costa.
O presidente dos EUA gostou da declaração de Vladimir Putin quando disse que, após o seu regresso à Casa Branca, a Europa “ficará aos pés de seu mestre”. A publicação da CNBC, que incluía a citação correspondente, foi republicada por Trump na sua página da rede social, como se enfatizasse que tudo será exatamente como o presidente russo disse.
Notícias, artigos e comentários sobre negociações de paz para a terminar com guerra na Ucrânia na linha definida por Donald Trump são vários e contraditórios. Afirmações, declarações e contradições de Trump aparecem diariamente nos media de vários países que já lhe perdemos a conta.
Afinal o que devemos entender por negociações para a paz segundo a ciência política? É um tipo específico de negociação tendo em vista acabar com conflitos, guerras e estabelecer a paz a longo prazo, abordar as causas subjacentes do conflito e criar acordos que previnam violência futura. Normalmente envolve países, governos ou até fações envolvidas em conflitos armados que visam a paz, a estabilidade e a reconstrução. Assim, têm como objetivo cessar as hostilidades. Em síntese, as negociações de paz visam especificamente a resolução de conflitos e o estabelecimento de uma paz duradoura.
No conflito da Ucrânia as partes diretamente envolvida foram este país e, até ao momento, a Rússia que invadiu aquele país soberano, embora Putin o negue e agora também Trump usando argumentos falaciosos. A União Europeia, o Reino Unido e os Estados Unidos da América auxiliaram a Ucrânia, desde o início da invasão, com apoio em armamento e recursos financeiros. Com a invasão da Ucrânia o que o autocrata/ditador da Rússia pretendia era instalar na Ucrânia um governo fiel a Moscovo.
Trump, na sua rede social Truth Social de desinformação que, para ele, passou a ser palavra proibida, chamou a Zelensky um “comediante modestamente bem-sucedido”. Trump como os da sua equipa têm memória curta. Ele deve recordar-se que começou a tornar-se conhecido como proprietário dos concursos de beleza Miss Universo, Miss EUA e Miss Teen EUA e alcançou maior projeção como criador e apresentador do reality show “O Aprendiz”, do qual fez parte entre 2004 e 2015. O programa mostrava executivos competindo por uma posição numa das empresas do apresentador e produtor do programa que era Donald Trump. Assim ele foi também uma espécie de comediante num show televisivo que lhe rendeu muito dinheiro.
Mais grave ainda são as mentiras que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse na sua rede social ao afirmar que o presidente ucraniano é “um ditador sem eleições”, o mesmo que já tinha sido afirmado por Putin e voltou a acusar aparentemente a Ucrânia de ser responsável pela guerra com a Rússia numa onda de alegações sem fundamento e desconhecedor do tema, talvez para agradar ao seu amigo Putin. Putin também já tinha acusado a Ucrânia de ter dado início à guerra. O facto é que a Rússia lançou uma invasão em grande escala na Ucrânia em fevereiro de 2022, e já tinha anexado a Crimeia em 2014. “Foram eles que começaram a guerra em 2014”, disse o presidente russo, Vladimir Putin, numa entrevista ao apresentador de talk show americnao Tucker Carlson em fevereiro de 2024.
O que não há dúvidas é que, em 22 de fevereiro de 2022, a Rússia começou a guerra invadindo a Ucrânia. As tropas russas invadiram a fronteira com o objetivo explícito de derrubar o governo de Zelensky em Kiev que é pró-ocidente com o objetivo de poder de lá colocar um presidente fiel a Moscovo.
Neste segundo mandato Donald Trump tem adotado uma abordagem diferente em relação à ajuda à Ucrânia. Condicionou a ajuda dos EUA à Ucrânia em troca de direitos sobre recursos minerais, de terras raras, que são essenciais para a indústria eletrónica. Trump pretende bloquear verbas e o auxílio militar à Ucrânia. Apesar de ter tomado
Donald Trump tomou uma postura no sentido de iniciar conversações para a paz na Ucrânia, mas as negociações são de facto complexas e deveria envolver várias partes interessadas. Desde o início da invasão russa em 2022 houve várias tentativas de negociação que falharam. Recentemente houve vários anúncios sobre um telefonema de Trump com o presidente russo, Vladimir Putin, anunciando que as negociações de paz começariam imediatamente. Mais recentemente, houve um novo impulso diplomático com a participação de altos responsáveis dos EUA e da Rússia em reuniões na Arábia Saudita sem, no entanto, a Ucrânia não ter sido convidada para essas reuniões, o que gerou críticas de Zelensky que expressou a sua insatisfação com a exclusão da Ucrânia dessas negociações e afirmou que Kiev não reconhecerá qualquer acordo alcançado sem sua participação.
As ações de Donald Trump de tentar negociar a paz na Ucrânia, sem a presença das outras partes interessadas e propondo negociações diretas com Vladimir Putin, tem gerado controvérsias. Este tipo de atitude de Trump pode levantar desconfiança já que se desconhece o conteúdo da conversa telefónica com Putin e porque a sua relação com ele parece ser comprometedora tendo em conta relações políticas e de amizade com ele próprio já tinha expressado anteriormente. Após a tomada de posse para o segundo mandato de Trump, Putin anunciou com entusiasmo que “os líderes europeus ficarão do lado do mestre e acabarão por abanar a cauda carinhosamente”.
Mas há mais, o presidente russo, Vladimir Putin, elogiou o seu homólogo Donald Trump numa entrevista publicada no domingo 2/2/2025, dizendo que Trump em breve “restaurará a ordem” na Europa.
A comparação de Trump com Putin aproxima-se porque ele proíbe uma agência noticias de entrar na Casa Branca. Recentemente a administração Trump proibiu a entrada de jornalistas da agência de notícias Associated Press (AP) na Casa Branca e no Air Force One. Esta decisão foi tomada porque a AP continuou a usar o termo “Golfo do México” em vez de “Golfo da América”, conforme exigido por uma ordem executiva de Trump. A Casa Branca defendeu a sua decisão, afirmando que a recusa da AP em cumprir a mudança de nome era um compromisso com a desinformação. A medida foi amplamente criticada por várias organizações de media e é vista como uma violação da Primeira Emenda. Ridículos, decisão de Trump, a proibição e os motivos.
Os EUA estão a caminho duma autocracia, nome bonito para ditadura, e ainda não sabem.
Ontem na Conferência de Segurança de Munique é um evento anual onde líderes mundiais, ministros e outros decisores políticos se reúnem para debater os principais desafios globais. Este ano de 2025 teve como objetivo abordar questões urgentes de segurança global, incluindo a guerra em curso na Ucrânia, a crise em Gaza e a dinâmica de mudança das alianças internacionais. Serviu de plataforma para o diálogo e a cooperação de alto nível entre líderes mundiais, decisores políticos e peritos.
O discurso de JD Vance em Munique parece ter revelado o colapso da aliança transatlântica. Para o The Guardian, o discurso foi “cheio de hipocrisia risível, retratos distorcidos da democracia europeia e insensibilidade em relação ao trauma da Europa com o fascismo”.
JD Vance, o vice-presidente dos EUA, fez um discurso na conferência onde criticou a abordagem dos governos europeus à democracia. Vance criticou a abordagem dos governos europeus à democracia e disse temer que a liberdade de expressão no continente esteja a “recuar” criticou os líderes europeus e a democracia da U.E. porque não alinharem com as extremas-direitas e radicais em vez de se focar que estava em discussão que eram para a paz na Ucrânia.
Ele expressou preocupações sobre a liberdade de expressão na Europa, afirmando que muitos americanos veem na Europa “interesses entrincheirados” que se escondem atrás de termos como desinformação para suprimir pontos de vista alternativos. Fez críticas à abordagem dos países europeus à democracia e à liberdade de expressão e manifestou preocupação com o recuo da liberdade de expressão na Europa e criticou os governos europeus por lidarem com a imigração e os valores democráticos
Vance também mencionou que a maior ameaça à Europa não é externa, como a Rússia ou a China, mas sim interna, com a Europa se afastando de alguns de seus valores fundamentais compartilhados com os Estados Unidos.
Está mais do que provado que o que ele denomina pontos de vista alternativos, isto é, verdades não evidenciadas por factos, muito ao gosto de Donald Trump, como se verificou do seu anterior mandato. dar algum sentido à distopia desorientadora da pós-verdade que parece ter envolvido os Estados Unidos desde o primeiro mandato mantendo-se, agora novamente com Donald Trump na presidência americana.
A propósito do que eles chamam “pontos de vista alternativos” ou “factos alternativos” como em 2017 os seus conselheiros de Donlad Trump (ou acólitos)?) contestavam a realidade como já escrevi noutro texto. Um deles, “Kellyanne Conway, diretora de campanha presidencial de Donald Trump em 2016 e conselheira do presidente até agosto de 2020, alegava, na altura, a existência de haver “factos alternativos” para ajudar Sean Spicer, assessor político e Secretário de Imprensa e Diretor de Comunicações interino do presidente Donald Trump que, no mesmo ano, usou seu primeiro encontro na Casa Branca para protestar contra os jornalistas devido ao que ele incorretamente chamou “reportagem deliberadamente falsa” sobre a posse de Trump na altura”.
Ainda sobre a liberdade de expressão em perigo cito as palavras de
Mas regressemos ao discurso de Vance, uma hipócrita “lição” de democracia como escreveu hoje no Público Andreia Sanches, mas, para mim, foi claramente desagregador duma aliança e, ao mesmo tempo, da democracia europeia.
Andreia Sanches escreveu ainda “Vance disse que a Europa está a suprimir a liberdade de expressão e a ignorar quem pensa diferente. Estamos a falar do vice de um país onde universidades e variadíssimas organizações financiadas pelo Estado estão, de há semanas a esta parte, a expurgar dos seus documentos oficiais palavras que se tornaram proibidas com a Administração Trump, como "diversidade", "desinformação", "activismo", "racismo" ou "género"”.
Vance afirmou que “enquanto o governo Trump está muito preocupado com a segurança europeia e acredita que podemos chegar a um acordo razoável entre a Rússia e a Ucrânia – e também acreditamos que é importante nos próximos anos que a Europa se esforce em grande escala para fornecer sua própria defesa – a ameaça que mais me preocupa em relação à Europa não é a Rússia, não é a China, não é nenhum outro ator externo. O que me preocupa é a ameaça interna. O recuo da Europa em relação a alguns dos seus valores mais fundamentais: valores partilhados com os Estados Unidos da América.”
Que ameaça interna na Europa preocupa Vance? Penso ser a democracia. O descaramento deste senhor é tal que afirmou que “Fiquei impressionado com o facto de um antigo comissário europeu ter ido recentemente à televisão e parecer satisfeito com o facto de o Governo romeno ter acabado de anular uma eleição inteira. Ele alertou que, se as coisas não saírem conforme o planejado, a mesma coisa pode acontecer na Alemanha também.” Tem memória curta porque apagou a cena que o seu líder Trump fez quando perdeu as eleições nos EUA e promoveu indiretamente o assalto ao Capitólio.
Sobre os principais partidos democratas não trabalharem com a extrema-direita, referindo-se à Alemanha, Vance defendeu que “não há espaço” (aplicou o termo firewalls-aplicar uma política de segurança a um determinado ponto, geralmente associados a redes) para cordões sanitários seja a quem for. Atente-se a isto: “But what no democracy, American, German or European will survive, is telling millions of voters that their thoughts and concerns, their aspirations, their pleas for relief, are invalid or unworthy of even being considered.
Democracy rests on the sacred principle that the voice of the people matters. There is no room for firewalls. You either uphold the principle or you don’t. Europeans, the people have a voice. European leaders have a choice. And my strong belief is that we do not need to be afraid of the future”.
Foi um discurso demagógico, de falsos valores, sobre o que ele(s) e o que entende(m) por liberdade de expressão (que, para ele e para o seu chefe Trump) deve servir para tudo inclusivamente para motivar o ódio, a promoção de fascismos, nazismos, autocracias, e outras ditaduras. Vance sabe que isso lhes interessa. Isto é, “autocratas e ditadores de todo o Mundo uni-vos”.
Dada a robustez das instituições democráticas americanas e a longa tradição de direitos civis e políticos a ideia de uma oligarquia autocrática nos Estados Unidos pode parecer distante. No entanto, eventos recentes têm levado muitos a reconsiderar a possibilidade de uma concentração de poder nas mãos de poucos, com tendências autoritárias. Movimentos populistas e líderes carismáticos que desafiam as normas democráticas, como o observado na presidência de Donald Trump, têm levantado questões sobre a resiliência do sistema democrático dos EUA e a vulnerabilidade às influências oligárquicas e autocráticas.
Daqui a tentação fácil de intuir e associar à palavra alemã “führer” cuja tradução pode ser “guia”, “líder” ou “chefe”. A palavra permanece ainda ligado a Adolf Hitler, que a usou para se auto designar como o líder supremo da Alemanha Nazi que terminou com a democracia alemã. Guiados por ideias racistas e autoritárias, os nazis aboliram direitos básicos e inventaram uma comunidade populacional de origem alemã, o “Volk”.
A possibilidade de um líder, tipo “führer”, autoritário nos Estados Unidos parece ser duvidoso ou até impossível para alguns apesar do slogan de propaganda MAGA – Make America Great Again muitas vezes usado por Donald Trump. Este ponto de vista justifica-se porque a história e a política dos EUA têm sido marcadas, pelo que conhecemos ao longo do tempo, por uma forte tradição democrática e instituições robustas que estão despertas para prevenir a ascensão de líderes autoritários. No entanto, nada garante que os valores democráticos sejam mantidos, o que parece não estar a acontecer naquele país e o partido democrático parece andar à aranhas porque não está a ser capaz de se movimentar ou de encontrar a saída neste conjunto de dificuldades.
Há tempo atrás seria inconveniente, na melhor das hipóteses, e absurdo na pior das hipóteses, mencionar o fascismo ou o autoritarismo numa conversa sobre a política americana. Este ponto de vista nada tem a ver com opções ideológicas que se professem, mesmo que casualmente, contrárias à política até agora dominante nos EUA.
Tem-se verificado que políticos, académicos, comentaristas e jornalistas nos EUA compararem regularmente a ascensão de Trump à de líderes fascistas e autoritários. A situação agrava-se nas redes sociais com a discussão continua de que Hitler esteja a ser invocado como comparação destinada a criticar o extremismo de outra pessoa. Como escrevi num anterior artigo é “prematuro estabelecer qualquer relação consistente”, agora, parece cada vez mais que epítetos como "Hitler" ou "nazi" ou "autoritário" são suficientemente plausíveis para atrair uma ansiedade razoável e crescente.
assinou várias ordens executivas, incluindo a retirada dos EUA do Acordo de Paris sobre o Clima e da Organização Mundial da Saúde e revogou 78 políticas do governo Biden;
ordenou uma repressão à imigração, incluindo a deportação de imigrantes ilegais e o cancelamento de um programa que permitia que os migrantes entrassem legalmente nos EUA por meio de um agendamento;
ofereceu incentivos para 2 milhões de trabalhadores federais e implementou um congelamento de contratações, exceto para militares, fiscalização de imigração, segurança nacional e empregos de segurança pública e restabeleceu uma ordem executiva para facilitar a demissão de funcionários federais;
perdoou cerca de 1.500 pessoas acusadas no ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio dos EUA;
anunciou planos para aumentar as tarifas sobre produtos importados de vários países, incluindo Canadá, México, China, Brasil e Índia;
assinou ordens para reduzir as regulamentações ambientais e aumentar a produção de combustíveis fósseis;
intensificou a proteção da liberdade de expressão e da liberdade religiosa, embora as suas ações tenham provocado reações mistas de vários quadrantes.
Estas são apenas algumas das medidas que tomou até agora.
Há personagens sinistras, ameaçadoras, assustadoras ou mal-intencionadas que são levadas ao poder eleitos pelo povo porque não são percebidas como tal e mascaram-se e dissimulam muito bem.
O termo sinistro é também frequentemente usado para descrever indivíduos que exibem comportamentos ou características que causam medo ou desconfiança nas pessoas ao seu redor. Pode referir-se a personagens fictícios em filmes, livros ou séries, bem como a pessoas reais que são vistas como perigosas ou moralmente questionáveis. Contudo, o termo “sinistro” pode ser considerado bastante subjetivo.
No que se refere a presidentes dos EUA, alguns poderão ser considerados sinistros devido às suas ações ou políticas controversas. Embora alguns presidentes dos EUA possam ter sido vistos negativamente devido às suas ações ou políticas, não há conhecimento que tenha havido presidentes com características propriamente sinistras.
Há alguns exemplos mencionados pelo USNews como Richard Nixon com o seu envolvimento no escândalo Watergate e a subsequente demissão em 1974 que deixou uma mancha duradoura no seu legado. Andrew Johnson com sua oposição, reconstrução quanto aos direitos civis dos escravos libertos após a Guerra Civil o que o levou a ser classificado como um dos piores presidentes. James Buchanan e o seu fracasso em lidar com a escalada de tensões que levaram à Guerra Civil também lhe rendeu uma má reputação. Esses presidentes são frequentemente criticados por suas ações ou falta de ação em momentos críticos da história, mas na minha opinião não podem ser considerados sinistro.
No que se refere ao Presidente Trump se amplificarmos o conceito de sinistro para desastroso, ameaçador, cruel, assustador, desastroso as dúvidas esbatem-se.
Não é absolutamente necessário viver nos EUA para percebermos o que lá se passa, basta consumir várias horas e dias de leitura e visionamentos para podermos observar o que por lá se diz e vê nos media e em artigos académicos.
Alguns consideram as ideias apresentadas por Donald Trump como sendo “fora da caixa”. Esta expressão que pode ser considerada como inteligente e inovador na procura de soluções extraordinárias para problemas comuns, é tentar ir além das coisas óbvias ou do que todo mundo vê. No caso das ideias lançadas por Donald Trump são fora da caixa porque demonstram um certo grau de loucura derivada da sua egomania. São exemplos disso os Estados Unidos assumirem o controlo da Faixa de Gaza; os dois milhões de palestinianos que lá vivem serem recebidos noutros países para nunca mais voltarem; e sobre as ruínas dos edifícios e de todas as infraestruturas arrasadas por Israel construir uma aprazível “Riviera do Médio Oriente” aberta a uma população “internacional”.
Na atividade incansável e a quente, de teorias ao nível popular, análises académicas e narrativas partidárias confundem-se e minimizam o esforço para dar algum sentido à distopia desorientadora da pós-verdade que parece ter envolvido os Estados Unidos desde o primeiro mandato mantendo-se, agora novamente com Donald Trump na presidência americana.
Não estaremos muito distantes da verdade se dissermos, embora com algumas reservas, que os EUA estão a ser governados por um partido que colocou no poder um sinistro, egomaníaco/egocêntrico, narcisista que veio do mundo dos “reality shows” e, possivelmente, com algum grau de loucura. Que precedentes, profetizações ou sinais do passado histórico que possam explicar as causas e as circunstâncias que permitiram um tal Presidente no poder.
Em 20 de janeiro de 2017, após a tomada de posse do primeiro mandato de Donald Trump, o livro mais vendido na Amazon.com foi o livro “1984”, escrito por George Orwell editado pela primeira vez em 1949. Segundo o jornal Público, “As vendas aumentaram depois das declarações (consideradas “pouco factuais”) do Presidente norte-americano e de alguns membros da sua administração”. “Os “factos alternativos” invocados pela Administração Trump estão a reavivar a popularidade daquela obra”, escreve o mesmo jornal. Os “factos alternativos” invocados pela Administração Trump reavivaram a popularidade daquela obra onde o autor apresenta um estado de pesadelo de controle de pensamento e de ficções de propaganda.
A propósito dos “factos alternativos” em 2017 os seus conselheiros (ou acólitos)?) contestavam a realidade. Um deles, Kellyanne Conway, diretora de campanha presidencial de Donald Trump em 2016 e conselheira do presidente até agosto de 2020, alegava, na altura, a existência de haver “factos alternativos” para ajudar Sean Spicer, assessor político e Secretário de Imprensa e Diretor de Comunicações interino do presidente Donald Trump que, no mesmo ano, usou seu primeiro encontro na Casa Branca para protestar contra os jornalistas devido ao que ele incorretamente chamou “reportagem deliberadamente falsa” sobre a posse de Trump na altura. Dizia ele que os jornalistas alegavam falsamente, que um número recorde de pessoas não terão comparecido ao seu juramento do presidente.
Esta situação carrega uma contundente crítica ao autoritarismo e à manipulação da verdade. A narrativa pró-governo tem a função principal de alterar registos para que estes passem para a opinião pública como versão oficial da história (reescrita da história) promovida pelo partido do Governo e do seu líder de modo a garantir que a instituição esteja sempre certa e a sua narrativa seja a única verdade.
Andreia Sanches num artigo no jornal Público designa como “grotesca, delirante, sinistra, criminosa que são alguns dos adjetivos usados nas análises publicadas nos últimos dois dias, um pouco por todo o mundo”.
Donal Trump, EUA, política, autoritarismo, oligarquia, egomania, Casa Branca, política internacional, democracia, populismo,
tendências autoritárias. Na pior das hipóteses, as palavras e ações dele e dos seus apoiantes são desconcertantes e estão muito perto da espécie mais virulenta e nacionalista do autoritarismo, o fascismo.
A propósito da Convenção da IL que decorreu no fim de semana de 02/25 veio-me à memória a cultura do mérito tão do agrado nas intervenções do partido. Rui Rocha afirmou que “quem tem mérito não entrega a maior parte do seu trabalho ao Estado”, o que pode significar que quem trabalha no Estado não é avaliado pelo seu mérito, ou, na pior das hipóteses não tem mérito.
Em 2023, na Madeira, a Iniciativa Liberal (IL), pela voz da sua ‘número quatro’, Madalena Santos, denunciava ‘a promoção do carreirismo’ na Região, defendendo como alternativa o ‘mérito’ e a ‘capacitação’.
O mérito é uma das palavras que consta em vários pontos do programa do partido embora com diferentes sentidos e contextos, colocando grande ênfase nessa valia. Para a IL o mérito é fundamental numa sociedade para que o esforço individual e a competência sejam recompensados.
Há uma boa dose de utopia nas propostas e no programa do partido IL ao assinalar que “No país que queremos construir, a cultura do mérito derrotará a cultura do compadrio. Qualquer que seja a função, se não forem os melhores a desempenhá-la perdem os próprios, mas perde sobretudo o país.”.
“Os portugueses não podem ser punidos pelo seu mérito, pelo seu sucesso e pelo seu trabalho. Queremos por isso recuperar uma cultura de sucesso - sucesso esse que os portugueses conhecem fora do país, onde são mais produtivos, reconhecidos e recompensados, optando frequentemente por não voltar.”
Vejam-se ainda algumas citações do Programa Eleitoral Legislativas 2024 da Iniciativa Liberal:
“… para tal, será necessário criar carreiras atrativas do ponto de vista da remuneração, do reconhecimento do mérito e da qualidade de serviço, de métodos de avaliação transparentes e contínuos…”
“… deve alterar-se as regras de progressão automática na carreira,
passando a progressão a alicerçar-se em critérios de mérito e qualificação profissional”.
“O recrutamento para a Administração Pública deve basear-se no mérito e na efetiva igualdade de oportunidades, através de uma avaliação que será feita por painel independente da CRESAP, com recurso a profissionais de reconhecido mérito nos diversos sectores”.
Como tem sido defendido pela IL um dos princípios fundamentais do liberalismo é a redução do Estado às suas funções mínimas deixando à iniciativa privada e empresarial muitos dos serviços prestados pelo Estado onde parece a meritocracia não impera.
Na saúde diz querer “promover a liberalização da saúde em Portugal, promovendo um vigoroso mercado que atenda às necessidades dos portugueses”.
Na educação pretende uma “reforma da Educação em Portugal, que passa por mudar o financiamento do Estado para o financiamento do aluno, o que permitirá às famílias poderem matricular os seus filhos nas escolas que quiserem, sejam públicas, privadas ou sociais, sabendo que são igualmente comparticipadas pelo Estado”.
Na Segurança Social “defende uma reforma, sobretudo no que diz respeito ao seu financiamento, que passa por…, acrescentar uma componente de capitalização para aumentar a segurança das pessoas, e desonerar outros instrumentos de poupança. A Iniciativa Liberal entende igualmente que a prestação de assistência social deve… recorrer mais a prestadores privados e sociais”.
Nas Empresas Públicas “defende que o Estado não deve politizar a economia, e não deve interferir, como participante, em mercados competitivos, como são a banca, os transportes, a comunicação social, e tantos outros. O Estado deve sim assegurar a livre iniciativa, mercados abertos e competitivos, as liberdades e direitos dos envolvidos.”.
Na Assistência Social “defende que a assistência social aos mais desprotegidos é uma atividade que deve ser desenvolvida ao nível mais local, e deve envolver entidades privadas e cooperativas…”.
Nesta sequência deduz-se que o mérito será um fator da qualidade daí resultantes e a IL pretende que deixe de ser ao nível do compadrio e se alterem as regras de progressão automática na carreira, passando a progressão a alicerçar-se em critérios de mérito e qualificação profissional.
Deixa transparecer que o preenchimento de lugares no Estado e a admissão e a progressão das carreiras são por “cunha” e por vias em que o mérito não é tomado em consideração.
No entanto, uma análise sobre o que se passa no sistema empresarial privado, o mérito também não é sempre considerado o elemento primordial para a admissão e progressão nas carreiras. Muitas vezes, fatores como conexões pessoais, preferências subjetivas e até preconceitos inconscientes podem influenciar essas decisões. Embora a Iniciativa Liberal defenda firmemente a integração do mérito como a base para o recrutamento e progressão, é reconhecido que a implementação prática desta ideologia enfrenta desafios substanciais. As admissões e progressões nas carreiras estão também muitas vezes subordinadas à vontade dos empresários e ao compadrio. Todavia a proposta da IL é que, em qualquer função, os melhores devem ser escolhidos para desempenhá-la, garantindo assim o progresso e o desenvolvimento do país.
O conceito de mérito é amplo sendo muitas vezes alvo de interpretações variadas e, por isso, pode ser extremamente subjetivo e sujeito a pontos de vista ideológicos. A subjetividade do mérito pode ser também influenciada por vários fatores, incluindo contextos culturais, históricos e sociais. Outra questão é o de como se pode avaliar o mérito.
Avaliar e medir o mérito pessoal e profissional pode ser um processo multifacetado e devem ser considerados alguns aspetos-chave. Além disso, a avaliação do mérito pode estar imbuída de preconceitos inconscientes, influenciando os julgamentos de capacidade e desempenho. Ao avaliar o mérito, surgem perguntas inevitáveis: Quem define o que constitui mérito? Quais são os critérios objetivos e subjetivos utilizados? E como se pode garantir que esses critérios sejam aplicados de forma justa e equitativa?
O conceito de mérito gira em torno da ideia de que os indivíduos devem ser recompensados com base nas suas aptidões, esforços e realizações, e não em fatores arbitrários, como status social, riqueza ou relacionais. A meritocracia, um sistema construído sobre esse princípio, teoricamente visa criar uma sociedade justa, onde oportunidades e recompensas são distribuídas de acordo com o mérito de cada um. Assim, numa meritocracia, aos indivíduos são concedidas posições de poder, influência ou recompensa apenas com base nas suas competências e realizações e não com base na sua origem social, cultural, económica ou características pessoais irrelevantes. Pressupõe a possibilidade de igualdade de oportunidade, isto é, as pessoas devem ser capazes de competir em igualdade de condições por cargos e posições vantajosas.
Num sistema meritocrático, vários elementos-chave de com base no seu desempenho, habilidades e contribuições. Isso requer métodos de avaliação transparentes e imparciais, como testes padronizados, avaliações de desempenho e critérios entram em jogo que são difíceis de implementar para que se evitem os problemas enunciados pelo partido IL, todos eles são falíveis e podem não conduzir à justiça desejável.
É quase impossível praticar a meritocracia quando o tecido empresarial privado é dominante e se requer responsabilidade em todos os níveis, líderes e decisores que devem ser responsabilizados pelas suas ações e decisões, garantir que eles ajam no melhor interesse da comunidade. Não é claro que na complexidade do sistema privado e liberalizado as oportunidades de formação, orientação e desenvolvimento de competências para ajudar os indivíduos a atingir todo o seu potencial possa ir no sentido de contribuir de forma mais eficaz para a sociedade.
Embora o conceito de mérito seja atraente, implementar uma verdadeira meritocracia pode ser um desafio, mas fatores como normas e procedimentos estabelecidos que favorecem certos grupos de pessoas sobre outros, geralmente de forma inconsciente ou implícita. Podem surgir desvios em várias áreas, como emprego, educação, justiça criminal e saúde, e podem perpetuar desigualdades baseadas na raça, género, classe social, orientação sexual, entre outros. Combater esses desvios exige uma revisão crítica e contínua das práticas e políticas existentes para garantir que promovam a justiça e igualdade para todos. Não se vê, portanto, como a IL possa modificar uma estrutura minada pelos desvios para implementar o referido mérito no sistema empresarial privado e público.
Como conclusão, a difusão da mensagem da IL sobre o mérito é de caráter doutrinário, simplesmente partidário e demagógico não tem uma aplicação prática e tão fácil como este partido pretende divulgar.
A comparação entre as políticas de Trump e as do regime nazi de Hitler que levaram à Segunda Guerra Mundial é um tópico sensível, controverso, complexo e sujeito a diferentes interpretações que exige uma análise detalhada e cuidadosa que não cabe neste texto, contudo poderemos fazer só algumas possíveis apreciações, é, por isso, prematuro estabelecer qualquer relação consistente.
O regime nazi, liderado por Hitler, cometeu atrocidades inigualáveis, incluindo o Holocausto, as políticas de Trump, apesar de criticadas por muitos, não alcançam a mesma escala de horror e devastação.
Hitler implementou um regime totalitário que eliminou brutalmente qualquer oposição e perseguiu sistematicamente minorias. A presidência de Donald Trump foi marcada, (durante o seu primeiro mandato, e parece no atual continuar pela mesma via), por polarização e desconfiança significativas, tanto dentro dos Estados Unidos quanto internacionalmente. Trump minou a confiança nas instituições democráticas e durante a sua última campanha eleitoral fomentou uma atmosfera de desconfiança e polarização.
Embora as ações e consequências das políticas de Trump com as de Hitler sejam substancialmente diferentes, as técnicas de manipulação de massas e de propaganda, (hoje mais sofisticadas e eficazes), demonstram alguns paralelismos históricos que não podem ser ignorados para o que alguns fatores contribuíram para essa atmosfera. O uso por Trump de linguagem e retórica divisionista, particularmente nas redes sociais desempenhou um papel significativo na promoção da polarização. Os seus frequentes ataques à comunicação social, os chamados media, a opositores políticos, até mesmo membros da sua própria administração, criaram um ambiente de conflito constante.
Algumas políticas de Trump foram altamente controversas:
A resposta de Trump à pandemia COVID-19 foi, na altura, amplamente criticada por minimizar a gravidade do vírus, promover tratamentos não comprovados e de entrar em conflito com especialistas em saúde pública. Isso levou a uma falta de confiança na forma como o seu governo lidou com a crise.
As repetidas alegações de Trump de fraude eleitoral generalizada nas eleições presidenciais de 2020, apesar da falta de evidências, minaram a confiança no processo eleitoral e contribuíram para o motim do Capitólio em 6 de janeiro.
A abordagem “América Primeiro” de Trump e as suas críticas a alianças e acordos internacionais, como a NATO e o Acordo de Paris, prejudicaram as relações com aliados tradicionais e criaram incerteza no cenário global.
Estes motivos, entre outros, contribuíram para uma atmosfera de desconfiança e polarização durante a anterior presidência de Trump. Veja-se atualmente o que a administração Trump está a fazer com os imigrantes ilegais. Donald Trump, disse na última quarta-feira (26/01/25) que ordenará ao Pentágono e ao Departamento de Segurança Interna que preparem um centro de detenção de imigrantes na Baía de Guantánamo para até 30 mil imigrantes.
É inegável a utilização em ambos de retóricas inflamadas e divisionistas em que se incluem a criação de inimigos comuns, a exploração de medos e ansiedades populares para galvanizar o apoio das suas bases estratagema que Hitler também usou na altura. Em ambos os casos, essa abordagem teve o efeito de intensificar as divisões sociais e políticas dentro dos seus respetivos países evidentes no uso de retóricas que apelam ao nacionalismo e ao sentimento de frustração existente nos seus respetivos países. Hitler subiu ao poder explorando os medos da Alemanha pós-Primeira Guerra Mundial, enquanto Trump ganhou força política ao apelar para uma base de eleitores desiludidos com slogans como “Make America Great Again” e a sua propaganda anti-imigrantes.
Ambos criaram bodes expiatórios para os problemas dos seus países. Hitler culpou judeus, comunistas, ciganos, homossexuais e outras minorias, enquanto Trump tem como alvo os imigrantes, particularmente os mexicanos, e outras minorias étnicas e religiosas. Uma das políticas de Donald Trump foca-se na deportação de imigrantes ilegais e na implementação de medidas rigorosas para controlar a imigração, o que pode ser positivo, o problema está nas formas.
As perseguições e a forma como a administração Trump está a expulsar os imigrantes ilegais conforme prometeu têm também alguma coisa de desumano, ainda que se possa concordar com a decisão para controlar a população imigrante ilegal. Essas ações anti-imigração ilegais geraram medo e ansiedade entre as comunidades de imigrantes nos Estados Unidos. No entanto, repito, comparar essas políticas com o regime nazi pode ser exagero e até problemático, pois o contexto histórico e as intenções por trás das ações são significativamente diferentes. É crucial abordar essas questões com sensibilidade e uma compreensão clara das diferenças históricas e contextuais. É uma perseguição made soft.
Assim como Hitler provocou o enfraquecimento das instituições democráticas e transformou a Alemanha num estado totalitário, Trump ataca a imprensa, desacredita o sistema judicial e questionou os resultados das eleições e terá estimulado o assalto ao Capitólio.
É importante lembrar que, embora as políticas de Trump tenham sido criticadas por serem desumanas e severas elas não se comparam diretamente ao genocídio e às atrocidades cometidas pelos nazis durante a Segunda Guerra Mundial.
Outro aspeto onde poderíamos sugerir haver pontos de contacto com a ideologia nazi é que esta tinha um total desprezo pela ciência e pelas artes. A posição de Donald Trump sobre a ciência tem sido um outro tópico de debate significativo. Durante a sua anterior presidência tomou várias decisões que foram percebidas como desdenhosas do conhecimento e das evidências científicas. Por exemplo, a forma como o seu governo lidou com a pandemia de COVID-19 e suas rejeições públicas de recomendações científicas levantaram preocupações entre a comunidade científica.
Apenas alguns dias se passaram desde que Trump voltou à presidência “as suas ordens executivas e nomeações fornecem pistas iniciais sobre como o segundo governo Trump poderá destruir o notável motor de ciência e tecnologia que impulsionou a economia americana por mais de três quartos de século”, escreve o Scientific American.
O ceticismo de Trump em relação às mudanças climáticas é outro exemplo notável. Ele referiu-se repetidamente às mudanças climáticas como uma “farsa” e retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, que visava combater o aquecimento global. O seu governo também reverteu vários regulamentos ambientais, que muitos cientistas argumentaram serem cruciais para proteger a saúde pública e o meio ambiente.
Essas ações levaram ao sentimento de que como Trump tem desdém pela ciência, particularmente quando as descobertas científicas entram em conflito com seus objetivos e agenda política.
Quanto a medidas expansionistas Donald Trump fez várias declarações controversas sobre adquirir a Gronelândia, tornar o Canadá o 51º estado dos EUA e tomar controle do Canal do Panamá. Ele também mencionou que pretender mudar o nome do Golfo do México para “Golfo da América”. Essas declarações têm gerado preocupações e especulações sobre as suas intenções e o impacto que possa ter nas relações internacionais. Nestes pontos a aproximação é mais com o regime autoritário de Vladimir Putin da Federação Russa.
As comparações que possamos fazer também com o regime autoritário de Vladimir Putin pode ser excessiva, mas ambos os líderes têm mostrado tendências expansionistas e uma abordagem agressiva nas políticas externas. Poderemos considerar, se quisermos ser otimistas, que as declarações de Trump muitas vezes são vistas como táticas de negociação ou estratégias para ganhar influência, enquanto as ações de Putin têm sido mais diretas e militarizadas. Será que poderemos ficar tranquilos quanto a possíveis ulteriores?
O jornal Público publica hoje extratos de uma entrevista do jornalista russo Pavel Zarubin, que publicou no seu canal de Telegram excertos de uma entrevista que vai ser transmitida este domingo à noite na televisão estatal russa. Ainda nessa entrevista, conforme o Público, Vladimir Putin, Presidente da Federação Russa, afirmou que “o seu homólogo norte-americano, Donald Trump, vai «restabelecer» a ordem no mundo de forma rápida e vai conseguir subjugar facilmente as «elites europeias» que, refere líder russo e segundo o mesmo diário, “tentaram boicotar «ativamente» o seu regresso à Casa Branca”. Tece ainda elogios a Trump dizendo que “os líderes europeus vão acabar por «abanar a cauda» e obedecer a Trump com o seu carácter e a sua perseverança, Trump restabelecerá rapidamente a ordem. Em breve, todos se colocarão ficarão do lado do mestre a abanar a cauda carinhosamente”.