Aqui vocês, podem encontrar de tudo um pouco: sociedade, ambiente, comunicação, crítica, crónicas, opinião, política e até gastronomia, com apoio de fontes fidedignas.
Resolvi retirar do Instagram um pequeno texto satírico sobre a moda dos cavanhaques por ter havido quem tomasse isso como ofensa pessoal e intolerante e até o pessoalizasse. Tomar como particular e pessoal aquilo que foi dito como uma análise geral e transitório parece-me ser um equívoco com espetro de dissonância cognitiva.
Parece haver pessoas, poucas, que, em nome da tolerância, demonstram incrível intolerância com os pontos de vista de que divergem. Esta “nova” tolerância representa uma forma peculiar de intolerância.
O “tolerante” deve tomar qualquer opinião como verdadeira, salvo contrário. Não se trata apenas de aceitar ou acatar a liberdade de expressão de opiniões contrárias, ele deve respeitar todas essas opiniões.
A tolerância dos “tolerantes” é bem seletiva e limitada, na prática pois que demonizam todos os outros mais ou menos conservadores, mais ou menos ricos, mais ou menos religiosos, mais ou menos liberais ou neoliberais, mais ou menos discordantes de alguma coisa e, mesmo assim conseguem mostrar-se defensores da diversidade e da tolerância.
Onde está a verdadeira intolerância? Quando todos somos obrigados a aceitar novas modas, todos sermos obrigados a aceitar novos estilo, todos sermos obrigados a achar “lindo” tudo aquilo que os tolerantes acham deve ser lindo e obrigam os outros a aceitar que é lindo? Quem é contra são todos “velhos do Restelo”. Se fosse para usar o conceito tradicional de tolerância, esses que não gostam ou sentem aversão, fobia ou não gostam de algo teriam, sem dúvida, que aceitá-lo e manter o devido respeito. Isso parece-me ser intolerância.
Quem se coloca contra todo o tipo de discriminação ou preconceito é, no fundo, hipócrita. Bastaria uma reflexão rápida e honesta para constatar que esses também discriminam e tem a sua parcela de preconceitos.
Tolerância ilimitada levará ao desaparecimento da tolerância.
Em outubro de 2023 publiquei noutro blogue estes dois textos. Faz agora 1003 dias do inícios da invasão da Ucrânia resolvi, por isso, voltar a publicá-los novamente, mas agora aqui neste blogue.
A invasão da Ucrânia de Trump a Putin I
A invasão da Ucrânia de Trump a Putin: contributos para uma teoria da conspiração
Curioso é analisarmos que Joe Biden tomou posse como Presidente dos EUA em 20 de janeiro de 2021. Cerca de um ano e um mês depois de Trump ter saído da cena da presidência Putin invade a Ucrânia. Isto diz-nos alguma coisa
Introdução.
As circunstâncias criadas pelos atores da política internacional levam-nos por vezes a aventurar-nos em terrenos imprevisíveis da paisagem política em permanente mudança de velocidade e de factos. Ao tentarmos fazer uma interpretação política de factos políticos sem sermos especialistas, vemos que há acontecimentos comprovados que nos levam a estabelecer interpretações e paralelismos por vezes arrojados.
Em política, interpretações e paralelismos não são isentos de ideologias que determinam o contexto do exercício do poder e as abordagens socioeconómicas que fazem parte de ideias e de interesses que ajudam a compreender a criatividade estratégica das ações e, muitas vezes, as obsessões dos atores políticos.
As intenções do Presidente Vladimir Putin em relação à invasão da Ucrânia estão naquele âmbito, já que as suas potenciais intenções/obsessões, se forem concretizadas, não ficarão no domínio do impossível, o avanço pelos países limítrofes, a começar pela Polónia, poderão ser inevitáveis.
A queda da URSS e a dissolução do Pacto de Varsóvia em 1 de julho de 1991, acordo militar firmado em 14 de maio de 1955, estabelecia uma aliança entre os países socialistas do leste europeu e pôs fim à aliança militar de que faziam parte a Hungria, Roménia, Alemanha Oriental, Albânia, Bulgária, Checoslováquia e Polónia e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
O fim daquele acordo resultou num abrandamento das precauções pelo ocidente, União Europeia e EUA, e a entrada uma espécie de torpor da NATO. Oito anos passados, de 1999 em diante, é que novos países passaram a fazer parte daquela organização alguns deles República Checa (1999), Hungria (1999), Polónia (1999), Bulgária (2004), Eslováquia (2004), Eslovénia (2004),, Estónia (2004) Letónia (2004), Lituânia (2004,) Roménia (2004), Albânia (2009), Croácia (2009), Montenegro (2017), Macedónia do Norte (2020).
No poder da Federação Russa Vladimir Putin é um produto da sociedade da ex-URSS e, como tal, foi “formatado” nesse regime. Porém, tendo em vista que a queda do regime possibilitou a apropriação das riquezas das empresas estatais entretanto privatizadas, e que Putin e outros atuais oligarcas não ficaram “distraídos”, talvez um regresso exatamente ao antigo regime possa não lhe interessar, mas em termos de política os métodos totalitários de governação poderão ser os mesmos.
O embate ideológico entre o capitalismo ocidental e o imperialismo soviético, génese da Guerra Fria antes do seu desmembramento, parece ter renascido com o imperialismo russo renovado, que, afinal, esteve apenas latente. Contudo, o que para aqui interessa não é o embate ideológico entre o capitalismo ocidental e o antigo regime soviético, é o confronto provocado por razões menos ideológicas e mais de domínio geoestratégico. Antes, durante e depois da presidência de Donald Trump parece existir uma teoria da conspiração em que dois implicados estarão envolvidos.
As teorias da conspiração são uma explicação de um evento ou situação que invoca uma conspiração de atores com poder, políticos com motivações pessoais e hegemónicas que se apresentam como prováveis.
O ocidente, nomeadamente a U.E. e, sobretudo, os EUA, têm sido acusados de imperialistas por forças da esquerda radical e por apoiantes das políticas de Vladimir Putin. O conceito de imperialismo que aqui referimos consiste numa expansão violenta da área territorial da influência ou poder direto por parte dos Estados ou de sistemas políticos análogos e também formas de exploração económica em prejuízo de outros Estados ou povos (neste caso próximo do colonialismo). O conceito mais atual define que o imperialismo não é mais do que um resultado inevitável da tentativa de países ricos em manterem as suas posições de poder no equilíbrio geoestratégico e económico do mundo.
O imperialismo é também, segundo afirmam alguns líderes, um meio para libertar os povos do domínio tirânico ou de lhes trazer segurança, a que se junta o impulso pelo poder e prestígio com a criação no povo de emoções nacionalistas, como tem sido o imperialismo de Putin.
Durante o período da União Soviética (ex-URSS) e quando da invasão da antiga Checoslováquia (hoje República Checa e República Eslovaca) tornou-se mais difícil, mesmo para marxistas não dependentes da ideologia oficial do regime soviético, negar a existência de aspetos imperialistas na política externa da então URSS, quer sob o aspeto da imposição pela força da sua vontade aos Estados satélites, quer sob o da sua exploração económica. Se a URSS não tivesse desabado e autodestruído não saberíamos em que ponto se encontraria hoje o seu imperialismo e o estado da Guerra Fria.
A invasão da Ucrânia trouxe para a luz dos ecrãs de televisão, nomeadamente em Portugal, comentadores e outros que se encontravam no anonimato e que surgem a convite dos canais que tentam impor-nos com argumentos falaciosos e adulterados os seus desvarios, quer os que defendem doentiamente Putin e são anti ocidente, quer os que defendem veementemente o ocidente e a sua prevenção defensiva contra o imperialismo russo.
A Ucrânia é um país cujas fronteiras foram reconhecidas por Moscovo aquando do colapso da União Soviética e é por isso que os seus aliados ocidentais afirmam que Putin não tem justificação para o que diz ser uma apropriação de terras que lhe pertencia ao velho estilo imperial. O conflito na Ucrânia começou em 2014 após o então Presidente ucraniano pró-russo ter sido derrubado com a Revolução Maidan e a Rússia ter anexado a Crimeia. A luta foi desencadeada entre as forças apoiadas pela Rússia e os soldados ucranianos no leste da Ucrânia
Os que na atualidade apresentam argumentos, alguns do tempo da Guerra Fria, contra o ocidente e a NATO estão, de algum modo, a colocar-se ao lado da política de Putin em relação à Ucrânia mesmo que o neguem e que ao mesmo tempo reclamam pela paz e pelo fim da guerra. Mas, mais do que isso, estão, ao mesmo tempo, a concordar com os pontos de vista que Donald Trump tem mostrado.
Curioso é analisarmos que Joe Biden tomou posse como Presidente dos EUA em 20 de janeiro de 2021. Cerca de um ano e um mês depois de Trump ter saído da cena da presidência, Putin invade a Ucrânia. Isto pode querer dizer alguma coisa e pode até conduzir a uma teoria da conspiração sobre dois relevantes atores da política internacional mostrados pelas atuações e declarações que se vêm ajustando desde há uma década atrás.
Vladimir Putin o primeiro ator da conspiração
O filme Katyn do realizador polaco Andrzej Wajda, proposto para os Óscares de 2008, motivou-me para a escrita deste texto. Neste filme que deve ser visto ou revisto a cena mais impressionante passa-se em 17 de setembro de 1939, dia da invasão soviética da Polónia que os alemães já tinham também invadido duas semanas e meia antes.
A cena passa-se numa ponte, que é uma representação visual do que aconteceu em 1939 em todo o país, quando a Polónia foi apanhada entre dois exércitos invasores, o alemão e o soviético, cujos ditadores haviam concordado em conjunto eliminar a Polónia do mapa.
Na cena de abertura do filme uma multidão de pessoas ansiosas e desesperadas, umas a pé, outras de bicicleta, levando cavalos, carregando caixas, caminha por uma ponte. Para sua surpresa veem outro grupo de pessoas ansiosas e desesperadas vindo na sua direção, mas a caminhar na direção oposta. “Gente, o que estão a fazer?”, grita um homem. O diálogo é mais ou menos este: “Voltem! Os alemães vêm atrás de nós!”. Mas do outro lado, outra pessoa grita: “Os soviéticos atacaram-nos!”, mas ambos os lados continuam o seu caminho, seguindo a confusão geral. Um grande número de soldados polacos, (que também são pais, maridos e irmãos) cai nas mãos das tropas soviéticas e mais tarde tornam-se brutalmente vítimas do estalinismo.
A invasão da Ucrânia tem suscitado publicações de vários “posts” nas redes sociais e noutros locais textos em que se fazem analogias com as invasões e ocupações desencadeadas por Hitler, mas poucas têm sido feitas sobre Estaline.
Ao mesmo tempo que a agressão do presidente russo Vladimir Putin avança na Ucrânia e o seu regime limita com dureza a oposição interna, a alegação de que a Rússia está a voltar ao estalinismo encontra-se, quase diariamente, nos órgãos de comunicação tanto na Europa como nos Estados Unidos.
Para melhor compreensão da leitura deste rascunho e porque a informação factual tem que ser analisada e contextualizada, uma breve incursão ao passado no tempo da II Guerra poderá ser útil.
Reportemo-nos como exemplo a um caso do passado, agosto de 1939, quando a Rússia e a Alemanha assinaram um tratado de não-agressão (pacto Molotov-Ribbentrop - Ministros das Relações Exteriores) em que a Alemanha e a União Soviética concordaram em concluir um pacto de não-agressão. Um protocolo secreto deste tratado foi encontrado nos arquivos nazis no pós-guerra, embora a União Soviética o tenha negado durante décadas que ele tenha existido.
Vladimir Putin quando se refere às comemorações do “Dia da Vitória”, a que chama data que marca o triunfo dos soviéticos em 1945 sobre a Alemanha nazi, omite, por conveniência, que Hitler e Estaline estabeleceram e assinaram em 1939, um pacto de não agressão em que se comprometiam a não se atacar uma à outra e a manterem-se neutras se uma delas fosse atacada por uma terceira potência.
Mas o que Hitler e Estaline pretendiam não era apenas um compromisso de não apoiar os inimigos um do outro, havia um protocolo com pontos não divulgados em que os dois ditadores combinaram uma divisão da Polónia e da Finlândia, e os países bálticos, Lituânia, Letónia e Estónia. Todos estes passaram a integrar a URSS - União das Repúblicas Socialistas Soviéticas de 1940 a 1991 data em que conquistaram as suas independências assim como uma região entre a Moldávia e a Roménia que foram prometidos à União Soviética. Assim, o chamado Pacto Hitler-Estaline não consistia apenas na parte formal e oficial em que os dois ditadores acordaram, tinha outros acordos não divulgados.
Os ditadores são por norma falsos não apenas para com os seus povos, mas também entre eles. Assim, da parte de Adolfo Hitler, o pacto não foi mais do que o propósito de ganhar tempo para os seus planos de guerra e, no final de 1940, avançou com a campanha contra a União Soviética e a 22 de junho de 1941 as tropas nazis atacaram de surpresa o território soviético.
O pacto entre os dois ditadores sanguinários de regimes completamente antagónicos possibilitava aos dois a conquista de territórios e a execução de políticas totalitárias é uma nódoa na história donde se depreende que a traição e a mentira são umas das suas características.
Em pleno século XXI Vladimir Putin talvez inspirado pelos dois mais cruéis ditadores do século XX viola a paz na Europa seguindo estratégias idênticas às de Hitler em relação à política externa e de Estaline na política interna. Putin aproxima-se cada vez mais dum regime próximo do estalinismo, de um regime político totalitário-autocrático e oligárquico cujas principais características são o nacionalismo, a centralização política, o militarismo e a censura dos meios de comunicação.
Sabemos da propensão que os ditadores têm para sujeitar os órgãos de comunicação a censuras, proibição de publicações e para limitar ou perseguir o livre exercício do jornalismo, que é devido ao facto de poderem ficar livres para ocultar a verdade e divulgar as suas mentiras e notícias falsas através de canais informativos leais que controlam e cuja informação, diria antes desinformação, fazem propagar no interior e para o exterior.
Os discursos de Vladimir Putin e as suas intervenções não escondem o objetivo da sua política internacional para reconquista das antigas zonas de influência que a ex-União Soviética perdeu depois da Guerra Fria. É toda uma política revisionista, uma tentativa de regresso ao passado e cujo pensamento da política interna vai-se aproximando de uma espécie de antigo regime soviético modernizado.
Numa situação de conflito armado e para a sua explicação e concretização, cada lado fabrica as mentiras adequadas aos seus intentos, criando bodes expiatórios. Recorde-se como foi o caso com Hitler com os judeus na Alemanha e de Estaline que, após ter assumido plenos poderes, não hesitou em ordenar a execução de milhares dos seus antigos companheiros e também da elite intelectual judaica do país. Para ambos os ditadores era sobre esses que lançavam a causa de todos os males numa espécie de culpa coletiva.
As operações chamadas “bandeira falsa” que usam artimanhas e mentiras com o objetivo de proceder ao envolvimento de falsos soldados do lado oposto, que vestem uniformes do agredido, que lançam ataques orquestrados a instalações ou civis convocando posteriormente órgãos de comunicação para mostrarem edifícios destruídos e cadáveres que, na verdade, pertencem a prisioneiros, assassinados especialmente para a ocasião. Este tipo de “crime”, juntamente com alguns outros “ataques”, que compõem a desculpa formal para invasões foi o que serviu a Hitler como desculpa formal para a invasão da Polónia. Um dos exemplos foi o da propagada nazi que fez passar a informação de que a Alemanha estava sob ataque criando uma perceção de medo nos cidadãos alemães de um ataque polaco contra a Alemanha. Na realidade, os nazis encenaram o incidente para criar uma campanha de propaganda que favoreceria um ataque alemão contra a Polónia (foi a montagem de uma operação do tipo bandeira falsa).
A propaganda nazi de Hitler descreveu a invasão da Polónia como um conflito defensivo travado pela “libertação” da zona habitada principalmente por alemães étnicos de minoria alemã no oeste da Polónia, Cidade Livre de Gdansk/Danzig. Antes da invasão a Alemanha organizou algumas provocações cujo objetivo era justificar a invasão. No dia 1 de setembro de 1939 a Alemanha invadiu a Polónia. Para o justificar a propaganda nazi alegou falsamente que a Polónia planeava com os seus aliados cercar a Alemanha, e que os polacos perseguiam pessoas de etnia alemã no seu país. Foi então forjado, em conluio com os militares alemães, um falso ataque polaco a uma estação de rádio alemã. Hitler utilizou esta pretensa ação para lançar uma campanha de “retaliação” contra a Polónia.
A 17 de setembro de 1939 os soviéticos avançaram sobre a Polónia alegando que era “uma campanha de libertação”, e que Moscovo não podia permitir que a Polónia caísse completamente nas mãos dos nazis, o que os factos do protocolo secretos atrás referido que também pode ver aqui desmentem.
Sem declaração de guerra a Polónia foi ocupada pelo exército de invasão alemã. A invasão soviética da Polónia nunca foi reconhecida como sendo uma invasão. Para a União Soviética a mensagem que passava e a retórica oficial era a do costume e que Putin reproduziu para a invasão da Ucrânia. Na altura era o Exército Vermelho que estendia a mão da assistência fraternalaos trabalhadores da Ucrânia Ocidental e da Bielorrússia Ocidental libertando-os para sempre da escravidão social e nacional, diziam, agora é Putin que diz querer libertar a Ucrânia dos nazis. A União Soviética nunca admitiu ter conquistado ou anexado o território polaco: estas terras permaneceram parte da URSS após a guerra e ainda fazem parte da atual Bielorrússia e a Ucrânia hoje, depois da Segunda Guerra Mundial, foi internacionalmente reconhecida como estado independente com os seus próprios direitos. A República Socialista Soviética de Ucrânia foi dos 50 estados fundadores da ONU - Organização das Nações Unidas que aderiu em junho 1945 no final da Segunda Guerra Mundial. O nome atual do estado sucessor é Ucrânia.
O derrube da União Soviética que trouxe também a esperança do fim da Guerra Fria não foi olhado por todos da mesma forma, para uns terá sido uma catástrofe, como Putin afirmou recentemente, para outros traria a Rússia para o lado do “bem”, do Ocidente.
Durante a Guerra Fria olhava-se para a política como uma disputa pelo poder, e para a geopolítica como a disputa entre os Estados mais poderosos a competirem pela supremacia global. A Guerra Fria era um confronto entre a URSS e EUA, entre Washington e Moscovo/Kremlin, como os comentadores lhe costumam chamar. No entanto, a Guerra Fria também se disputou no campo de batalha das crenças, nos valores e direitos humanos universais em que o Ocidente acreditava e acredita. Faz sentido afirmar que o foi também ideologicamente entre o liberalismo económico e os radicais do pensamento marxista-leninista.
Olhando hoje para o que se passa na Rússia de Putin é fácil estabelecer uma analogia entre a invasão da Ucrânia e o que se passou no passado com a Polónia porque, segundo ele, é também para libertar o povo ucraniano dos nazis. A perceção que se tem é que Putin parece ter mimetizado a invasão alemã da Polónia, uma espécie de cartilha de Hitler quando pretendia travar uma guerra o que se tornaria na estratégia “blitzkrieg” (Guerra relâmpago, com exército e bombardeamentos contra a defesa do oponente e cercar as suas forças). Talvez, por isso, Putin tenha insistido naquilo ao que chamou “operação militar especial”.
É estranha a obsessão de Vladimir Putin com a justificação da sua guerra de agressão com a “desnazificação” da Ucrânia como ele propagandeia. Segundo o jornal Der Spiegel (maio de 2022), inúmeros neonazis estão a combater pela Rússia na Ucrânia e um documento interno do BND (serviço de inteligência exterior da Alemanha) revela agora que as tropas de Moscovo estão a ser apoiadas por grupos extremistas de direita. A propaganda oficial do Kremlin afirma que quer combater os neonazis da Ucrânia, o facto é que, também entre as tropas da Rússia, há militantes do neonazismo e da extrema-direita.
Centremo-nos agora há dois anos atrás, setembro de 2020, quando o Parlamento Europeu aprovou uma resolução que condenou e colocou em pé de igualdade os dois totalitarismos, Hitler na Alemanha e Estaline na URSS, por terem cometido “genocídios e deportações” e perseguições políticas e destruído grande parte da Europa no século XX.
À semelhança de Hitler que pretendia vingar a humilhação da derrota sofrida na I Guerra Mundial e ancorado na crença de uma suposta superioridade da raça ariana e também criando um crescente clima de ódio contra os judeus, que dizia serem inimigos do povo alemão e a outros falsos pretextos, desencadeou violentas invasões a países soberanos europeus, Putin também forjou os seus fundamentos e pretextos para justificar os ataques a um país soberano.
Putin, no início da segunda década do século XXI, utiliza como justificação para ocupar a Ucrânia, a desnazificação, a que agora chama desucranização, e outras expressões que lhe sirvam para os seus objetivos de propaganda. Estas são as causas próximas que Putin forjou para justificar a invasão, mas há causas anteriores de raiz ideológica e filosófica que o inspiraram para além das desvairadas comparações que faz de si próprio com o czar Pedro, o Grande, recordando a Grande Guerra do Norte e as batalhas de Pedro contra os suecos.
Tornar a Rússia grande novamente tornou-se numa nova crença ideologica para Putin. Ele ganhou um quarto mandato em 2018 e logo a propaganda do Kremlin começou a espalhar a ideia de que Putin é o único que pode restaurar a grandeza da antiga Rússia e de que ele é o líder histórico capaz de se unir a fervorosos defensores da primitiva União Soviética, os quais ainda se reveem nesse período. A tomada de posse de Vladimir Putin no Kremlin aconteceu dois dias depois da polícia ter reprimido manifestantes que saíram às ruas para gritar “Putin não é o nosso czar”. Cerca de mil manifestantes foram detidos, entre eles o atual líder mais conhecido da oposição russa, Alexei Navalny que sofreu uma tentativa de assassinato.
Pensar como Putin. O discurso do ódio
O discurso de ódio não é recente nem nasceu com as redes sociais, embora estas o tenham potenciado. Neste contexto o conceito de discurso de ódio que adotei é o de Parekh (2012) que é tudo quanto “expressa, encoraja, atiça ou incita ódio contra um grupo de indivíduos distinguidos por uma característica particular ou conjunto de características como raça, etnia, género, religião, nacionalidade e orientação sexual, utilizando frequentemente uma linguagem ofensiva, raivosa, abusiva e insultuosa”. Outros autores acrescentam que também existe discurso de ódio quando se pretende desumanizar, assediar, intimidar, rebaixar, degradar, vitimizar ou incitar a brutalidade contra grupos-alvo. Este tipo de discurso agravou-se com a utilização online sobretudo nas redes sociais onde é instantâneo, rapidamente disperso e muitas vezes anónimo.
O discurso de ódio tem as suas propriedades como a quem se dirige, o que comunica e por onde se difunde. Assim, as pessoas ou grupos são atingidas pelo que são, e não pelo que pensam. Durante o nazismo foi esta forma de pensamento que levou os judeus a serem sujeitos a perseguições, indiferentemente do que pensavam politicamente, a que se associavam discursos de incitação à violência política. Há porém uma diferença entre os discursos de ódio e aqueles que se baseiam em antagonismo, ou seja, em posições político-partidárias.
A incitação à violência política tem origem em disposições no cenário político, os discursos de ódio têm origem na discriminação sistemática. A troca de ideias passa então a ser marcada pela grosseria política, ou seja, insultos, ameaças, etc. (ver em Stryker, 2016).
Como vários autores têm observado o discurso de ódio também é empregue para perseguir, insultar e justificar a privação dos direitos humanos podendo, em casos extremos, conduzir a homicídios e genocídios cujos exemplos mais conhecidos foram o holocausto na Alemanha nazi; o ditador Estaline quando exigiu que alemães que morassem em territórios na altura recém dominados pela União Soviética (antes controlados por Hitler) voltassem para seu país de origem e em que no trajeto, famílias inteiras foram agredidas ou assassinadas; quando em 1971 a parte leste do Paquistão entrou em guerra para se tornar um Estado independente, Bangladesh, o governo paquistanês reagiu de modo radical, matando separatistas e seguidores; quando Estaline o tirano russo adotou técnicas variadas para perseguir rivais políticos entre 1932 e 1933 forçou a Ucrânia e o Cazaquistão a exportar todos os seus alimentos, matando os nativos de fome.
Os atributos de Hitler e de outros ditadores estão a ressurgir numa extrema-direita renovada, nacionalista, autoritária, autocrática que aproveita as redes sociais e os meios da internet que os seus congéneres do passado não tinham para difusão das suas ideias.
Em julho de 2021 Putin assinou e fez publicar no site oficial do Kremlin o artigo “Sobre a unidade histórica dos russos e ucranianos“. Neste artigo Putin tenta escrever uma “nova história” dizendo que grande parte da Ucrânia é roubada da terra da “Rússia Histórica”, que a nação ucraniana é uma ideia artificial e os ucranianos são basicamente russos de lavagem cerebral porque a Ucrânia é liderada por “radicais e neonazis” que são “instrumentos” do Ocidente, EUA, NATO e EU.
As palavras de ordem “nazi” e “neonazi” aparecem em cinco partes diferentes do texto de Putin com o objetivo de fazer reviver com uma única palavra, todo o mal que essa palavra comporta numa tentativa de desumanizar os ucranianos desde a revolução de Maidan em 2013.
O artigo de Putin antes da invasão da Ucrânia foi uma espécie de discurso à nação e foi distribuído aos soldados do exército russo no que pareceu ser uma versão moderna da “educação” política dos soldados semelhante à do antigo exército soviético. Estratégia que Estaline também adotava.
Já no decorrer da guerra em junho do corrente ano Dmitry Medvedev presidente russo entre 2008 e 2012, primeiro-ministro em 2012, e, atualmente, vice-presidente do Conselho de Segurança russo, escreveu no Telegram uma mensagem onde disse sobre os ucranianos que: “Eles são bastardos que querem a morte para a Rússia. Eu odeio-os e farei de tudo para fazê-los desaparecer”, repetindo o que o ideólogo Aleksandr Dugin disse em 2015, como adiante irei referir.
Palavras de ódio dirigidas a uma nação, tal como Hitler fez com os judeus, Medvedev utiliza palavras como “desaparecer / deixar de existir / odiá-los”, é uma grande luz verde para os soldados irem em frente com toda e qualquer ação que possamos imaginar.
Ou seja, é o discurso de ódio onde se exige a destruição e liquidação de todos os “nazis” que, para ele, são todos os ucranianos, pelo que reclama uma supressão massiva e imediata de todo esse povo. Além da censura a qualquer voz ucraniana, e da introdução das leis e da cultura russas, o objetivo é proibir até mesmo o nome Ucrânia e o próprio termo ucraniano. Tudo indicando o objetivo de fazer desaparecer a Ucrânia como nunca tivesse existido.
Ao tentar perceber e conhecer o pensamento de Vladimir Putin deparei-me com o seu interesse por autores que o influenciaram, essencialmente Alexander Dungin e o seu livro “The Fourth Political Theory”.
Para Dugin os sistemas políticos têm sido produto de três ideologias, sendo a mais antiga a democracia liberal, seguida do marxismo e o terceiro o fascismo tendo estes dois últimos falhado. O primeiro que ele diz não ter resultado, mas que tem sido aceite como sendo o mais correto. Dugin afirma que “Hoje omundo encontra-se à beira de uma realidade pós-política em que os valores do liberalismo estão tão profundamente incorporados que a pessoa comum não está ciente de que ao seu redor há uma ideologia em jogo”(The Fourth Political Theory, cap.1- The Three Main Ideologies and their Fate in the Twentieth Centuty, pp. 15-16).
Na perspetiva de extrema-direita iliberal de Aleksandr Dugin o liberalismo monopoliza o discurso político mergulha o mundo numa espécie de pensamento, sempre do mesmo tipo, mesmo para situações distintas, destruindo singularidades e tudo o que torna as várias culturas e povos únicos. Isto é, este discurso político pretende impor-se em todo o lado.
Todavia, para o ideólogo de Putin, Alexander Dugin, que comentadores do ocidente designam como uma espécie de Rasputin de Putin, há muito tempo que os russos são um “povo imperial”, e podem liderar um “império mundial”. Curioso como ao mesmo tempo acusam os EUA e o Ocidente de imperialistas.
A ideia de Putin parece ser a da substituição de um imperialismo por outro, esse outro que terminaria com a democracia e com o liberalismo para os substituir por um despotismo com mando absoluto e arbitrário como o que ele está a impor aos russos. A leitura analítica dos discursos políticos de Putin conduz-nos à perceção de que não pretende substituir a pertença unicidade de pensamento de que acusa o Ocidente, mas à pretensão de que o Mundo deve passar a aceitar o seu pensamento como único.
Os discursos de Putin revelam uma aproximação ao radicalismo que Alexander Dugin defende no seu livro onde argumenta que a Rússia deve retornar ao seu antigo poder e garantir que o “atlântico” (valores ocidentais que incluem o liberalismo, os mercados livres e a democracia representados pelos EUA e pela Europa Ocidental), perca a sua influência sobre o que ele denomina por “Eurásia” territórios outrora governados, pela União Soviética, que precisa defender uma hierarquia, tradição e uma estrutura jurídica estrita. Isto é, instituir uma ditadura fascista de cariz totalitário para toda a Europa.
Porém, Putin parece ter-se ainda estará inspirado num outro livro do mesmo autor para tomar a decisão de invadir a Ucrânia que se supõe ser Foundations of Geopolitics.
Nas pesquisas efetuadas encontrei um artigo de Marlène Laruelle, especialista em estudos europeus e russos, onde caracteriza Dugin como um ideólogo tradicionalista, fascista e antissemita. No campo geopolítico é um ultranacionalista russo agressivo. Num canal do Youtube Alexander Dugin em 2015(?) incentivou ao ódio numa mensagem que incluía afirmações como “Os ucranianos precisam de ser mortos, mortos e mortos, estou a dizer-lhes isto como professor“ canal bloqueado pela empresa detentora. A dúvida é saber quantas das suas estratégias anteriores e estratagemas destrutivos se concretizaram por parte do Governo do Kremlin. Em abril de 2014 Dugin, num programa de televisão do jornalista Vladimir Posner, argumentou provocatoriamente que a Rússia deveria reconstruir os seus stocks de armas nucleares.
Em março de 2022 Jaweed Kaleem, correspondente do Los Angeles Times, escreveu que Putin ao “justificar a guerra que lançou no final de fevereiro, culpando o “Ocidente decadente” por tentar eliminar a identidade, fronteiras e segurança russas, lançou a ideia-chave do eurosianismo, uma teoria política do século XX que os seguidores modernos descrevem com argumentos de que a Rússia não faz parte da Europa nem da Ásia e que é inimiga do mundo “Atlântico” liderado pelos EUA”, pressupostos estes que são os de Alexander Dugin.
O grande objetivo de Putin seria a deposição de Zelensky para colocar no seu lugar uma figura de presidente fantoche da sua confiança, um governo pró-Moscovo em Kiev, como sucede na Bielorrússia, que renunciasse à militarização, reconhecesse a Crimeia como russa e alterasse a Constituição para voltar atrás na adesão à NATO e à U.E., concretização que para Putin seria um sucesso político inegável.
Nesta linha da propaganda que é a pretensão de fazer uma Rússia grande realizou-se no dia 7 de junho de 2022 uma reunião com a presença do Presidente do Estado da Duma Viacheslava Volodina com uma delegação do Conselho Popular da DPR- República Popular de Donetsk chefiada pelo seu presidente Vladimir Bidevka onde este afirmou que “Tenho a certeza de que definitivamente estaremos em casa, como parte de uma grande Rússia: a gloriosa Rússia, a grande Rússia! E tenho a certeza de que aqui todos devemos trabalhar em benefício deste objetivo - em benefício da Rússia - e nos concentrarmos hoje em volta do seu líder Vladimir Putin”.
De acordo com um relato do New York Times baseado em entrevistas com aqueles que recentemente interagiram com Putin, dizem que "perdeu completamente o interesse no presente" e passa grande parte deste tempo debruçado sobre a história russa com seus confidentes mais próximos. Os líderes estrangeiros visitantes são frequentemente tratados com extenso palavreado sobre a história russa.
Como se sabe, Vladimir Putin está no controle da Rússia desde 1999 e em 2020 mexeu os cordelinhos internos para se manter no poder após 2036 fazendo mudanças para garantir que o cargo que ocupa mantenha e aumente mais o seu poder. Em janeiro de 2020 num discurso presidencial, Putin propôs casualmente mudanças constitucionais para aumentar a “independência e responsabilidade do primeiro-ministro“. Todavia não ficou claro quando as mudanças poderiam ser realizadas ou quando poderiam entrar em vigor.
No seu discurso anual de estado da nação Putin queria que a Duma, câmara baixa do parlamento da Rússia, tivesse o poder de escolher o primeiro-ministro. Em março de 2021 essa mesma Duma introduziu uma legislação que permitisse a Putin concorrer a mais dois mandatos presidenciais de seis anos, mas, para isso, teve que colocar o país sob uma ditadura despótica. O argumento era que “Aumentaria o papel e a importância do parlamento do país e a independência e responsabilidade do primeiro-ministro”, justificava Putin.
A estratégia seria planear antecipadamente uma “jogada” de longo prazo que procuraria o enfraquecimento dos laços dos EUA com a Europa, o desagregar da União Europeia e, por consequência, desfazer a NATO para o que, como se verá adiante, Donald Trump estava também a contribuir.
Putin, ao agir para resolver problemas isoladamente, pretende preservar a posição da Rússia como uma potência hegemónica no cenário mundial. Aliás, os comentadores pró Putin que em Portugal publicam nas redes sociais e nos media textos anti ocidente (EUA, NATO e U.E.), defendem a tese de um Mundo multipolar, quando não apenas da Rússia, e não apenas a supremacia dos EUA, mas no substrato encontra-se preferencialmente a hegemonia da Rússia.
Esta estratégia foi também mencionada por Dugin no livro Foundations of Geopolitics: The Geopolitical Future of Russia, (1997) onde assinala as estratégias dos adversários da Rússia, elabora a sua própria e fornece passos ousados para recuperar a posição de domínio da Rússia perdida no final da Guerra Fria. As recomendações mais enérgicas incluem a invasão da Geórgia, a anexação da Ucrânia, a separação da Grã-Bretanha do resto da Europa, e a disseminação de sementes divisionistas nos Estados Unidos. Cada uma delas é-nos bastante familiar. Nos EUA encontramos a estratégia divisionista de Trump que iremos ver adiante.
O apoio às extremas-direita na Europa não terá estado fora da eventual ligação ideológica Putin-Dugin. Especialistas do ocidente consideram que Putin, talvez por inspiração de Dugin, tem ligação aos movimentos europeus de extrema-direita e aos partidos populistas em ascensão nos países da Europa e, provavelmente, também no EUA.
Como se tem confirmado as proclamações de Putin são a evidência das suas contradições e negações. A negação e a mentira são dois atributos de Putin na sua política interna e externa. Ele olha para os movimentos populistas, partidos de extrema-direita e partidos nacionalistas a primeira expressão concreta da chamada Quarta Teoria Política, como a descreveu Dugin em 2018, como sendo a realização do seu programa político. Por outro lado, ataca a Ucrânia por ser nacionalista e diz pretender “desucranizá-la”. Os partidos elogiados são o partido italiano de extrema-direita Liga (Liga do Norte), liderado por Matteo Salvini e o Movimento 5 Estrelas, movimento populista fundado em 2009.
O governo italiano confirmava em 2018 que era a primeira expressão concreta da chamada Quarta Teoria Política de Dugin e a realização do programa político deste autor. “A união entre Lega - Liga do Norte e o Movimento Cinco Estrelas é o primeiro passo histórico para a afirmação irreversível do populismo e a transição para um mundo multipolar”, escreveu Dugin e acrescentava que, por essa razão, naquela altura o governo italiano era um parceiro natural do Kremlin.
Quatro anos depois, no dia 22 de junho de 2022, o Movimento 5 Cinco Estrelas dividiu-se para formar um novo grupo parlamentar que apoiará o primeiro-ministro Mario Draghi. Esta decisão foi tomada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Luigi Di Maio, depois de criticar o seu próprio partido por não apoiar o governo italiano no envio de armas para a Ucrânia. Entretanto, no momento em que escrevo este texto, Mário Draghi demitiu-se.
Mas há outros extremistas elogiados e há outros exemplos de populismo da simpatia de Putin que são o partido conservador alemão, AfD - Alternative für Deutschland, RN – Ressemblement National de Marine Le Pen, já referida, e Jean-Luc Melenchon em França, e, em certa medida, Donald Trump nos EUA.
Tradicionalmente a AfD apoia Putin, e, como muitos dos partidos políticos de extrema-direita da Europa, os seus principais políticos mantiveram laços com o Kremlin e desfrutaram do seu apoio ativo. A oposição de Putin a organizações ocidentais como a NATO e a U.E. insere-se perfeitamente na base de alguns dos programas eleitorais de populistas e de extrema-direita
nomeadamente o programa eleitoral da AfD, sobretudo no leste da Alemanha que é cética em relação à U.E., e talvez pelos laços históricos influenciarem uma empatia cultural com a Rússia, muito embora residual. Porém, apesar de alguns grupos de extrema-direita estarem divididos entre uma posição
pró-russa (digo antes, pró-Putin) e uma postura pró-Ucrânia, quando falam aos seus eleitores os líderes de partidos nacionalistas radicais de direita, como Marine Le Pen e Matteo Salvini, condenam com mais ou menos veemência a intervenção de Putin.
Marine Le Pen foi colocada em janeiro de 2017 na lista negra da Ucrânia por ter defendido a anexação da península da Crimeia pela Rússia, em 2014, ato considerado ilegal pela comunidade internacional. O Governo ucraniano considerou que fez “declarações que reproduziam a propaganda do Kremlin, demonstrando desrespeito pela soberania e integridade territorial da Ucrânia e ignorar completamente os princípios fundamentais do direito internacional”.
Em abril de 2022, próximo da campanha eleitoral em França, Le Pen mudou o discurso e nas últimas semanas antes da ida às urnas, a candidata francesa obrigou-se a admitir que a invasão da Ucrânia por Moscovo foi “uma clara violação do direito internacional e absolutamente indefensável”, mas pediu uma “aproximação estratégica entre a NATO e a Rússia”, logo que a guerra terminar. Estranha estratégia que poderá ter levado Putin a deixar de elogiar e apoiar estes partidos.
Em março de 2022, houve um confronto televisivo no canal France2, principalmente focado em temas europeus, entre o secretário do Partido Democrata de centro-esquerda de Itália Enrico Letta e a presidente da RN - Rassemblement National, Marine Le Pen, candidata às eleições presidenciais. Neste confronto televisivo o líder do Partido Democrata censurou Le Pen ao dizer que “Os seus amigos eram Trump e Putin, um atacou o Capitólio, o outro bombardeou a Ucrânia. A sua política externa é um fracasso.”. Esta afirmação deixou Marine Le Pen e os políticos de extrema-direita e entusiastas de Putin numa difícil posição após a invasão da Ucrânia.
No meio de todas estas relações deu-se um novo desenvolvimento, resultado da guerra na Ucrânia, que poderá dar às democracias europeias uma nova visão democrática e alguma esperança para o futuro. Muitos dos políticos de extrema-direita da Europa, que há muito enalteciam e elogiavam publicamente Putin e o seu nacional-imperialismo, passaram a distanciar-se da ideologia que se apoia num “nacional-totalitarismo”, que o líder russo impõe ao seu povo pela mentira e pela censura e que pretende também impor a países soberanos.
O nacionalismo fornece aos ditadores a arma ideal para resistirem à democratização rejeitando, em nome do princípio da não ingerência nos assuntos internos, que a comunidade internacional ponha em causa o regime. Totalitário e censor no interior amordaçando o seu país e revolucionário para o exterior ao dizer querer libertar a Ucrânia do nacionalismo e do nazismo, o nacional-totalitarismo de Putin toca, assim, nas várias teclas das ditaduras ao mesmo tempo.
Ao mesmo tempo, na Europa, o nacionalismo da Ucrânia é apresentado como aceitável, opondo-se ao nacionalismo imperialista russo. A luta ucraniana pela manutenção da sua independência, soberania e identidade nacional pode ter como consequência, inspirar os nacionalistas de extrema-direita na Europa, fazendo com que ganhem força que, de certo modo, têm vindo a obter aproveitando como argumentação a luta pró-nacionalista.
Embora a situação da Ucrânia difira da dos movimentos independentistas regionais, estes podem argumentar contra a perda de soberania que, segundo eles, lhes é imposta pelos estados onde se integram. São exemplos a Escócia, o País Basco e a Catalunha. Argumentos idênticos também poderão dar impulso aos partidos políticos nacionalistas como o Rassemblement National em França, a Lega na Itália, a AfD na Alemanha e o Vox na Espanha, partidos implantados nos principais países europeus.
Vladimir Putin defende a construção de um mundo multipolar e rejeita as imposições da hegemonia global supranacional que ele e os seus seguidores identificam como sendo dos Estados Unidos da América. Mas, ao mesmo tempo coloca-se numa perspetiva de querer impor a sua própria hegemonia, para tal tem esperado pela desagregação da U.E. e da NATO para retirar os EUA do palco mundial numa tradução na política das teorias de Dugin.
No entanto, não deixa de ser curioso e causar surpresa que Vladimir Putin no 25.º Fórum Económico Internacional de São Petersburgo que decorreu de 15 a 18 de junho de 2022 tenha dito que a Rússia não está preocupada que a Ucrânia possa obter o estatuto de candidata “porque a União Europeia não é uma organização militar“, isto é, não é uma ameaça para a Rússia como o é a NATO.
Muitos pró Putin que escrevem nas redes sociais, alguns deles conhecidos, e outros que comentam nas televisões, repetem, tal e qual o Kremlin e a propaganda russa, que a União Europeia perdeu a sua soberania política, e que as suas elites burocráticas estão a dançar ao som de outra pessoa (leia-se EUA e Biden), fazendo tudo o que é dito “do alto” prejudicando o seu próprio povo, as economias e as empresas. Repetem de outro modo o discurso de Putin que acusa o ocidente de russofobia. Acho que Putin está errado, o que se passa no Ocidente é a “Putinofobia” devido à sua política, quer interna, quer externa. Esperemos que os russos um dia, que seja breve, acordem do pesadelo que lhes induzem como se fosse de tranquilidade.
A candidatura para a adesão da Ucrânia à U.E., e posteriormente à NATO, parece-me ser politicamente enganadora. Não sabemos como a Ucrânia, a ser destruída pela invasão de Putin e ficando com o seu território parcialmente ocupado, irá conseguir cumprir as exigências para a adesão. Levanta-se uma dúvida: como é que futuramente Putin irá corrigir o conflito territorial com a Ucrânia e facilitar a sua adesão à União Europeia quando antes tinha, não sabemos se ainda mantém, intenções de contribuir para o seu desmembramento.
Donald Trump o segundo ator da conspiração e o seu discurso de ódio.
A presidência de Donald Trump foi caracterizada por discurso que incitavam ao antagonismo e ao ódio mais agressivo do que o de Putin. Gonzalez, 2016, p. 28, escrevia numa publicação que a sua forma de se expressar variava entre negativa, irreverente e agressiva lesivas das minorias, inclusive discriminatórias e, algumas vezes, de apologia de delitos e que era um “ discurso que mostra um novo rosto do fascismo global que busca o confronto, a violência política e a justificação do Estado para se afastar dos valores legais e da ética pública em seu sentido universal”.
É aqui que entra o segundo ator da minha teoria da conspiração Donald Trump que antes e durante o seu mandato como presidente dos EUA expressava-se com um discurso extremista e no palco internacional parecia cooperar com Putin numa espécie de pacto informal para o enfraquecimento da União Europeia e da NATO tão desejados por Putin e para impor nos EUA um regime unipessoal e autoritário.
De acordo com muitos analistas e historiadores, a política possui movimentos pendulares que oscilam entre os campos ideológicos de esquerda e de direita. O pendulo na última década tem-se inclinado para a extrema-direita devido a populismos de regimes conservadores que, por sua vez, têm vindo a mostrar demagogicamente que são a melhor solução para os problemas decorrentes de crises económicas e iminentes ameaças internas e externas. Neste sentido, os governos de Donald Trump (Estados Unidos) e de Vladimir Putin (Rússia) têm chamado a atenção no cenário internacional. Poderemos de certo modo encontrar uma base ideológica comum de como interpretar o poder que evidencia uma possível aliança global entre eles.
Do lado de lá do Atlântico Donald Trump em janeiro de 2017 tomou posse como presidente dos Estados Unidos e traçou um caminho que, segundo ele, deveria “tornar a América grande outra vez”. Vladimir Putin, à semelhança de Trump, conforme afirmou na sua tomada de posse em 2018 era tornar a “Rússia grande”, e prosseguir na expansão territorial da sua área de influência. Repare-se na proximidade das datas e nas ocasiões dos dois presidentes em que foram feitas aquelas afirmações.
Putin não se escusou de afirmar que pretendia tornar a Rússia, não apenas novamente grande, mas ainda, tal como foi “grande” em 1945 quando o Exército Vermelho ocupou Berlim.
Trump em junho de 2015 ao anunciar que seria candidato em 2016 nas eleições presidenciais dos EUA disse que se comprometia a “tornar a América grande novamente”.
Antes de Donald Trump terminar o seu mandato em junho de 2021 Vladimir Putin, em janeiro do mesmo ano, numa nova tentativa para consolidar as suas opiniões publica o ensaio “Sobre a Unidade Histórica de Russos e Ucranianos“ em que faz uma revisão histórica, conforme aos seus interesses, negando a realidade histórica de qualquer estado ucraniano separado de uma Grande Rússia.
A ideia de uma conspiração de que a Rússia está a ser alvo por parte do Ocidente e de que a Ucrânia está a ser usada pelo Ocidente como parte de um plano para enfraquecer e até mesmo destruir a Rússia serve para consolidar a estratégia de Putin para endurecer a guerra e fazer ameaças. Os seus fiéis também dizem que a Ucrânia está a preparar-se para a guerra há algum tempo, com a ajuda dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha. Esta parece-me ser a teoria da conspiração sustentada por Putin que Trump aprova, conforme relatos das suas declarações. O grande problema é que, à volta de Putin, há gente extremista que só lhe diz o que ele quer ouvir, por medo ou por adulação.
Hoje, 10 de julho, data em que escrevo estas linhas, a agência russa de notícia Tass e a NewsFront, apresentando-se esta última como agência de notícias e meio de contra a desinformação e a propaganda, particularmente focado em apoiar as forças da Rússia na Ucrânia e lutar, segundo diz, contra uma guerra de informações e de ataques injustos à Rússia, publicavam que o ex-líder americano Donald Trump ao falar no sábado aos seus apoiantes em Anchorage (Alasca) num comício transmitido por empresas de televisão conservadoras americanas terá dito que “acredita que não permitiria um conflito na Ucrânia em caso de reeleição nas eleições presidenciais de 2020 nos Estados Unidos”. O referido site de notícias acrescenta ainda que, quanto à Ucrânia, de acordo com a sua previsão, a situação nesta região só irá piorar, mas tudo isso poderia ter sido evitado se as eleições de 2020 tivessem corrido de forma diferente. A mesma fonte acrescentou ainda que a “fraqueza e incompetência” de Biden “levou ao agravamento da situação, o que certamente não teria acontecido sob sua administração”, referindo-se a Trump. Numa pesquisa que efetuei aos media dos EUA não se encontram referências, relativamente àquelas afirmações de Trump no referido comício. Todavia, poderão ter sido referidas em alturas diferentes. Como se verá adiante a afirmação de Trump não terá sido difundida no comício, mas sim através do Tweet.
O jornal online mais lidos no estado do Alasca, Anchorage Daily News, escrevia num artigo de opinião publicado em 7 de julho do corrente que “Trump é a melhor esperança da Rússia para desestabilizar a nossa democracia”. Não se tratava de especulação porque, de facto, em 19 de dezembro de 2020 Trump escreveu num tweet que “Grande protesto em Washington em 6 de janeiro. Esteja lá, será selvagem!” Este tweet de Trump acabou por ter um efeito violento em grupos de milícias de extrema-direita. Mais grave ainda é a mensagem que escreveu no Twitter em 10 de julho de 2022 que foi divulgada pela Nexta TV, meio de comunicação bielorrusso distribuído principalmente através dos canais Telegram e YouTube:
“Somos o Estado que permitiu que a Rússia devastasse a Ucrânia, matando milhares de pessoas. E a situação só vai piorar, embora isso não pudesse ter acontecido se as eleições tivessem sido realizadas de forma diferente”. A obsessão por enganar o povo americano de que houve fraude nas eleições mantêm-se.
Numa polémica digressão pela Europa em maio de 2017, já como presidente, Trump colocou de pernas para o ar as relações de aproximação com os EUA que vinham do pós-guerra, confrontando os principais líderes dos aliados, sobretudo a Alemanha, o que ampliou as divergências entre os países aliados da Europa. Esta atitude levou-o a ganhar o apelido de “destruidor dos valores ocidentais” que lhe foi atribuído por Martin Schulz, na altura líder do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) e candidato à chefia do governo que acrescentou que a resposta é “uma Europa mais unida”. As declarações de Trump foram no sentido contrário ao que Putin esperava ao mandar invadir a Ucrânia que era ver uma U.E. desunida.
No seguimento das afirmações agradáveis a Putin, Trump intensificou uma espécie de discórdia e criticou importantes aliados da NATO pelos seus gastos militares e recusou-se a apoiar um acordo global de combate às mudanças climáticas saudando ainda a saída da Grã-Bretanha da U.E. Para ambos seria o princípio para o desenho de uma Europa desunida e enfraquecida.
Não é de rejeitar a ideia de que a critica de Trump à NATO e a sugestão de um acordo com a Rússia para reduzir os arsenais nucleares e aliviar as sanções com Moscovo tenha, na altura, deixado Putin muito satisfeito. Putin terá visto em Trump um potencial aliado para alguns dos seus projetos que coincidiam com os de Donald Trump tais como o enfraquecimento da NATO e desmembramento da U.E.
Porém, os comentários de Trump causaram consternação entre os países do leste europeu que aderiram à NATO por estarem incomodados com Moscovo, após a anexação da Crimeia, república autónoma da Ucrânia anexada pela Rússia em 2014, facto que gerou o conflito na região e que perdura até hoje. Depois disso seguiu-se a invasão da Ucrânia.
Após a vitória eleitoral em janeiro de 2017 e a tomada de posse de Trump o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, chegou a dizer que a aliança foi uma base de segurança transatlântica por quase 70 anos, reforçando ainda que nestes tempos, face aos novos desafios que se perfilam, essa alinaça impõe-se como imprescindível e especialmente necessária.
As aproximações e simpatias de Trump por Putin não se ficam por aqui. Denegrindo o seu antecessor, o presidente dos EUA Barak Obama, Donald Trump disse em setembro de 2016 à cadeia de televisão NBC que considera Putin um líder mais forte do que Barack Obama. As suas palavras são claras: “Eu já disse, que ele é realmente muito bom líder… o homem tem um controle muito forte sobre o país”, disse Trump. E acrescentava “Agora, é um sistema muito diferente, e eu não gosto do sistema. Mas, certamente, nesse sistema, ele tem sido um líder, muito mais do que o nosso presidente tem sido um líder”.
“A minha relação pessoal e de trabalho com o Presidente Obama é marcada por uma confiança crescente. Eu agradeço isso. Estudei cuidadosamente o seu discurso à nação na terça-feira. E eu prefiro discordar de um caso que ele fez sobre o excecionalismo americano, afirmando que a política dos Estados Unidos é “o que torna a América diferente. É o que nos torna excecionais.” É extremamente perigoso encorajar as pessoas a verem-se como excecionais, qualquer que seja a motivação. Há grandes países e pequenos países, ricos e pobres, aqueles com longas tradições democráticas e aqueles que ainda encontram o seu caminho para a democracia. As suas políticas também diferem. Somos todos diferentes, mas quando pedimos as bênçãos do Senhor, não devemos esquecer que Deus nos criou iguais.”
Estas palavras de Putin parecem-me ser de um cinismo sem limites que acabou por revelar ao contradizer-se entre o pensamento e o ato de invadir a Ucrânia em fevereiro de 2022.
A admiração de Trump por Putin foi ao ponto de elogiar o artigo que Putin escreveu no The New York Times onde fez observações críticas sobre o líder dos EUA na época. Dizer que foi “incrível” ao comentar as críticas vindas de um líder de outro país, de certo modo antagonista, não se coaduna com o estatuto de um candidato à Presidência que utilizou palavras como “Foi simplesmente incrível. Ele disse tanto e o disse de uma forma muito agradável, mas não foi nada bom.”, afirmou Trump que acrescentou: “Obama está tendo um tempo muito, muito difícil.”.
Durante a campanha para a eleição presidencial de 2016 Donald Trump não teve acanhamento elogiar as palavras de Putin o que deu lugar a um comentário no New York Times sob o título “Vexing His Allies, Trump Keeps Up Praise of Putin”, página 9, onde se escrevia que “A campanha de Donald Trump reafirmou o seu caloroso apoio a Vladimir Putin. Trump observa com admiração que Putin goza de 82% de apoio público na Rússia”. Não espantaria que encontrasse um tipo ainda mais admirável em Estaline, sob cuja liderança o Partido Comunista da União Soviética ganhou com 99,7% dos votos nas eleições de 1950 para o Soviético Supremo.
A isto merece acrescentar que Putin pôde escrever o que pensa num jornal livre e independente do ocidente que lhe publicou o artigo. As declarações de Trump, na altura candidato à presidência de um país soberano, livre e independente, não é usual no âmbito das relações institucionais fazer-se elogios e comentários pouco abonatórios, embora com alguma fineza como disse Trump, sobre um seu antecessor vindos de um líder de um país oponente.
As relações de aproximação de Trump com Putin reveladas por afirmações mais ou menos polémicas são várias. As primeiras que os media noticiaram encontradas nas pesquisas efetuadas reportam ao ano de 2013 e seguintes. Algumas são vulgares, sem grandes implicações na política, mas são demonstrativas da aproximação de Trump e Putin.
Trump escreveu no Twitter em 18 junho de 2013:
“Você acha que Putin irá ao concurso Miss Universo em novembro em Moscovo? Se assim for, ele vai tornar-se o meu novo melhor amigo? Donald J. Trump (@realDonaldTrump).
(A conta de Trump nesta rede social encontra-se suspensa.)
Trump elogia Putin pela sua crítica ao termo “excepcionalismo americano”:
“Você pensa no termo como sendo bom, mas de repente você diz, e se você estiver na Alemanha ou no Japão ou em qualquer um dos 100 países diferentes? Você não vai gostar desse termo”, disse Trump à CNN. “É muito insultante e Putin realmente aplicou-lhe isso”. (referia-se a Obama)”.
Em 3 de outubro de 2013 no programa “Politicking with Larry King - Ora TV” Donald Trump disse que Putin fez “um ótimo trabalho ao superar o nosso país”. Dias depois, 17 de outubro, no programa da CBS “Late Show” com David Letterman, Donald Trump confirma que fez “muitos negócios com os russos” e que são “inteligentes” e “durões” e que agora não “parecem tão burros”. Ele chama a Putin “durão” e diz que o “conheceu uma vez”.
Na altura do concurso de Miss Universo realizado em 9 de novembro de 2013 nas proximidades de Moscovo Trump disse que Putin entrou em contacto com ele e que foi “tão formidável”, (palavras de Trump ‘so nice’). Na “Fox and Friends”, programa de notícias americano emitido pela Fox News afirmou que: “Quando fui à Rússia durante o concurso de miss Universo, Putin contactou-me e foi formidável. Quero dizer, o povo russo foi fantástico connosco”. “Eu só vou dizer isso, o que eles estão a fazer, em muitos momentos eles estão a enganar-nos, como todos nós entendemos. Quero dizer, os seus líderes são, quer você os chame mais espertos ou mais astutos ou o que seja, mas eles estão a enganar-nos. Se você olhar para a Síria ou outros lugares, eles estão a enganar-nos”. (Pode consultar nos arquivos da FoxNews).
Em 2014, durante um discurso na CPAC - Conservative Political Action Conference, evento político promovido pelo partido conservador dos Estados Unidos, Trump gabou-se de se encontrar com os conselheiros de Putin e até mesmo de receber um presente e uma nota pessoal de Putin durante o concurso Miss Universo em Moscovo. Alguns órgãos de comunicação nos EUA noticiaram que Donald Trump durante o tempo que durou o concurso de Miss Universo em 2014 fez vários elogios a Putin e orgulhou-se de receber presentes de Putin e de se encontrar com os seus conselheiros.
A admiração aberta por Putin entre alguns grupos da direita americana representa uma reversão do período da Guerra Fria, quando os republicanos conservadores eram famosos antissoviéticos. Em 2012, o candidato presidencial republicano Mitt Romney descreveu a Rússia como o "inimigo geopolítico número um da América". Com a eleição de Donald Trump para a Casa Branca, o sentimento anti russo foi substituído pela admiração pela personalidade forte de Putin e pela postura antiliberal e antidemocrática do seu regime. "O facto de Trump admirar abertamente Putin significava que muitos de seus apoiantes também admiravam abertamente Putin ", constava nos meios políticos republicanos. Os admiradores de Putin da elite política e dos media nos EUA incluem o agitador de ultradireita Steve Bannon e ex-assessor de Trump da Casa Branca.
Nos EUA o apresentador de televisão Tucker Carlson, comentarista e analista político da Fox News, argumentava em 28 de fevereiro de 2022 que a única razão pela qual os americanos odeiam Putin é porque foram vítimas de uma campanha de propaganda e que o verdadeiro inimigo são os liberais internos não republicanos. Muitos anos antes já o ex-conselheiro de Trump e Carlson tinham difundido a ideia e o apoio a um movimento autoritário que juntaria apoiantes de Trump nos EUA a líderes de extrema-direita no exterior.
Na altura da invasão da Ucrânia por Putin a comunicação social nos EUA, afeta ao partido republicano, atacou Biden como sendo um fraco e elogiava Putin e Trump em vez de culpar o agressor por atacar o seu vizinho mais fraco, culpava Biden por supostamente ter lançado o epíteto de fraqueza e vulnerabilidade a Putin. Se nos recordamos foi Biden quem acionou a resposta diplomática internacional de sanções económicas contra a Rússia numa aproximação com a U.E. Contudo, comentaristas de direita continuam a declarar que Putin é o único que representa o tipo de líder forte que eles realmente preferem, o mesmo se tem passado aqui em Portugal com os apoiantes dele.
Fazem-se comentários televisivos, nomeadamente na Fox News e nas redes sociais que formulam realidades alternativas que têm sido denunciadas pela “Media Matters for America”, centro de pesquisa e informação dedicado a monitorizar, analisar e corrigir desinformação conservadora nos media dos EUA, enquanto a Fox e outros meios de comunicação republicanos trabalharam anteriormente para encobrir a relação amigável de Trump com Putin quando ele estava na presidência.
Segundo a revista VanityFair a seguir à da invasão da Ucrânia, num evento nacionalista branco, depois do discurso da congressista republicana Marjorie Taylor Greene, Nick Fuentes, organizador do evento abertamente racista, liderou a multidão com gritos de "Putin, Putin" e de elogios a Adolph Hitler.
Para Trump e os seus adeptos fascistas e autoritários, a invasão russa à Ucrânia poderá ter sido um ponto de viragem numa espécie de guerra política contra a democracia que se tem evidenciado em todo o Mundo. Mas este efémero triunfo parece ter desaparecido porque as forças pró-fascistas e autoritárias terão subestimado a resistência ucraniana e o sentimento pró-democrático que a guerra inspirou. As sanções contra a Rússia parecem causar sérios danos, e os trumpistas parecem ter começado a recuar rapidamente.
Dois dias depois da entrada das tropas de Putin no leste da Ucrânia e ainda que Trump se tenha mostrado como sendo o mais indicado para se opor a Putin, a maioria dos republicanos do Congresso apoiou a promessa de Biden de impor sanções esmagadoras à Rússia. Alguns até elogiaram os movimentos de Biden, como o envio de tropas adicionais dos EUA para a Europa Oriental para reforço das defesas da NATO.
Recordemos que no passado não muito longínquo Donald Trump, ainda antes de se candidatar a presidente, numa espécie de pré campanha, criticava o presidente Obama por não tomar posição mais dura contra o presidente Vladimir Putin no caso da Ucrânia, dizendo que temia que Obama fosse compensar o tempo perdido com movimentos imprudentes para “mostrar a sua masculinidade”.
Nessa mesma altura, Obama em declarações à imprensa após uma reunião em Varsóvia com Poroshenko – que liderou a Ucrânia entre 2014 e 2019, que foi derrotado por Zelensky, atual presidente da Ucrânia - dizia que “O governo dos Estados Unidos está completamente comprometido em permanecer ao lado do povo ucraniano, não apenas nos próximos dias ou semanas, e sim nos próximos anos”.
No dia 1 de março a comunicação social alertava que Kiev tinha denunciado nessa noite uma “invasão armada” da Crimeia por mais de 2.000 soldados russos aerotransportados para Simferopol, capital da república autónoma do sul da Ucrânia. Cerca de oito anos depois Putin invade a Ucrânia.
Em 21 de março do mesmo ano Trump escrevia no Twitter
“acredito que Putin continuará a reconstruir o Império Russo. Ele não tem respeito por Obama ou pelos EUA!”, (@realDonaldTrump, conta, suspensa pela rede social no final do seu mandato como presidente).
Se, por um lado, Donald Trump elogiava Vladimir Putin, por outro, criticava-o por enviar tropas militares para a Crimeia considerando-o imperialista e sem consideração para com os EUA e para com o seu então presidente Obama.
Em agosto de 2016 Donald Trump numa entrevista à cadeia de televisão ABC (31 de julho) que serviu mais para atacar Obama do que para esclarecer, afirmava que o presidente russo Vladimir Putin não faria um movimento militar para a Ucrânia, embora Putin já tivesse feito exatamente isso, capturando a Península da Crimeia e acrescentava categoricamente que Putin não iria invadir a Ucrânia. Como quem o entrevistava contrariou-o dizendo que Putin já lá estava referindo-se à Crimeia, e que tinha feito exatamente isso, apreendendo a Península da Crimeia da Ucrânia no início de 2014. Trump respondeu-lhe: “OK - bem, ele está lá de uma certa maneira. Mas eu não estou lá. Quem lá está é Obama. E, francamente, toda essa parte do mundo é uma bagunça na presidência de Obama apesar da força que refere e de todo o poder da NATO”. “Todavia, o presidente russo Vladimir Putin não fará um movimento militar para a Ucrânia”.
As contradições de Trump quando se refere a Putin são muitas e variadas e sobre as declarações da sua relação pessoal com Putin afirmava numa entrevista que “Eu não tenho nenhuma relação com Putin. Não, não tenho nenhuma relação com Putin”, e acrescentava dirigindo-se ao seu interlocutor: “Só para você entender, ele disse coisas muito boas sobre mim. Mas não tenho nenhuma relação com ele. Não, eu nunca o conheci”. Porém, num debate durante as eleições primárias em novembro de 2015, Trump havia dito sobre Putin: “Eu conheci-o muito bem porque os dois estávamos no '60 Minutes', (programa do canal CBS), éramos companheiros”. Vale a pena ler partes da transcrição dessa entrevista inserido num artigo da CNN em 2016 incluído nas fontes no final do artigo.
Trump afirmou numa entrevista ao canal de televisão ABC, “This Week” em 31 de julho de 2016, que alguns conselheiros chamaram assustadora, levou a uma resposta de um deles da campanha de Ellery Clinton a questionar do que Trump estaria a falar pois a “A Rússia já está na Ucrânia. Ele não sabe disso? O que mais ele não sabe?”. “Trump repetiu “corajosamente” o argumento de Putin de que se justificava a Rússia tomar o território soberano de outro país à força. Isso é assustador”, disse o conselheiro da campanha num comunicado.”, acrescentando que “isso vem na esteira do seu convite tácito aos russos para invadirem os nossos aliados da NATO na Europa Oriental.”
Em síntese: Donald Trump sugeriu que os EUA aceitassem a anexação da Crimeia pela Rússia porque isso levaria a melhores relações com Moscovo. Era na altura uma visão contra o governo de Obama, que impôs sanções económicas contra a Rússia por ter anexado o território na Ucrânia em 2014. As Nações Unidas também não quiseram que os países reconhecessem a Crimeia como parte da Rússia, e alguns dos principais republicanos defendiam firmemente a Crimeia contra o que consideram agressão russa.
Uma década atrás, 2012, Mitt Romney, candidato do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos contra Barack Obama fez uma declaração que, na altura, foi amplamente percebida como um grande erro. Disse numa entrevista à CNN que a Rússia, é, sem dúvida, nosso inimigo geopolítico número um. Eles lutam por todas as causas e pelos piores atores do mundo.”.
Trump parece ter dado um volte-face concordando com o que Romney tinha dito, “Eles riram. Acontece que ele está absolutamente certo. Você olha para o que a Rússia está a fazer com o Irão, como eles controlaram a situação, e a Síria, e praticamente todos os outros lugares… fomos expulsos de todos. Não estou a dizer que deveríamos estar lá… ser ridicularizado e jogado para fora da forma como estamos a ser jogados fora é absolutamente impensável.” Estas afirmações contrastam com as de abril de 2014 como anteriormente referi quando ele disse que “Acabamos de sair de Moscovo”, “Ele não poderia ter sido mais agradável. Ele foi tão excelente e tudo mais. Mas você tem que dar-lhe o crédito ao que ele está a fazer por esse país, é muito forte em termos do seu prestígio mundial.”. E também em 16 de junho de 2015, Trump faz comentários semelhantes à FoxNews “Eu estive em Moscou há dois anos e eu vou dizer-lhe – você pode dar-se bem com essas pessoas e dar-se bem com elas. Você pode fazer acordos com essas pessoas. Obama não pode”.
Ainda em 20 de dezembro de 2015, numa entrevista ao programa “This Week”, da ABC, Trump defendeu Putin sobre as alegações de que ordenou a morte de jornalistas e dissidentes afirmando que: “No que diz respeito aos repórteres obviamente eu não quero que isso aconteça. Eu acho que é terrível, horrível. Mas, para ser justo com Putin, está a dizer que ele matou pessoas. Eu não vi isso. Não sei se ele o fez. Conseguiu provar isso? Sabe os nomes dos repórteres que ele matou? Porque eu tenho ouvido isso, mas eu não vi o nome. Agora, eu acho que seria desprezível se isso ocorresse, mas eu não vi nenhuma evidência de que ele matou alguém em termos de repórteres.”.
Em dezembro de 2016 também na Fox News disse que Putin é como um “animal ferido” devido às ações do governo Obama contra a Rússia”. “Ferimos a Rússia e fizemos certas coisas que realmente prejudicaram a Rússia”, disse ele. “Eu não sei se é uma coisa boa ou se isso é uma coisa ruim. Vamos ver o que acontece”.
Em 26 de janeiro de 2016 numa entrevista a Maria Bartiromo da Fox Business Network, canal americano de televisão, Trump volta à defesa de Putin quando foi referido o assassinato de Alexander Litvinenko em 2006, um ex-agente de segurança russo, e as conclusões de um inquérito britânico que referia que Putin “provavelmente aprovou” o seu envenenamento. De imediato Trump perguntou e respondeu: “Eles declararam-no culpado?”. “Eu não acho que eles o declararam culpado.” “Se ele fez isso, tudo bem. Mas não sei se foi ele. Sabe, as pessoas estão a dizer que acham que foi ele, pode ter sido, poderia ter sido. Mas, com toda a justiça para Putin, eu não sei. Você sabe, e eu não estou a dizer isso porque ele disse que ‘Trump é brilhante e lidera todo mundo’, o facto é que, você sabe, ele não foi condenado por nada.”
O encanto com Putin continuou e em janeiro de 2017 Trump diz na CNN acreditar que a Rússia foi responsável pelo ataque hacker ao partido democrata: “Acho que foi a Rússia”, disse Trump, acrescentando que Putin “não deveria estar a fazer isso”. “Ele não vai fazê-lo. A Rússia terá muito mais respeito pelo nosso país quando eu o liderar do que quando outras pessoas o lideraram”, disse Trump. Disse ainda também acreditar que um bom relacionamento com Putin seria um trunfo.
Já como presidente Trump em 2017 declara numa entrevista dirigindo-se ao entrevistador: “Eu adoraria poder dar-me bem com a Rússia. Agora, você teve um monte de presidentes que não tomaram essa atitude. Olhe onde estamos agora. Olhe onde estamos agora. Então, se eu puder, agora, eu gosto de negociar as coisas, faço isso muito bem, e todas essas coisas. Mas… mas é possível que eu não seja capaz de me dar bem com Putin.”.
Para Trump, Putin mais parece um grande amigo que tenta defender mesmo dando descaradamente nas vistas.
Sobre acordos nucleares com a Rússia, segundo The Times of London, numa entrevista publicada em 2017, já como presidente eleito, criticando a anterior política externa dos EUA, disse que proporia a Putin oferecer o fim das sanções impostas à Rússia devidas à anexação da Crimeia em troca de um acordo de redução de armas nucleares. “Eles têm sanções sobre a Rússia, vamos ver se podemos fazer alguns bons acordos com a Rússia. A Rússia está a sofrer muito por causa das sanções, mas acho que algo pode acontecer e que muitas pessoas vão beneficiar.”.
As ligações de Trump a Putin são por demais conhecidas durante a sua presidência entre 20 de janeiro de 2017 e 20 de janeiro de 2021. A política de Putin nas suas relações com o mundo ocidental estava a correr-lhe bem. O presidente americano, assim como Putin, parecia mostrar ser um seu admirador e partidos políticos pró-russos e de extrema-direita entendiam-se e estavam a prosperar na Alemanha, Itália, Áustria, França e noutros países.
Alguns deles devido à invasão da Ucrânia fecharam-se nas suas conchas e olham de lado para Putin o que pronuncia afastamento, com foi o caso do RN - Rassemblement National em França. Por cá, no nosso país, isso não aconteceu, mas, nas redes sociais e alguns, poucos, comentadores, alguns simpatizantes da esquerda radical, lá vão puxando a brasa para o lado de Putin.
Donald Trump falava sobre a influência da NATO e, supostamente, planeava retirar-se da organização num segundo mandato, chegando até a comentar que até lá “Talvez a NATO se dissolva, e tudo bem, isso não é a pior coisa do mundo“ afirmou na altura. A União Europeia também estava na mira de Donald Trump. Numa entrevista à CBS Evening News Donald Trump em julho de 2018, horas antes de ir para Helsínquia para uma reunião política, quando lhe foi pedido para identificar globalmente o seu “maior inimigo no momento” indicou a União Europeia, composta por alguns dos aliados mais antigos dos EUA afirmando que: “Acho que nós temos um monte de inimigos. Penso que a União Europeia é um inimigo pelo que faz connosco no comércio. Agora, você acharia isso da União Europeia, mas eles são um inimigo.”. E acrescentou que “A Rússia é inimiga em certos aspetos. A China é um inimigo economicamente, certamente que eles são um inimigo. Mas isso não significa que eles são maus. Não significa nada. Significa que eles são competitivos”.
Surpreendido o jornalista que o entrevistava respondeu-lhe que “Muitas pessoas ficariam surpreendidas ao ouvir o senhor presidente mencionar a U.E. como um inimigo, mais do que a China e a Rússia”. Trump insistiu que: “A U.E. é muito difícil. Respeito os líderes desses países. Mas no aspeto comercial eles realmente aproveitaram-se de nós.” Isto é, para Trump os EUA são explorados pelos seus aliados. Estas afirmações não levantam dúvidas, mesmo para quem ainda as tivesse sobre a suas intenções anti U.E., que coincidiam com as de Putin.
Ainda na mesma altura e sobre o Brexit, Donald Trump aconselhou Theresa May a processar a EU. Segundo a ex-primeira-ministra britânica o presidente ter-lhe-á dito para ela não se preocupar em negociar com Bruxelas, mas para levar todo o bloco comercial ao tribunal. Ao jornal SUN Trump ameaçou, quando disse que o novo modelo de Brexit suave que Theresa May queria negociar, se fosse proposto, “mataria” qualquer futuro acordo comercial com os Estados Unidos.
Estas declarações levaram o presidente do conselho europeu, na altura Donald Tusk, numa entrevista dada em 2018 a dizer que “A América e a U.E. são melhores amigas. Quem diz que somos inimigos está a espalhar notícias falsas.”, frase que foi colocada no Twitter.
O alinhamento de Vladimir Putin com Trump nas intenções em relação à U.E., com algumas diferenças nos objetivos, foram confirmadas por Ângela Merkel, em 7 de junho de 2022, num colóquio em Berlim . Disse ela que “nunca foi ingénua” em relação ao “ódio” de Putin ao modelo ocidental de democracia, tendo alertado diversas vezes líderes internacionais de que o objetivo do líder russo era destruir a Europa.
Por coincidência, Joe Biden tomou posse como Presidente dos EUA em 20 de janeiro de 2021, Vladimir Putin invade a Ucrânia cerca de um ano e um mês depois de Donald Trump ter saído da cena da presidência. Isto diz-nos alguma coisa. Mas, se dúvidas existissem elas são afastadas por factos que mostram uma sintonia entre ambos os presidentes, mesmo depois da invasão da Ucrânia.
Parece estar a surgir nos EUA uma tendência que aparenta que o Partido Republicano estar cansado de Donald Trump. Segundo uma nova sondagem, 51% dos eleitores republicanos dizem que preferem outro candidato presidencial em 2024. Apesar do descontentamento, a sondagem indica que mais eleitores (44%) vão votar em Biden do que no candidato do Partido Republicano, em 2024, se o escolhido voltar a ser Donald Trump (41%).
Entretanto, segundo a CNBC, a 10 de junho as conclusões de 'CPI'- Comissão Parlamentar de Inquérito acusa Trump de orquestrar 'tentativa de golpe' com invasão do Capitólio. O ex-presidente americano Donald Trump foi acusado por uma comissão parlamentar de inquérito de ter orquestrado a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 numa "tentativa de golpe". A acusação foi feita na primeira sessão televisiva da investigação realizada ao longo de 11 meses, num evento sem precedentes na política dos Estados Unidos.
Antes e depois da invasão da Ucrânia, ao desconhecer-se até onde vai e o que quer Vladimir Putin que tem por vezes obrigado o ocidente, e sobretudo a Europa a esforços diplomáticos desmedidos, Donald Trump, antes e durante o seu mandato na presidência, não ajudou em nada, antes pelo contrário. Ao elogiar Putin, Trump criou anticorpos na Europa e nos EUA manifesto num artigo de opinião no “The Washington Post” publicado no dia 22 de fevereiro de 2022 com a epígrafe “Com os seus elogios à invasão da Ucrânia por Putin, Trump faz os seus defensores parecerem tolos. Outra vez.”, e no The Guardian, na mesma data, “Trump elogia 'génio' Putin por enviar tropas para o leste da Ucrânia”. Há cerca de dez anos, pelo menos, que Putin desafia o Ocidente, infringido as leis internacionais, ignorando fronteiras e ocupando parte de dois países independentes: primeiro a Geórgia, depois o resto da Ucrânia que no início do ano resolveu invadir. Ele não esconde a sua política “revisionista” da ordem internacional, uma nova ordem como ele diz, para reconquistar as “zonas de influência” da ex-União Soviética, perdidas ao que chama derrota na Guerra Fria. Durante a presidência de Donald Trump, Putin parecia ter encontrado uma alma gémea no presidente de uma superpotência que são os EUA e cujo objetivo seria entender-se com ele. Atualmente começam a verificar-se crescentes resistências internas nos EUA, mesmo entre republicanos, à sua recandidatura. Se assim for ficarão apenas o que restar desse seu meio-irmão.
A moda dos jovens adolescentes e pós-adolescentes que prolifera apresentando um estilo com barbicha, bigodinho e cabelo levemente despenteado e puxado para a frente a pretender mostrar que são sujeitos originais, modernos, diferentes e com muita personalidade. Estão a topar cotas?
O penteadinho do cabelo ligeiramente ondulado e puxado para a frente faz-me pensar se será para ajudar a tapar uma calvície precoce que lhes vai surgindo.
Para falar a verdade não vejo nada disso. Imagino a arte necessária para manter uma barbicha dessas com tesoura a aparar os pelos da penugem ou então imagino que vão a barbeiros que entenda a psicologia particular desses meninos que adubam essa penugem na cara. Quem precisa de terapia com um barbeiro desses?
Os ‘barbichados’ estão em alta. Vestem-se quase igual, penteiam-se quase igual e salientam a penugem do buço e da perinha quase igual.
Se juntarem um grupo destes tipos jovens mais parecem terem saído duma confraria das barbicas e bigoditos. Olho para a cara dum desses sujeitos e às vezes fico fascinado começo a imaginar donde lhes veio esta ideia, mas sem o conseguir. Eles lá sabem com quem se prtendem identificar.
Para complementar tudo isto um ligeiro corte na sobrancelha vem a calhar com um adjuvado piercing, um brinco na orelha, alguma coisa furando o canto dos lábios, alguma coisa espetando a narina. É uma imagem do passado ancestral das tribos cuja antropologia tem estudado ao longo dos tempos. Vejam-se os índios originais, dos poucos que ainda sobrevivem na Amazónia, vestem-se e decoram-se à moda.
Enfim, para serem diferentes dos seus antecessores são capazes de tudo até de se fazer passar por ridículos.
Início este texto com uma notícia que todos os jornais do EUA e também na Europa divulgaram em maio de 2024. O jornal inglês The Guardian notava que “Donald Trump compartilhou um vídeo na sua conta Truth Social fazendo referência a um ‘reich unificado’ se Trump vencer a eleição presidenciais em novembro”. Depois de ser criticado por isso em alguns setores por mais de meio-dia foi removido. Várias justificações foram dadas para tal pelos elementos da campanha.
O vídeo colocado na segunda-feira 22 de maio permaneceu no ar por 15 horas na manhã de terça-feira, apesar da referência ter sido apontada pelos meios de comunicação. Foi removido da conta do ex-presidente por volta das 10h do Leste EU na terça-feira.
Há quem critique os que não veem na vitória de Trump bons prenúncios para os EUA e para parte do resto do Mundo. Um deles é Jaime Nogueira Pinto que numa entrevista ao jornal SOL em modo de crítica escreveu: “Tive de ter paciência para ouvir teorias espantosas sobre o mal que vem ao Mundo com Trump”. Hoje mesmo (8/11) o Diário de Notícias publicou um artigo de opinião (ainda bem que é apenas uma opinião) onde ele defende o que para a maioria dos comentadores é mau porque na sua perspetiva não vai ser assim tão mau.
A culpa é da esquerda, diz ele, porque a “Esquerda conseguiu que Hitler e do Holocausto ficassem eternamente colados à “Direita”. Logo, parece que o mau apenas o é porque a esquerda assim o disse. Claro que, também classificou como muito mau, e bem, que são maus “os horrores do comunismo, ou os absolvesse como parte dos danos colaterais do Bem e da Virtude – das Fomes da Ucrânia ao Arquipélago de Goulag, dos massacres de Budapeste ao Grande Salto em Frente da China”. E conclui: “todo o líder que começa a ensombrar o domínio da Esquerda passa automaticamente a “fascista” e a “novo Hitler”. A culpa é da esquerda que assim os denomina, porque se não fosse isso não eram maus seriam até bons! E, pondo de lado a esquerda ou a direita, face à objetividade dos factos para Nogueira Pinto a maldade dos fascistas e autocratas é tudo invenção dos media?
Para Nogueira Pinto as ideias e os pensamentos expressos que conduzem a ilações de fascista ou de “novo Hitler” ditas pelos interlocutores, neste caso Trump, é a Esquerda que fica perturbada pela sua perda de influência, logo os classifica daquele modo.
Para ele os media são facciosos porque os media de referência nos impõem “ad nauseam” como única referência, como única causa moralmente superior, verdadeira, democrática, virtuosa... um dos lados.”. Jaime Nogueira Pinto só tem um olho, porque o outro está obscurecido, se assim não fosse teria visto o que os media laçam cá para fora sobre as atrocidades discursivas “trumpianas”. Nogueira Pinto passa ao lado do que Trump disse durante a campanha o que parece não ter apreciado.
Vamos agora analisar possíveis consequências e receios da vitória de Donald Trump. Uma primeira vantagem para Trump segundo o Euronews foi a fortuna pessoal de Trump ter aumentado com a subida das ações da sua empresa de comunicação social após terem saído os resultados.
Por outro lado, Trump parece ter lido o compêndio resumido do “Mein Kampf” já que muitas das suas afirmações durante a campanha assim o mostram como se verá adiante.
O que de facto preocupa a maior parte do Mundo é a resposta à questão: o que espera o Mundo de Donald Trump? Ao analisarmos as palavras que Trump disse nos comícios e se avaliarmos o que isso sugere e pode significar perceber-se-á sem esforço.
Recordemos e comparemos alguma palavras que ditadores do passado e do presente utilizaram e utilizam para atrair os sem escrúpulos, os plenos de egoísmo que vêm naquele tipo de linguagem a salvação dos problemas que os afligem e ao povo.
Se tivermos atenção as intervenções de Trump nos comícios perceberemos como palavras sensíveis e carregadas de “História” como “deportação”, “países de merda”, “vermes” ou “miseráveis” foram pronunciadas sem escrúpulo. Isto encontra-se em alinhamento com o pensamento de que “Se deseja a simpatia das grandes massas, deve dizer-lhes as coisas mais grosseiras e estúpidas.”(Adolfo Hitler)
Isto leva-nos a refletir sobre as semelhanças de pensamento de Trump com muitas das afirmações escritas no livro anteriormente referido,“Mein Kampf”. Repare-se numa das frases do discurso de vitória de Trump: “Muitos dizem que Deus me poupou a vida por um motivo”. Compare-se com o que Hitler terá escrito ou dito: “Quem disse que não estou sob a proteção especial de Deus?”.
Sobre a imprensa Trump expressou também a sua opinião sem embaraço sobre os media que não o apoiavam. Afirmou que os media davam notícias falsas e ameaçou destruir a imprensa e ameaçou jornalistas. Durante aa campanha e em entrevistas, Trump sugeriu que, se recuperar a Casa Branca, se vingará dos meios de comunicação que o irritam. Mais especificamente, Trump prometeu colocar repórteres na cadeia e retirar as principais redes de televisão de suas licenças de transmissão como retribuição pela cobertura de que não gostou.
Veja-se o que Hitler escreveu sobre a imprensa à época quando cumpria pena de prisão (1924): “Comecei também a examinar debaixo do mesmo ponto de vista a grande imprensa de minha predileção. À proporção que o meu exame se aprofundava diminuía o motivo de minha antiga admiração por essa imprensa. O estilo desses jornais era insuportável, as ideias eu repelia-as por superficiais e banais e as afirmações pareciam aos meus olhos conter mais mentiras do que verdades honestas.” (Mein Kampf, p. 58, tradução).
Assim, a reeleição de Trump pressagia um novo período de hostilidade com os principais meios de comunicação que buscam a imparcialidade, bem como com os meios de comunicação partidários que se lhe opõem. Isso leva-nos ainda a outro tipo de questões. O governo Trump transformará as suas palavras contra a imprensa em ações? Irá revogar as licenças das emissoras de televisão, como sugeriu várias vezes?
Porque há a promessa de Trump de limitar o acesso da imprensa à Casa Branca, impedindo repórteres de que não gosta. De facto, em 2023, horas antes dos seus comentários terem sido divulgados, segundo a AP (Associated Press), um aliado de longa data que deve ocupar um cargo de alto escalão na segurança nacional se Trump voltar à Casa Branca prometeu atacar jornalistas num segundo mandato de Trump.
Assim, os eleitores americanos votaram em alguém como Donald Trump que sobreviveu a uma condenação criminal, a acusações, a um atentado (?), a acusações de autoritarismo e a uma mudança sem precedentes de seu oponente. E, mesmo assim, numa surpreendente reviravolta política, será o próximo presidente dos Estados Unidos.
Parece que os potenciais planos desafiadores de Trump para derrubar o sistema político do país atraíram dezenas de milhões de eleitores. Conseguiu conquistar apoio entre os eleitores latinos e afro-americanos da classe trabalhadora, que deu ao Partido Republicano esperança de uma nova maneira de vencer em uma nação polarizada.
Os especialistas em política dos EUA apontam para que alguns eleitores viam Trump como a sua única opção para combater o que percecionavam como imigração descontrolada e para impulsionar a economia. Outros apontam para que alguns eleitores foram compelidos pelo poder de sua campanha. Mas muitos americanos acharam-no desagradável, e sua vitória pode dizer mais sobre a insatisfação do país os candidatos do Partido Democrata.
No New York Times num artigo de opinião do correspondente da Casa Branca escrevia que “Com sua vitória de regresso para recuperar a presidência, Trump estabeleceu-se agora como uma força transformacional remodelando os Estados Unidos à sua própria imagem.”.
Veremos como será, mas algo de bom não se espera para a América e para o Mundo.
Quando Trump terminou o seu primeiro mandato enfrentou uma série de acusações criminais relacionadas com o seu papel nos distúrbios do Capitólio, como tratou com documentos relativos à segurança nacional e em relação aos pagamentos de dinheiro a uma estrela porno.
Como a Suprema Corte, (Supreme Court - Supremo Tribunal dos Estados Unidos) é o mais alto tribunal federal dos Estados Unidos decidiu que o presidente tem total imunidade de acusação por atos oficiais no cargo, será uma batalha difícil para qualquer promotor acusá-lo durante o próximo governo.
E como presidente, ele poderia instruir o seu departamento de justiça para retirar as acusações federais contra ele relacionadas aos distúrbios de 6 de janeiro, para que não tenha que se preocupar com uma sentença de prisão. Ao mesmo tempo, ele poderá perdoar centenas de pessoas condenadas à prisão pela participação nos motins do Capitólio.
Havia duas versões apresentadas aos eleitores foram apresentados referentes a duas versões da América.
Kamal Harris alertou que, se Trump fosse eleito, a própria democracia americana enfrentaria uma ameaça existencial. Isso só no futuro poderá estar para ser confirmado. Mas o que Trump disse durante a campanha não suavizou os medos das pessoas.
Trump elogiou líderes autoritários como Vladimir Putin, da Rússia, e Kim Jong Un, da Coreia do Norte, afirmando que estarem “no topo de seu jogo, goste-se ou não”.
Afirmou ainda que tentaria silenciar os críticos na imprensa. Ainda poucos dias antes da eleição fez comentários em que disse não se importar se elementos da comunicação social fossem mortos.
Amplificou teorias da conspiração e alegações infundadas de fraude eleitoral – apesar da eleição ter levado à sua vitória.
O que falta agora saber é se os eleitores que votaram nele descobrirão que quanto do que ele disse durante a campanha foi apenas conversa fiada. Sendo Trump quem é devemos lembrar-nos que não são apenas os americanos que têm que enfrentar a realidade de um segundo mandato de Trump.
O mundo descobrirá o que significa realmente “América Primeiro”. Desde as consequências económicas globais das tarifas de 20% que ele propôs sobre as importações dos EUA até às guerras na Ucrânia e no Oriente Médio que disse que prometia acabar. A questão que se coloca é a de saber se será independentemente de qual lado vença.
Donald Trump não conseguiu implementar todos os seus planos no seu primeiro mandato. Agora, com um segundo mandato e significativamente menos sobrecarregado, a América e o mundo verão o que ele realmente pode querer fazer. Tudo será uma incógnita! Ou não fosse ele uma espécie de “joker” como é o antagonista do Homem-Morcego.
Segundo uma sondagem da Universidade Católica a Aliança Democrática venceria se as eleições fossem hoje, mas a distância para o Partido Socialista não é muita, terá recebido alguns da Iniciativa Liberal que desceu um pouco e uns poucos do PS.
É o que se esperava. Depois de distribuir euros por tudo quanto movimentava e não movimentava, a euforia AD poderá sido desencadeada. É o bater de palmas de alguns, só de alguns, aqueles que o Governo pretende cativar para mais uns votinhos. Alguns pensionistas e reformados aplaudem os euros extra que já receberam, para eles é o milagre dos pães.
Há muitos outros que gratos ficaram pelas benesses concedidas a que mesmo aquelas a que tinham direito. Tudo propaganda no seu melhor. Daí o prémio de uns pontos dados nas intenções de voto. O anterior Governo PS não se pode escusar do que não fez e poderia ter feito em altura própria, oportunidades não lhe faltaram.
A palavra pessoas passou a ser utilizada nas intervenções de elementos do Governo, nomeadamente o primeiro-ministro e do seu propagandista oficial Leitão Amaro quando se referem a algo que fizeram ou dizem ter feito têm usado e a abusado da palavra “pessoas”.
Esta palavra que parece parafrasear a célebre frase de Bill Clinton: “É a economia, estúpido” a qual podemos substituir por são as “pessoas estúpido”.
Luís Montenegro parece estar a redimir-se e a fazer uma contrição do que disse em fevereiro de 2014, quando era líder parlamentar do PSD no governo de Passos Coelho que “A vida das pessoas não está melhor, mas a do País está muito melhor”.
Talvez por isso, Montenegro, agora nas suas intervenções, sempre que é oportuno refere a palavra “pessoas”. Vejamos alguns casos:
Discurso de encerramento do 42.º Congresso do PSD, o líder do PSD a prometia que o "foco no essencial foco dos problemas que afetam as pessoas…”. “Foco na condição de vida das pessoas e foco especial no apoio aos mais desprotegidos.”. (outubro de 2024).
Em maio de 2022 à pergunta feita pela LUSA “Se pudesse ser congelado hoje e acordar daqui a 500 anos, qual seria primeira coisa que ia querer saber?”: “Se aqueles que vieram a seguir a mim, os meus filhos e a geração deles, tinha, de facto, vivido com mais condições do que aquelas com que eu vivo. …Acho que o fim último da política é servir as pessoas, …”.
Numa entrevista à SIC a 8 de outubro de 2024 dizia “eu não governo a pensar naquilo que os partidos dizem no parlamento… eu governo a pensar nas pessoas”.
E, mais uma vez a 31 de outubro Luís Montenegro reagiu à aprovação do OE na generalidade afirmando que esta é uma proposta que “serve os interesses das pessoas e do país”, acrescentou neste caso a palavra país.
E, assim, lá se vai indo também com a ajuda do Ministro da Presidência Leitão Amaro, publicitário do Governo, que vai fazendo anúncios e peças de comunicação que, com algum atabalhoamento e falhas de dicção, divulga as iniciativas do Governo.