Aqui vocês, podem encontrar de tudo um pouco: sociedade, ambiente, comunicação, crítica, crónicas, opinião, política e até gastronomia, com apoio de fontes fidedignas.
O resultado das eleições na Federação Russa não foram novidade para Putin, era previsível, dado o défice democrático daquele país. O resultado eleitoral 87% obtido sem oposição credível que o conduzem ao 5º mandato não poderia ser outro. Foi e é assim que nos regimes totalitários e autocráticos onde a forma de governo está nas mãos de um governante que detém controle absoluto e poder de decisão em todos os assuntos de Estado e sobre todo o povo do país. Para tal, só com a simulação de eleições livres se prolonga o poder. Foi assim na ex-União Soviética, é a gora assim na Rússia, foi assim em Portugal no tempo de Salazar e Caetano, é assim em Cuba e noutros países como a Coreia do Norte onde o “chefe máximo” é nomeado e ou herdado como se fosse uma monarquia. Após a morte do fundador da União Soviética, Vladimir Lenin, José Estaline governou o país de forma autocrática e ditatorial.
A atual Federação Russa é uma república federal semipresidencialista e gerida por uma oligarquia. O presidente Vladimir Putin vai cumprir o seu quinto mandato como presidente da Rússia. Apesar de em anos anteriores ter feito repetidas promessas de deixar o cargo em 2024, quando o seu limite de mandato fosse atingido, Putin encabeçou no país o projeto para em 2020 fazer uma alteração constitucional que lhe permitiria permanecer no poder até 2036.
Dizer que Vladimir Putin é um ditador é assunto que pode levantar várias questões ideológicas. Mas, de qualquer modo, num regime em que se diz haver democracia liberal no sentido de sistema partidário de liberdade política, económica, religiosa etc., não se prendem ou matam opositores, não se retira a liberdade de expressão, não se publica na imprensa e se diz nas televisões a visão única, não se reestruturam governos para se deter poder duradouro, não se detém numa única pessoa a autoridade executiva, nem o poder judicial e legislativo, nem é possível mudar a legislação para se adequar à agenda de um único poder. E não me venham dizer que isto é propaganda anti russa dos EUA e do ocidente. Basta consultar os órgãos de comunicação do próprio país através da net e ler e ouvir os discursos de Putin para o interior do país (há traduções).
Podemos presumir que o resultado da eleição terá sido previamente decidido e que Putin seria “obrigatoriamente eleito” com a maior percentagem de sempre e com a mais baixa abstenção verificada até ao momento. Pode mesmo dizer-se, sem garantia, que terá avisado todas as autoridades do país aos vários níveis, do oriente mais longínquo da Rússia até às fronteiras com o ocidente, de ele teria de ser feito com limites máximos e mínimos e que teria de ser assim.
As eleições da Rússia e a invasão da Ucrânia fizeram-me pensar sobre as semelhanças entre o Presidente Vladimir Putin e José Estaline. Não tinha e ainda não tenho a certeza sobre tais semelhanças. No entanto, recorrendo a documentos históricos a semelhança entre eles em alguns aspetos parece ser por demais evidente. Assim é inevitável deixarmos de associar o regime de Putin ao de Estaline. Dizem alguns que são épocas diferentes e com contextos diferentes. É certo, mas, ainda assim, este ponto de vista leva-nos a recordar o passado e há alguns paralelos que podem ser traçados. Vejamos então alguns pontos de aproximação entre eles.
Um aspeto muito importante é o da religião e das crenças do povo. A religião e a igreja é usada para abençoar as campanhas militares, e, no atual regime de Putin, motivos religiosos, culturais e históricos combinam-se com motivos políticos, não é por acaso que Vladimir Putin tem uma associação significativa com a Igreja Ortodoxa Russa. Há um apoio mútuo entre Putin e a Igreja Ortodoxa Russa em que a Igreja confere legitimidade espiritual ao regime de Putin, enquanto Putin apoia a influência da Igreja na sociedade. Por outro lado, o patriarca Kirill, chefe da Igreja Ortodoxa Russa, é visto como um aliado próximo de Putin e tem sido um destacado defensor das políticas de Putin, incluindo a a legitimação da invasão da Ucrânia.
Se consultarmos documentos históricos sobre a governação de Estaline notaremos algumas semelhanças. Aliás, o próprio Putin está a fazer uma reescrita da história e uma lavagem da época estalinistas, porque, segundo ele, é tudo um exagero e uma invenção dos inimigos da Rússia.
Parece ser atributo de ambos a substituição de generais e comandantes que não conseguem fornecer aos militares o que eles precisam em homens e material, em nome do sacrifício pela pátria e a honra bem maior do povo russo. Recentemente, a 19 de março, foi anunciada mais uma substituição que o Presidente Putin efetuou de entre várias mudanças nos principais comandos das Forças Armadas desde que lançou a invasão militar na Ucrânia.
Antes da visita de Putin a Volgogrado para comemorar o aniversário da vitória na Segunda Guerra Mundial foi colocado um busto de Estaline para ser inaugurado. Putin não se coíbe de em entrevistas como a que deu em 2017 em que criticou a “excessiva demonização” de Estaline promovida pelo Ocidente, e que a estratégia é usada “como um meio de atacar a União Soviética e a Rússia”.
Ambos os líderes são conhecidos pelos seus esforços para centralizar o poder. Estaline criou um Estado totalitário de partido único, enquanto Putin criou organização vertical de poder, isto é, uma estrutura governativa em que existem papéis muito específicos de cima para baixo. A liderança encontra-se no topo e, à medida que se desce, a autonomia e o poder de decisão diminuem.
Quanto às políticas interna e externa também podemos encontrar algumas semelhanças. Putin também envenenou ou prendeu opositores e transformou a principal fonte de divisas da Rússia - a indústria do petróleo - numa ferramenta de política de Estado. A repressão de Putin à dissidência lembra repressão brutal da era soviética e Putin, tal como Estaline, são conhecidos pela sua repressão a opositores políticos.
Também como Estaline, Putin convenceu grande parte do povo que “o mundo está todo contra a Rússia”. Nas suas retóricas políticas Putin também faz apelo ao nacionalismo russo e à expansão e recorre ao elogio do império russo. Em ambos há uma forma semelhante na abordagem das suas políticas internas e externas. A de Estaline consistia em construir o socialismo no país e reduzir o tamanho do império alemão, a política externa de Putin tem sido a de conter o “domínio” ocidental e conseguir novos parceiros importantes para o futuro.
A chamada reeducação dos cidadãos quando eram dissidentes da política oficial foi também exercida. O regime de Putin, nas atuais circunstâncias da invasão sa Ucrânia, também tem o mesmo procedimento, pois retira crianças das suas famílais e dios seu páis enviando-as para lares russos para passarem, segundo dizem porta vozes do regime, por um processo de reeducação.
Contudo, estas semelhanças são relativas porque é importante notar que, apesar destas semelhanças, também há diferenças significativas. O regime de Estaline foi marcado pela repressão em massa, expurgos e um regime de terror, que é bem diferente na Rússia de Putin. Além disso, a Rússia de Putin faz parte da economia global e das instituições internacionais duma forma que o difere da União Soviética de Estaline. A explicação da diferença talvez seja devida a que na altura de Estaline estava-se na terceira fase da globalização que abrange o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945 estendendo-se até ao final da Guerra Fria e à queda do Muro de Berlim em 1989. Um dos principais acontecimentos dessa fase determinante para a atual fase da globalização foi a “terceira revolução industrial” responsável pelas inovações tecnológicas e científicas que surgiram a partir da década de 1970 e que são características do meio técnico-científico-informacional atual. Atualmente contribuem para a estratégia militar e da guerra cibernética entre países e regimes.
Em conclusão, embora existam alguns paralelos entre as políticas de Putin e de Estaline, elas são produtos de seus respetivos tempos e têm diferenças significativas. Também vale a pena notar que a interpretação das suas políticas pode variar, e esta é uma comparação simplificada.
Enfim, sobre as eleições na Rússia, Vladimir Putin terá organizado uma outra espécie de operação especial para mostrar aos russos, (e à parte do mundo que ainda está, ou diz estar, com ele), que o seu poder é absoluto. Vladimir Putin é um “czar” que faz acreditar ao povo russo que está a travar uma guerra defensiva porque está a ser atacado pela NATO, pelo EUA e pelo ocidente os que lhe estão a impor com a pretensão para mostrar ao mundo que o povo o apoia esmagadoramente, isto para quem quiser acreditar.
Montagem parcial a partir da imagem do Público do artigo "A grande família do Chega"
Os media contribuíram para a importância que hoje tem o partido Chega. Ao ajudarem os partidos direitistas a canalizar o descontentamento para o PS abriram caminho para o crescimento daquele partido. Mas não só, o PCP e o BE com a repetição contínua de palavras de ordem com ataques ao Partido Socialista ajudaram a passar a mensagem do Chega também contra o PS sem que eles próprios se auto questionassem sobre por que os votos de protesto foram para a extrema-direita, Chega. Se houve tantos votos de protesto para a extrema-direita por que apenas ela tirou proveito disso e não também à extrema-esquerda.
O partido Chega estrategicamente passou a simular o jogo democrático como uma obrigação, mas as declarações do seu líder continuarem a mostrar que era contra o sistema. Por entre a extrema-direita existem versões mais moderadas e outras mais extremistas, mas todas elas colocam em causa as conquistas civilizacionais e, em última instância, a democracia.
Já escrevi vários textos neste blogue em que me debrucei sobre os media e o jornalismo como por exemplo “Fugir das Armadilhas” e “Relação Político Mediática e Jornalismo”. No primeiro escrevi que “A dúvida instala-se sobre o que pudemos esperar do verdadeiro jornalismo quando estes, por motivos de interesses vários, se encontram enfeudados a ideologias e partidos” e mais adiante que “o problema verifica-se quando há tendenciosamente critérios de subtil favorecimento a candidatos pela utilização das mais variadas técnicas de abordagens…”. Pacheco Pereira em artigos de opinião tem abordado aquelas mesmas questões de forma clara e com um preciosismo muito próprio.
Quem vê televisão e os seus noticiários, debates e comentários opinativos durante a pré demissão do primeiro-ministro e depois de conhecidos os resultados das últimas eleições pode perceber as causas e possíveis consequências dos resultados que são lançadas para o ar. Refiro-me à televisão por ser o media através do qual a maioria das pessoas toma conhecimento do andamento da política.
Verifica-se uma ininterrupta relação entre a política e os media onde, para além dos políticos, o jornalismo tem uma carga de politização, talvez até uma partidarização subliminar, que servem de veículos de transmissão de políticas de direita através de comentadores que, ao mesmo tempo, são políticos. São os profissionais da contradição consoante os interesses e que, por vezes, agarram o que os seus adversários dizem e o tomam à letra. Tomar à letra o que se diz tem a suas dificuldades interpretativas e dificuldade em discernir pois depende do contexto em que as frases são enunciadas porque podem ser determinadas pela função da pergunta e dos contextos em que se dá a resposta.
Na política, as questões são frequentemente complexas e podem exigir mais do que um simples "sim" ou "não". Embora seja possível dar uma resposta direta, muitas vezes é necessário fornecer contexto ou explicação e depende da situação. Em todo o caso, na minha opinião, em política não pode haver apenas sim ou não!
Por outro lado, jornalistas, quais lobos famintos, procuram encontrar ininterruptamente supostas contradições que dizem ter sido proclamadas pelos políticos para os atacarem e fazerem disso aberturas de noticiários televisivos ou manchete para capa de jornal.
Verifica-se desde alguns anos um crescimento dum jornalismo politizado, maioritariamente de direita e muito, quer nas televisões, quer na imprensa, não sei se na rádio, mas nas rádios dos jornais e nos podcasts que agora estão na moda isso é certo.
Porém, do ponto de vista do líder do Chega, não há um jornalismo politizado maioritariamente de direita. Para ele, no que reporta às redações, o que se passa é o contrário. Leia-se parte da transcrição do discurso de André Ventura no dia das eleições ao festejar os ganhos eleitorais do seu partido: “…hoje houve em Portugal um ajuste de contas com a história, na nossa história do pós 25 de abril. Houve um ajuste de contas com um país que, durante décadas, foi asfixiado, dominado, manipulado, atrofiado, pela extrema-esquerda e pela esquerda que dominou redações, dominou instituições e que dominou a nossa economia…” (itálico da minha autoria). Neste mesmo dia duas militante do Chega já com alguma idade disseram a um jornalista da CNN que “fala a nossa linguagem” e, ainda por cima, “é um borracho”.
Nas agendas dos noticiários e nos seus alinhamentos os indicadores económicos, financeiros e sociais que foram bons em Portugal e foram aplaudidos internacionalmente foram apresentados de maneira fugaz e não entravam como fator importantes nas notícias.
A isto acresce o ambiente mediático negativo, a agressividade de várias ordens e sindicatos profissionais com criação acintosa de modo a criar um contexto social de caos e insegurança. Servem como exemplos as reivindicações dos sindicatos dos professores, dos médicos, dos enfermeiros, dos polícias entre outros. Acrescentemos o Serviço Nacional de Saúde com que diariamente os telespectadores eram bombardeados aquando das situações extraordinárias devidas às doenças de inverno que anualmente acontecem. Recordemos o anterior bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, que fez tudo quanto era possível para subtilmente desacreditar o ministro da saúde e para fazer campanha denegrindo o SNS. Posteriormente, durante a campanha eleitoral da AD várias vezes estava ao lado de Luís Montenegro e foi, e agora é, cabeça de lista da AD pelo Porto.
Num artigo de opinião Pacheco Pereira escreve que após o resultado das eleições “Subitamente, órgãos políticos e de interesses, como a Rádio Observador, cujos orgasmos matinais contra o Governo davam o tom para as notícias de muitos outros órgãos de informação, passaram agora, como era de prever, a ensinar como é que a AD deve governar, quais as prioridades, o estilo e as alianças. Com ironia se pode perceber que o que antes era negro na acção política agora é branco, já não há falta de transparência nos silêncios, e a obrigação de responsabilidade tornou-se a dos “outros”, como mostra a chantagem comunicacional sobre a votação do PS no Orçamento.”
É fácil perceber que vai cair sobre o PS a responsabilidade por tudo o que aconteça de mal à direita. A pergunta que se coloca é a de saber se deve ser o PS a sustentar um Governo cujo partido ganhou as eleições?
De alguns pensamentos provindos de grupos de comentaristas entendedores de política salientam-se opiniões que propõem que o Chega não deve ficar na oposição porque pode crescer ainda mais. Estas razões são simplistas porque há outras razões mais complexas. Há outras variáveis mais marcantes nos eleitores que que os levaram a presentear o Chega e que têm a ver com aspetos sócio económicos vários que nem sempre são da responsabilidade do PS, mas do jornalismo de influência direitista que preparou a população contra o PS num alinhamento com o Chega e com os partidos da extrema-esquerda.
Parece estar a haver críticas a Montenegro por causa da frase do “não é não” ao Chega, que agora lamentam, porque pôs em causa um possível entendimento com aquele partido. Contudo, do meu ponto de vista, o “não é não” ficou em suspenso para salvaguardar que, numa circunstância como a atual poderia ser adaptado a novas circunstâncias que, entretanto, surgissem. Mas, tal poderá não acontecer pois colocaria face a alguma opinião pública como falta à palavra dada.
É por isso que o “não é não” de Montenegro ao Chega poderá, ou não, ter outras nuances, digamos, mais “flexíveis”. É o mesmo que dizer “Bem, na Assembleia da República falamos o que seria a condensação e ou remoção da frase e de alguns de seus sentidos, com o objetivo de restringir o propósito do pensamento seria uma espécie de “novilíngua” orwelliana) entre todos os deputados”, o que, como é óbvio, todos não significa para a AD falar com o Bloco ou com o PCP, mas com o Chega.
O perigo dos resultados que nos levam de um extremo que é o de passar da liberdade, sistema que para alguns, tendencialmente adeptos das ditaduras dizem ser o pior dos mundos, para outro onde tudo é prometido através da perigosa manipulação das massas.
O livro Triunfo dos Porcos (ou Os Animais da Quinta) de George Orwell, publicado no Reino Unido em 17 de agosto de 1945, mostra-nos como somos enganados, como acreditamos e, consequentemente, como até nos esquecemos das nossas próprias dúvidas, porque achamos que não as temos.
Entretanto vemos a ânsia de poder e os limites a serem ultrapassados e apagados e já não é possível voltar atrás, pois as mentiras, para quem as escolhe, há muito que se tornaram verdades. No final, muitos se tornam naquilo que juraram destruir.
A revolução populista que inicialmente prometia justiça e dizia lutar contra a corrupção, os “porcos” que a denunciavam e diziam poder resolver os problemas da quinta mudam de rumo e acabam por se instalar. No final os “animais”, os “porcos” ficam assim sem saber se estão numa posição igual ou pior que a inicial. Isto por que, assim como acontece com os humanos, os dois porcos líderes que se aliaram mostram as suas verdadeiras cores quando estão em uma posição de poder. Enfrentam as mesmas tentações de reprimir ameaças ao seu governo, e fazem-no de forma cruel. Os dois “porcos líderes” voltam-se um contra o outro, e fica claro que eles não fizeram uma revolução e que a resistência foi inútil. Os animais da fazenda ficaram numa posição em que antes se encontravam, mas quase retornam a uma posição diminuída, pois agora também perderam a esperança numa mudança de situação que melhore as suas vidas.
O perigo das revoltas populares mesmo que iniciadas pelo poder do voto, podem levar-nos de um extremo ao outro e a passar da opressão para uma suposta liberdade onde tudo é permitido e vice-versa, mas também nos mostra o perigo da apatia das massas manipuladas.
A quinta onde se passa a trama do livro de Orwell mostra-nos como somos enganados, como acreditamos e, consequentemente, como toleramos individualmente o que uma sociedade aceita como um todo esquecendo as nossas próprias dúvidas porque já mais ninguém as tem.
A política de hoje reflete uma mentalidade semelhante: o que estamos a fazer não está a funcionar, e devemos encontrar uma maneira de mudar os nossos destinos, mudando os nossos fundamentos e a maneira como abordamos o processo democrático.
Isso não significa que devemos eliminar tudo, ou seguir aqueles que afirmam querer subverter o presente sem um caminho claro para o futuro. Os líderes que se procuram devem depender da sua capacidade de nos fornecer uma missão, e não aqueles em que julgamos acreditar e dizem que nos afastarão do caminho que estamos a pisar agora. É a verdadeira paixão que está por trás duma mudança bem-sucedida que é o que falta aos líderes como aqueles “porcos” patetas que assumiram o disfarce e que depois os mesmos que o construíram o perderam. plano se perdeu.
há algo na importância da integridade da missão e na crença de quem assume a posição de poder e um aviso sobre o que pode acontecer quando os motivos não são puros, mas herdados ou forjados.
Como nota final para os mais jovens não devemos esquecer-nos que Hitler não conquistou o poder pela força, mas através de eleições. A Quinta dos Animais é, no fundo, uma fábula ambientada nos conceitos de tirania e revolução.
A legalização de drogas foi uma proposta da IL que serviu de mote para atrair alguns jovens. A direita do lado da IL-Iniciativa Liberal diz querer legalizar a produção e venda de cannabis para uso recreativo, incluindo no supermercado. De acordo com a proposta da Iniciativa Liberal, qualquer loja (exceto estações de serviço) poderá vender, mas a pelo menos 300 metros de escolas. Consumo só para maiores de 18 anos. Isto foi afirmado em abril de 2023.
Todos os partidos políticos têm feito apelo ao voto dos jovens com promessas e alternativas para todos os gostos. São um isco para a “pesca” de votos. Para todos os partidos da direita os jovens são o máximo e têm sido muito mal tratados dizem.
Para o PSD/AD o governo do partido socialista tratou-os mal, não lhe deu importância, dizem que emigram devido às políticas do Governo PS que não lhes deu o que lhes era devido.
As estratégias e os malabarismos da direita para atrair os jovens, e também de alguma esquerda, são várias. O líder do PSD, Luís Montenegro tem afirmado que não se resigna com um país “que deixa fugir para o estrangeiro os seus jovens” e que é preciso criar mais riqueza para reter as pessoas no país. Tem dito ainda que não se resigna nem conforma com um país que deixa fugir para o estrangeiro os seus jovens, “aqueles que são garante da nossa capacidade de criarmos mais riqueza e, através dessa riqueza, sermos mais justos”. Só que a riqueza não se cria com varinhas mágicas nem num curto espaço de tempo, pelo que os jovens a quem ele se dirige terão que esperar e muito.
A memória de Montenegro é muito curta esquecendo-se do Governo de Passos Coelho do PSD com o CDS. Foi nesse tempo, entre 2012 e 2015 que, de acordo com o Observatório de Emigrações, foram registados os maiores níveis de emigração de portugueses, contabilizando mais de 100 mil saídas anuais, e um saldo migratório negativo, ao contrário do que se tem registado entre 2017 e 2021, em que o saldo é positivo.
Todos se referem aos coitadinhos dos jovens que não têm ou não vão ter o mesmo género de vida que os seus pais e avós tiveram. Uma palavra de ordem que se houve por aí em relação aos jovens portugueses, porque interessa, é a de que esta geração viverá pior do que anterior. A ideia tem por base o critério material, ou seja, o rendimento e regalias sociais que o 25 de Abril possibilitou.
Não sei a que jovens se refere a direita quando fazem estas declarações. Será aos que nasceram entre 1995 e 2005? Parece-se que estas declarações parecem-me ser enganadoras.
Os pais e avós destas gerações não tiveram a vida nada facilitada. Tinham de trabalhar para pagar a habitação a alimentação e a educação dos filhos e em alguns casos até a deles próprios. Não tinham acesso à cultura nem a espetáculos porque o salário era muitas vezes contado para as despesas obrigatórias e os passeios e férias eram condicionados pela disponibilidade financeira.
O que vemos nas últimas décadas, sobretudo na época de primavera verão é a organização de concertos por todo país cujos espaços se esgotam e onde há consumo desenfreado de álcool (diga-se que é mais de cerveja), para já não falar das discotecas, restaurantes onde jovens consumem álcool à discrição com dinheiro grande parte das vezes abonados pelos pais. Os que não estão nesta dependência financeira já têm trabalho, mas do qual se queixam ser precário. Mas têm trabalho!
Porém há dinheiro para divertimento o que se compreende por se considerar que também necessário aos jovens e também aos adultos. Dizem não ter tempo para se divertirem porque têm sempre muito que estudar e dos trabalhos que lhes são impostos nos estudos. Alguns acumulam com um emprego.
Com a IL-Iniciativa Liberal os jovens iludem-se ao pensar que todos serão empresários de sucesso e que serão apreciados pelo mérito e os que não o forem terão ganhos salariais excelentes. Mas enganam-se o excesso de liberalismo retira-lhes direitos, sobretudo ao nível do trabalho. Quando não há mérito na sua avaliação que, sendo vista do ponto de vista da empresa será sempre subjetivo, abre-se a porta para o despedimento.
Num trabalho de Joana Gorjão Henriques publicado no jornal Público jovens foram questionados sobre o seu sentido de voto. Algumas respostas são interessantes e demonstrativa de como os jovens vêm os partidos e a política.
Do que se percebe das conversas, alguns dizem que há vários amigos que aderem às ideias do Iniciativa Liberal, partido que, dizem “chama muito os jovens”. A jovem diz que isso “Tem muito que ver com a forma como eles se publicitam, tentam chegar aos jovens por causas insignificantes, por exemplo, legalização de cannabis, tentam imenso falar sobre isso no Instagram e no Twitter. Pode conferir aqui.
A direita não diz tudo porque não lhe interessa. Identifica a carga fiscal das empresas como um problema. No entanto parecem desconhecer ou omitir que os governos vão precisar de cada vez mais receitas fiscais e sociai, para pagar as reformas e a saúde de uma sociedade envelhecida; para compensar os cidadãos pelas consequências das secas, cheias, fogos, aumentos dos preços da energia e da alimentação; para investir na descarbonização. Será razoável, neste contexto, pensar que se pode reduzir os impostos e as contribuições sociais? Escreve-se no artigo. A direita omite, mas não desconhece, porque tem em vista usar os recursos do Estado para pagar a privados, nomeadamente a saúde que deveria, por direito, ter serviços públicos de qualidade, para todos, porque o privado, mesmo recebendo esses recursos, não conseguiria dar resposta.
Que se baixem os impostos todos queremos, mas uma coisa é baixá-los outra coisa é poder fazê-lo sem pôr em causa o Estado Social como a IL e o Chega pretendem fazer, assim como o PSD, mas este de forma mais faseada e sem dar nas vistas.
Todos estes propõem dar tudo a todos sabendo que não poderão fazê-lo. Uns prometem ser já nesta legislatura, outros dizem que irão fazê-lo até ao fim da legislatura, outros será gradual outros ainda nos primeiros sessenta dias de governo. Isto é que é mesmo gozar com quem trabalha!
Com a diminuição da receita e com um contexto internacional que pode ser adverso que pode agravar-se e colocar em causa a economia, mais tarde ou mais cedo alguém vai ter de sofrer cortes e serão sempre os mesmos. Isto é, são promessas vãs que a direita não conseguirá controlar.
Durante esta campanha eleitoral toda a direita, quer ser campeã e protagonista da baixa de impostos.
No entanto, o PSD ou com a AD, quando teve possibilidade para o fazer nunca o fez e foram vários os governos como se pode confirmar. Neste governo nunca nenhum deles baixou impostos, antes pelo contrário.
Governos Período Primeiro-Ministro
VI Governo 1980 – 81 Sá Carneiro/Freitas do Amaral
VII Governo 1981 Francisco Pinto Balsemão
VIII Governo 1981 – 83 Francisco Pinto Balsemão
X Governo 1985 – 87 Aníbal Cavaco Silva
XI Governo 1987 – 91 Aníbal Cavaco Silva
XII Governo 1991 – 95 Aníbal Cavaco Silva
XV Governo 2002 – 04 José Manuel Durão Barroso
XVI Governo 2004 – 05 Pedro Santana Lopes
XIX Governo 2011 – 2015 Pedro Passos Coelho
Votar num partido não radical e com sensatez na governação é o que se impõe neste momento pouco favorável internacionalmente e em que vai ter de haver aumento em despesas militares. Aventureirismos deram sempre mau resultado.
Luís Montenegro parece estar determinado em mostrar um PSD com um olhar para o futuro, mas mostra ter mais confiança no passado a que recorre na campanha eleitoral. Estes, os que ele chamou, são escolhas do passado para atrair os solitários militantes ou eis militantes do partido que nada terão para oferecer a não ser comentar políticas clubistas partidárias.
Se a AD ganhar quem vai perder seremos todos. Uma coisa é certa, a direita terá maioria na Assembleia da República, sim, porque não nos podemos que esquecer que os votos no Chega também contam.
Luís Montenegro está focado em olhar para o futuro, mas parece querer um regresso às políticas do passado. As propostas que ele diz poder executar são uma ficção tendo em conta a adversidade que pode ocorrer devido aos conflitos internacionais que poderão condicionar o Orçamento do Estado. Há que ter em conta a rubrica destinada à defesa que já foi debatida na U.E. que terá de ser aumentada restando menos para o cumprimento de promessas. Se essa adversidade acontecer, o que é o mais provável, Montenegro terá uma desculpa para não poder executar essas promessas.
Não basta dizer nem prometer, é saber se se pode fazer e cumprir. Se a velha AD ganhar a ver vamos se as promessas se cumprem! Se assim for, de qualquer modo, teremos de esperar sentados porque só lá para 2028, antes de novas eleições.
A direita, de vez em quando, recua ao passado para atacar o PS, mas, ao mesmo tempo, Montenegro diz que Pedro Nuno está sempre a lembrar o passado do PSD e da PàF (a versão 1.0 da AD) com que Montenegro diz querer reconciliar os portugueses tentando varrer o passado da memória dos portugueses.
Em baixo seguem as Aventuras e as Desventuras do PSD/AD (versão 1.1) para que Montenegro bem se recorde:
Público — Jan 2023
Montenegro fez dez contratos por ajuste direto com as câmaras de Espinho e Vagos
Entre Fevereiro de 2014 e Janeiro de 2022, a sociedade de advogados de que o presidente do PSD era sócio faturou
679 mil euros em contratos com entidades públicas.
A passagem de Cavaco Silva pela Sociedade Lusa de Negócios (SLN), como acionista, foi lucrativa. O Presidente da República (PR) vendeu em Novembro de 2003 as 105.378 ações que tinha da SLN - empresa que até Novembro controlou o Banco Português de Negócios (BPN) -, por 2,4 euros cada. Tendo em conta que as tinha comprado em 2001 por um euro, Cavaco obteve, com este negócio, ganhos de 147,5 mil euros.
Justiça investiga venda do Pavilhão Atlântico a genro de Cavaco Silva. Suspeitas de favorecimento a Luis Montez com o conluio de Ricardo Salgado e Zeinal Bava.
16 de Fevereiro de 2019
O negócio da venda do Pavilhão Atlântico (PA), em Lisboa, a Luis Montez, dono da Música no Coração e genro de Cavaco Silva, está a ser investigado pela Justiça por suspeitas de favorecimento.
O equipamento, que custou ao Estado cerca de 50 milhões de euros, foi vendido ao consórcio Arena Atlântico por
21,2 milhoes em 2012. O governo PSD-CDS optou por negocliação particular em vez de concurso público, num
De acordo com o relatório do gabinete antifraude da Comissão Europela, “o montante a recuperar" pelas Instituições — europeias, devido às irregularidades detetadas na Tecnoforma, ascende a 6.747.462 euros Uma investigação levada a cabo pelo gabinete antifraude da Comissão Europeia (OLAF) chegou a conclusões muitos diferentes das do Ministério Público no casoTecnoforma, empresa onde Pedro Passos Coelho foi consultor e administrador, avança o “Público” esta segunda-feira.
De acordo com documentos publicados pelo jornal "Público", Pedro Passos Coelho pediu a atribuição do subsídio de reintegração a 27 de outubro de 1999, já depois de terminada a legislatura, ao contrário do que era habitual. Num outro documento, datado de 17 de Fevereiro de 2000, Pedro Passos Coelho informa que desempenhou "as funçoes de deputado da VI e VII Legislaturas, em função de exclusividade”.
Os serviços da Assembleia da República registaram, a 15 de março de 2000, "que Passos Coelho não tinha enviado
as declarações de IRS referentes ao período 1995-99, que se destinavam a comprovar que não tinha auferido rendimentos — incompatíveis com o regime de exclusividade - entre 1991 e 1995 o subsídio não dependia
Maria Luís Albuquerque vai ganhar cerca de 5000 mil euros por mês no novo cargo como administradora não-executiva na Arrow Global. E a este valor vai somar osalário de deputada.
A Arrow Global foi uma das empresas que comprou dívida do Banif, banco cuja situação Maria Luís Albuquerque adiou a resolução, enquanto esteve no poder. Na semana passada, a notícia da contratação gerou de imediato uma forte polémica
Um grupo de funcionários das instituições europeias anunciou esta segunda-feira ter apresentado uma queixa
contra a Comissão Europeia devido à passividade com que foi encarada a ida para a Goldman Sachs do antigo
presidente, o português José Manuel Durão Barroso.
Segundo o Le FIgaro, que cita um comunicado enviado pelo coletivo, o grupo autointitulado "EU employees" -
funcionários da União Europeia em português - apresentou queixa Junto do mediador europeu, uma instância Independente encarregada de conduzir os Inquéritos nos casos de administração dolosa no seio das Instituições da União Europeia.
Durão Barroso deixou a Comissão Europeia em outubro de 2014, sendo substituído por Jean-Claude Juncker. Em
julho, foi tornado público que o ex-primeiro-ministro seria presidente não-executivo do Goldman Sachs Internacional, com o dossier da saída britânica da União Europeia.
"Desde que está connosco [Durão Barroso] sempre se recusou a representar a empresa em quaisquer Interações com responsáveis da União Europela, garante o banco, acrescentando que 'qualsquer reuniões desse tipo estão relacionadas com a sua competência pessoal construída ao longo da sua carreira de serviço público”, avança ainda o Goldman Sachs.
Saco azul do BES também financiou Cavaco Silva António José Vilela, Carlos Rodrigues Lima.
04 de julho de 2019
Nas Presidenciais de 2011, Ricardo Salgado e outros elementos do Espírito Santo fizeram donativos para Cavaco Silva, num total de 253 mil euros. Mas acabaram reembolsados pela ES Enterprises
Os falantes da oposição de direita do PSD/AD para criticarem o Partido Socialista, seu opositor mais direto, dizem que estão sempre a falar do passado do Governos Passos Coelho durante o período da troica. Pois é! Não gostam que se recordem esses tempos dos cortes de pensões, de salários e aumentos de impostos e outros malefícios que advieram do “ir além da troica”.
Nesta campanha Luís Montenegro seguindo o modelo tem andado a retirar do repositório do partido e a chamar para a sua campanha alguns nomes de má memória. Já tinha siso Passos Coelho, agora Durão Barroso é chamado para o encontro. Este, sem mais, como seria de esperar lá falou também do passado para tentar “limpar” a imagem de austeridade do Governo de Passos Coelho e da austeridade e tira da cartola o “coelho” que é a “questão da troika”. Claro, lá voltou a dizer que “Quem pôs Portugal na bancarrota foi o Governo PS” acrescentando que “Não temos de pedir desculpa por esse período, temos que ter orgulho por aquilo que fizemos com sentido patriótico para salvar Portugal”. As palavras como “sentido patriótico” e “salvar Portugal” que pareceram ter sido retiradas dum discurso dum partido populista pró-fascista.
Durão Barroso fez ainda mais, ajudou Luís Montenegro a limpar-se das polémicas declarações do candidato de Santarém sobre as alterações climáticas que pareciam, (ou serão) dum negacionista convicto quando Eduardo Oliveira e Sousa, antigo presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), considerou que Portugal tem perdido investimento por “falsas razões climáticas” e avisou que há agricultores que já falam em organizar milícias armadas perante “os roubos nos campos”.
Luís Montenegro já se tinha colocado antes ao lado do candidato por Santarém do ataque a que foi sujeito por todos os partidos por causa daquelas declarações sobre as alterações climáticas. Para Luís Montenegro, Eduardo Oliveira e Sousa só fez alertas e admite que “há zonas de fanatismo ambiental” que têm frustrado projetos de investimento. Mas onde raio ficam essas zonas de fanatismo ambiental?
Ana Sá Lopes escreveu no Público que “Quanto ao “ajuda” Eduardo Oliveira e Sousa, cabeça de lista da AD por Santarém, que veio questionar a crise climática, quando criticou a proibição de “novas plantações às cegas baseada em ideologias de extrema-esquerda, iludindo as pessoas com falsas razões de ordem climática”, e que anunciou aos portugueses que os agricultores estão prontos a “organizar-se em milícias” contra os roubos do cobre, a ajuda foi fabulosa. Tivesse isto acontecido na campanha do PS e o país político tinha ido abaixo”.
Só faltava agora na procura de oportunidades de protagonismos políticos Santana Lopes que, em janeiro de 2021, quatro meses após ter abandonado a presidência da Aliança, rompeu definitivamente com o partido que fundou em 2018, depois de 22 anos de militância no PSD. Santana e a Aliança deixaram de “viver juntos” depois de 22 anos de militância no PSD, a sua casa de sempre, como o próprio escreveu numa carta que dirigiu na altura aos militantes na qual explicava que ele e o PSD deixavam de “viver juntos”. O primeiro passo de afastamento da Aliança aconteceu em junho, altura em que abandonou as funções executivas que tinha no partido.
Este baloiçante partidário regressou a tempos passados para contrabalançar com o PS quando este se refere ao passado do governo de Passos Coelho que colocou as pessoas de tanga com cortes e mais cortes e aconselhou jovens e professores a emigrar.
Na Figueira da Foz onde Santana Lopes esperou por Montenegro apontou baterias ao PS. “Nenhum dos antigos líderes do PSD ou do CDS fugiu a dizer que vinha aí o pântano, nem nenhum pediu intervenção externa, nem nenhum se demitiu por peripécias passadas no seu gabinete”, referia-se aos antigos chefes de governo socialista António Guterres e José Sócrates. Santana Lopes esqueceu-se de agradecer a Durão Barroso por ter optado por abandonar o governo de Portugal e o ter designado seu sucessor e o ter elevado a primeiro-ministro que tornou Portugal num autêntico circo de barraca.
Lembram-se da frase de Passos Coelho quando, em 2016, ao despedir-se dos deputados do PSD, dramatizava em tom catastrofista a situação política com “Vem aí o diabo”? Disse ele então “Gozem bem as férias que em setembro vem aí o diabo”.
Passos Coelho para ajudar (ou prejudicar) o PSD/AD veio agora usar a mesma estratégia do recurso ao medo, desta vez o mais básico que é o medo do outro ao fazer a associação dos imigrantes com insegurança. Esta estratégia já é conhecida e praticada há muito por partidos populistas da extrema-direita.
Recordam-se quando em 2013 Pedro Passos Coelho, que estava há pouco tempo no Governo e na Suíça se restringia a entrada de imigrantes a todos os países da União Europeia aplicando um teto máximo às quotas de autorizações de residência e o então presidente do PSD Passos foi um dos chefes de governo europeus que criticaram tal medida?
Em 19 e 20 de dezembro daquele ano Passos Coelho discursava sobre as políticas de imigração europeias, que iriam ser tratadas pelos chefes do Governo no encontro de Bruxelas dizia então que “…é de lamentar que ciclicamente apareçam visões negativas de uma espécie de Europa fortaleza”. E mais, “A Europa precisa de imigrantes e força de trabalho”, embora possa “não ter condições para dar asilo a muita gente”, mas “precisa no seu espaço de acolher imigração porque precisa de contrariar os fenómenos de natalidade decrescente”. Mudou agora de opinião. Passos Coelho quer que a AD aproveite a “mãozinha” do Chega de Ventura.
Se recuarmos aos anos 30 do século XX verificamos que parece haver uma aproximação destas afirmações com partidos populistas e fascistas que recorriam ao medo para mobilizar as populações para os seus desígnios.
Sabemos como os partidos populistas de direita constroem com sucesso o medo recorrendo a perigos reais ou imaginários designando bodes expiatórios acusando-os de ameaçarem ou realmente prejudicarem as suas sociedades.
Todos os partidos populistas de direita instrumentalizam as populações contra algum tipo de minoria étnica/religiosa/linguística/política para serem os bodes expiatórios de todos os problemas atuais para, logo de seguida, acusarem o respetivo grupo como perigoso e como uma ameaça para nós e para a nossa nação, é o fenómeno que se manifesta pela política do medo.
Veja-se o caso do partido nazi na Alemanha de 1939 em que os judeus foram o alvo de perseguições pela mobilização da população contra eles, mas há outros. O fascismo, ideologia política autoritária e nacionalista, muitas vezes capitaliza o medo e o preconceito para ganhar o poder. Os líderes fascistas exploram as ansiedades da sociedade prometendo segurança, estabilidade e o acesso a uma era de ouro e de crescimento. Para capitalizarem preconceitos existentes, exploram os medos enraizados da população através de narrativas simplistas contra certos grupos como fonte de problemas sociais e pessoais que populações pouco avisadas percecionam.
Exemplos históricos como o regime nazi da Alemanha e o governo fascista de Benito Mussolini na Itália fornecem ilustrações claras de como o medo pode ser aproveitado para alimentar ideologias fascistas. No primeiro caso explorou-se a instabilidade económica, o sentimento antissemita para chegar ao poder. Ao criar-se um inimigo comum na imigração joga-se com os medos existentes que são usados para consolidar o apoio e controlar as populações.
Passos Coelho parece ter recorrido a um medo latente e perigoso para intencionalmente se aproximar do Chega e talvez captar alguns eleitores para a AD.
Os que promotores deste tipo de discursos populistas lançam para a população vários medos, como o de perder o emprego, medo de estranhos (ou seja, imigrantes), medo de perder a autonomia nacional, medo de perder as velhas tradições e valores, medo das mudanças climáticas, deceção e a repulsa de e para com a política tradicional e os políticos, da corrupção, a aversão para com o fosso crescente entre ricos e pobres, a pobreza devido a governos que pretendem derrubar, culpabilizam os que defendem o Estado Social, fomentam o descontentamento devido à falta de transparência na tomada de decisões políticas e assim por diante.
A intervenção de Passos Coelho foi perigosa e tinha a capacidade para abrir uma Caixa de Pandora”. O PSD só foi radical quando seguiu a política neoliberal de Passos Coelho. Embora digam que era necessário, mas o “ir para além da troika” não foi esquecido e a forma como ele se tem referido ao partido de Ventura também não. Passos Coelho teve com a sua intervenção na campanha da Aliança Democrática o acordo de André Ventura.
Em dezembro de 2023 questionado sobre se o PSD precisava do Chega para ter força para governar, Passos Coelho respondeu que um acordo entre os sociais-democratas e o partido de André Ventura depende das “estratégias partidárias e dos votos dos portugueses”, mas nunca excluiu a possibilidade desse acordo.