Aqui vocês, podem encontrar de tudo um pouco: sociedade, ambiente, comunicação, crítica, crónicas, opinião, política e até gastronomia, com apoio de fontes fidedignas.
Não sou simpatizante da AD e PSD, nem de muitas das políticas que Luís Montenegro defende, nem das suas propostas, mas tenho consideração por ele por ser um político educado, correto e, em certa medida, coerente, e por isso, fiquei chocadíssimo com a selvajaria desses energúmenos que lhe lançaram tinta.
O combate democrático e os alertas para causas não se faz assim, isso é terrorismo político e ideológico que é a estratégia de movimentos concebidos para o uso da violência para atingirem fins que, por vezes, nada têm a ver com a pureza dos objetivos que dizem defender,
É inadmissível que esses jovens que andam a lançar tinta verde a políticos, sem qualquer justificação razoável, possam vir a ser futuros responsáveis seja do que for. É sempre perigoso fazermos generalizações, mas quem anda para aí a falar na campanha eleitoral e salienta nos seus programas promessas e propostas para o futuro dos jovens, os coitadinhos que vivem mal, sem emprego, sem habitação, que ganham pouco e são precários, parece-me ser demagógico e estão a referir-se a realidades que parecem desconhecer.
O que esses meninos sem ocupação séria fazem é desenvolver anticorpos contra eles e pelas ideias que dizem estar a lutar. Afinal, representam o contrário do que dizem defender, sem apresentarem solução a não ser dizer que são anticapitalistas. É muito pouco e apenas demonstram apenas fraqueza de espírito. De facto, é muito pouco para uma atividade de defesa do ambiente que deveria ser séria.
Dizem ser anticapitalistas, mas será que serem apenas isso resolve algum problema ambiental? Eles próprios são o seu pior inimigo. São poluidores que gastam desnecessariamente tinta e contribuem para conspurcar o ambiente.
Será que Passos Coelho foi dar a bênção à negociação da AD com o Chega, isto é, uma AnD-Aliança não Democrática?
Vejamos os factos:
Passos Coelho foi participar com Luís Montenegro no segundo dia de campanha da Aliança Democrática. O antigo primeiro-ministro discursou num comício da AD em Faro e Luís Montenegro agradeceu o “trabalho patriótico” nos tempos da troika.
Neste mesmo comício Passos Coelho deixou uma porta aberta para que o PSD faça acordos com o Chega. Ao fazer isso Passos Coelho atestou e validou uma abertura para que a chamada AD possa fazer uma negociação com o Chega, seja de que modo for. Aliás, esta atitude de Passos não é recente. Em novembro de 2023 Passos Coelho afirmava que o Chega não é um partido antidemocrático e que tem toda a legitimidade de existir.
Por diversas vezes, ao longo dos anos, André Ventura elogiou o antigo primeiro-ministro. Depois do comício da AD em Faro, que mais parece uma aliança unipartidária, Ventura deu um recado a Montenegro: “se me estiveres a ouvir, convida Passos Coelho mais vezes.” Afirmou ainda que “Em 20 minutos, Passos Coelho explicou a Montenegro como é que há dois anos devia fazer no PSD”.
Sobre isto como deve reagir Montenegro à porta que Passos Coelho deixou aberta? Claro que Ventura aproveitou, sem hesitação, a abertura dessa porta e disse “O que Pedro Passos Coelho disse hoje foi 'ponham os olhos no Chega'”.
Ficaram abertasportas para caso da AD ganhe as eleições termos uma aliança alargada com o partido Chega com uma maioria apoiada pela extrema-direita, arriscando-se e para o PSD perder a sua identidade.
Passos Coelho usou a palavra espírito da AD o que nos faz recuar a 1979, talvez até um pouco antes, 1973, digo eu!
As ideias de Passos sobre a política neoliberal a aplicar em Portugal não mudou. Ele será um fiel seguidor das suas ideias. A dúvida fica em saber se Montenegro também não as irá seguir. O que eles, da aliança PSD-AD, dizem antes das eleições é uma coisa, depois é outra. Se um Não é Não ao Chega pode passar a um SIM é SIM logo se verá. Há que se estar atento.
Quem neste momento está na disposição de votar no partido Chega, ou não sabe o que é a extrema-direita, nacionalista xenófoba e racista ideias que perfilhava quando foi criado, ou está desorientado com a narrativa de ser um partido que se interessa pelas pessoas. Talvez por presentemente tentar moderar o seu discurso, o que o seu líder Ventura não está a conseguir de forma clara. Para aproveitar a ingenuidade de alguns eleitores retirou do seu programa alguns pontos mais comprometedores das suas intensões.
Nas últimas publicações tenho-me debruçado sobre André Ventura e o seu partido, o Chega. Mas, o que é o Chega e como chegou até aqui? O partido Chega, pela voz do seu líder, nega a designação de extrema-direita que não lhe agrada e parece pretender balizá-lo como um partido populista de direita de cunho liberal-conservador. Talvez seja uma estratégia para captar o maior número de descontentes de todo o espectro político e da abstenção. Isto é, tem um discurso racista, anti-imigração, diz-se contra o sistema, mas nega veementemente ser de extrema-direita.
De acordo com Heidi Beirich, especialista em ciência política pela Universidade de Purdue sobre fascismo europeu e movimentos de extrema-direita, fundadora do GPAHE, afirmava em 26 de junho de 2023 que «o Chega é um partido profundamente anti-imigração, anti ciganos e anti-LGBTQ», e que «Demoniza os imigrantes e os seus dirigentes, incluindo o seu líder carismático, André Ventura, têm dito coisas horríveis sobre os ciganos, chamando-lhes um problema de segurança - entre outras coisas».
Ainda segundo a mesma especialista, Ventura também falou de coisas como a teoria da conspiração da grande substituição, que é uma ideia supremacista branca que defende que os imigrantes vão substituir os portugueses, em Portugal, o que está em linha com o que se passa na europa.
Contudo, e segundo a opinião de Cátia Moreira de Carvalho, investigadora na área do extremismo, terrorismo, psicologia e política na Universidade do Porto onde se dedica a estudar os processos psicossociais associados à prevenção e combate à radicalização e envolvida em projetos de investigação (contra) radicalização, afirmou à Euronews em agosto de 2023 que «de momento, o Chega é um partido populista de direita radical, e não um partido de extrema-direita». Justifica a sua afirmação porque «o Chega tem claramente uma agenda populista, uma vez que vê o “povo puro” em oposição às “elites corruptas”» slogans dos populistas. Acrescentou que o partido «defende opiniões iliberais e que o seu objetivo é estabelecer um tipo de democracia iliberal em Portugal.». A diferença está, para a mesma especialista que «A extrema-direita quer abolir toda e qualquer forma de democracia e recorre à violência para atingir os seus objetivos. Por enquanto não é isso que o Chega tem feito, nem me parece que venha a acontecer num futuro próximo», supõe Cátia Moreira.
Não me parece ser assim tão evidente porque em alguns momentos André Ventura dissimuladamente tem incitado alguns movimentos, alguns inorgânicos como o “movimento zero” e também da GNR. Em 2019 o presidente da Associação dos Profissionais da Guarda (APG/GNR) considerou “um aproveitamento político” do deputado do Chega, André Ventura, ter usado o palco e um megafone da organização da manifestação de polícias para fazer um discurso.
Passos Coelho, em novembro de 2023, afirmava que o Chega não é um partido antidemocrático e que tem toda a legitimidade de existir. De facto, o partido tem toda a legitimidade de existir face às regras da democracia. Está legalizado, participou em eleições, teve votação que lhe concedeu deputados na Assembleia da República. É certo, mas, embora na Europa ainda não se tenha verificado pergunta-se quantos países no mundo estão em declínio democrático? No passado quantos partidos em regimes democráticos aproveitaram a democracia para acabarem com ela e passaram a ditaduras.
No presente as democracias podem estar a correr riscos. De acordo com o relatório mais recente sobre o Estado Global das Democracias, relativo ao ano de 2021, do Instituto Internacional para a Democracia e a Assistência Eleitoral (IDEA), metade dos 173 países avaliados revelaram declínio em pelo menos um dos atributos democráticos. O relatório indica que o número de países democráticos em regressão é o mais elevado da última década. Além disso, o número de países a nível mundial que avançam na direção do autoritarismo excede o dobro do número de países que avançam numa direção democrática. Portanto, pode dizer-se que um grande número de países está em declínio democrático.
As perguntas que podemos colocar são as de saber como o Chega, um partido tão recente e controverso, está a ter uma ascensão vertiginosa? Como rapidamente se inseriu no vasto panorama dos partidos populistas? Como corteja a extrema-direita europeia, tem narrativas contra os migrantes, muçulmanos e ciganos, mas rejeita ser descrito como racista e xenófobo sabendo-se ainda que André Ventura é fã de Bolsonaro e de Trump?
Uma das respostas é que chegámos aqui à semelhança do que se tem passado na Europa com o crescimento de outros partidos da extrema-direita. Podemos incluir o crescimento do partido Chega no conjunto de vários fatores que se medem por uma combinação de mudanças políticas, normalização e respostas aos desafios sociais que estão a moldar a futura paisagem política do continente europeu. Os partidos populistas de extrema-direita têm vindo a ganhar terreno em toda a Europa e a sua influência está a tornar-se mais pronunciada e a ganhar apoio eleitoral.
A normalização destes partidos começou a conferir-lhes alguma respeitabilidade (excluo daqui o Chega cujo seu líder não tem contribuído para tal) e começam a estar enraizados moldando políticas e apoio eleitoral. Seja na Itália, Espanha, França ou Finlândia, partidos que já foram marginalizados ganharam respeitabilidade e até conseguiram poder em coligações e alguns até obtiveram pastas ministeriais.
São exemplo a extrema-direita que faz parte do novo governo de coligação na Finlândia e, em troca de concessões políticas importantes, o mesmo se passa na Suécia. Há aproximadamente um ano para as próximas eleições na Áustria, a extrema-direita (FPÖ-Freiheitliche Partei Österreichs, Partido da Liberdade da Áustria) está atualmente confortável à frente nas sondagens.
Têm sido impulsionadores do fenómeno a oposição à imigração proveniente do Médio Oriente e de África que alimentam o populismo de extrema-direita, o euroceticismo crescente e o descontentamento com as políticas económicas da União Europeia que também contribuem para os radicais de direita serem ouvidos.
Num artigo publicado pela RTP “O AfD partido alemão da extrema-direita, admira o estilo de governação autocrático e homofóbico de Putin como uma espécie de modelo para a Alemanha. Querem restabelecer a antiga relação germano-russa, incluindo a importação de gás e petróleo russos. Por esta razão, pedem o fim das sanções e do fornecimento de armas à Ucrânia”, segundo o professor emérito da Universidade de Bremen, em declarações à agência Lusa. Sabe-se que há outros partidos da extrema-direita europeus que tem posições pró Russia e que são ou já foram, (caso do partido de Le Pen em França) apoiados por Putin.
Acrescem ainda fatores como a política partidária fragmentada nos países e a polarização da Europa têm criado oportunidades para que aqueles partidos se tornem relevantes quando nenhum dos grandes partidos tem maioria e os pequenos movimentos ganham importância neste tipo de cenários apoiando a manutenção dos partidos de direita moderada no poder.
Em 23 de fevereiro, disse Ventura na TVI “Fui mal compreendido em relação ao que disse sobre a comunidade cigana”. Mais uma treta para enganar os adormecidos e desatentos. Por algum motivo deixou de se referir ao que designava como um problema.
O que tem unido os partidos da extrema-direita na Europa na mesma orientação, e também o adotado pelo Chega, para além do controle da imigração, juntam-se as guerras culturais, os direitos das minorias, a crise climática e os sacrifícios injustos que os governos insistem que serão necessários para combatê-la. Os partidos de extrema-direita numa atitude oportunista, tendo em vista a captação de votos, têm moderado algumas de suas visões mais condenáveis pelo eleitorado.
Catherine Fieschi, especialista em estudos sobre o populismo e extrema-direita e diretora desde setembro de 2019 do Global Policy Institute da Queen Mary University of London, “os partidos de extrema-direita parecem agora ser um voto razoável para muitas das pessoas que, em circunstâncias anteriores, teriam votado numa esquerda popular e protetora.”. No caso português não sei se terá sido assim, embora em regiões tradicionalmente de esquerda como no Alentejo os votos no Chega tenham conseguido o quarto lugar nas últimas eleições. Ainda segundo a mesma autora “O que a esquerda pode prometer é a proteção, mas a extrema-direita promete ordem e controle. Não pode necessariamente entregá-lo, mas fala mais aos medos individuais e culturais das pessoas.”
O partido personalizado em André Ventura teve uma evolução muito própria. Depois do 25 de abril quem teria tido ligações ou era conotado com o anterior regime estava sujeito a perseguição ideológica e sujeito a críticas “abrigaram-se” em partidos de direita como o PSD e o CDS/PP. Outros dispersaram-se por pequenos partidos da direita radical então surgidos, mas que nunca chegaram a ter representação parlamentar.
Nos órgãos partidários do partido Chega encontram-se alguns outros que vieram da direita radical que se opunham à democracia do 25 de Abril. Um deles foi Diogo Pacheco de Amorim que desempenha o cargo de Vogal da Direção nacional e Coordenador da Comissão Política Nacional do partido Chega tendo exercido o cargo de Vice-Presidente da Direção Nacional do partido.
Quando em 2019 o partido Chega foi constituído nas eleições desse mesmo ano conseguiu o 7º lugar a nível nacional elegendo um deputado. Nas eleições de 2022 saltou para o 3º lugar conseguindo eleger doze deputados, contudo esta subida não corresponde ao número de militantes inscritos. A sua subida eleitoral terá sido reforçada por franjas que terão sido eleitores do PSD e do CDS/PP, entre outros pequenos partidos.
O Chega parece pretender balizar um partido populista de direita de cunho liberal-conservador para captar o maior número de descontentes de todo o espectro político e da abstenção. Para tal, capitalizou a retórica populista, explorando sentimentos de insatisfação e frustração entre certos segmentos da população. O discurso de André Ventura apela aos que sentem marginalizado ou desiludido com a política tradicional utilizando palavras tipo ‘soundbites’, isto é, frases curtas facilmente apreensíveis e recordáveis para fazer passar a sua mensagem que são repetidas até à exaustão e percetíveis por franjas da população politicamente iliterata.
Idêntico à de outros movimentos populistas em toda a Europa, o Chega pretende posicionar-se como antissistema, criticando os partidos e instituições políticas tradicionais que retrata como incapazes de abordar as preocupações dos cidadãos comuns, mas, ao mesmo tempo, tenta pressionar e captar os partidos da direita democrática para alianças. Contradição evidente, partido antissistema pretende fazer parte do sistema que diz reprovar. Procura que alguns eleitores percebam que estão votados ao abandono pelos que ele chama elite política.
Em Portugal o aproveitamento demagógico do Chega vai também no sentido de mostrar que nos últimos anos tem havido um aumento da imigração. Facto que usa para apelar ao controlo de fronteiras e para aplicação da lei indo ao encontro da corrente de opinião que se sente um incómodo com esta tendência que é também alimentada por movimentos radicais como o “nativismo” e, em alguns casos, suprematistas e racistas. Estes grupos radicais de extrema-direita pretendem a aplicação de políticas de promoção dos interesses da população nativa de um país contra os dos imigrantes, incluindo o apoio a medidas de restrição à imigração. O nativismo é uma das expressões do nacionalismo segundo o qual estrangeiros nunca são bem recebidos numa sociedade, por os considerarem diferentes, por origem geográfica, religião ou qualquer outra característica socioeconómica.
Também neste sentido o partido Chega ganhou apoios ao defender políticas de imigração mais rígidas, e uma postura mais dura em questões de crime e segurança. Ao mesmo tempo tem tirado proveito dos receios de diluição cultural e de perda de soberania nacional, enaltecendo a nostalgia de uma perceção de época de ouro da história portuguesa, o nosso passado histórico colonialista.
É provável que o crescimento do Chega tenha também origem na utilização eficaz das redes sociais e os canais de comunicação digital para divulgar a sua mensagem e mobilizar apoiantes. Isso pode ter permitido que o partido alcançasse um público mais amplo, especialmente entre os eleitores mais jovens que são mais premiáveis a ideologias simbolicamente radicais e mais ativos online.
Quem neste momento está na disposição de votar no partido Chega, ou não sabe o que é a extrema-direita, nacionalista xenófoba e racista ideias que perfilhava quando foi criado, ou está desorientado com a narrativa de ser um partido que se interessa pelas pessoas. Talvez por presentemente tentar moderar o seu discurso, o que o seu líder Ventura não está a conseguir de forma clara. Para aproveitar a ingenuidade de alguns eleitores retirou do seu programa alguns pontos mais comprometedores das suas intensões.
Saindo Ventura, o partido sobreviverá? É uma incógnita!
O debate entre Mariana Mortágua e Luís Montenegro mantem-se depois do frente a frente devido ao argumento de Mortágua sobre a lei das rendas de Assunção Cristas conhecida por Lei Cristas no tempo do governo de Passos Coelho.
Li hoje no jornal Público um artigo de opinião de Carmo Afonso que abaixo reproduzo, mas antes farei um enquadramento. Lei Cristas, foi assim que ficou conhecida a mudança no arrendamento feita em 2012 no governo do PSD e CDS e promulgada por Cavaco Silva. Cavaco para mostrar na altura que estava atento e preocupado, escrevia numa nota da Presidência que "o Presidente da República, tendo tomado conhecimento do comunicado divulgado pelo Governo na passada sexta-feira, dia 27, esclarecendo vários aspetos relativos ao Decreto da Assembleia da República que procede à revisão do regime jurídico do arrendamento urbano (...), decidiu promulgar como lei o referido diploma".
A explicação que convenceu Cavaco não foi na altura suficiente para os inquilinos, que temiam os aumentos e o que acontecerá aos inquilinos que não consigam suportar uma renda de 1/15 do VPT (Valor Patrimonial Tributário). “Serão despejados, não há a menor dúvida”, lamentou na altura Romão Lavadinho, presidente da Associação de Inquilinos Lisbonense (AIL).
Apesar de na referida nota Cavaco Silva dizer “assegurar a estabilidade contratual e a proteção social” dos arrendatários em situação mais vulnerável, havia uma "vasta experiência de diplomas que são prometidos e que nunca saem do papel", afirmou, na altura a AIL que lamentava a promulgação e que o Presidente Cavaco não estava a cumprir nem a fazer cumprir a Constituição.
Esta lei volta agora a ser notícia depois do debate entre Mortágua e Montenegro. A direita arrana uma verdade alternativa, termo que se refere à ideia de que a verdade pode ser moldada ou alterada para se adequar a uma narrativa ou perspetiva particular e pretende ainda fazer uma lavagem histórica ao que fez na altura remetendo para anteriores leis.
Aqui segue o artigo de opinião de Carmo Afonso sem que antes refira que não sou simpatizante do BE, nem tão pouco de Mariana Mortágua, mas não me inibo de apoiar qualquer político que eu entenda estar dentro da razão, apenas abro exceção aos que raramente, ou nunca, têm razão e que, à falta dela, se agarram ao populismo e à demagogia.
A lei da Cristas e a avó da Mortágua
É muito óbvia a razão pela qual continua a insistir-se na acusação a Mariana Mortágua de que terá mentido. Ajuda muito a estabelecer o paralelismo com o populismo da extrema-direita.
Carmo Afonso
In jornal Público 23 de Fevereiro de 2024
Comecemos pelas afirmações de Mariana Mortágua no debate com Luís Montenegro: “Eu lembro-me de uma lei das rendas, em que as pessoas idosas recebiam uma carta e, se não respondessem durante 30 dias, a renda aumentava para qualquer valor e podiam ser expulsas.” Esta afirmação é verdadeira. As pessoas idosas não estavam excluídas do regime. Também elas poderiam receber a famosa carta, que continha uma proposta para um novo valor de renda e para um tipo e duração de contrato. Caso não respondessem a essa carta, no prazo de 30 dias, a ausência de resposta valeria como aceitação da proposta. Isto significa que as novas condições entrariam em vigor a partir do primeiro dia do segundo mês seguinte ao do termo do prazo.
Peço-vos que tenham presente que estamos a falar de pessoas idosas sem qualquer apoio jurídico. Poderia tratar-se de um inquilino com 90 anos, tendo como único rendimento uma pensão mínima. Se não cumprisse o prazo de resposta, perderia – de forma irremediável – todos os seus direitos e passaria para uma renda fixada pelo senhorio e, claro, incomportável. Isto equivale a ser despejado. Se passado um mês e meio fizesse prova da sua idade, essa prova já não serviria para nada. A verdade é que, até hoje, nunca se apurou quantos idosos ficaram sem casa nestas circunstâncias. Já agora: quem diz idosos, diz também pessoas portadoras de deficiência e com rendimentos miseráveis.
Mariana Mortágua prosseguiu: “Eu vi idosos a serem expulsos, eu conheço o pânico que era receber uma carta do senhorio. Eu vi o sobressalto da minha avó ao receber cartas do senhorio, porque não sabia o que é que lhe ia acontecer...” Não me considero em posição de afirmar se Mortágua viu ou não pessoas a ser expulsas das casas onde moravam há anos, se se apercebeu do pânico dos idosos e se a sua avó ficou sobressaltada quando, por essa altura, recebeu cartas do seu senhorio. O que posso afirmar é que, enquanto advogada, assisti a todas essas situações. E atrevo-me a garantir que todos os idosos que receberam cartas dos senhorios naquela altura, ou pelo menos aqueles que sabiam da alteração legislativa, ficavam em sobressalto. Como se pode duvidar disto? Talvez os leitores tenham a experiência do sobressalto de receber uma qualquer carta da Autoridade Tributária. Somos todos humanos e reagimos todos ao perigo. É o batimento cardíaco que acelera e a temperatura do corpo que aumenta. O transtorno é transitório, mas desagradável. Para uma pessoa idosa, pode ser especialmente perturbador.
E Mariana Mortágua finalizou afirmando: “E essa foi uma responsabilidade do PSD que esvaziou as cidades.” Será aqui que mentiu? Diria que não. Basta ouvir de onde nos chegam os elogios a esta lei, considerada como a grande impulsionadora da reabilitação urbana em Lisboa e no Porto. Reabilitaram as cidades, e claro que isso é positivo, mas à custa da expulsão de centenas ou milhares de pessoas que deixaram passar o prazo de resposta aos senhorios, que deixaram de poder pagar as rendas aumentadas ou que simplesmente viram os contratos chegar ao fim, decorrido o período de transição. Pagou-se um preço muito alto pela reabilitação. Que o digam os lisboetas que passaram a morar em Almada ou noutros concelhos limítrofes de Lisboa. Os prédios estão mais bonitos, é um facto. Mas faltam as pessoas que cá moravam.
É muito óbvia a razão pela qual continua a insistir-se na acusação a Mariana Mortágua de que terá mentido. Ajuda muito a estabelecer o paralelismo com o populismo da extrema-direita, que de facto tem mentido quase todos os dias nesta pré-campanha. A última mentira é especialmente engraçada: Ventura queixou-se de a caravana do Chega ter sido recebida com tiros em Famalicão. Mas a PSP veio esclarecer que se tratava de "rateres" de uma mota que integrava a própria caravana. Não há nada de novo para ver aqui. Mentem, logo existem. Mas não é o caso de Mariana Mortágua, a quem deve ser reconhecido rigor no que afirma e o prévio estudo dos temas sobre os quais fala. A comparação é ofensiva.
Por outro lado, é altamente esclarecedor que continuem a defender uma lei que tanta mossa fez à vida de milhares de portugueses e que acabou por contribuir para a crise na habitação que enfrentamos. Uma coisa é defender essa lei sem antever os seus efetivos impactos. Fazê-lo agora significa renovar os votos a uma das facetas mais cruéis da governação passista.
Ser de extrema-direita, populista e demagogo não significa ser boçal, ser ordinário, ter falta de responsabilidade política, não fazer política com seriedade, ser mentiroso. Ventura é tudo isto, parecendo mais aquilo a que os nossos antepassados designavam por carroceiro, com respeito para com essa extinta profissão.
André Ventura é o protótipo da boçalidade, da manipulação e da alucinação, epítetos que lhe assentam com mestria. Demonstra ter ambição, sim, isso é o que quer para ele, mas, e os outros? Diz ser contra o sistema ao mesmo tempo que diz querer fazer parte do sistema ao propor alianças com forças do sistema. Pretende desenvolver o país, substituindo o sistema, do qual diz ser contra. Qual outro sistema e por qual? É uma incógnita!
da violência do ódio), A sua ignorância em termos da aplicação prática política das propostas apresentadas confraterniza com a com ignorância.
Ventura é um sujeito perigoso, capaz até de se fosse caso disso e conseguisse um dia chegar ao poder absoluto e ditatorial, de matar adversários que se lhe opusessem ou lhe fizessem frente. Associo Ventura a uma espécie de Putin. Porque André Ventura nem o seu partido Chega têm nada a ver com os da maioria da extrema-direita europeia.
Hoje incluo abaixo o artigo de opinião de Carmo Afonso publicado hoje no Público com um título de certo modo sarcástico “Não, a culpa não é do TikTok”.
Acho que vale a pena ser lido, mesmo por aqueles que já decidiram votar no partido que lhes dá esperanças sem fundamento, lhes oferece futilidades não exequíveis e que, por isso, nunca as irão conseguir ou alcançar.
Até pode ser que Carmo Afonso seja de esquerda, até pode ser que seja de extrema-esquerda, até pode ser que seja do centro, até pode ser que seja de direita, mas o artigo que escreveu é de uma evidência e clareza que só os empedernidos intelectuais, os ferrenhos clubistas não entendem, ou não querem entender.
Aqui segue então o artigo de Carmo Afonso:
Não, a culpa não é do TikTok
Um artigo de Carmo Afonso
In jornal Público, 16 de fevereiro de 2024
Aplaudir o líder do Chega e considerá-lo vencedor de debates, sabendo que mentiu e sabendo que está a enganar uma percentagem assustadora de portugueses, é indesculpável.
As audiências indicam que os portugueses têm assistido aos debates entre os candidatos às próximas legislativas. São muitos debates, uma verdadeira maratona em que cada candidato tem a possibilidade, e o dever, de discutir as propostas que apresenta perante cada um dos candidatos a primeiro-ministro das restantes candidaturas. Sabemos que, a menos que nos espere algum terramoto, só existem dois candidatos a primeiro-ministro. E poderia dar-se o caso de os portugueses guardarem a sua atenção apenas para o debate entre ambos. Mas não, numa grande demonstração de vitalidade democrática têm seguido os vários debates.
Ter esta atenção dos eleitores dá aos debates uma importância fundamental. Não é previsível que a maioria se dedique à leitura dos programas eleitorais ou que se desloque a comícios. É nestes duelos que uma parte significativa dos portugueses decidirá em quem votar. Notem que as sondagens indicam que uma percentagem relevante do eleitorado ainda está indecisa. Serão esses os eleitores que decidirão quem ganhará as eleições.
Os debates são curtos e, também por isso, pouco esclarecedores em relação aos programas de cada candidatura. Não há de facto tempo para aprofundar assuntos. Mas não é só por falta de tempo. O formato destes debates promove uma disputa de aspectos da personalidade e de habilidades. Ficamos a saber quem é o mais rápido, o mais felino e o mais confiante. Também notamos quem se preparou melhor e em que medida é capaz de usar esse conhecimento para contraditar o outro e encostá-lo à parede.
Pergunto: serão estas características as mais relevantes para sabermos qual dos candidatos será o melhor primeiro-ministro? E respondo: não. Ter a arte de dar baile é um detalhe menor, eventualmente dispensável, nas capacidades de um bom político. Os debates, por si, não conseguem ser esclarecedores.
É também por isso que os comentários que se seguem aos debates são tão importantes como os próprios debates. Notem que o tempo concedido aos comentadores excede o tempo concedido aos candidatos. É como assistir a uma curta-metragem seguida de uma extensa discussão entre críticos de cinema.
Nestes debates destaca-se a participação de um candidato que recorre insistentemente à mentira deliberada e à deturpação dos factos. Além disso apresenta propostas não exequíveis e que estão em absoluta contradição com outras propostas que defendeu anteriormente. Tem também o hábito de insultar, interromper e de fazer uma espécie de bullying aos adversários. Suponho que ninguém desconheça a quem me refiro. É o rei dos falsos no fact checking, título que já detinha antes do início destes debates. Isto é ponto assente e todos os comentadores o reconhecem.
Qualquer jogo ou combate tem regras. O incumprimento dessas regras tem consequências e determina penalizações. Os golos marcados por jogadores que estão fora de jogo não são considerados. Se não existissem sanções os jogadores prevaricadores, e as respetivas equipas, seriam beneficiados. Mas é precisamente isso que muitos comentadores estão a fazer.
Ventura acusou o PCP de ter cometido assassinatos no pós-25 de Abril. É difícil imaginar uma mentira mais gravosa. Dita por quem tem no seu partido Diogo Pacheco Amorim, que pertenceu ao MDLP. Esta organização foi responsável por ações violentas no pós-25 de Abril, onde se incluíram ataques bombistas. Morreram pessoas como resultado dessas ações, como o padre Max e a estudante Maria de Lurdes.
Mas houve comentadores que deram a vitória a Ventura no debate com Paulo Raimundo e que voltaram a fazê-lo no debate com Pedro Nuno Santos, onde Ventura voltou a mentir. São, mais coisa menos coisa, os mesmos que acusaram Mariana Mortágua – que deu o verdadeiro baile a Ventura – de ter mentido a propósito do assassinato do padre Max ou a propósito da carta recebida pela avó. Ui, aí rasgaram as vestes. Mas Mariana Mortágua não mentiu e não costuma mentir.
Estamos conscientes de que André Ventura está a enganar milhares de portugueses, pessoas que confiam na sua seriedade. Não me parece que seja o caso de algum comentador. Aplaudir o líder do Chega e considerá-lo vencedor de debates, sabendo que mentiu e sabendo que está a enganar uma percentagem assustadora de portugueses, é indesculpável. Estes comentadores também não cumprem as regras. Depois não digam que a culpa é do TikTok.
A autora é colunista do PÚBLICO e escreve segundo o novo acordo ortográfico
Começo por lhes contar uma estória sobre ciladas. Imagine-se numa feira em que um sujeito, com uma abordagem assertiva e aparentemente simpática, o aborda e lhe mostra uma mercadoria que tira dentro duma malinha e lhe propõe a sua compra. É uma embalagem de perfume muito apelativa.
Inesperadamente você recua e diz que não quer. Mas o vendedor insiste consigo. Face a tal insistência pensa: «Já agora vou ver qual o preço que ele pretende». Neste momento parou para o ouvir e verifica que está perante a apologia e a propaganda do produto.
O vendedor propagandista, com o intuito de vender o artigo, diz ser um produto autêntico e verdadeiro. Para manter a credibilidade tira da malinha uma embalagem exatamente igual que já se encontrava aberta, desenrosca a tampa e pede-lhe para cheirar a fragância para que você confirme a originalidade do produto. Hesita, mas acaba por lhe perguntar qual o preço. Entretanto surge alguém que o avisa desmente quem lhe está a vender o produto. O vendedor do dito perfume interfere e interrompe para não deixa falar quem o estava a alertar. Procura contrariar o empecilho que lhe está a estragar o negócio usando uma linguagem contínua, grosseira, arruaceira, ofensiva e desordeira de modo que não se perceba o que o outro lhe diz. Fala ao mesmo tempo sem deixar que o outro argumente contra o seu produto. Este passo do vendedor arruaceiro quer mostra-lhe, a si comprador, que, afinal, ele é que sabe do produto que está a vender.
- O produto dele é falso, ele quer é destruir o produto que lhe está a querer vender. O produto dele é que, afinal, deve ser falso.
Você acaba por comprar o frasco da fragância ao primeiro vendedor, pagando por ele um preço muito mais barato do que inicialmente lhe tinha sido pedido e até mais barato do que o do outro vendedor concorrente.
Você chega a casa todo entusiasmado, conta à sua mulher e aos filhos, supondo que tem mais do que um, a excelente compra que fez do perfume com uma belíssima fragância. A família não abriu logo a embalagem reservou isso para mais tarde porque já era hora do jantar.
Após a refeição resolveram abrir a embalagem para se deliciarem com o odor da pechincha que tinha comprado. A embalagem foi aberta com toda a precaução para que nem uma pinga do precioso líquido se perdesse. Aberta a embalagem, tirado o frasco com um design impecável e desenroscada a tampa não foi necessário levarem a bocadura do frasco às narinas, dele saltou um cheiro nauseabundo a água estagnada.
Amanhã vais imediatamente à feira procurar do sujeito que te vendeu isto e te embarrilou - disse a sua mulher.
Na manhã seguinte dirigiu-se ao mesmo local, todos os vendedores lá se encontravam. Mas o que lhe vendeu a “fragância” nem o ver. Perguntou por ali e disseram-lhe:
- Ah! Esse? Ele costuma aparecer de quatro em quatro anos. Mas agora não sei! Como ele fez muitas vendas talvez apareça por aí um dia destes. Mas olhe que agora não vai ser fácil apanhá-lo, muitos já aqui vieram pelo mesmo motivo.
- Mas não sabe ao menos o nome dele? -perguntou você. Resposta em uníssono da gente que, entretanto, se juntou ao protesto.
- Sim. Sabemos. Dá pelo nome de Aventura.
Você foi para casa acabrunhado.
A estória não fica por aqui. Enquanto isto se passava e você já regressava a casa entristecido porque tinha sido levado pelo conto do vigário surgiu um novo indivíduo, desta vez com telemóveis da última gama - dizia ele. Oferecia dois pelo preço de um. Tinham chegado hoje, ainda nem tinha aberto a caixa.
- Podemos ver? Perguntaram alguns que se tinha aproximado plenos de curiosidade.
- Ainda não. Posso é dizer-lhes as características. São da última gama. Se comprarem um dou-lhes outro de oferta.
- Mas podemos ver o telemóvel – insistiu um dos mais afoitos – desejoso por saber o conteúdo da caixa.
O dito vendedor pega numa das caixas que trazia num outro saco, abriu-a e mostro o telemóvel. O potencial cliente, pegou no telemóvel, mirou-o com muita atenção e disse ao vendedor:
- OK, vale a pena, fico com ele – disse o freguês.
O vendedor naquele momento tirou-lhe o telemóvel da mão e entregou outro numa caixa por abrir ao mesmo tempo que informava o cliente de que o que tinha na mão era apenas para desmonstração, mas o que estava na caixa era exatamente igual. O cliente para pagou-lhe o valor pedido pelo telemóvel e o vendedor entregou-lhe outro grátis conforme tinha prometido. Após a transação o vendedor afastou-se de imediato do local.
O cliente seguiu o seu caminho ao mesmo tempo que ia tirando da caixa um dos telemóveis da última gama que tinha tido a sorte de comprar pelo preço da uva mijona. Abriu uma das caixas, retirou o telemóvel, que até já trazia um cartão pré-pago, julgava ele, ligou para o número do seu melhor amigo para lhe dar novidade da grande pechincha que tinha comparado, pensava ele que até poderia oferecer-lhe o outro telemóvel grátis que tinha recebido como bónus. Tocava nas teclas e na nada acontecia. O telemóvel não marcava nem dava sinal. Intrigado, resolveu ver se o cartão estava bem colocado no interior do telemóvel. Não valia a pena ir a uma casa de telemóveis era fácil detetar o problema do cartão. Abriu o telemóvel e, qual não foi o seu espanto, verificou que o interior do telemóvel estava vazio apenas existia a parte exterior do telemóvel que até era muito sofisticada.
Furioso, voltou para trás a correr para ver se apanhava o vendedor, mas em vão. Apenas viu um grupo de pessoas a vociferar contra o sujeito vendedor porque também tinham comprado o mesmo tipo de telemóvel. Dirigiu-se so grupo e perguntou aos também burlados onde se encontrava o sujeito dos telemóveis. A resposta foi rápida:
- Ah! Nada a fazer, ele apenas vem aqui de quatro em quatro anos.
Agora sobre a realidade.
Os debates televisivos entre líderes dos partidos são uma charada para a maior parte dos telespectadores. Como podem eles aferir da veracidade do que cada um afirma nos debates, que não são debates, mas autênticos circos de palavras, onde fazem passar promessas vãs e propostas alguma inexequíveis.
Segundo esses populistas e demagogos, as promessas serão cumpridas lá para 2028, se o forem. Sabemos porquê. Porque é o fim da legislatura e, para voltarem a captar votos, irão fazer por cumprir algumas das suas ténues promessas. Farão tudo para o conseguir, mesmo colocando as contas públicas em risco ao qual se seguem os cortes com a perda de tudo o que, entretanto, deram. Arranjarão desculpas para que não tenham podido cumprir o que prometeram. Como é que muitos de nós ainda caem nestas armadilhas ao fim de tantos anos de democracia?!
Desculpem-me a propaganda, mas as provas dadas e mais ou menos cumpridas só as temos do partido que nos governou até hoje, mesmo com espinhos pelo caminho, por culpa do próprio partido que, por vezes, pareceu andar distraído e com tapas nos olhos e descorando o que se passava à sua volta, daí uma das causas da sua queda. O Partido Socialista cometeu erro crassos aproveitado pelas oposições sobretudo da direita e da extrema-direita.
Tem-se falado muito acerca do problema da manipulação dos media que se tem intensificado nos últimos anos, sobretudo em relação à disseminação de notícias falsas pela internet.
Há uma pergunta que carece de ser respondida, que já foi investigada noutros países, é a de saber se em Portugal, por exemplo, a maioria das pessoas faz ou não distinção entre fake news (notícias falsas) e outros tipos de notícias. No entanto, o problema das fake news pode estar não apenas relacionado com os textos mediáticos fabricados nas notícias, mas também pela insatisfação geral do público com os meios de comunicação de massa tradicionais, e com alguns políticos, partidos e organizações.
Do ponto de vista do público, o problema das fake news não se limita às notícias falsas, diz também respeito ao jornalismo de baixa qualidade, à propaganda política, às formas enganosas de publicidade, à (des)confiança nas instituições públicas.
O facto de, no mundo dos media, as informações inequivocamente verdadeiras e explicitamente falsas estarem a tornar-se cada vez mais raras devido a técnicas de manipulação bastante sofisticadas que misturam informações confiáveis e falsas e que estão a ser usadas, pelo que não pode haver julgamentos simples sobre o desenvolvimento de mecanismos para banir ou remover informações falsas dos órgãos de comunicação.
A dúvida instala-se sobre o que pudemos esperar do verdadeiro jornalismo quando estes, por motivos de interesses vários, se encontram enfeudados a ideologias e partidos. À parte a pluralidade da publicação de artigos de opinião das diversas tendências político partidárias, o problema verifica-se quando há tendenciosamente critérios de subtil favorecimento a candidatos pela utilização das mais variadas técnicas de abordagens e alinhamentos programáticos.
Na sequência das estórias anteriores cabe agora aqui salientar os debates televisivos, servem para a cobertura política das campanhas porque atinge mais pessoas do que qualquer outro media, e também para atingir os que não se dariam ao trabalho de recorrer a essa informação noutros meios.
Devido à sua natureza visual e à perceção de credibilidade por vezes errada, a televisão é particularmente persuasiva. Assim, as pessoas confrontadas com mensagens consideradas persuasivas, são particularmente propensas a serem persuadidas porque um público não envolvido, ou diz não se interessar por política, é um público potencialmente persuasível em cujos efeitos desta armadilha provavelmente ocorrem.
Para os menos atentos, a capacidade da persuasão política dada pelos debates televisivos e pelas intervenções individuais dos líderes, quando em reportagens de eventos partidários, ou por declarações por interpelação de jornalistas, podem ser uma armadilha para os mais desprevenidos. Se não procederem a uma avaliação menos clubista e com emoção que por vezes é intencionalmente provocada pelos que os pretendem persuadir, e mais com base numa racionalidade efetiva podem cair decerto numa armadilha.
Seria interessante recorrer a algoritmos para acompanhar a política partidária e as suas promessas eleitorais, detetando falhas e incongruências, mas necessitaria de muito tempo. Assim, porque não usar uma espécie de lógica discursiva para melhor se perceber a política dos partidos e o raciocínio dos seus líderes na campanha eleitoral? Como é que as palavras e frases elaboradas pelas promessas eleitorais se relacionam entre si para se avaliar criticamente a informação que nos é apresentada e como ela pode ser interpretada.
Nesta altura a campanha eleitoral está muito acesa, os líderes partidários e os seus seguidores lançam ataques uns contra os outros.
Montenegro, Ventura e Rui Rocha preferem atacar pessoalmente o seu principal adversário do que apresentar de forma clara os seus programas e o que farão se forem governo. Ventura parece estar mais virado para o seu adversário da direita, a AD, para lhe captar votos.
Dado a falta de propostas credíveis e exequíveis, denegrir os adversários com ofensas serve apenas para iludir e confundir os potencias eleitores. “Pedro Nuno Santos é imaturo, incompetente, mentiroso”. Este é um dos lemas de Montenegro. Os dos partidos conotados com a direita e com a extrema-direita seguem ao mesmo ritmo.
Luís Montenegro enfatiza a importância da credibilidade e diz que não promete tudo a todos, mas, ao mesmo tempo, vai dizendo o que se propõe fazer, mesmo que inexequível a prazo.
O que entende ele por todos? Porque o afirma? Porque ele sabe que são promessas vãs e que isso não é uma forma eficaz de governar. Se as promessas não são para todos, então a que se dirigem as promessas? Serão apenas para uma parte da sociedade?
Montenegro destacou que a credibilidade é fundamental para quem se propõe liderar o país e que ela deve ser demonstrada através de vários fatores. Desconhecemos quais são para Montenegro esses fatores. Ao dizer que “há petróleo no Largo do Rato” não terá avaliado que as promessas que faz ele é que deve ter descoberto diamantes num largo qualquer para poder conciliar a promessa de baixa de impostos com tudo resto que vai prometendo como seja o Estado Social que diz querer manter.
Montenegro, se for primeiro-ministro, deve estar a contar com a redução do défice e da dívida pública executadas e conseguidas pelo anterior Governo PS para poder distribuir e gastar em promessas que pensa ser possível cumprir. Ao mesmo tempo tem o cuidado de dizer que é lá tudo para o fim da legislatura (2028), se for primeiro-ministro. É óbvio e costumeiro, quatro anos após, quando se aproximar o fim da legislatura, se chegar atá lá.
Luís Montenegro considera que "de repente não é possível dar tudo a todos", mas dedicou parte do seu discurso a falar sobre "o respeito pelas reivindicações" dos vários profissionais, entre eles, da educação, saúde, dos serviços judiciais, polícias.
Disse ainda sobre as forças de segurança e outros: "Já me disponibilizei para nos sentarmos com esses representantes e podermos analisar a sua situação laboral, a sua situação retributiva, mas quero dizer que, se aquilo que procuram é um primeiro-ministro que vai responder sim a todas as reivindicações, agora que está a cinco ou seis semanas das eleições, se é esse primeiro-ministro que procuram, eu não sou esse primeiro-ministro", assumiu. É uma forma de dizer sim, talvez, mas…?
Que outras medidas prometidas por Montenegro no programa da AD:
Aumento do complemento solidário para idosos até 820 euros.
Redução do IRS e IRC - para jovens até 35 anos. Então e os outros? Portugal é só de uns??
Isenção de IMT para compra da primeira casa o líder do PSD garantiu ainda que jovens até aos 35 anos terão direito a uma “isenção de IMT e Imposto de Selo na aquisição da primeira habitação”. Isto resolve o problema da falta de habitação para TODOS? Ou é apenas para alguns? É assim que se resolve o problema da habitação reivindicado através de manifestações que se realizam pela habitação para todos?
Isenção de contribuições e impostos sobre os prémios de desempenho até ao limite de um vencimento mensal. Este 15.º mês não tributado representa a ideia de que vale a pena fazer mais e melhor e de que o mérito deve ser premiado.
Se assim for como vai ser avaliado o mérito? Como estipular o desempenho para atribuição do mérito em função da função desempenhada por médicos, enfermeiros, professores, forças policiais, etc.? E no setor privado como vai funcionar?
Nada pior para estragar a ideia de mérito do que usá-la a pretexto de tudo e de nada e esquecê-la olimpicamente quando efetivamente deve ser invocada.
Os que elogiam o mérito como sendo a panaceia para todos os males é estarem-nos a impingir uma narrativa de ficção ou estão a pesar em casos particulares.
Montenegro fala para os pensionistas e faz-lhes recordar o passado porque diz querer fazer as pazes com eles. Note-se que:
Quer definitivamente fazer as pazes com os pensionistas (!!?) e, em simultâneo, responder à crise mais imediata no Serviço Nacional de Saúde (SNS), sem esquecer a carreira dos professores e a redução de impostos. Quer sentar-se com os representantes da Educação, Saúde, dos serviços judiciais, polícias. Mas…, para quê? Apenas para tomar café?
Em relação aos serviços e forças de segurança, e tendo em conta os protestos de PSP e GNR para exigir o mesmo suplemento de risco da Polícia Judicial diz que:
Há que estudar essa reivindicação no que respeita ao mesmo suplemento de risco que foi atribuído à Polícia Judiciária.
Não há para já compromisso com a valorização do seu estatuto remuneratório.
Mais uma promessa se ganhar as eleições:
Encetar logo de início negociações com as forças de segurança para, com sentido de responsabilidade, proceder à valorização do seu estatuto remuneratório.
Eleitoralismo para captação de votos?
E quanto aos impostos?
Redução de IRC de forma gradual, de 21% até 15%, à razão de dois pontos por ano. Logo, os 15% são atingidos no final da legislatura. Será nessa altura para ter efeitos eleitoralistas?
Perguntam-lhe se isto é baixar impostos sobre os patrões?
Resposta de Montenegro:
de interpretação subjetiva:
É criar uma dinâmica na economia para atrair investimento, é dar instrumentos às empresas para que possam inovar, ganhar competitividade no mercado, mas,
diz Montenegro que é para pagarem melhores salários e, assim, fixarem os recursos humanos, a começar pelos mais novos… Isto é PISCAR olho aos jovens? Então e os outros, os do Portugal inteiro, são deixados para trás?
Uma nota suplementar sobre o IRC para ajudar ao raciocínio:
Está demonstrado que a baixa de IRC nas empresas não aumenta a dinâmica da economia porque:
A baixa do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas (IRC) apesar de ter efeitos na economia esses efeitos não são uniformes para todos os tipos de empresas. Vamos explorar isso em detalhe:
A redução do IRC beneficia principalmente as grandes empresas, especialmente aquelas envolvidas em algumas atividades (sobretudo as financeiras e de telecomunicações?).
No entanto, essa redução não afeta positivamente as pequenas e médias empresas (PME). Para muitas PME, a baixa do imposto não terá aplicabilidade, pois não possuem matéria coletável suficiente para se beneficiar dessa medida.
Nas PME a baixa do IRC não terá impacto positivo nessas empresas, pois só afetará aquelas com “lucro fiscal”. Há muitas endividadas. As PME enfrentam apertos financeiros e, muitas vezes, acumulam prejuízos.
Só afetará aquelas com “lucro fiscal”.
Falar de desagravamento fiscal para essas situações é um conceito enganoso.
Em resumo: a baixa do IRC pode ter efeitos diferenciados na economia, favorecendo as grandes empresas, mas não necessariamente estimulando o aumento de salários para todos os trabalhadores.
As promessas na saúde de Montenegro/AD:
Voucher (vale ou cheque com determinado valor) para consultas e cirurgias de especialidade.
Compromisso de apresentar um plano de emergência para 2024 e 2025, nos primeiros dois meses de governação da AD, para acabar com as filas de espera no SNS.
Como?
Atribuição de um voucher para consultas e cirurgias de especialidade quando os tempos de espera ultrapassarem os prazos máximos previstos.
Sempre que se atinja o tempo máximo garantido, isto é, sempre que esse tempo for ultrapassado em uma hora que seja, o utente recebe o voucher para escolher o prestador de saúde do público ou privado.
Nota: este voucher vai ser pago com os nossos impostos que vão para o privado. Mas…, ao mesmo tempo diz querer baixar a carga fiscal. Será que ele consegue fazer chover no nabal e sol na eira?
Mais promessas para a saúde. A utopia:
Médico e enfermeiro de família para todos os portugueses.
Garantia de encurtar os prazos das consultas de medicina familiar, através da implementação da teleconsulta e da atribuição de um enfermeiro e um médico de família a todos os portugueses. Mas a teleconsulta já existe!
Recurso aos profissionais do SNS, aposentados que estejam interessados e também à capacidade do setor privado e social. Aqui, o setor privado levanta mais uma vez a questão de pagamento aos privados com os impostos que diz irá baixar.
Quanto à habitação o que há?
Um vazio absoluto da parte de Montenegro!
O que ele diz:
Critica o Governo socialista porque o acesso à habitação está altamente limitado por força das regras ideológicas do PS, acompanhado pelo PCP e pelo BE.
O PS desincentivou o investimento na área da habitação, que traz menos oferta no mercado e o aumento de preços.
Propostas de Montenegro pata remediar ou alterar o que ele critica ao Governo e diz ter sido um erro:
Para saber mais pode ler aquias promessas de Luís Montenegro/AD, algumas inexequíveis.
A divisão entre o povo e a elite, na qual se insere a classe política, entre os “portugueses de bem” e os outros, é a redução da política a uma falácia.
Um primeiro-ministro que se demite por estar sob investigação e cujo chefe de gabinete escondia dinheiro na porta ao lado, um ex-primeiro-ministro que vai ser julgado por suspeitas de ter sido corrompido, numa contradição judicial que provoca perplexidade, e um presidente do Governo Regional da Madeiraconstituído arguidopor alegada corrupção.
A escolha dos nomes a figurar nas listas para a Assembleia da República também não abona muito a favor da classe política e das forças partidárias. A forma como deputados do PSD e da IL, sobretudo do primeiro, se prontificaram a integrar as listas do Chega não dignifica ninguém. A mudança de bancada não se deveu a nenhuma mudança ideológica. Deveu-se, simplesmente, ao facto de não serem reconduzidos, em parte por terem sido indicados por Rui Rio, e quererem, a todo o custo, manter-se no Parlamento.
O Chega começou a distribuir tachos nos passos perdidos da Assembleia, tachos que ainda não tem, confiante no seu crescimento e impaciente para fazerupgradedos seus quadros. O processo de recrutamento de deputados do PSD e da IL — que lideram seis listas do partido de André Ventura — é tudo menos higiénico. Ocaso de Maló de Abreu, que se contradisse sem qualquer escrúpulo, é patético e contraproducente para a valorização de quem exerce cargos políticos. A sua desfaçatez transforma um lugar no Parlamento num emprego sem sentido.
Não interessa qual é a bancada. Só é necessária uma vaga. É irónico que o Chega tenha sido apresentado como resultado de uma rebelião interna do PSD, protagonizada por André Ventura contra Rui Rio. São os deputados escolhidos por este e não reconduzidos por Luís Montenegro que o Chega recrutou.
Não é preciso muito mais para reforçar a percepção popular de que a política corrompe e de que os políticos são corruptos, a argamassa de que se alimenta a demagogia mais rasteira. Estão criadas as condições para fazer da corrupção o tema principal da campanha que se avizinha e para que o Chega ludibrie o eleitorado com mentiras em nome da verdade e da limpeza do país. É fácil generalizar uma opinião corrosiva sobre a classe política, como se ela fosse toda igual e desprezível, o que está longe de ser verdade. Não é.
A dignidade deDuarte Cordeiro, ao rejeitar a possibilidade de ser candidato num lugar destacado a deputado, porque aOperação Influencerainda não esclareceu o seu papel neste processo, e porque a justiça portuguesa é tudo menos célere, prova-o. Apesar de não ser arguido, o ministro do Ambiente tomou a opção ética de se resguardar, a si e ao partido, uma vez que o seu ministério foi alvo de buscas e foi citado nos autos como tendo participado em reuniões e jantares nos quais esteve, por exemplo, o administrador da Start Campus.
Os casos que ensombram a classe política, na qual a justiça tem tido um papel ambíguo e, por vezes, espalhafatoso, afectam a dignidade das instituições democráticas, mas não são estas que estão em causa. O discurso dicotómico entre nós e eles tem sido eficaz, apesar da sua boçalidade, no jargão populista por quase toda a Europa.
A divisão entre o povo e a elite, na qual se insere a classe política, com o Chega a fingir nada ter que ver com o assunto, entre os “portugueses de bem” e os outros, é a redução da política a uma falácia. A popular expressão do “eles são todos iguais” tanto pode ser usada para sublinhar as semelhanças entre PS e PSD, o bloco da alternância, quer para enfiar no mesmo saco todos os eleitos.
O povo puro e virtuoso não é homogéneo. A classe política e os partidos também não. Todos estes casos que têm alimentado a discussão pública são suficientemente preocupantes para gerar uma sensação de pântano, mas são insuficientes para lançar um anátema sobre toda a gente que faz parte dessa classe que nos querem apresentar como uma oligarquia sem vergonha.
Mas se o povo não é assim tão puro e os políticos não são todos oligárquicos, isso não quer dizer que os partidos não necessitem de mais exigência nas suas escolhas e de prestarem atenção aos problemas que sustentam o voto de protesto primário. Talvez a adopção de círculos uninominais obrigasse os partidos a uma escolha mais apurada dos seus candidatos.
O Parlamento sairia mais dignificado com a entrada de novos protagonistas, nomeadamente de independentes, o que não parece que aconteça num contexto como o actual, como se pode concluir das listas anunciadas e das transferências conhecidas, marcadas mais pela continuidade do que pela renovação. Sobra-nos a campanha, as várias campanhas que teremos pela frente, ameaçadas pela turbulência dos argumentos maldosos. É desejável evitá-la, mas nada nos garante que assim seja.